Álvaro, que trazia às mãos uma bandeja com um copo de leite e metade de um pão francês com manteiga, ao vê-la lutar contra o próprio destino, se angustia. Pede para que ela se acalme, mas completamente desolada ao perceber que seu pedido de socorro jamais sairia daquelas quatro paredes, entra em crise e o pânico toma conta.
A doce pele de moça bem cuidada ganha as cores roxas, os olhos reviram, o coração, acelerado, parece querer saltar pela boca; já as mãos e os pés trepidam em violência, sacudindo a cama, que bate contra a parede. No desespero, o bandido derruba a bandeja, o copo se parte, o leite cai sobre o pão e corre pelo chão em direção à porta.
Confuso, ele retira a mordaça de sua boca, pede calma, mas ela não ouve, está tomada pelo medo, sendo arrastada para o labirinto da morte…
— Não! Não! Fique aqui!!! Fique!!! Fique comigo!!! Não se vá!!!
— suplica, percebendo que ela partia. — Não! Nãããão!!!Nããão, moça, nããão!!!
Luara não responde, as lágrimas descem desorientadas pelos cantos dos olhos, o ferimento volta a sangrar e, aos poucos, o corpo enrijece… O vale do abismo se abre, o tilintar da carruagem da Morte se aproxima, as trombetas não tocam, os anjos choram; em minutos, deixaria este mundo, rumo ao desconhecido.
— Ei… garota… estou aqui! Não se vá, por favor!!! Respire fundo!!! — chacoalha-a pelos ombros. — Volte, pelo amor de Deus, eu não queria fazer isso, fui obrigado!!! Por favor!!! VOLTE!!! — chora, segurando-a com força contra o peito. Chora de verdade! E isso era estranho!
Álvaro nasceu em berço pobre, filho único de uma mulher franzina, de pouca estatura, que nunca lhe faltou. Mãe solteira, cuidou com muito amor do menino, fruto de um relacionamento tóxico que procurava esquecer. Fazia faxina durante o dia enquanto o garoto ficava numa creche. Com o pouco que ganhava, pagava uma senhora de idade para pegar o garoto e levá-lo para casa, de onde, à porta do barraco, ele sempre a esperava e só dormia quando a beijava.
Apesar das dificuldades, a mulher não desistia de sonhar, acordava todos os dias bem cedinho e ia à padaria de Seu Manoel, onde comprava o pãozinho do menino, que fazia questão de esquentar na chapa e o servir com um copo de leite com chocolate bem quente. Antes de novamente enfrentar o mundo de peito aberto, abraçava sua cria, fazendo-lhe na testa o sinal da cruz.
Com um sorriso tímido à face, nunca se abatia, mesmo quando as coisas não estavam bem, mesmo quando as patroas não lhe pagavam o acertado. Atravessava a Pauliceia Desvairada de Mário de Andrade de ônibus, quando tinha algum trocado, ou em uma bicicleta enferrujada que vivia soltando a corrente, quando o dinheiro não dava. Entre o pão do menino e o transporte dela, optava sempre pelo filho, porque acreditava que Álvaro, o seu grande amor, seria alguém na vida e, em sua velhice, a ampararia, com todos os netos que teria.
Mas a vida é imprevisível e muitas vezes cruel, assim como também é o destino, e em certa noite, retornando do trabalho, não viu o sinaleiro se fechar e atravessou, indo de encontro a uma caminhonete, que a lançou contra a sarjeta. Ali caiu e dali nunca mais se levantou.
Do outro lado da cidade, com a porta entreaberta, o garoto contava os minutos, mas a mãe não chegava, isso nunca havia acontecido; onde ela estaria? Será que não gostava mais dele? — perguntava-se, encolhido, como um desses bichinhos de estimação. Não tardou, a polícia chegou com a tia, uma mulher de pouco trato, de temperamento explosivo, dizendo aos quatros ventos — e ainda mais para uma criança —, que um carro havia passado por cima da mulher. O menino ficou em choque. Sequer foi capaz de soltar uma lágrima.
Ela o puxou com força, fechou o casebre, pondo a chave dentro do sutiã. E com a mesma viatura, retornaram ao velório municipal, onde a mulher, após intervenção de um vereador, estava sendo velada. Quando a viu, não se conteve, correu para o lado dela; mas diferentemente do que dizia sua ingenuidade, ela não estava mais ali. A tia o agarrou, deu-lhe um beliscão e pediu que se comportasse, ignorando sua dor. E antes do caixão ser fechado pela última vez, ele se aproximou, limpou as lágrimas e prometeu que nunca mais voltaria a chorar. Nunca mais!
A tia vendeu o barraco e, com o dinheiro, comprou roupas aos cinco filhos dela, assim como os alimentou enquanto pôde. A ele, coube os trapos do filho do meio. Não podia falar nada, comia no chão, ao lado do cachorro, um bicho sujo e cheio de pulgas, a quem mais amava nesse mundo, depois de sua mãe.
