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Passos da Paixão - Capítulo 01

Novela de Édy Dutra
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PASSOS DA PAIXÃO - CAPÍTULO 01

 
 
 
 

 

CENA 01. TAKES RIO DE JANEIRO. INÍCIO DOS ANOS 90

Imagens gerais da Cidade Maravilhosa. Mostra pontos turísticos, como Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Baía de Guanabara, Maracanã.

Legenda na tela: Meados dos anos 90.

CENA 02. VILA ISABEL / BAR DO NOEL. INT. DIA.

Dia de sol. (sobe trilha “Feitiço da Vila” – Noel Rosa) Imagens do bairro de Vila Isabel, paisagens, arquitetura, o cotidiano do lugar. Corta para o Bar do Noel. Muito samba, alegria, muitas pessoas dentro e fora do bar, que fica numa esquina movimentada do tradicional bairro carioca.

Entre os músicos da roda de samba, está Laerte (moreno, 25 anos, corpo atlético, cabelos curtos), tocando pandeiro, animado. Lindas mulheres sambam. Alegria geral. (fade out trilha “Feitiço da Vila” – Noel Rosa) Uma mulher (perto dos 40 anos, estatura mediana, cabelos escuros na altura dos ombros) caminha por entre os convidados, passando bandejas de salgados. Um homem (40 anos, um pouco grisalho, pele amorenada, gordinho) se aproxima.

MULHER (aos convidados): - Bolinho de bacalhau? Quem quer?

HOMEM: - Ainda tem cerveja lá dentro, Janice?

JANICE: - Tem sim, Almir. Vê lá no freezer dos fundos! (aos convidados) Bolinho? Tá quentinho!

Almir sai. Janice chega à frente do bar, fica admirada com a alegria das pessoas. Do outro lado da rua, duas moças, uma loira e outra morena, caminham em direção ao bar. A loira, trajando um vestido curto, laranja, decotado, valorizando seu corpo, cabelos ondulados, salto alto. A morena veste calça jeans e blusa mais solta, azul em tom pastel. Janice as vê de longe. Rosana e Sílvia chegam para a festa.

JANICE: - Pensei que não iam vir!

ROSANA: - E você acha que a gente ia perder esse festão todo? Um ano de Bar do Noel!

SÍLVIA: - A gente só demorou porque a Rosana fica se enrolando pra escolher uma roupa.

ROSANA; - A ocasião é especial, Silvinha... Não posso sair vestida de qualquer jeito.

JANICE: - O que importa é que vocês chegaram! Boa festa, meninas! Aproveitem!

SÍLVIA: - Obrigada! 

Janice se afasta. Rosana olha em volta, observa as pessoas. Na roda de samba, Laerte cuida Sílvia. 

SÍLVIA: - Laerte ta me cuidando!

ROSANA: - E o que é que tem?

SÍLVIA: - Vai que o Júlio esteja por aqui também? (se arruma) Estou bem assim?

ROSANA: - Me poupe, Silvinha! Querer se produzir pro Júlio. Era só o que me faltava... Fica com o Laerte que tu ganha mais.

SÍLVIA: - Para Rosana... É sério. Você sabe que eu sou louca, que eu tenho um carinho muito forte pelo Júlio.

ROSANA: - Não vale nada... Metido com bandido, sabia?

SÍLVIA; - É mentira!

ROSANA: - É o que o pessoal ta comentando aí... Bom, deixa de papo furado e vamos entrar porque eu quero me acabar nesse samba!

Rosana entra no bar, atraindo olhares. Usando uma roupa justa e decotada, ela samba próxima da roda. Sílvia fica do seu lado, um pouco mais contida. Laerte não tira os olhos de Sílvia, que disfarça o olhar.

CENA 03. AVENIDA. EXT. DIA

Cena de uma avenida movimentada. (sobe trilha Codinome Beija-Flor – Luiz Melodia) CAM foca num motoqueiro, andando em alta velocidade pela pista, vestido todo de preto e capacete.

CENA 04. BAR DO NOEL INT/EXT. DIA.

(fade out trilha anterior, “Codinome Beija-Flor     “ – Luiz Melodia / entra trilha ambiente, o som da roda de samba) A festa segue animada. Laerte sai da roda de samba e vai em direção a Sílvia.

