O Eleito: Capítulo 08 - WebTV - Compartilhar leitura está em nosso DNA

O que Procura?

HOT 3!

O Eleito: Capítulo 08

Minissérie de João Sane Malagutti
Compartilhe:

 




O ELEITO - CAPÍTULO 08






FADE IN:

1. EXT./PÁTIO/DIA                                                 

 

Retomada. ANTHENOKEN no colo de OMAR. ZOOM IN: ANTHIEPT se faz de forte embora tenha os olhos lacrimejantes. SHENK brutamente empurra NEMEWÁ que vai alguns passos para trás.

 

SHENK

Pretendes ficar parado, General? A não ser que esteja imerso em algo, deverias deter o responsável.

 

OMAR olha para NEMEWÁ esperando uma posição.

 

NEMEWÁ

Leve o vosso pai para os cuidados; da ordem pública, cuido eu.

 

SHENK o observa com desconfiança. NEMEWÁ SAI pisando duro.

 

ANTHIEPT

Façam alguma coisa.

 

Passa segurando as mãos dos transeuntes e servos em desespero.

 

ANTHIEPT

(Cont’d.) Ajudem a salvar meu filho. Ele será o sucessor. Ajudem-no.

 

Algumas pessoas imóveis, outras se afastam; nuance de rejeição.

OMAR

(taciturno)

Deixe, rainha, ele desfaleceu. Esse fardo é meu e de mais ninguém.  (T) Shenk, ajuda-me!

 

Música. OMAR ergue ANTHENOKEN e SHENK o pega. Cortam o pátio. ZOOM IN em ANTHIEPT acuada e temerosa.


2. INT./DORMITÓRIO RAINHA/DIA                                    

 

Acelerada, ZAHRA adentra o ambiente vestindo uma túnica similar ao “intruso” e desfaz um turbante na mesma cor. Desesperada, procura por um lugar onde possa esconder as roupas e as coloca em meio as vestes da rainha. Nela, pensativa e preocupada. SAI furtivamente.


3. EXT./JARDINS/DIA                                              

 

Furtivamente, atrás de moitas, MALIK se desfaz de sua túnica e turbante. Os coloca embaixo de plantas e empurra terra para tampar. Calmamente senta ao lado da fonte e molha mão para o barro escorrer. CAM acompanha a água suja descendo.


4. INT./DORMITÓRIO RAINHA/DIA                                    

 

NEVERA adentra o dormitório carregando uma túnica e turbante similar ao “intruso” nos braços. Com cuidado os abre sobre o leito, os ajeita com muito cuidado e os admira.

 

NEVERA

Um detalhe; e estará perfeito!

 

Tira a adaga da cintura e deposita sobre as vestes. Abre um sorriso sádico e sai furtivamente. Suspense. Cenário vazio. Travelling In até a roupa.

 

OMAR (V.O.)

Não acreditei em uma só palavra.



5. INT./ORÁCULO/DIA                                              


SETNIAK desconfiado dá pequenas batidas com o cajado no chão.

 

SETNIAK

Não; eu sei! Embora quisesse...

 

OMAR com o olhar distante.

 

OMAR

(com pesar)

Confesso que... imagens de uma vida me turvou a mente e estive impelido a crer nesta mentira. (T) Talvez fosse tudo diferente!

 

SETNIAK

(pesaroso)

Não seria! Está escrito! As chamas revelam que na sombra de tua alma tem a assinatura de carrasco aos teus. Ser justo é uma dolorosa missão!

 

OMAR

Eu sei, eu sei! Sinto o peso. Não queria isso ser assim.

 

SETNIAK

O é! Não precisa se debruçar a isso. O destino acerta as contas em vosso nome. E assim vai ser!

 

Tensão.

 

ANTHIEPT (V.O.)

(irada)

Aquilo no pátio?!



6. INT./REFEITÓRIO/DIA                                           

 

ANTHIEPT e TUTANCAN contra a luz. Mistério. Diálogo tenso e em tom de segredo.

 

ANTHIEPT

Tem vosso tato no meio! Pensas que não sinto o cheiro de falcatrua?

 

TUTANCAN

(enfrenta)

E, se tiver? Qual o problema?

