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A Deusa Bandida: Capítulo 03

Novela de Carlos Mota
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A DEUSA BANDIDA - CAPÍTULO 03

No dia seguinte…

A urna funerária percorre a principal via do cemitério em direção a um dos jazigos mais imponentes, acompanhada pela filha de Martim, que chora, acolhida aos braços de Matilde, a governanta da família, uma mulher distinta, amável, apesar da beleza pouco atraente. Trazida do interior de São Paulo, após uma das raras visitas de Dona Beatriz às fazendas dos Trajanos - a quem confiava pequenos segredos e compartilhava de investimentos no ramo comercial - ela testemunhou o nascimento de Luara, acompanhou os seus primeiros passos, levou-a à escola no seu primeiro dia e com ela esteve todo o tempo, protegendo-a do mundo selvagem e, principalmente da mãe, dona Leonor, que a filha nunca se importou, apesar das aparências demonstrarem o contrário. Não fossem pelos conselhos de dona Beatriz ou mesmo dela, Luara não teria resistido às investidas maternas e teria partido aos primeiros chamados da morte.

A garota chora em soluços, está arrasada, como se o chão lhe faltasse, despertando a comoção nos mais sensíveis e visível desconforto naqueles que carregam no peito um coração de pedra, alimentado pelo dinheiro e pela ganância irrefreável – as moedas que movimentam o grande teatro que se levanta diariamente nas arenas de um Congresso dominado pelo oportunismo e pela selvageria da ambição.

Distante do marido — que está ao lado do caixão — e bem no final do cortejo está Leonor, transmitindo uma live aos seus seguidores. O desvario atinge um grau de intensidade alarmante que, certamente, em outras épocas, desacreditariam as teorias mais bem fundamentadas de Phillippe Pinel¹.

Meus seguidores amados, é com pesar que… — interrompe a gravação para dar uma bronca em Eufrásio, que intimidado pelo cenário, segura o celular sem firmeza — … me desculpem pela imagem trêmula, mas vocês sabem, a perda de um ente querido nunca é fácil. Confesso, estou muuuito abalada! Mas vejam… vejam… lá está minha queriiida sogra, naquele caixão em mogno folheado de madeira, de uma chiqueeeeeeza de causar inveja na concorrência!!! Vamos, homem, quero mostrar a cara dela — sussurra, puxando o motorista, que ora filma os amigos da família, ora os túmulos adjacentes.

Calma, estou indo, senhora, mas estou muito nervoso!

Vai ser buuurro lá no inferno… — dá um chilique, recuando em seguida — … ou lá no Céu! Desculpe aí, meu pooovo! — acena para os jazigos, como se eles a ouvissem. — Vamos, mostre a velha… digo, a minha “queriiiida sogra”…

Chegam ao local do sepultamento, todos param, o caixão é reaberto pela última vez, e ao reencontrar a face de sua avó, Luara intensifica o pranto enquanto as lembranças de uma época marcante lhe são arremessadas da roda do tempo:

Onde estamos, vó? — pergunta a menina, trajando um vestidinho bem simples, com um chapéu bucket à cabeça.

Minha querida menina, foi aqui que a vovó nasceu. Estamos em Vila Real de Santo Antônio, na divisa de Portugal com a Espanha. É lindo, não é? — a mulher segura as lágrimas, ao rever a praça principal, as ruelas, o comércio e as casas de estilo sóbrio e contido do lugar. — Venha, venha! Quero lhe mostrar algo, venha, menina!

Chegam ao cais onde estão atracados dezenas de barcos, de todos os tamanhos e modelos.

Nossa, vó!!! — exclama a garota, no auge de seus sete anos. — Para onde vão todos estes barcos?

Navegarão pela costa portuguesa de Vila Real, pelo litoral espanhol de Ayamonte, até onde a água os levar… — responde, visivelmente emocionada, com uma lágrima desorientada a descer a face.

O que foi, vó? Por que chora? Eu… eu… fiz alguma coisa???

assusta-se a frágil criança.

Não, minha linda — responde, limpando os cantos dos olhos com um lenço —, a vovó está um pouco emocionada apenas. Só isso! Mas já vai passar, tá? Sabe, foi aqui que eu estive com seu bisavô pela última vez. Até hoje me lembro, eu era bem menor que você, quando ele alugou um barco, trouxe um monte de coisas gostosas numa cesta gigante para a gente comer; mesmo contrariando sua bisavó, que estava bastante enjoada com o balanço da embarcação, ele continuava a me encantar com seus fados…

O que são fados, vovó?