LAERTE (a Sílvia): - Não sabia que você viria também.

SÍLVIA: - Não poderia perder o maior evento do bairro, depois dos ensaios da Vila, é claro (risos)

ROSANA: - Ih, to sobrando... fui! (saindo)

SÍLVIA: - Rosana, espera!

Rosana sai.

LAERTE: - Você não precisa ter medo de ficar do meu lado. Não vou te fazer mal nenhum.

SÍLVIA: - Ai Laerte, não é isso, é que (pausa)

LAERTE: - Está com medo dele chegar aqui, e te ver comigo?

SÍLVIA: - Ele quem?...

LAERTE: - Não precisa se fazer de desentendida, Silvinha. O Júlio não vai ser louco de colocar os pés aqui depois do que aconteceu semana passada.

SÍLVIA: - Mas será que ninguém percebe que ele não tem nada a ver com essa tentativa de assalto? Ele só (pausa)

Almir se aproxima.

ALMIR: - Laerte! Canta aquele samba do Martinho que só você sabe cantar legal! “Vai ter que amar a liberdade, só vai cantar em tom maior!”

LAERTE: - É pra já, Almir!

Almir se afasta, festeiro.

LAERTE: - Se você acredita nisso...

SÍLVIA: - É a verdade.

Laerte se afasta, volta pra roda de samba. Janice se aproxima de Sílvia.

JANICE: - Silvinha vem aqui provar essas coxinhas que eu fiz pensando em você!

SÍLVIA: - Mentira! Eu adoro suas coxinhas!

JANICE: - Cadê Rosana pra provar também?

SÍLVIA: - Não sei, foi dar uma volta, no meio desse povo todo!

Fora do bar, do outro lado da rua, Rosana fuma um cigarro,

observando a multidão que se diverte. De repente, ela

avista um motoqueiro parado.

ROSANA: - Ele não tem medo do perigo...

Rosana joga o cigarro fora e vai em direção ao motoqueiro,

que empurra a moto para um beco sem saída próximo ao bar.

CENA 05. TAKES COPACABANA /APTO FERNANDO E RAQUEL. INT.DIA.

Imagens da praia de Copacabana. (sobe trilha “Corcovado” – Gal Costa) O calçadão, os hotéis, turistas e cariocas passeando. Corta para Fernando (pouco mais de vinte anos, moreno, alto), Raquel (morena, cabelos escuros, 19 anos), Maria Helena (45 anos, cabelos louros, curtos, ar refinado) e Orestes (50 anos, poucos cabelos, um pouco grisalho já), conversando no apartamento que está em reformas. (fade out trilha “Corcovado” – Gal Costa)

FERNANDO: - E bem aqui vai ficar legal aquele sofá branco que a gente viu naquela loja, lembra amor?

RAQUEL: - Eu achei lindo!

MARIA HELENA: - Branco? Aqui combina um vermelho!

ORESTES: - Falou a decoradora... (risos)

MARIA HELENA: - Desculpe, Orestes, mas de uma coisa eu entendo: decoração de interiores. Casa muito clarinha, muito pastel deixa a vida da mesma forma, parada, insossa.

RAQUEL: - Mas eu gostei do sofá branco. É leve, eu gosto disso.

MARIA HELENA (decidida): - O sofá vermelho será meu presente de casamento e não aceito recusa. Aliás, um dos presentes, além deste apartamento.

Fernando e Raquel trocam olhares.

FERNANDO: - Olha essa varanda aqui amor!

Fernando leva Raquel pela mão para a varanda.

ORESTES: - Pra quê fazer queda de braço com a menina por causa de um sofá?...

MARIA HELENA: - Queda de braço? Parece que você não me conhece, Orestes. Não sou mulher de queda de braços. Coitadinha, ela é nova, não tem nem vinte anos. Tem muito que aprender.

ORESTES: - Bom que ela aprenda sozinha, sem a interferência da sogra...

MARIA HELENA: - Pra quê? Pra que ela não cuide direito do meu filho? E não é uma interferência. Apenas uma ajuda de quem sabe muito da vida. Não quero que essa moça vire um ser de outro mundo como a Ester.

ORESTES: - Não fale assim da sua filha, Maria Helena.

