
Sinopse: Duas pessoas com mais de sessenta anos encontram um amor tardio.
3x04 - Conversas na loja de Ferragem
de Bruno Machado Carvalho
Considerando a minha mundialmente famosa elegância, esta história não poderia começar de outra maneira: Eu tropeçando na loja onde você trabalha. Enquanto lê um livro para se distrair do tédio de uma quarta-feira pouco movimentada, me alerta sobre o chão estar molhado, pois tinha acabado de limpar. Respondi monossilabicamente. Não gostava de ser alertado sobre estas coisas. Cuidado para não tropeçar no chão? Que tipo de idiota pensou que eu era? Obviamente eu tropecei no chão segundos depois. Não foi uma queda tão forte, embora os produtos do corredor 4 talvez discordem, estando todos agora rolando pelo chão. Pra mim, diria que foi mais para o lado cômico. Meus pés subitamente no alto. Um gritinho agudo que saiu na hora que minha bunda se chocou com o chão e que até hoje eu tento apagar de minha mente. Acho que eu já tinha sessenta e três anos naquele dia. Fisicamente, as coisas não estavam tão boas. Chega uma idade que você não tem mais saúde pra tropeçar. Então, lá estava eu, deitado no chão como se tivesse acabado de ser atacada por um grupo de coyotes. E você largou seu livro e veio me atender. Tão atenciosa. Tão linda. A definição de envelhecer graciosamente. Como que eu não tinha percebido? Aquele livro havia bloqueado seu belo rosto. Maldito Philip Roth. Pensando melhor, foi bom eu ter tropeçado. Desta maneira, eu pude vê-la. E a única desvantagem era a completa humilhação diante da pessoa bonita, algo que eu já tinha anos de experiência. Você me ajuda a levantar. Ajudo a colocar tudo em seu devido lugar. A coluna dói. Ignoro. Eu faço algumas piadas auto depreciativas. Engrossando um pouco a voz para tentar compensar o deslize anterior. Faz uma piada às minhas custas. Nada muito pesado. E depois conta uma história de um mico que já pagou para me fazer sentir melhor, o que funcionou. Me pergunta o que eu vim comprar. Digo que além de tropeçar em lojas, um dos meus hobbys era realizar alguns trabalhos manuais em casa. Precisava de pregos, um martelo novo, este tipo de coisa. Digo que estou montando um armário. O que te lembra de uma história engraçada contada por algum cliente. Este assunto foi levando a outros. Era tão fácil conversar com você. Nenhum silêncio constrangedor se manifestou nem por um mísero segundo. Fiquei segurando aquela sacola com os itens comprados por uma meia hora. Somente quando outros clientes começaram a surgir que percebemos o quanto de tempo passou. Sai meio apressado, não querendo atrapalhar os negócios dela. Mal dei tchau direito. Voltei pra casa e construí o armário. Aí fiz o que qualquer homem sensato faria. Destruir o armário. Voltei no dia seguinte.
O nome dela era Vanessa. Era uns dois anos mais nova do que eu. Parecia ter uns dez. A pele parecia o “depois” nos comerciais de creme. Poucas rugas. O que mais envelhecia era o cabelo não pintado deixando o branco à mostra. Baixinha. Fica na altura do meu ombro e não sou exatamente o mais alto do centro geriátrico. Se veste de maneira simples, mas elegante. Só reparei nisso depois, quando já havia me apresentado de bermuda e camiseta regata. O quanto um homem pode errar num período tão curto de tempo? Conversamos sobre sua vida. Herdou a loja de ferragens do pai. Ela tem três irmãos, mas ela sempre foi quem mais se interessou por este tipo de negócio. Sabe mais sobre construir e consertar coisas do que a maioria das pessoas que já conheci. E parecia gostar de falar a respeito. Não que eu não tenha achado um erro gastar 20 minutos do meu quarto dia lá falando sobre alicates. Já foi casada uma vez. O marido faleceu. Tem uma filha. Vinte e sete anos. Professora de música. É o assunto favorito dela. Eu faço uma pergunta, ela começa a falar com enorme orgulho pelo dia inteiro. Sempre sorrindo. Ela tem um sorriso muito bom. O meu não é tão bom. Não tenho mais todos os dentes. Sempre perguntava mais sobre ela do que contava sobre mim. Eventualmente tive de falar certas coisas. Não queria que nossa conversa soasse como uma entrevista. Me divorciei duas vezes. Me dou razoavelmente bem com as duas ex. Tenho um filho. Não nos damos tão bem. A questão de ser mais velho. Queria que esta história fosse mais romântica. Mais bonita. Algo que daria um filme que passaria na sessão da tarde. Jovens, bonitos, trocando diálogos espirituosos com agilidade. Quando se passa dos sessenta, você tem sua história. E nem tudo é tão belo. Eu gosto assim. Não é o que é idealizado. Sofre o fardo de ser mais real. Dá mais trabalho. É mais devagar. E é mais bonito por ser assim. Pelo menos penso eu. Meu tempo de vida não estava exatamente aumentando. Quando envelhecemos, devemos ser mais cuidadosos com onde gastar o tempo restante. Eu decidi gastar com ela. Mesmo que seja para ter uma mera conversa. Só de poder olhar pra ela. Só de poder perceber que ela gostava de estar ao meu lado quase tanto eu gostava de ficar perto dela. Certamente cometi vários erros na vida. Continuar indo lá vê-la foi um dos acertos.