Fados… fados são canções populares… — o olhar da senhora está fixo à imensidão das águas do Rio Guadiana, que a saúda festivo. E em agradecimento, ela retribui, entoando os versos de “Fado Português”, que na voz de Amália Rodrigues², era um hino aos sentimentos mais profundos que contornam a alma e o coração do povo lusitano:

“O Fado nasceu um dia
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava
Na amurada dum veleiro
No peito de um marinheiro
Que estando triste cantava
Que estando triste cantava

Ai que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas flores frutas de oiro
Vê se vês terras de Espanha
Areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro”

Cede à emoção, quando a imagem do pai alegre e saltitante ressurge-lhe diante dos grandes e afoitos olhos, que se veem presos a uma época que já não existe mais.

Vó… ei… — chama pela mulher, que está entregue aos pensamentos. — Vó…

O homem dedicado à família, que sempre a fez sorrir, morreria horas depois, num acidente de carro, nas vielas tortas da freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa.

Oi, minha linda, oi…

Você está me assustando… por que está chorando?

De felicidade! E hoje estou muito mais feliz, porque consegui trazer você, a pessoa que mais amo neste mundo, ao lugar que marcou minha vida…

A menina sorri como um querubim.

Continue a canção, vovó! — pede, com os olhos reluzindo feito fogo. — Continue! Eu estava gostando.

“Na boca de um marinheiro
Do frágil barco veleiro
Morrendo a canção magoada
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar e mais nada
Que beija o ar e mais nada

Mãe adeus, adeus Maria
Guarda bem no teu sentido
Que aqui te faço uma jura
Que ou te levo à sacristia
Ou foi Deus que foi servido
Dar-me no mar sepultura”

Assim que ela termina, a garota a abraça bem forte pela cintura.

Venha, menina, venha! O barco está saindo, vamos navegar pelas águas do Guadiana.

O dia, iluminado por um sol efusivo, clareia o caminho.

Vó, eu não entendo uma coisa…

E o que seria?

Essa gente fala muito rápido — refere-se aos demais passageiros, portugueses de origem —, se a senhora nasceu aqui, por que não fala como eles?

A mulher sorri com a esperteza da neta.

A vovó foi levada muito cedo daqui. Depois da morte de meu pai, o seu bisavô, minha mãe regressou ao Brasil, sua terra natal, onde viveu por mais alguns anos, completamente triste, até que… — respira com dificuldades — … até que…

… até que…? — exige a pequena.

… despediu-se deste mundo ao “cair” de uma ponte. Depois que ela partiu, meus avós brasileiros, gente muito rica do interior, mandaram-me para um colégio interno onde pude receber a educação mais refinada da época. Enfim… — vira a face para o outro lado, tentando ocultar a dor ao narrar a própria saga.

Vovó…

Sim! — volta-se para a pequena. — Fale!

EU TE AMO, SABIA??? — beija a mulher com toda a força de seu ingênuo e puro coração de menina — E NÃO QUERO QUE A SENHORA MORRA NUNCA, NUNCA, NUUUNCA, VÓ!!!

Ei… acalme-se — pede a mulher, emocionada com as palavras da neta —, eu não vou morrer, estou aqui, veja!!!

Mais todo mundo morre… — faz uma carinha de choro. Beatriz se espanta com o amadurecimento da menina.

Ei, eu estou aqui, já falei!

Promete que NUNCA vai morrer???

De que vale uma promessa de que não poderá cumprir? Mesmo assim, Beatriz a faz, quer manter a neta tranquila, feliz, como devem ser todas as crianças de sua idade.

Você me prometeu, vó!!! — sussurra Luara, regressando ao presente, ao lado do caixão, de frente à face da mulher que mais amava no mundo, a quem não teve tempo de se despedir. — Mas a senhora sabia que isso seria impossível, fez isso por amor, não é??? Amou-me tanto quanto a amei! Mas agora eu estou só… — a voz embarga.

Venha, filha, venha! — pede o pai, pegando-a pelos ombros.

Martim não chora, diferentemente da filha, pois tem a certeza de que a mãe era especial demais e estaria agora sendo recebida no céu por uma comitiva de anjos.

Que horrooorrrrrr!!!! Olha o batom que passaram na senhora, minha sogra!!! E esse pó de arroz? Da marca mais chinfrim!!!

sussurra, Leonor, aproximando-se da face da idosa, a quem deveria dar o último adeus. — Se eu fosse a senhora, levantaria desse caixão agora e iria tirar satisfação com o dono da funerária, até porque, morrer não deve ser fácil, pelo menos eu acho, agora ser enterrada como uma mocreia, ah, isso já é demais! Mas quem vai se entender com a capeta é a senhora, não eu, então boa sorte!