 

ANTHIEPT

(irada)

Um erro que pode botar tudo à perder! Além de ferir o vosso pai e irmão. Se fosses o faraó iria escrever a nossa história com sangue?

 

TUTANCAN

Dize-o tu! Recordas? Disseste ser uma sobrevivente entre os teus. Eu também o sou. E, não vou parar por aqui. Não se culpe e nem tente me impedir. Sou o que sou! E, não sou “um fraco”!

 

SAI altivo.

 

ANTHIPET

A soberba antecede a ruína!


7. INT./DORMITÓRIO PRÍNCIPE/DIA                                  

 

ANTHENOKEN deitado cercado por sacerdotes. Ferida fechada. Um frasco é aberto e levam ao nariz do paciente. Ele recobra os sentidos. Calmamente os sacerdotes recolhem as coisas e SAEM. ANTHENOKEN tem os olhos fixos ao alto, perdido em pensamentos. ZAHRA cruza com os sacerdotes e os agradece com um gesto de cabeça. Vagarosamente aproxima do leito. Música ao fundo do diálogo. Ela o observa sem esboçar qualquer tipo de sentimento.

 

ANTHENOKEN 

Veio certificar-se dos danos?

 

Ela dá de ombros.

ANTHENOKEN

(Cont’d.) Não foi dessa vez! Quem for o responsável desta trama, necessitas melhorar as estratégias.

 

ZAHRA

Não brinque com as palavras. De tantas tentativas, o êxito vêm!

 

ANTHENOKEN

Vieste só para ver de perto a ruína?

 

ZAHRA

Estou aqui como esposa responsável!

 

ANTHENOKEN revira s olhos e faz feição de contragosto.

 

ZAHRA

(Cont’d) Um gesto honesto de cônjuge. E, aonde está o vosso escravo-amante, e amigo, neste momento de precisão?

 

O encara severamente. Ele engole seco e fecha os olhos a fim de findar a conversa. ZAHRA SAI. ANTHENOKEN pensativo e acuado.


8. INT./TEMPLO DE OSÍRIS/DIA                                     

          

NEMEWÁ encara OMAR severamente.

 

OMAR

(grita)

Basta! Não participarei disso!

 

NEMEWÁ

O que mudou?

 

OMAR

Ainda quero ver-te no trono. Apenas, enquanto um Sumo-sacerdote não posso compactuar com essas tragédias. Um atentado não é algo banal!

NEMEWÁ

Qual a verdade implícita nessa sua crise de consciência? Acreditou no que ela lhe disse?

 

OMAR

Estive inclinado a aceita-lo como meu filho. Isso não vem ao cerne! Eu me arrependi. Hora má em que aceitei assumir um dos lados nesta disputa. (T) Sois irmãos! Isso deveria evitar muitas coisas. Sangue do mesmo sangue! Criados lado a lado! O laço se rompeu. E, de forma vil e brutal!

(amargurado)

Aceito a disputa entre vós só não me peça para aceitar os métodos! Eu sei que estais por trás desse atentado.

 

NEMEWÁ

E, se fui o mentor? O que muda?!

(sincero)

Isso não me deixa feliz! A vingança não sobrepõe a dor que carrego. Sofri o abandono de meu pai por uma família de aparência? Isso está impregnado em mim como esse ar que respiro. É muito injusto me deixar neste momento de mais precisão.

 

OMAR

Sinto muito! Também tenho as minhas convicções. Ajudei-te e me arrependo. Agora, deves caminhar sozinho. Sejas digno na disputa e não recorra aos artifícios sujos e, nem a mim.

 

NEMEWÁ

Pensei que fosse um homem em busca do que é melhor para Luxor! Me enganei. És um joguete na mão dela!

OMAR

Ouças bem e não torne tudo isso mais difícil para mim... (T) Os amo; meu sobrinho. Aos dois igualmente!

 

Abaixa a cabeça e tampa o rosto com as mãos. NEMEWÁ baqueado.

 

NEMEWÁ

O que dizes tu?! (T) Sobrinho?

 

OMAR levanta a cabeça banhada de lágrimas.