Nada de muito ruim ou trágico aconteceu. Com meu filho e eu quero dizer. Apenas pequenas coisas que foram se acumulando. Ele pode ser meio teimoso. E suponho que eu não seja o melhor dos comunicadores. Eu o amo. Tenho certeza de que ele me ama. E um dia conseguiremos dizer isso um para o outro. Nunca é tarde demais para se aprender. Não é o que dizem? Não que eu os tenha provado certos.
Cheguei a perder as contas de quantas vezes foi até a loja de Vanessa antes de insinuar qualquer interesse romântico. Ela devia pensar que eu era o pior montador de armários da história, eu pensava. Às vezes, pensava que ela tinha interesse em mim. O jeito que puxava o cabelo pra trás da orelha. A risada maior do que a minha piada merecia. Uma mão que carinhosamente tocava no meu braço. Mas eu estava meio imerso em auto piedade e cinismo para perceber. E mesmo que percebesse, não saberia o que dizer. Provavelmente sou velho demais para ser tão inábil em me comunicar. Velho demais para agir tão adolescente. Mas lá estava eu. Dois divórcios depois, conversando com a nova mulher com quem eu estava interessado sem conseguir expressar meu interesse. A nova geração é sortuda. Recebeu tudo de mão beijada. Deslizar um dedo pra direita. Esperar uma curtida. Chat privado. Emoji de uma berinjela. Pronto. Tudo acertado. A era onde você não precisa ser vulnerável. Bem, eu sou velho. As velhas regras ainda valem pra mim. Eu tenho que conversar e arriscar ouvir um não. Que nunca é somente um não. Não é como o cérebro escuta. Velho demais. Enrugado demais. Fora de forma. Como sequer ousou imaginar que teria algo com alguém claramente superior em todos os sentidos? Após seis décadas de vida, reforço negativo é algo que eu realmente não preciso. O que eu preciso? Não sei se existe tal coisa. A vida não é curta demais. O tempo é suficiente. Diria até que é o tempo suficiente para se ter várias vidas. O tempo no colégio. Os anos na faculdade. Os anos como jovem adulto. Ter trinta anos e lidar com o cabelo que cai e a barriga que cresce. Chegar a meia idade. E, finalmente, o período onde estou. Quando eu ser velho ou não deixa de ser uma opinião. O próprio governo do país diz que você pode acessar filas preferenciais, para que a nossa lentidão não atrapalhe os jovens. Não importa. A vida ainda existe. Não acaba como um os mais novos parecem crer. Nesta fase, pessoalmente, não resta muito que eu ainda queira. E um relacionamento novo não vai consertar o que preciso. O tempo é menor. Não quero de nada grandioso. Não preciso do amor da minha vida. Passar um tempo beijando a mulher que gosto seria obviamente ótimo. Passar um tempo com a mulher que gosto, porém, já superava minhas expectativas. Eu vivia meio solitariamente. Era bom conversar com alguém, ainda mais alguém como ela. Mas não era só isso. Não se tratava somente de suprir. Vanessa era engraçada. Meu rosto sempre carrega a mesma expressão blasé. Porém com ela, volta e meia você em vê gargalhando. Ela é inteligente, mas não se leva muito a sério. Pode falar de política e cultura e de reality shows e outras bobagens com a mesma capacidade e empolgação. Não sei como alguém pode ser tão bonita com 60 anos e a beleza não fazer parte nem do top 5 de suas qualidades mais óbvias.