Saia já daí, Leonor! — puxa-a, Martim, irritando-se. — Nem aqui é capaz de nos dar um pouco de paz? Onde eu estava com cabeça quando resolvi me casar com você?

Calma, Bete! Estava me despedindo da velha… digo, da minha queriiiida sogra — corrige a frase, ao perceber que Eufrásio a filmava. — Que tristeza enorme agora mora em meu peito — simula um intenso sofrimento à plateia de seguidores, que já ultrapassava a casa de centenas de milhares. — Só eu sei o quanto será penoso viver sem esta mulher, a quem eu tinha como uma verdadeira mãe.

Mentirosa! — confidencia-se Matilde, tentando conter a gargalhada. — Com certeza, nela faltam todos os parafusos do mundo!

SAIA! SAIA DAÍ! — grita o marido, acabando com a encenação da mulher. — Querem show, seus inúteis? — agora se aproxima do celular, para a surpresa do motorista e desespero da esposa. — Que vão ao circo! Isso aqui é um funeral, se é que ainda não perceberam! E desligue logo isso, Eufrásio! — ordena.

Não faça iiisso, Martim, vou ser cancelada!!!! Que hooorror, meu Deus! O que eu fiz para merecer tal castigo? Uma mulher que só se preocupa com os mais humildes… — simula um choro de causar dó.

Perdeu o senso do ridículo? — pergunta Luara, indignada com a postura da mãe. — Por favor, respeite a memória de minha avó. O padre, que integra a comitiva, recebe a palavra, repassa algumas passagens bíblicas, conduz a oração como um maestro e atira algumas gotas de água benta sobre o corpo, dando a bênção final à falecida. O caixão é lacrado, para o desespero da neta, que encontra

conforto nos ombros de Matilde.

A alguns metros, com o anonimato protegido pelas paredes de um enorme jazigo, um dos suspeitos permanece fotografando-a. Aparenta comoção, algo incomum a quem supostamente a desconhece.

Aos poucos, os presentes se dissipam, não a garota, que se mantém diante do túmulo, agora fechado.

Vamos, filha! — pede o pai. — Vamos, não há mais o que se fazer, a não ser aceitar.

Seu pai tem razão, Luara! — afirma Matilde. — Vamos voltar para casa, prometo lhe fazer um bom chá de camomila.

Meus queriiidos, perdoem-me pela grosseria de meu esposo, ele está muito abalado com a morte daquela peste… digo, daquela saaaaaaanta mulher, sua mãe!!! Não me cancelem, por favor!!! — implora Leonor, agora com o celular em mãos, durante a live, cuja audiência ultrapassava a fronteira dos milhões de likes.

Vou ficar mais um pouco, pode ser, pai? Eu quero dar o último adeus à minha avó.

Filha, ela já se foi, não há mais nada que se possa fazer… Luara não responde.

Deixe-a, senhor, ela precisa desse tempo — aconselha a governanta.

Tudo bem! Vamos esperá-la no carro, tá? — diz o pai.

Percebendo que os últimos familiares se afastavam, o rapaz desliga a câmera e se dirige à garota, bem devagar.

Ei, ei, o que aquele imbecil está fazendo? — pergunta-se o outro estranho, bem mais distante, atrás de uma árvore, sacando-se de um celular. — Atenda, Álvaro! Vamos, seu corno, o que você está fazendo? Isso não está nos planos.

O rapaz ignora todas as chamadas e permanece se aproximando, sem ser notado pela garota, que está entregue à própria dor.

Ele furta um maço de flores de um túmulo, passa por Luara e para ao lado dela, diante de uma sepultura em cimento cru, cuja placa estampa apenas o seu número de identificação. Ambos ainda não se viram.

Saia daí!!! — pede o comparsa, ainda num tom moderado. — O patrão vai acabar com a raça dele quando souber. Cara burro, meu; não era para fazer isso.

Álvaro ajeita o maço com cuidado, ajoelha-se para retirar algumas ervas daninhas que brotaram ao redor, depois se levanta, permanecendo em silêncio como se estivesse orando. Aos poucos vai ganhando a atenção da garota.

Você também perdeu alguém querido? — tenta estabelecer um diálogo.

Ela não responde.

Eu sei o que é isso, é mesmo difícil, né? Perdi meu pai, que aqui jaz há alguns meses, e por mais que o tempo passe, a dor não se cala, apenas ameniza.

