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Antologia A Magia do Natal: 3x08 - As Cartas

Conto escrito por Evelyn Roberta Gasparetto
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Sinopse: Uma menina de 8 anos que troca cartas com o papai Noel achando que ele é um velhinho distante, quando na verdade está bem próximo dela.


3x08 - As Cartas
de Evelyn Roberta Gasparetto

Mais um Natal havia passado e mais uma vez ele não a decepcionou, aliás, muito ao contrário, ele a tinha surpreendido. Ela recebera a tão sonhada bicicleta. No fundo esperava recebê-la, mas tinha medo de que não fosse a sua hora de ser presenteada com tão grande almejo.

            Aline era a menina mais sortuda do mundo, acreditava ser uma das únicas que conseguia escrever para o papai Noel e obter a resposta dele. Ela se gabava disso com suas amigas. Ele era um velhinho sensacional!

            Aliás, nos últimos dois anos, quando passou a escrever sozinha, eles chegaram a trocar correspondências, sempre a partir do ultimo semestre.  Mal terminava agosto, os papeis de carta mais bonitos e cheirosos eram utilizados para que sua letrinha tremida e arredondada, ainda em fase de alfabetização, pudesse discorrer coloridamente sobre a sua vida e obras cotidianas. Sempre era dela a iniciativa do diálogo.

            Ela podia contar, através de poucas palavras, que era uma menina boa. Não era a melhor e nem a pior da escola, mas se orgulhava de ter aprendido a fazer uma frase inteira com cinco anos. A primeira da turma a fazer isso. Nem a Joana Angélica, a melhor aluna da escola, conseguiu essa proeza.

            Seus pais que levavam ao correio seus envelopes endereçados "ao Papai Noel", eles tinham cores fortes e eram enfeitados com desenho floridos em cada uma das pontas. Ela não sabia o endereço, mas o moço do correio sabia. Resolveu que também escreveria a ele um bilhetinho, "obrigada, senhor carteiro". Gostava de escrever.

            O seu pai, que todas as manhãs saía cedo para trabalhar, levava suas cartas para o envio, mas não trazia as respostas, essas eram trazidas pelo seu avô, que morava numa edícula ao fundo de sua casa.

            Aline quase não falava com o seu avô, pois ele fazia tudo no quartinho que ficava depois do quintal da parte de trás da casa. Ele saía toda tarde para ficar no portão da frente por alguns minutos, pegava as cartas da caixinha de correio, entrava em casa e as deixava sobre o aparador que ficava no corredor, no caminho da cozinha, que era o seu itinerário para ir ao quartinho.

            Quase ninguém falava com ele, e se ninguém falava, Aline também não. Ela só seguia os costumes da casa. Nunca entendeu muito bem o que acontecia na família, só sabia que ele morava lá atrás. Seu avô não fazia as refeições com eles e poucas vezes entrou na casa para ficar.

            No entanto, com as respostas do Papai Noel, seu avô fazia questão de gritar da ponta da escada para entregar a ela em mãos. - "Aline, chegou a carta de resposta do Papai Noel!"

            Aline descia correndo as escadas e pegava das mãos do avó um envelope todo desenhado. - Até o correio no polo Norte é diferente - pensava. Dizia rapidamente um - "Obrigada, Vô". E subia para o seu quarto.

            A resposta do bom velhinho a elogiava pelo desempenho escolar narrado anteriormente e não deixava de perguntar a escolha do presente, já que estava sendo uma menina tão boa durante o ano.

            Em algumas cartas, o Papai Noel perguntava sobre as pessoas da casa. Aline contava, com certa dificuldade em encontrar as palavras, diante da pouca idade e do vocabulário restrito, mas sabia dizer que sua mãe era muito bonita e seu pai era um homem forte. Chegava a desenhar um super-homem para que o Papai Noel entendesse melhor quem era o seu pai.