Então talvez eu devesse me considerar sortudo e não almejar mais do que já tinha. Arriscar algo e ser rejeitado poderia acabar com o que tínhamos. O que era a última coisa que eu queria. Estava decidido. Não tentaria nada. Fui pra loja com esta decisão em mente. Mudei de opinião assim que eu te vi. Você sorria. Era um sorriso muito bom mesmo. Começou a conversar como sempre fazíamos. Algo sobre qual serra eu preferia, mostrando duas novas no pacote que haviam recém chegado. Eu respondi dizendo que queria te beijar. O seu rosto é pura confusão pelos primeiros segundos. Como se não entendesse o que eu havia dito. Se questionando como o que eu disse responde a pergunta sobre as serras. Aos poucos assimilou. E por fim, disse: Ok.
Eu queria poder dizer que o primeiro beijo foi de cara excelente. Mas a realidade foi outra. Estávamos claramente desacostumados e nervosos. Nossos narizes ficaram no caminho e não sabíamos exatamente o que fazer com as mãos. Aí veio o segundo beijo. A confiança retorna. E o terceiro. No quarto, tomou a decisão correta de fechar a loja cedo.
Isso tudo aconteceu há seis meses. Eu penso naqueles dias bastante. Assim como nos dias seguintes. A sorte que eu tenho. O quão feliz eu tenho ficado. De uma maneira que achei não ser mais possível. Não somos o que costumávamos ser. Não tem sido sexo o tempo todo. Nossa vida não virou um pornô. Tem sido muito melhor do que isso. O tipo de carinho e afeto que a impulsividade do jovem geralmente impede de surgir. Conheci sua filha mês passado. Foi um bom jantar. Semana que vem vamos almoçar com o meu filho. Tentar, aos poucos, reconstruir algo. Tudo tem sido maravilhoso. Iniciado pelo melhor tropeção de minha vida. Agora já temos até discutido sobre morar juntos. Já tem boa parte de suas roupas no meu armário finalmente construído. Eu tenho sessenta e três anos. Em todos os sentidos, as coisas nunca estiveram melhores.
Considerando a minha mundialmente famosa elegância, esta história não poderia começar de outra maneira: Eu tropeçando na loja onde você trabalha. Enquanto lê um livro para se distrair do tédio de uma quarta-feira pouco movimentada, me alerta sobre o chão estar molhado, pois tinha acabado de limpar. Respondi monossilabicamente. Não gostava de ser alertado sobre estas coisas. Cuidado para não tropeçar no chão? Que tipo de idiota pensou que eu era? Obviamente eu tropecei no chão segundos depois. Não foi uma queda tão forte, embora os produtos do corredor 4 talvez discordem, estando todos agora rolando pelo chão. Pra mim, diria que foi mais para o lado cômico. Meus pés subitamente no alto. Um gritinho agudo que saiu na hora que minha bunda se chocou com o chão e que até hoje eu tento apagar de minha mente. Acho que eu já tinha sessenta e três anos naquele dia. Fisicamente, as coisas não estavam tão boas. Chega uma idade que você não tem mais saúde pra tropeçar. Então, lá estava eu, deitado no chão como se tivesse acabado de ser atacada por um grupo de coyotes. E você largou seu livro e veio me atender. Tão atenciosa. Tão linda. A definição de envelhecer graciosamente. Como que eu não tinha percebido? Aquele livro havia bloqueado seu belo rosto. Maldito Philip Roth. Pensando melhor, foi bom eu ter tropeçado. Desta maneira, eu pude vê-la. E a única desvantagem era a completa humilhação diante da pessoa bonita, algo que eu já tinha anos de experiência. Você me ajuda a levantar. Ajudo a colocar tudo em seu devido lugar. A coluna dói. Ignoro. Eu faço algumas piadas auto depreciativas. Engrossando um pouco a voz para tentar compensar o deslize anterior. Faz uma piada às minhas custas. Nada muito pesado. E depois conta uma história de um mico que já pagou para me fazer sentir melhor, o que funcionou. Me pergunta o que eu vim comprar. Digo que além de tropeçar em lojas, um dos meus hobbys era realizar alguns trabalhos manuais em casa. Precisava de pregos, um martelo novo, este tipo de coisa. Digo que estou montando um armário. O que te lembra de uma história engraçada contada por algum cliente. Este assunto foi levando a outros. Era tão fácil conversar com você. Nenhum silêncio constrangedor se manifestou nem por um mísero segundo. Fiquei segurando aquela sacola com os itens comprados por uma meia hora. Somente quando outros clientes começaram a surgir que percebemos o quanto de tempo passou. Sai meio apressado, não querendo atrapalhar os negócios dela. Mal dei tchau direito. Voltei pra casa e construí o armário. Aí fiz o que qualquer homem sensato faria. Destruir o armário. Voltei no dia seguinte.