MARIA HELENA: - Minha filha... Aquela lá foi um karma que Deus me deu pra superar... Tomara que se arrume na vida. Graças a Deus que Fernando é um rapaz decente, trabalhador, bonito... Tem um futuro brilhante. A Raquel não é lá essas coisas, mas vai conseguir acompanhá-lo, com certeza.

Orestes encara Maria Helena, que nem se abala com os comentários. Fernando e Raquel observam a vista da praia pela varanda.

CENA 06. JARDIM BOTÂNICO. EXT. DIA.

(sobe trilha “The Beat Goes On” – Bob Sinclair) Em meio a paisagem do Jd. Botânico, um evento de moda acontece. Uma passarela num dos pontos do jardim fora montada, onde já desfilam algumas modelos, todas louras, com roupas claras. Após a saída destas modelos, uma modelo negra (cabelos crespos, curtos, 20 anos) entra na passarela, atraindo os olhares de todos. Na plateia, Ilza (negra, 45 anos, magra, cabelos curtos), Amália (negra, magra, 25 anos, cabelos lisos e compridos, grávida) e Ivan (negro, 17/18 anos, magro, cabelo curto/rapado) observam.

ILZA: - Tá linda minha filha!

AMÁLIA: - Linda mesmo.

IVAN: - Eu vou tirar uma foto!

Ivan sai do seu lugar, caminha para a frente da passarela e

tira fotos. Ele chama a modelo baixinho.

IVAN: - Marília!

Marília o observa, faz pose. Ivan registra. Marília segue o

seu desfile. No outro lado da passarela, Estér (25 anos, morena, cabelos curtos, magra, estilo moderno) e Valquíria (loira, magra, cabelos ondulados, 20 anos, olhos claros) conversam. (baixa trilha “The Beat Goes On” – Bob Sinclair)

VALQUÍRIA: - Pensei que a Raquel estivesse aqui.

ESTÉR: - Ela e o meu irmão foram até o apartamento. Já estão quase terminando a reforma.

VALQUÍRIA: - Eu nunca disse isso pra ela, mas acho esse casamento apressado demais, e um tanto quadrado, sabe? Sei lá, meio década de 20. Engravidou, casou.

ESTÉR: - Isso é coisa da minha mãe, Valquíria. Pobre da sua amiga que vai ter uma sogra daquelas!

O desfile termina, todas as modelos entram na passarela,

sendo que Marília está bem à frente. (sobe trilha “The Beat Goes On” – Bob Sinclair) As modelos são aplaudidas de pé.

CENA 07. VILA ISABEL. BECO. INT. DIA.

(fade out trilha anterior “The Beat Goes On” – Bob Sinclair) O motoqueiro retira o capacete, guarda na moto. É um rapaz de vinte e poucos anos, cabelo curto, preto, “ar” invocado. Rosana se aproxima.

ROSANA: - Cara de pau a sua, hein Júlio?

Júlio se vira.

ROSANA: - Como você tem coragem de aparecer aqui depois de querer assaltar o bar?

JÚLIO: - Você não sabe do que ta falando, Rosana.

ROSANA: - Como não? Todo mundo sabe disso... Coitada da Sílvia. Se ilude defendendo você de tudo quanto é acusação.

JÚLIO (aproxima-se de Rosana): - Ela faz isso é?

ROSANA: - Ferrenhamente. Iludida, apaixonada por você.

JÚLIO: - Mas você sabe que eu não tenho o mesmo sentimento por ela, não sabe?

ROSANA (saindo): - Eu não sei de nada.

Júlio segura Rosana pelo braço e a puxa para perto de si.

ROSANA: - Me solta!

JÚLIO: - Eu sempre fui apaixonado por você.

ROSANA: - Não me interessa!

JÚLIO: - O que foi? Quer fugir por quê? Há um tempo aí você ficava enlouquecida quando eu te agarrava assim... E agora (pausa)

ROSANA: - E agora eu sinto náuseas só de ficar perto de você, Júlio. Passou! Nossa história passou! Não teve nada de mais, só uns beijinhos, coisa de adolescente. Já chega!

JÚLIO: - Não é não... Você sabe que não passou...

Júlio beija Rosana, que tenta impedir, mas não resiste. De repente, Sílvia chega ao local.