            Na resposta de setembro ela contou que ia para a escola de manhã, voltava de perua, e D. Fátima continuava a cuidar dela pelas tardes, e às vezes até a noite, pois seus pais demoravam a chegar do serviço, igual ela já contara para ele na carta do ano passado. Nada havia mudado. - Mas ele devia se esquecer, eram tantas crianças.

            Havia toda uma preparação para as cartas, elas eram escritas com cuidado. Aline escolhia bem as palavras para responder em letrinhas desenhadas as perguntas do Papai Noel. Mal seu pai colocava no correio uma, a outra já estava sendo preparada em sua mente, já que não era simplesmente escrever, precisava escolher as canetinhas coloridas, verificar o cheiro do papel, além, é claro, de escolher os adesivos mais bonitos para enfeitar.

            Na resposta de outubro, na cartinha trazida novamente pelo seu avô, o remetente perguntava quantas pessoas moravam em sua casa, e o que ela mais gostava de comer. Papai Noel era muito interessado na vida das crianças. Preparou-se em sua escrivaninha com a luminária acesa, explicando que D. Fátima não morava lá, mas ia todos os dias, e que tinha o seu avô. - Ela ainda não tinha lhe contado do avô? - Talvez não, ele era tão ausente em sua vida. Parou por um minuto e ficou pensando com a caneta cor-de-rosa na boca, o que poderia contar do seu avô.

            Como podia ele morar na sua casa e ela não encontrar com ele? Sabia pouca coisa, sendo que uma delas era que ele tinha feridas feias nas pernas, elas eram vermelhas e ficavam perto dos pés, então, Aline achava que ele preferia ficar sozinho lá atrás no quartinho, pelo menos era o que lhe parecia. Ele comparecia na casa somente em algum as ocasiões, no aniversário dela e dos seus pais, mas nem no Natal ele ficava com eles. Ela não entendia muito bem qual era a função de avô na vida de alguém. O avô dela servia para trazer as cartas que o Papai Noel escrevia. Era assim que ela se lembrava dele, além das feridas nas pernas.

            Não tinha nenhum sentimento contrário a ele, mas também não sentia qualquer amor ou carinho, ela o tratava da mesma forma que via seus pais o tratarem, afinal, era comum seguir os exemplos da sua mãe, que era tão bonita e do seu pai, que era tão forte e poderoso.

            Ela também perguntou sobre os pais do Papai Noel, mas achava que eles já deveriam ter morrido, pois ele era tão velhinho. Ele tinha filhos?

            A resposta veio em novembro, e com ares de culpa, ela escreveu que tinha entendido o aviso que ele havia escrito na carta anterior - "dê atenção aos mais velhos". Mas como ela podia fazer isso? Ela não sabia. Na verdade, ela nem queria. Aquele quartinho do avô era tão quente e não tinha como brincar com ele. Ele não parecia se interessar por ela, assim como seus pais também não se interessavam por ele. Parecia que apenas o alimentavam e o forneciam um teto para dormir. - Coitado! Ele andava com dificuldade - ela pensou. - Deve ser por conta das feridas, que deviam doer, ou afinal, seria isso coisa de velhinhos, pois ela sabia que o Papai Noel também tinha dificuldade para andar, afinal, ele ficava cansado com tantas casas para visitar em tão pouco tempo.

            Ela não pôde deixar de dizer ao Papai Noel que adorava a roupa com que ele comparecia em sua casa no Natal, era toda diferente, e não como estava acostumada a ver nas propagandas, naqueles 'Papais Noeis' de mentira.

            Algumas amigas nem recebiam a visita dele, pois viajavam, e o Papai Noel mandava o presente através dos pais delas, outras, dormiam antes da hora e, quando acordavam, o presente já estava lá. Em outras, no entanto, ele comparecia, com aquela roupa de frio do Polo Norte, mas na casa dela não, ela não sabia se era por conta do calor de dezembro no Brasil, ou se ele já estava exausto de tantas visitas, e vinha se livrando do seu vestuário durante o caminho, para se refrescar.

            Nem o trenó ele usava. Chegava a pé mesmo.