Mas a tia nunca estava satisfeita, se podia fazer mais maldades, por que esperar? Mandava-o debaixo de chuva às esquinas pedir esmolas e o pouco que conseguia revertia-se em bebida e em alguns poucos mantimentos. Não passava um dia sem apanhar e, como havia prometido, nenhuma lágrima lhe descia dos olhos. Aguentava tudo calado, como se fosse uma penitência divina!
O tempo foi passando, Álvaro cresceu, tomou gosto pelas ruas, começou a trapacear; a tia, vendo-o com sapato novo, celular e roupa de grife — frutos de furto, ao invés de corrigi-lo, cobrava uma participação nos crimes para que não o denunciasse. E assim o garoto sorridente tornou-se um homem triste e desprezível, tão torto como os galhos do tataré¹.
Levado pelas amizades, atravessou a fronteira dos pequenos delitos e logo estava no radar de Luizinho, que o queria por sua habilidade em estourar cadeados e fechaduras e arrombar todo tipo de cofre. Na primeira missão, foi aplaudido; na segunda, admirado e, na terceira, preso. Recebeu a tia meses depois. Ela quis dizer-lhe algumas verdades — como se tivesse algum direito, logo ela, que tanto o explorou —; acabou morta num desses becos, dias depois. Até hoje não se sabe se ele teve ou não participação no assassinato, mas como sempre dizia, algum dia ela encontraria o dela… E encontrou!
Apesar de todo esse sofrimento, quando se aproximava o Dia das Mães, ele se escondia de todos e ficava horas em silêncio; não era o homem que a mãe havia projetado, mas que o mundo havia formado. E como prometeu, nunca mais choraria! E não chorou, até este dia, quando Luara, em seus braços, tomava o mesmo caminho de sua mãe. E como chorou! Era de dar pena!
— NÃO SE VÁ, POR FAVOR!!! — implorava, como se a conhecesse há muito tempo.
Egídio assistia a tudo da fresta da janela como desacreditando; aquele bobalhão estava mesmo apaixonado. E era preciso dar um fim nisso, antes que toda a operação fosse comprometida. Então foi à procura do patrão, sendo interceptado pela cigana, que já se avizinhava, atraída por vibrações muito negativas.
— O que você quer? — pergunta a mulher, contraindo os ombros que pareciam carregar o mundo.
— Eu… eu… — ela o assustava — … eu… quero falar com o patrão.
— Ele foi resolver alguns problemas! Mas o que está escondendo? — estranha a aflição do homem.
— Álvaro…
— … e o que tem ele? — passa os dedos sobre a fronte de Egídio, num movimento semelhante à hipnose. — Fale!
Conhecendo os fatos, a mulher endoidece, indo ao encontro dos dois.
Quando ela entra no quarto, uma das lágrimas do rapaz se junta às da garota, e como por força de uma milagre, ouve-se um estalo… Os anjos deixam de chorar, as trombetas ecoam, a carruagem para, dá meia volta, e recua… o vale do abismo se fecha. O ar retorna aos pulmões da jovem, o coração retoma o ritmo normal, a pele ganha cor, os nervos cedem… Luara estava viva! E como estava! Abraçando-a, Álvaro sentia o correr de seu sangue, o calor de seu corpo, o aroma que lhe vinha atiçado de dentro da alma.
À porta, Aurora não exprime qualquer reação; sua vontade era a de estar no lugar da filha de Martim, nos braços do capanga, mas o destino, infiel escudeiro, a traía sem piedade. E com uma lágrima a descer pela face, se afasta, sem que fosse notada.
— O que está acontecendo aqui??? Agora entendi tudo! — Egídio confidencia-se a si mesmo, ligando os fatos. — A cigana também está caidinha pelo bobalhão. Vixe! Quando o patrão souber, a casa vai cair!
A mulher, cabisbaixa, entra na mansão, pega o baralho, separa-o em dois montes, de onde retira duas cartas. E a resposta dos oráculos confirma o que está sentindo. Sobre a mesa, o coração e o cigano combinam-se, revelando que ela nutre um sentimento verdadeiro por um homem. E nem é preciso dizer o nome dele. Realiza nova consulta e a resposta é a mesma. Num ataque de fúria, arremessa a mesinha contra o chão, as cartas se espalham, os cristais trincam e a bola de cristal, enegrecida, estoura, lançando estilhaços para todos os cantos.
— Não pode ser!!! Não pode!!! — berra. — E logo por um bobalhão?
— O que acontece aqui? — pergunta o Patrão, intrigado, achegando-se.
— Vo-vo-você não havia saído, meu querido? — indaga, procurando uma explicação para aquele ataque de nervos.