SÍLVIA: - Júlio! Rosana!

Júlio e Rosana se separam rapidamente. Sílvia encara os dois.

CENA 08. JD. BOTÂNICO. EXT. DIA.

Final do desfile, as pessoas continuam no local, conversando.  Marília se aproxima de seus familiares.

IVAN: - Estava linda, Marília!

MARÍLIA (abraça Ivan): - Obrigada, Ivan! Eu quero ver sua foto depois!

ILZA: - Minha filha, fiquei tão orgulhosa!

AMÁLIA: - Ainda não se acostumou a ver a Marília desfilando, mãe?

ILZA: - É cada desfile é diferente, um do outro...

AMÁLIA (resmunga): - Tudo igual...

MARÍLIA: - Eu estou muito feliz, mamãe! Foi tudo perfeito!

IVAN: - Foi sim! A produção, tudo!

MARÍLIA: - E o Gustavo?

De repente, um rapaz negro, pouco mais de vinte anos, bem vestido, se aproxima do grupo. 

RAPAZ: - O Gustavo ficou preso numa reunião, não conseguiu vir.

AMÁLIA: - Como vai Bruno?

BRUNO (a Amália): - Tudo bem. (a Marília) Mas eu estou aqui. Pode ser?

MARÍLIA: - Obrigada pela presença, Bruno...

ILZA: - Então, vamos pra casa?

BRUNO: - Eu faço questão de oferecer uma carona.

MARÍLIA: - Não precisa não, Bruno, obrigada.

AMÁLIA: - Claro que precisa! Acha que eu vou pegar ônibus de novo? Não mesmo!... e outra, não é toda hora que a gente pode andar num carrão como esse do Bruno.

ILZA: - Amália, por favor!

MARÍLIA (irônica): - Sempre muito discreta.

BRUNO: - A Amália tem razão. Todos podem vir comigo. Não precisam voltar de ônibus.

MARÍLIA: - Se realmente não for incômodo.

BRUNO: - De jeito nenhum. Vamos.

Eles seguem para fora do Jardim.

CENA 09. VILA ISABEL. BECO. EXT. DIA.

Sílvia encara Rosana e Júlio.

SÍLVIA: - O que está acontecendo aqui?

ROSANA: - Esse bandido me agarrou!

JÚLIO: - E você bem que gostou.

Rosana dá um tapa no rosto de Júlio.

ROSANA: - Canalha!

Rosana sai apressada, passa batida por Sílvia, que encara Júlio. Júlio também a encara.

SÍLVIA: - Você não vai me dizer nada.

JÚLIO; - Dizer o quê? Foi o que você viu. A gente estava se beijando, não teve nada forçado.

SÍLVIA: - O que você veio fazer aqui, Júlio? É perigoso!...

JÚLIO: - Não precisa se preocupar comigo, Silvinha. Eu sei me cuidar.

SÍLVIA: - Mas eu não consigo. Eu me preocupo sim. (aproxima-se de Júlio) Você sabe que eu te (pausa)

JÚLIO: - Silvinha, aqui não é local pra uma moça assim como você ficar de conversa. Volta pra festa.

SÍLVIA: - Mas eu só queria te dizer que eu (pausa)

JÚLIO: - Mas eu não posso ficar com você.

SÍLVIA: - Não pode, ou não quer?

JÚLIO: - Eu só estou fazendo o que é certo.

Júlio se afasta de Sílvia, vai saindo do beco.

SÍLVIA: - Onde você vai, Júlio? Júlio!

CENA 10. BAR DO NOEL. INT/EXT. DIA.

Rosana entra apressada no bar.

JANICE: - O que foi Rosana? Parece que viu um fantasma.

ROSANA: - E eu vi mesmo. O Júlio.

JANICE (surpresa): - O Júlio ta aí?! Se o Alceu colocar os olhos nele, acabou a festa!

Neste instante, Júlio chega em frente ao bar. Alceu, que estava se divertindo, cantando samba na roda, para de cantar ao avistar Júlio.

ALCEU: - Pode parar o samba! (grita) Para o samba!

A roda para. As pessoas ficam sem entender.

ALCEU (irado): - O que aquele sem vergonha está fazendo aqui na frente do meu bar?

Júlio encara Alceu. Sílvia se aproxima de Júlio.