O nome dela era Vanessa. Era uns dois anos mais nova do que eu. Parecia ter uns dez. A pele parecia o “depois” nos comerciais de creme. Poucas rugas. O que mais envelhecia era o cabelo não pintado deixando o branco à mostra. Baixinha. Fica na altura do meu ombro e não sou exatamente o mais alto do centro geriátrico. Se veste de maneira simples, mas elegante. Só reparei nisso depois, quando já havia me apresentado de bermuda e camiseta regata. O quanto um homem pode errar num período tão curto de tempo? Conversamos sobre sua vida. Herdou a loja de ferragens do pai. Ela tem três irmãos, mas ela sempre foi quem mais se interessou por este tipo de negócio. Sabe mais sobre construir e consertar coisas do que a maioria das pessoas que já conheci. E parecia gostar de falar a respeito. Não que eu não tenha achado um erro gastar 20 minutos do meu quarto dia lá falando sobre alicates. Já foi casada uma vez. O marido faleceu. Tem uma filha. Vinte e sete anos. Professora de música. É o assunto favorito dela. Eu faço uma pergunta, ela começa a falar com enorme orgulho pelo dia inteiro. Sempre sorrindo. Ela tem um sorriso muito bom. O meu não é tão bom. Não tenho mais todos os dentes. Sempre perguntava mais sobre ela do que contava sobre mim. Eventualmente tive de falar certas coisas. Não queria que nossa conversa soasse como uma entrevista. Me divorciei duas vezes. Me dou razoavelmente bem com as duas ex. Tenho um filho. Não nos damos tão bem. A questão de ser mais velho. Queria que esta história fosse mais romântica. Mais bonita. Algo que daria um filme que passaria na sessão da tarde. Jovens, bonitos, trocando diálogos espirituosos com agilidade. Quando se passa dos sessenta, você tem sua história. E nem tudo é tão belo. Eu gosto assim. Não é o que é idealizado. Sofre o fardo de ser mais real. Dá mais trabalho. É mais devagar. E é mais bonito por ser assim. Pelo menos penso eu. Meu tempo de vida não estava exatamente aumentando. Quando envelhecemos, devemos ser mais cuidadosos com onde gastar o tempo restante. Eu decidi gastar com ela. Mesmo que seja para ter uma mera conversa. Só de poder olhar pra ela. Só de poder perceber que ela gostava de estar ao meu lado quase tanto eu gostava de ficar perto dela. Certamente cometi vários erros na vida. Continuar indo lá vê-la foi um dos acertos.
Nada de muito ruim ou trágico aconteceu. Com meu filho e eu quero dizer. Apenas pequenas coisas que foram se acumulando. Ele pode ser meio teimoso. E suponho que eu não seja o melhor dos comunicadores. Eu o amo. Tenho certeza de que ele me ama. E um dia conseguiremos dizer isso um para o outro. Nunca é tarde demais para se aprender. Não é o que dizem? Não que eu os tenha provado certos.