O homem apenas a fita, pega um dos cristais, segura-o bem forte, com os olhos injetados de ira:
— O que acontece? Fale! Esconde-me algo, não é? — aproxima- se, brincando com a pedra, como se quisesse atirar nela. — Sou todo ouvidos! O que há, meu “amuleto”? RESPONDA!
— Senhor… — Egídio interrompe, atraindo a atenção. — … a garota…
— O que tem ela? — vira-se para o bandido.
— Não sei, patrão! Está muito mal, Álvaro está lá, tentando evitar o pior — era como se o bandido quisesse ajudá-la.
— ÁLVARO??? — encontra os olhos de Aurora, que se encolhem, juntando as peças. — Ele está com ela??? E quem autorizou???
Egídio observa a mulher com minuciosa atenção enquanto narra os fatos.
— Não pode ser!!! Aquele merda vai acabar matando a garota. E quem o autorizou a entrar lá??? — surta.
— EU!!! — responde a cigana, assumindo a culpa pelos atos do homem que agora tomava conta de seu coração, para nenhuma surpresa do capanga, que confirma todas as suas suspeitas.
— E POR QUÊ??? O QUE TEM NESSA CABEÇA DE BAGRE??? ERA PARA VOCÊ CUIDAR DELA… ESQUECEU- SE???
— BAGRE??? TEM CERTEZA DO QUE DISSE, MEU
QUERIDO??? — a mulher recobra a coragem, indo ao encontro dele, que recua.
— Eu… eu… bem… falei demais… momento de raiva… Ainda que desconfiasse, Luizinho não poderia provar nada, por
isso, abaixa a cabeça e finge se arrepender na intenção de comover o coração da cigana, cujos pensamentos estão no outro bandido, que invadiu sua alma e nela fez morada.
— Vamos lá ver a garota — diz o Patrão, caminhando-se para o quartinho, na companhia dos dois.
As horas avançam…
— Então a senhora viu um carro preto seguindo vocês??? — pergunta Enrico a Matilde, na mansão dos Vaz.
— Não sei se estava seguindo, nem sei se tem alguma relação com o sequestro, pode ser até coincidência.
— Pare de medo e conte tudo, inclusive dos dois homens… — ordena o general.
— Seja objetiva, senhora, se quer mesmo ajudar — pede o delegado.
— Este carro sempre passava por aqui com dois homens…
— Consegue descrevê-los?
— Não! Eles eram sempre ligeiros.
— E o que mais?
— Eu os vi de relance no cemitério, diziam coisas que não compreendi direito, algo como dar o bote…
— Vocês estavam sendo vigiados — deduz.
— Mas…, mas… como assim? — indaga Martim. — Acha que eles estavam de tocaia?
— É possível! O senhor deveria ter avisado a polícia assim que dona Matilde o alertou, talvez tivéssemos evitado tanto sofrimento.
— Não pensei que fosse sério… a culpa é toda minha! Se eu a tivesse ouvido… — agora conversa com a empregada. — Desculpe, Matilde! A culpa é toda minha!
— Que homão é aquele, Eufrásio??? — pergunta Cleide, encostada ao batente da porta da cozinha, enquanto o devora com os olhos. — Um daqueles no meu barraco daria incêndio… Uh! Que calor! — abana-se. — Viu o bração dele? Me pegaria de jeito no primeiro abraço…
— Tome vergonha nessa cara, Cleide, a situação não tá para brincadeira, a menina foi raptada.
— E quem é você para falar assim comigo, CRI-A-DO???
— Como se você também não fosse — responde, ajeitando a gravata.
— Não sou criada… Me respeite, seu desaforado! Sou é assessora de assuntos aleatórios de dona Leonor.
— Aleatórios mesmos — debocha o homem, apontando para a cozinha —, porque a louça do almoço ainda está toda lá.
— Ah, vá cuidar de sua vida, seu enxerido. Como pode ser tão fofoqueiro? Tenho raiva de gente assim.
— Assim como?
— Que repara na vida dos outros e passa o tempo todo fofocando.
— Então você nunca se vê no espelho — devolve, para a raiva da mulher, que se retira.
— Acredito que aquele jovenzinho, o tal do Nicholas, tentou salvar sua filha, por isso terminou morto… Mas são apenas conjecturas que se confirmarão ou não com o decorrer das investigações — declara Enrico, anotando algumas observações em uma cadernetinha de bolso, dessas bem simples, que se encontra em bancas de camelô.
— Quero minha filhiiinha, doutor!!! Ache ela, pelo amor de Deus!!! — grita Leonor, entrando na sala, toda desarrumada.
— Ela acordou… — sussurra Matilde a Martim, com a intenção de que o patrão a contivesse.
— A senhora é a mãe da vítima, imagino!