SÍLVIA: - Júlio vai embora, por favor!

JÚLIO: - Me deixa, Silvinha. Eles precisam saber que eu não tenho culpa do que aconteceu.

SÍLVIA: - Mas agora não é hora disso!

JÚLIO: - É sim!

Janice se aproxima de Alceu.

JANICE: - Por favor, Alceu, esquece isso, passou...

ALCEU: - Eu quase perdi meu bar por causa desse cafajeste, Janice.

LAERTE: - Calma, Alceu. Vai acabar com a festa agora?

JANICE: - Laerte tem razão. Agora é festa, outra hora você acerta as contas com ele.

Rosana observa tudo de longe, de dentro do bar.

SÍLVIA: - Júlio vai embora.

JÚLIO (a Alceu): - Eu sei que você pode não acreditar. Mas eu estou dizendo a verdade. Eu não fui o responsável pela tentativa de assalto do bar. Eu sei que não sou um bom exemplo para vocês. Mas eu sei assumir as consequências dos meus atos.

Alceu encara Júlio.

JÚLIO: - Não quero brigas, Alceu. Só peço que não me julgue

pelo o que eu não fiz.

ALCEU: - Eu só te peço uma coisa, Júlio. Vá embora.

SÍLVIA: - Faça isso, Júlio, por favor. Vai ser melhor para todos. (cochicha) Eu quero te ajudar, de verdade. Aqui você só vai se complicar ainda mais. Passa lá em casa mais tarde.

Júlio olha com ternura para Sílvia. Desvia o olhar e, de longe, vê Rosana no bar. Trocam olhares. Ele se afasta, indo embora, sob o olhar entristecido de Sílvia. Rosana sai do bar, vai até Sílvia.

ROSANA: - Vem amiga, vamos entrar. (abraça Sílvia, seguem para o bar)

LAERTE: - Aí pessoal, vamos levantar esse astral, porque a festa continua! Chora cavaco!

O samba recomeça na festa do bar. Sílvia e Rosana sentam em uma mesa.

ROSANA: - Cara de pau do Júlio vir aqui pedir desculpas, mesmo todo mundo sabendo do safado que ele é.

SÍLVIA: - Safado que você beijou.

ROSANA: - Silvinha, eu não queria! Eu tenho asco do Júlio!

SÍLVIA: - Você sabe que eu gosto dele...

ROSANA: - Eu já falei que eu não gostei!

SÍLVIA: - Não foi o que me pareceu.

ROSANA: - Presta atenção, Sílvia. Meu destino não é aqui. Não é ficar com ninguém daqui. Eu vou pra Zona Sul, ta entendendo? Acha que eu vou me prender a Júlio, a esse povinho de Vila Isabel?! Jamais!... tira essa ideia de que eu gostei de beijar o Júlio senão você vai ficar louca!

Sílvia fica pensativa.

CENA 11. TRANSIÇÃO DO TEMPO. ANOITECER / MANSÃO LINHARES. INT. NOITE.

Imagens do Rio de Janeiro ao anoitecer. Mostra a cidade iluminada. Corta para a mansão dos Linhares. Sala de estar. Maria Helena, Orestes, Fernando e Raquel chegam ao local.

ORESTES: - Bom é que o apartamento vai ficar pronto bem antes do casamento.

FERNANDO: - É mesmo, papai. A reforma está bem adiantada.

RAQUEL: - Gente, se não se importam, eu vou pro quarto, deitar um pouco.

FERNANDO: - Está se sentindo bem, Raquel?

RAQUEL: - Estou sim, só um pouco cansada.

MARIA HELENA: - Descanse mesmo, Raquel. Não é bom para o bebê muita agitação.

Raquel sobe as escadas para o segundo andar.

FERNANDO: - Esses primeiros meses de gravidez são sempre complicados.

MARIA HELENA: - Mas ela vai se acostumar. Quis ser mãe cedo...

ORESTES: - Maria Helena, por favor. A culpa não foi dela. Aconteceu.

MARIA HELENA: - Destino, obra de Deus, entenda como achar melhor. Só quero dizer que agora ela precisa aguentar as consequências. E você, Fernando, vai precisar dar mais duro na empresa. Agora tem uma família pra cuidar.