 

OMAR

Sim. Meu sobrinho!

 

NEMEWÁ

Dize-o irmão de Anounak?!

 

OMAR

Sou um segredo velado e bem guardado. O irmão mais velho de vosso pai. Ele me tomou o direito ao trono, por ser mais forte; restou-me o sacerdócio. Por identificação, o ajudei, Nemewá!  És o primevo, mereces o trono, como sempre mereci! Julguei injusto não poder participar da sucessão. Agora, não quero e não posso mais ajuda-lo. Atacas o nosso sangue e, assim, ataca a mim. Dói ver um de vós ferido! Não devo compactuar mais com isso. Fiz o que pude; deves seguir sozinho agora.

 

NEMEWÁ lacrimeja com revolta. Nele ofegante. Breve silêncio.

 

NEMEWÁ

Mentiste por uma vida toda! Porque não disseste ser meu tio há mais tempo. Acalmarias meu coração. (T) És tão vil como a rainha!

(espumando)

Sigo sozinho, como sempre fui. Estou aprendendo a odiá-los; dia-à-dia.

 

Irado, chuta a porta do templo e SAI. OMAR debruça sobre o altar, lacrimeja e respira aliviado.


9. INT./DORMITÓRIO DO PRÍNCIPE/DIA                                

 

ANTHIEPT

Não! Não irás! Não está em condições de seguir numa travessia dessas! É perigoso!

 

ANTHENOKEN caminha com dificuldade e geme de dor.

 

ANTHENOKEN

Perigoso é ficar aqui!

(ríspido)

Ferido sou um alvo fácil para que os inimigos me ataquem. És o que deseja? Me deixar em segundo plano, como fez por toda a sua vida?

 

ANTHIEPT

Não faleis assim comigo! Sou a tua mãe e me preocupo! A travessia pelo Nilo até ao vale o debilitará ainda mais. Penses! Tens que estar melhor para ascender ao trono, assim que esse escândalo passar!

 

ANTHENOKEN

Minhas esperanças quanto a isso é uma chama que não mais arde. Sentar-te-ás no lugar do meu pai. Queres provar do poder somente para mostrar a Nemewá que de fato foste a mulher do Faraó. Isso tudo diz respeito a sua decepção e, não ao meu direito.

 

SHENK se aproxima acompanhado de ZAHRA.

ANTHIEPT

(mordendo)

Não o coloco em teu devido lugar por essa afronta devido aos ferimentos. Está decretado: ficarás resguardado até a posse!

 

ANTHENOKEN

(enfrenta)

Se queres que eu sobreviva, me leves junto; ou também sou uma ameaça?

 

SHENK

Meu pai tem razão. Aqui, ele é um alvo fácil. Ainda mais ferido e com o exército sob o comando de N/

 

ANTHIEPT

(preocupada)

Não é com Nemewá que devemos nos preocupar?

(à Shenk)

Viste Tutancan? Preciso freiá-lo!

 

ZAHRA

O que temes? As liberdades dadas ou os incentivos aos quais depositou neste seu neto torto?

 

ANTHIEPT

És a mãe e não deverias proferir dessa forma sobre o vosso filho!

 

ZAHRA

Filho? De fato? Só posso dizer que o dei a vida, pois, tu, o roubaste de mim. Tanto em corpo quanto em alma. Não tenho elogios a tecê-lo e nada de mim encontro neste rapaz ao qual a senhora o tornou em uma aberração!

 

ANTHIEPT

Tutancan é um doce de menino! Apenas está deslumbrado com a vida. Quem de nós nunca errou ou se deslumbrou com as próprias curiosidades e ambições?

 

ANTHENOKEN

Não o proteja. A natureza deste meu filho é má. E, não deveis fechar os olhos para a verdade. Mesmo que doa!

 

ANTHIEPT

É apenas um fruto diferente num pé de tâmaras perfeitas. Deveis amá-lo como se ama as frutas perfeitas.

 

ZAHRA

Frutas perfeitas não agridem e nem ofendem as pessoas!

 

ANTHIEPT

O amor cura! Ele jamais foi capaz de me afrontar!