— Sim!!! Sou eu mesma… Cadê minha filhiiinha??? Estou tomada de dor… uma dor tão profunda que não desejo ao meu pior inimigo.
— Inimigo? — intriga-se o delegado, tentando estabelecer conexão entre os fatos. — O senhor já ouviu falar de um tal de Patrão?
— Meu patrão é o Governo — responde, sem se ater à pergunta.
— Não estou falando desse patrão, mas…, mas… do Patrão?
Cleide derruba a bandeja com uma xícara de café que trazia, ao ouvir a conversa, atraindo a atenção do oficial, que a observa desde o retirar dos cacos à limpeza do chão.
— Vou descontar de seu saláááário, Cleeeide! Como pode quebrar uma das chávenas de porcelana da coleção que recebi do primeiro-ministro de Portugal? Isso é o cúúúmulo!
— Foi só uma xícara — Enrico interfere, diante do exagero da mulher.
— Perder uma filha ainda vá, mas uma chávena, pintada à mão, com friso dourado, ah, isso é muuuito para minha cabeça! Aff! Não se fazem mais criaaadas como antigamente!
— Eu poderia autuar a senhora agora… — ameaça a autoridade. O general o segura, girando o dedo indicador em volta da orelha.
— Mas o que ela fez é crime, senhor? Como pode humilhar alguém assim?
— Mas ela não me humilhou, delegado — intromete-se Cleide, ao ouvir a conversa —, Dona Leonor é minha “ídola”. Sabe, lá no barraco dos meus pais, em Ceilândia — o lugar chama a atenção do oficial, que redobra a atenção sobre a empregada —, há até um retrato dela, num quadro que mandei fazer. Não há quem não admire… O senhor acredita que da última vez que estive lá, vi o povo a saudar, antes de entrar, como se ela fosse uma princesa inglesa?
— PRINCEEESA INGLEEESA??? EEEEU? Pois está perdoada, não vou lhe descontar mais nada; o que é uma xicarazinha perto de um quadro com a minha imagem? Dobre o salário dela, Melancia, esta sabe valorizar a boa arte que ainda paira sobre esta terra.
— “Melancia”, “boa arte”, “retrato”… do que elas estão falando?
— inquire-se Enrico, incrivelmente atordoado com toda aquela loucura.
— Deixe isso para lá — sussurra Matilde —, essas duas não batem bem.
— Não é bem assim não… Ei! — o delegado chama pela cozinheira. — De onde a senhora é mesmo?
— Ceilândia, senhor! — responde, percebendo que havia falado demais.
— Ao lado da favela Sol Nascente, certo? A mulher engole a saliva com dificuldade.
— E por acaso conhece o Zangado?
— O anão da Branca de Neve? Não sabia que o senhor era chegado a contos de fadas — ri Leonor, encantada com a simplicidade do delegado. — Que bonitinho, né, Cleide? Um homenzarrão gostoooso como este, digo, digo, um homem desse porte tão sensível… Uuuhhh!!! Dá até um arrepio!! Veja os pelos de meus braços — aponta —, estão todos ouriçados.
— Comporte-se, senhora, sou uma autoridade e exijo respeito!
Quer ser presa por desacato?
— Que horrooor!!! Ameaçada em minha própria casa! Ah, isso não pode! Não vai fazer nada não, Melancia?
— CALE A BOCA, LEONOOOORRR!!! — ordena o general, exasperado. — Continue, delegado.
— Pois bem, Zangado é o chefão da maior favela do Brasil e, pelo que percebi, também é conhecido de Cleide, não é? — aproxima- se dela. — E arrisco a dizer, do modo como cuida da vida dos outros, conhece também Solano, não é?
A empregada, com o suor tomando a face e as vestes, esbugalha os olhos enquanto o chão parece girar; de um só golpe, dá um gritinho de dor e cai desmaiada sobre o belo tapete persa.
— Que horrooor!!! Não vá sujar meu tapete, Cleeeide! — repreende a patroa, sendo puxada pelo marido, antes que o delegado a recolhesse ao xilindró.
O telefone toca. Matilde corre atendê-lo, fazendo sinal ao delegado de que era o sequestrador.
— Atenda! — sussurra a autoridade ao dono da casa.
— É o cara da feijoada, Matilde? — pergunta Leonor, assustada.
— Silêncio! Deixe o seu Martim cuidar disso — responde a governanta, prestando socorro à cozinheira, sem desviar a atenção do pai de Luara.
— Sim!!! Sou o general!!! O QUÊ??? — entra em choque. — NÃO!!! NÃO MATEM MINHA FILHA!!! EU IMPLORO! NÃO MAAATEM MINHA FILHA!!!
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1. Árvore caducifólia, de ciclo de vida perene, ornamental, com um tronco característico, tortuoso e com tons marmorizados.
com ilustrações de
Andrea Mota
trilha sonora
REALIZAÇÃO

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