FERNANDO: - Eu sei mamãe, das minhas responsabilidades.

ORESTES: - E o Fernando já está sendo bem preparado para assumir o controle da Áurea Calçados.

MARIA HELENA: - É bom estar! O patrimônio da família estará nas suas mãos! E ainda bem que é nas suas e não nas mãos de sua irmã.

Neste instante, Estér entra na sala.

ESTÉR (irônica/cínica): - Cheguei bem na hora! Oba! Falando de mim!

FERNANDO (beija Ester): - E aí, como estava o desfile?

ESTÉR: - Ótimo!... fizeram uma mega produção em pleno Jardim botânico! E pra fechar com chave de ouro, uma modelo, linda, negra, cabelos cacheados, entrou arrasando na passarela!

MARIA HELENA: - Modelo negra?! (ri)

ESTÉR: - Sim, mamãe! (irônica) Os negros já não são mais escravos! Olha que legal!

ORESTES: - Estér...

MARIA HELENA: - Viu só como ela fala comigo? Depois vocês reclamam quando eu dou as broncas que eu dou pra essa insolente. (saindo)

Maria Helena vai para a cozinha.

ORESTES: - Você e sua mãe não conseguem conversar de forma civilizada?

ESTÉR: - Ela é que não sabe falar comigo sem esse olhar superior... Deixa pra lá. Então, como eu tava dizendo, essa modelo entrou com tudo! Pessoal ficou encantado por ela. Linda. Eu até já vi ela em alguns comerciais... Marília Pereira.

FERNANDO: - Claro, Marília Pereira. Vi uma matéria dela na Vogue de Londres. Ela despontou na semana de moda de lá, como ícone do Brasil.

ORESTES: - O mercado da moda será o grande nicho do país nos próximos anos. Precisamos estar alinhados nesse processo.

ESTÉR: - Aí eu vi o desfile, e mais aquela atmosfera de natureza do Jardim Botânico, me surgiu a inspiração pra uma nova coleção da Áurea Calçados!

FERNANDO: - Maravilha! Fala aí!

Estér começa a conversar com Fernando e Orestes sobre suas ideias.

CENA 12. AEROPORTO SANTOS DUMONT. SAGUÃO. INT. NOITE.

Movimentação no saguão do aeroporto. Na aérea de desembarque internacional, uma mulher (entre 45/50 anos, cabelos curtos, cacheados) está sentada num dos bancos. Se mostra ansiosa. Um voo chega. Os passageiros passam pela área. A mulher se levanta, procura por alguém por entre os passageiros. CAM foca no rosto desta mulher, que abre um sorriso. (sobe trilha “Cuidando de Você” – Luiz Melodia)

Por entre as pessoas, caminha um rapaz caminha em sua direção. Ele (moreno, 25 anos, cabelos curtos, vestindo terno e jeans) recebe o abraço forte da mulher que o esperava. (baixa trilha “Cuidando de Você” – Luiz Melodia)

MULHER: - Ai meu filho! Que saudade! Mauro, que saudade!

MAURO: - Eu também estava morrendo de saudade de você, dona Leocádia!

LEOCÁDIA: - Me chame de mamãe! (risos) Você deve me achar uma louca, mas três meses para uma mãe são três décadas! E a Europa é tão longe...

MAURO: - Mas agora eu estou aqui e pra ficar, mãe. Cuidar da empresa definitivamente... Mãe pode escrever aí: eu vou fazer a moda nesse país ser vista como destaque no mundo inteiro.

LEOCÁDIA: - Eu acredito em você, meu filho.

MAURO: - E a minha irmã, como está?

LEOCÁDIA: - Ela é uma princesa, Mauro... Ainda estamos no processo de visitas periódicas, adaptação. Mas eu quero muito ter a minha filha nos braços. É adotiva, mas é do coração.

MAURO: - E se é do coração, é ainda mais importante! (beija Leocádia) Agora vamos pra casa?

LEOCÁDIA: - Vamos sim! Fiz aquela paella que você adora!

Os dois caminham abraçados pelo saguão. (fade out trilha “Cuidando de Você” – Luiz Melodia)

CENA 13. CASA MARÍLIA. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

Ilza serve café para Bruno, sentado à mesa, ao lado de Marília. Ivan e Amália estão presentes, sentados no sofá.