(à Shenk)

Meu neto, vós que sois o sol como era teu avô, o encontre e o prepare para zarpar. As naus partem antes do pôr-do-sol.

 

Contrariado, SHENK assente. ZAHRA o segura pela mão. Tira uma adaga dentre os seios e deposita em sua mão. ANTHENOKEN engole seco.

 

ZAHRA

Todo cuidado é pouco! Proteja-se!

 

ANTHIEPT dá um tapa na adaga que voa ao chão.

 

ANTHIEPT

Não ouses tocar num fio de cabelo de vosso irmão! Sejas sábio e o acolha. Ele precisa de amor e não de ameaças! Nessa questão, entre nós, és o melhor de todos!

 

Tensão.

 

SETNIAK (V.O.)

O destino... se cumprirá! 


10. INT./ORÁCULO/DIA                                             

 

Chamas altas. Por entre elas vê-se o rosto de SETNIAK. Ele macera folhas secas sobe o foço alimentando as chamas. Bate o cajado e a fumaça sobe.

 

SETNIAK

Dois irmãos sobem, dois descem e tão breve, a rainha, adoece!

(taciturno)

Não há mal que fique sem punição. O castigo é a culpa de uma mente atormentada. Os fantasmas do passado não sossegam até que aquela alma ruim pelo nariz escorra... para nunca mais voltar! E, assim será! Maktub!

 

Risada sombria Acompanhada de um cacoete de olhos inquietos.


11. INT./JARDINS/DIA                                             

 

TUTANCAN

A sua paga!

 

Entrega várias joias enroladas em linho. MALIK abre o linho e seus olhos brilham.

 

TUTANCAN

(cont’d) Lhe disse! Tinha muito mais de onde vieram aqueles. Convenhamos, mereceste! Atingiste a dois alvos em uma única ação. O único erro foi não ter acabado de vez com o meu pai e o meu irmão!

 

MALIK

(contrariado)

O combinado era um susto!

 

TUTANCAN

(doentio)

Do susto à realidade a linha é tênue. Sem esforço ou pudor algum, poderias tê-la ultrapassado.

 

MALIK, contrariado, fecha as joias no linho e devolve.

 

MALIK

Tome. Não podemos fazer negócio.

 

TUTANCAN

Já o Fez! Ousas negar a minha paga?!

 

MALIK

Vossa índole é ruim! És imoral. Me enganei quanto a vós. Afaste-se de mim. Não me tome mais!

 

MALIK ameaça SAIR e TUTANCAN o segura e devolve as joias.

 

TUTANCAN

(agressivo)

Não temes a punição? Pois, serei o eleito! Estais ante o futuro faraó.

 

MALIK

Vosso pai será o Faraó! Ele! Tu, não!

 

TUTANCAN

(doentio)

Não o verás naquele trono! Poderias ter a dádiva de ser o primeiro homem da realeza Luxor, no entanto, opta pela dor. Assim que tomar posse do MEU lugar, passearás pelas areias à cavalo! Amarrado, com pequenos cortes nessa tua bela tez esbranquiçada. Exalarás o cheiro de sangue pulsante para atrair aos chacais, até que os coma vivo!

 

MALIK

(de igual para igual)

Prefiro a morte pelos chacais à viver contigo! E, não me ameaces; não o temo! A tua realeza se curva no meio de minhas pernas. Achas forte? És o mais fraco de todos. O homem cujas as ações se movem pelo desejo da carne é um homem que trilha ao abismo! Deste tipo de gente, prefiro não respirar o mesmo ar.

 

Joga as joias sobre TUTANCAN e SAI. Ele lacrimeja com ódio. Gritos desesperados de ANTHIEPT (V.O.) fazem a transição.


12. INT./DORMITÓRIO RAINHA/DIA                                   

 

ANTHIEPT acuada no canto. NEVERA lhe oferece água num cálice.

 

NEVERA

Foi só um susto! Beba, soberana!

 

ANTHIPET dá um tapa no cálice que voa longe molhando a ambas.

 

ANTHIEPT

(obcecada)

Não foi somente um susto! Isto é uma ameaça velada. Entende?!

 

NEVERA

Quem teria essa ousadia?

 

Transtornada e com o olhar ao longe.