Cheguei a perder as contas de quantas vezes foi até a loja de Vanessa antes de insinuar qualquer interesse romântico. Ela devia pensar que eu era o pior montador de armários da história, eu pensava. Às vezes, pensava que ela tinha interesse em mim. O jeito que puxava o cabelo pra trás da orelha. A risada maior do que a minha piada merecia. Uma mão que carinhosamente tocava no meu braço. Mas eu estava meio imerso em auto piedade e cinismo para perceber. E mesmo que percebesse, não saberia o que dizer. Provavelmente sou velho demais para ser tão inábil em me comunicar. Velho demais para agir tão adolescente. Mas lá estava eu. Dois divórcios depois, conversando com a nova mulher com quem eu estava interessado sem conseguir expressar meu interesse. A nova geração é sortuda. Recebeu tudo de mão beijada. Deslizar um dedo pra direita. Esperar uma curtida. Chat privado. Emoji de uma berinjela. Pronto. Tudo acertado. A era onde você não precisa ser vulnerável. Bem, eu sou velho. As velhas regras ainda valem pra mim. Eu tenho que conversar e arriscar ouvir um não. Que nunca é somente um não. Não é como o cérebro escuta. Velho demais. Enrugado demais. Fora de forma. Como sequer ousou imaginar que teria algo com alguém claramente superior em todos os sentidos? Após seis décadas de vida, reforço negativo é algo que eu realmente não preciso. O que eu preciso? Não sei se existe tal coisa. A vida não é curta demais. O tempo é suficiente. Diria até que é o tempo suficiente para se ter várias vidas. O tempo no colégio. Os anos na faculdade. Os anos como jovem adulto. Ter trinta anos e lidar com o cabelo que cai e a barriga que cresce. Chegar a meia idade. E, finalmente, o período onde estou. Quando eu ser velho ou não deixa de ser uma opinião. O próprio governo do país diz que você pode acessar filas preferenciais, para que a nossa lentidão não atrapalhe os jovens. Não importa. A vida ainda existe. Não acaba como um os mais novos parecem crer. Nesta fase, pessoalmente, não resta muito que eu ainda queira. E um relacionamento novo não vai consertar o que preciso. O tempo é menor. Não quero de nada grandioso. Não preciso do amor da minha vida. Passar um tempo beijando a mulher que gosto seria obviamente ótimo. Passar um tempo com a mulher que gosto, porém, já superava minhas expectativas. Eu vivia meio solitariamente. Era bom conversar com alguém, ainda mais alguém como ela. Mas não era só isso. Não se tratava somente de suprir. Vanessa era engraçada. Meu rosto sempre carrega a mesma expressão blasé. Porém com ela, volta e meia você em vê gargalhando. Ela é inteligente, mas não se leva muito a sério. Pode falar de política e cultura e de reality shows e outras bobagens com a mesma capacidade e empolgação. Não sei como alguém pode ser tão bonita com 60 anos e a beleza não fazer parte nem do top 5 de suas qualidades mais óbvias.
Então talvez eu devesse me considerar sortudo e não almejar mais do que já tinha. Arriscar algo e ser rejeitado poderia acabar com o que tínhamos. O que era a última coisa que eu queria. Estava decidido. Não tentaria nada. Fui pra loja com esta decisão em mente. Mudei de opinião assim que eu te vi. Você sorria. Era um sorriso muito bom mesmo. Começou a conversar como sempre fazíamos. Algo sobre qual serra eu preferia, mostrando duas novas no pacote que haviam recém chegado. Eu respondi dizendo que queria te beijar. O seu rosto é pura confusão pelos primeiros segundos. Como se não entendesse o que eu havia dito. Se questionando como o que eu disse responde a pergunta sobre as serras. Aos poucos assimilou. E por fim, disse: Ok.
Eu queria poder dizer que o primeiro beijo foi de cara excelente. Mas a realidade foi outra. Estávamos claramente desacostumados e nervosos. Nossos narizes ficaram no caminho e não sabíamos exatamente o que fazer com as mãos. Aí veio o segundo beijo. A confiança retorna. E o terceiro. No quarto, tomou a decisão correta de fechar a loja cedo.
Isso tudo aconteceu há seis meses. Eu penso naqueles dias bastante. Assim como nos dias seguintes. A sorte que eu tenho. O quão feliz eu tenho ficado. De uma maneira que achei não ser mais possível. Não somos o que costumávamos ser. Não tem sido sexo o tempo todo. Nossa vida não virou um pornô. Tem sido muito melhor do que isso. O tipo de carinho e afeto que a impulsividade do jovem geralmente impede de surgir. Conheci sua filha mês passado. Foi um bom jantar. Semana que vem vamos almoçar com o meu filho. Tentar, aos poucos, reconstruir algo. Tudo tem sido maravilhoso. Iniciado pelo melhor tropeção de minha vida. Agora já temos até discutido sobre morar juntos. Já tem boa parte de suas roupas no meu armário finalmente construído. Eu tenho sessenta e três anos. Em todos os sentidos, as coisas nunca estiveram melhores.
Conto escrito por
Bruno Machado Carvalho
Tema
I'll Always Be By Your Side
Intérprete
Lamaris
CAL - Comissão de Autores Literários
Tema
I'll Always Be By Your Side
Intérprete
Lamaris
CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Gisela Lopes Peçanha
Paulo Mendes Guerreiro Filho
Paulo Mendes Guerreiro Filho
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Telma Marya
Telma Marya
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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