BRUNO: - O café está ótimo, dona Ilza.

ILZA: - Obrigada, Bruno. A casa é humilde, mas tudo é feito com amor.

AMÁLIA: - Ele já viu que a casa não é de gente rica como ele, mamãe... Eu não sei como o Gustavo se apaixonou pela Marília com ela morando nessa casa...

MARÍLIA: - O Gustavo está comigo pelo o que eu sou e não pelo o que eu tenho, Amália.

IVAN: - Ela não pode ver ninguém feliz que alfineta.

AMÁLIA: - Ô Ivan, seu pai não ta precisando de você não? Aqui é só família.

ILZA: - O Ivan é praticamente da família, Amália.

IVAN: - Obrigada, dona Ilza.

ILZA: - E outra, pare agora com essas suas implicâncias. Não faz bem pra você, nem para o bebê, pra ninguém!

Amália se cala.

MARÍLIA: - Que reunião era essa que o Gustavo teve, Bruno?

BRUNO: - Novos parceiros comerciais.

AMÁLIA: - E você não ficou na reunião por quê?

BRUNO: - Porque o próprio Gustavo pediu para comandar tudo sozinho.

MARÍLIA: - Queria que ele estivesse lá no meu desfile...

BRUNO: - Mas eu estava lá e pude ver o quanto você é bonita desfilando, Marília. O Gustavo teve uma sorte muito grande tendo você como namorada.

AMÁLIA: - Impressão minha ou tem alguém cantando a namorada do amigo?

MARÍLIA: - Amália!

BRUNO (sem jeito): - Imagina, eu jamais faria isso.

ILZA: - Amália vá lá para o seu quarto! Agora! Não me apareça tão cedo aqui nesta sala.

Amália abre um sorriso, um tanto cínico, e sai.

MARÍLIA: - Desculpa, Bruno.

BRUNO: - Tudo bem.

De repente, a campainha toca. Marília atende a porta. Ao abrir, se surpreende com a chegada de um rapaz (negro, alto, forte, 30 anos), trazendo um enorme buquê de rosas vermelhas. Ivan se adianta e tira umas fotos.

IVAN: - Chegada de novela!

MARÍLIA (surpresa): - Gustavo! Entra!

GUSTAVO (entrando em casa): - Boa noite a todos! (vira-se para Marília, lhe entrega as rosas) Essas flores são os meus pedidos de desculpas por não poder ir ao seu desfile.

MARÍLIA: - Tudo bem amor, eu entendo.

BRUNO: - Eu te representei bem, não representei? (risos)

GUSTAVO: - Obrigado, Bruno. Mas tem uma coisa na qual você não pode me representar.

Gustavo se ajoelha diante de Marília e retira do bolso uma caixinha. Ele a abre. CAM revela um par de alianças de noivado. Todos se surpreendem. Bruno fita Gustavo. Amália chega à sala.

AMÁLIA: - Eu ouvi a campainha tocar e (interrompe / vê Gustavo de joelhos) Gustavo?!

MARÍLIA: - Meu amor! O que é isso?!

GUSTAVO: - Esse é o meu pedido de casamento.

Ivan tira uma nova foto. Amália se mostra incomodada e retorna apressada para dentro de casa. Bruno muda expressão, fica fechado. Ilza se mostra feliz.

GUSTAVO: - Marília, você aceita casar comigo?

CENA 14. CASA SÍLVIA. SALA. INT. NOITE.

(sobe trilha “Doce Castigo” – Nana Caymmi) Sílvia está sentada à mesa de sua sala, envolta por folhas de papel, rascunhos, canetas e lápis de cor. CAM mostra alguns croquis, roupas desenhadas por ela. Sílvia finaliza um desenho: um casal vestindo roupas bonitas. Ela termina, escrevendo: Júlio e eu.

De repente, a campainha toca. Sílvia esconde o desenho no meio dos demais e atende a porta. É Júlio, que entra apressado. (baixa trilha “Doce Castigo” – Nana Caymmi)

SÍLVIA: - Bom que você veio!

JÚLIO: - Desculpa entrar assim, apressado. Eu não quero que você se incomode com a vizinhança por minha causa.

SÍLVIA: - Você não me traz incômodo nenhum. Eu já disse que eu quero ajudar você, Júlio.