            Na sua casa ele chegava com uma bermuda vermelha e uma camisa de manga curta cheia de coqueiros, um cinto sobre aquele barrigão e galochas vermelhas. Ainda usava barba branca, mas o chapéu era mais parecido com um de praia do que um gorro de frio. Sabia que a sua visita era rápida, mas não importava, para ela o que interessava era que ele viesse. E ele vinha!

            Em todos os Natais, ele chegava rapidamente, entregava o presente, esperava o sorriso e o abraço apertado de Aline, e ia embora, deixando-a se divertir com o brinquedo novo.

            Mas Aline gostava tanto do Papai Noel, que ela não se importava com o tempo! Ela bem queria ter o Papai Noel somente para si, pois talvez se ele ficasse, eles poderiam brincar juntos, conversar bastante, mais do que faziam por cartas. Talvez ele gostasse de sorvete também, e então, poderiam dar longos passeios pelo parque perto de sua casa.

            Ela sabia que era um sonho impossível, - mas que seria bom, seria! Ter o bom velhinho somente para ela.

            Lembrou-se que deu muita risada quando perguntou para ele, no Natal do ano passado, porque ele usava bermuda e galochas vermelhas. Ele explicou que escolheu a cor para combinar com a vestimenta, mas que não podia ficar sem as botas de borracha, pois muitas vezes tinha que andar por mares e rios para cortar caminhos e chegar a tempo na casa das outras crianças. - Ai, ai, só esse Papai Noel mesmo!

            Enfim, acabou por terminar a carta dizendo que seria a última daquele ano, já que se veriam no Natal que era no mês seguinte, lembrando-o que ela aguardava ansiosamente a sua bicicleta sem rodinhas, afinal já contava com 8 anos de idade. No final disse que o amava, desenhou um coração, e confessou que preferia que ele fosse o avô dela, assim ela poderia enfim, entender o que era um avô de verdade.

            E assim realmente aconteceu, a carta foi, mas não voltou resposta, pois no Natal ele estava lá com as suas galochas vermelhas entregando aquele pacotão, onde estava a bicicleta sem rodinhas toda cor de rosa.

            Obrigada, Papai Noel! - abraçou-o bem apertado e o viu indo embora a pé para visitar outras crianças pelo mundo.

            Mal o encanto daquela noite mágica passou, na manhã seguinte uma notícia que a deixou mais surpresa do que triste, seu avô havia morrido. Ela não teve qualquer sentimento. Quase não o via, não tinha formado vínculos, assim era a relação de todos da casa com o seu avô. Falavam pouco com ele. a noite anterior ele nem ficou com eles, já estava acostumada com sua ausência.

            Entretanto, uma cena lhe chamou a atenção, seu pai chorava muito e em desespero. Ela nunca o tinha visto desse jeito. Viu que ele cruzou sozinho o quintal e foi se consolar lá no quartinho de trás, onde o avô vivia. Não se conformando com o choro daquele quer era o seu super-herói, Aline resolveu cruzar o quintal para abraçar seu pai.

            Ele realmente estava inconsolável na volta do enterro, que não a deixaram ir, tendo ficado com D. Fátima. Coitado do papai! - pensava. - Por que chora tanto? Considerava que o avô nem ia fazer muita falta, eles quase nem se viam.

            Ao fugir de seus pensamentos e das garras da mãe, que também chorava, e queria proibi-la de ir lá atrás, cruzou o quintal ao encontro do pai, passou rapidamente olhando para sua bicicleta nova, que estava no meio do caminho, entrou devagar se esgueirando no vão da porta e chamando pelo pai, teve uma grande surpresa ao ver que, de joelhos, no chão, aquele homem grandão, que ela tanto amava, chorava compulsivamente em desespero e remorso, segurando nas mãos as galochas vermelhas usadas na noite anterior, por aquele que todos desprezavam, mas que na verdade, foi quem ela sempre amou. 


Conto escrito por
Evelyn Roberta Gasparetto

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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Sinopse: Uma garotinha de imaginação fértil sonha em conhecer o pai e decide pedir isso ao Papai Noel.


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