Luara cai em um pranto desolador, para a inquietação do rapaz, que tenta consolá-la:

Ei… ei… ei, moça, acalme-se!!! — pede, cada vez mais próximo dela. — Ei…

À medida que os olhos dela se encontram aos seus, ele paralisa, tomado por um forte arrepio que lhe corre desatinado da cabeça aos pés. A saliva escasseia, a face ruboriza, o corpo gemica, as palavras desaparecem e a coragem – logo a coragem – se vai em meio a uma estranha ventania que desce do céu, varre o lugar e se refugia nas entranhas da terra. Estático, como que hipnotizado, não consegue fazer outra coisa a não ser apreciá-la. — Que mulher é essa? — pergunta-se, desorientado como uma bússola avariada. — Não pode ser real! Não pode!

Meu, o que aquele imbecil está fazendo??? — desespera-se o comparsa, vendo Martim se aproximando para buscar a filha. — Ele vai estragar o plano. Burro do inferno!!! Saia já aí! Tenho que fazer alguma coisa antes que tudo degringole.

Eu perdi minha avó! — responde Luara, numa voz frágil, dominada pela tristeza, mas que a ele ecoa como uma das mais belas sinfonias conduzidas por criaturas que habitam o universo divino. — E você, per-perdeu quem mesmo? — pergunta, voltando a atenção para o túmulo da avó.

Álvaro não responde, ainda que ousasse, não conseguiria; as palavras gritam na alma, mas a boca está amordaçada por sensações que nem ele mesmo é capaz de compreender. Impera o silêncio em meio a um grande barulho interior.

Você perdeu quem mesmo? — insiste a jovem, procurando os olhos dele de novo, e quando os encontra, algo inesperado acontece. O coração, mesmo naufragando no mar da agonia, parece ter encontrado um farol, a quem poderia se guiar, até reencontrar a terra firme.

Um pedrisco atinge a cabeça do rapaz, que derruba a máquina fotográfica no chão e se liberta do transe; olha assustado para os lados, até que encontra o comparsa, que faz sinais desesperados para que se retire, antes que o patriarca da família Vaz o flagre.

Após recolher a máquina, foge, cobrindo o rosto com as mãos, ao perceber que o general estava a poucos metros.

Filha, quem era? — pergunta, estranhando a figura que desaparecia entre as sepulturas.

Eu… eu… eu não sei!!!

Vamos sair daqui!!! Vamos!!!

Ela corre os olhos pelo lugar, a curiosidade é latente; como não o encontra, acata o pedido do pai.

Que merda foi essa que você fez, idiota??? Quase pôs tudo a perder!!! Responda!!! — exige o comparsa, puxando-o pela gola da camisa, sendo observados com estranheza por Matilde, que oculta por um mausoléu, nas proximidade do portão de saída, ouve parte da conversa. — O chefe vai acabar com você quando souber, ah vai, mas agora vamos dar o fora daqui!

Álvaro apenas se desculpa, confuso, ainda sob o feitiço da jovem.

Que foi isso que você fez??? — insiste, entrando no carro. — Fale, cara, antes que eu meta uma bala nos seus miolos — retira a arma da cintura.

Abaixe isso! — pede, enquanto checa se a máquina foi danificada. — Com quem pensa estar falando, malandro? Pô, somos parças! Eu vacilei, meu, dê um tempo aí… — tenta se justificar com a imagem da moça controlando seu juízo — … eu fui me aproximando, quando percebi, já estava lá… queria dar logo o bote… mas, sei lá, deu tudo errado! Merda! Isso não vai mais acontecer! Nunca mais! Nunca mais! — afirma, ainda que seus pensamentos o contrariem.

Mesmo desconfiado, Egídio abaixa a guarda, liga o carro e parte, sem perceber que Matilde os acompanha até sumirem na imensidão.

_____________

1. No século XVIII, Phillippe Pinel, considerado o pai da psiquiatria, propõe uma nova forma de tratamento aos loucos, libertando-os das correntes e transferindo-os aos manicômios, destinados somente aos doentes mentais.

2. Cantora, atriz e fadista portuguesa, geralmente aclamada como a voz de Portugal e uma das mais brilhantes cantoras do século XX. Tornou-se conhecida mundialmente como a Rainha do Fado e, por consequência, devido ao simbolismo que este gênero musical tem na cultura portuguesa, foi considerada por muitos como uma das suas melhores embaixadoras no mundo. Está sepultada no Panteão Nacional.

autor
Carlos Mota

com ilustrações de
Andrea Mota
 
elenco
Luara
Álvaro
Aurora
Diana
Martim Vaz
Leonor Moreira Vaz
Beatriz Vaz
Matilde
Cleide
Eufrásio
Sofia
Luizinho como Patrão e Camaleão
Egídio
Enrico
Português

trilha sonora
Immortal - Thomas Bergensen
 
produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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