Júlio vê os croquis de Sílvia na mesa.

JÚLIO: - Você tem um talento incrível. Deveria investir.

SÍLVIA: - Você acha mesmo?

JÚLIO: - Claro. É um dom incrível, uma arte praticamente... (vira-se para Sílvia) Você tem um coração enorme, Silvinha. Obrigado mesmo.

SÍLVIA: - Do que você precisa? Comida, roupas, dinheiro?

JÚLIO: - Eu nem sei como dizer (pausa)

SÍLVIA: - Eu tenho uns trocados, já dá pra ajudar, pelo menos por enquanto.

JÚLIO: - Não, Silvinha! O dinheiro é seu, das suas costuras, não.

SILVIA: - Não nega, Júlio, por favor. É a minha ajuda... Eu sei que você ta sem trabalho, vivendo num quartinho de aluguel. É por um tempo.

JÚLIO: - Eu não sei nem se vou ter como te pagar.

SÍLVIA: - Isso é outra história. Fica aqui que eu já volto.

Sílvia vai para o quarto. Júlio observa outros desenhos, caminha pela sala. Vai até a janela e vê que Rosana se aproxima. (fade out trilha “Doce Castigo” – Nana Caymmi) Rapidamente, ele se esconde atrás da cortina. Rosana entra na casa de Sílvia.

ROSANA: - Ih, ta desenhando...

Rosana vai até a cozinha, pega um suco, volta para a sala. (sobe trilha “Infiltrado” – Bajofondo) Rosana olha os croquis de Sílvia. Júlio a observa, escondido. Rosana pega uma folha, tenta desenhar igual, mas não consegue. Rasga o papel, com raiva.

ROSANA: - Nem uma árvore eu sei fazer. E a Silvinha desenha essas maravilhas. Nada de imperfeito. (invejosa) Mas nem tudo pode ser perfeito, amiga.

Rosana pega o copo de suco e vira sobre os croquis de Sílvia. De repente, Sílvia chega à sala, trazendo a carteira com dinheiro, quando se surpreende.

SÍLVIA: - Rosana! Os meus desenhos! 

Sílvia se mostra chocada. Rosana finge descuido, enquanto Júlio vê tudo escondido atrás da cortina.

 

CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO:



ROSANA: - Pobre Silvinha... Tão pateta! A cara dela de sonsa com os desenhos ensopados...

A campainha toca. Rosana atende. Júlio entra na casa dela, empurrando-a e fechando a porta.

ROSANA (surpresa): - O que é isso?! O que você está fazendo aqui?

JÚLIO: - Você é muito invejosa, Rosana. Baixa, baixíssima!

ROSANA: - Você invadiu a minha casa pra me ofender, é isso? Tá ficando louco, Júlio?

JÚLIO: - Eu vi o que você fez na casa da Silvinha agora a pouco. Estragar os desenhos da amiga só porque você não consegue?
 

DIA 9, NÃO PERCA O SEGUNDO CAPÍTULO DE PASSOS DA PAIXÃO


ROSANA: - Eu consegui uma entrevista de emprego, amanhã numa empresa de bacana, lá na Zona Sul! Mas eu não tenho roupa né amiga! Só essa bolsa aqui. Você não tem um vestido, esses seus, comportados, pra me emprestar?

SÍLVIA: - Acho que eu tenho sim, Rosana... Espera aí que eu vou ver um que é a sua cara! 

Sílvia sai. (sobe trilha “Infiltrado” – Bajofondo) Rosana espera ela entrar no quarto e começa a vasculhar os croquis. Pega quatro desenhos, dobra e coloca dentro da bolsa, rapidamente. 

SÍLVIA (OFF): - Uma cor mais escura né?

ROSANA: - Isso... azul ou preto. 

Rosana disfarça. Sílvia retorna, com um vestido preto. (baixa trilha)

SÍLVIA: - Ele tem um detalhezinho dourado, mas é pouca coisa. Bem discreto, perfeito pra uma entrevista.

ROSANA: - Tá ótimo! (pega o vestido) Bem o meu número! Muito obrigada, Silvinha! Você é um anjo na minha vida!

SÍLVIA: - Imagina! O que você precisar pode contar comigo.

 

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