SHENK ENTRA com ZAHRA.

 

ANTHIEPT

Qualquer um. As pessoas me querem fora de suas vidas!

 

ZAHRA

É uma constatação ou apenas um sentimento de culpa pelas vossas ações?

 

SHENK

(repreende/tom baixo)

Mãe; não...

 

ANTHIEPT o abraça e ele não retribui de imediato dando sinal de frieza. Acaba correspondendo superficialmente ao abraço.

 

SHENK

O que houve?

 

ANTHIEPT

Tinhas razão. Aqui, todos seremos alvos fáceis. Ninguém está protegido dentro dessas muralhas! Veja! Tiveram a ousadia de colocar as roupas do criminoso em meu leito!

 

ZAHRA se aproxima e analisa as peças. NEVERA apreensiva.

 

ZAHRA

A rainha está alterada! Seria mais fácil tê-la atacado enquanto dormia. Quem fez isso, só quis provoca-la.

 

SHENK

Um mero susto. Uma brincadeira de mal gosto! Descanse; volto em breve com Tutancan e partiremos!

 

SHENK beija a sua mão em respeito e SAI. ZAHRA olha inquisitiva à NEVERA; a mesma entende o e SAI.

 

ZAHRA

Sempre admirei a tua força. Quis ser vossa amiga e fechei os meus olhos aos absurdos... Agora, não posso mais ser conivente com a senhora. Mostrou-se uma pessoa instável e indigna. Percebo que a sua força é uma máscara que disfarça a vossa fragilidade.

 

ANTHIEPT

(acuada)

Aonde queres atingir?

 

ZAHRA

Exatamente aonde está sentindo! Na sua impotência. Estais fora de vosso juízo! Queres insistir num erro para o trono!

 

ANTHIEPT

Não perdi o juízo. Tampouco perdida. Por quem me toma para me julgar? Conheço e partilho do teu despeito. Foste traída; o que sente é natural. Só não aceito que jogue as tuas tristezas sobre meus ombros. Enfrente os teus problemas, como sempre o fiz. Siga o teu rumo; procure a tua paz e deixe-me com os meus fantasmas!

 

ZAHRA

(com desdém)

Com licença!

 

ZAHRA SAI. ANTHIEPT, receosa, caminha até as vestes e a cheira.

 

ANTHIEPT

(para si)

Ervas! Ervas do jardim!

 

Nela, pensativa com os tecidos ao nariz. NEVERA espia de longe. Suspense.


13. INT./DORMITÓRIO HERDEIROS/DIA                                 

 

TUTANCAN em seu leito observa os serviçais arrumarem seu baú com vestimentas. SHENK ENTRA. TUTANCAN passa por ele e esbarra de propósito. Ambos se desafiam com o olhar. TUTANCAN SAI. Em SHENK irritado.


14. INT./CASA DE BANHOS/DIA                                      

 

MALIK, pensativo, lava-se com ervas. Mais adiante, NEVERA macera flores desesperadamente e entra com roupa e tudo na fonte e esfrega as pétalas em seu corpo. Dado momento, lagrimas escorrem e MALIK se entrega ao choro. Deve ser explícito o seu sofrimento. Leva a mão com água o rosto e engole o choro.


15. INT./EXT./TEMPLO DE OSÍRIS/DIA-ENTARDECER                     

 

Takes descontínuos de muitos figurantes integrando o preparo final do evento funerário e o traslado da múmia. Esta cena compões basicamente de pessoas com máscaras dos Deuses: Anúbis, Hórus, Tot, Sobek, Bastet, Hator e Sekhmet. CAM passeia por eles. ANUBIS coloca a máscara de ouro sobre a múmia de ANOUNAK e na sequência outro coloca um escravelho de ouro em seu peito. A múmia é depositada em uma urna dourada, formação de cestas de comidas. A urna funerária é colocada em outra maior. Por fim, lacra-se a urna com cera e a colocam sobre uma carruagem puxada por bois. O cortejo se inicia sob os olhares de OMAR, que retira a máscara de Anúbis. Diversos serviçais em filas seguem a carruagem. DESFOQUE: NEMEWÁ de um lado lacrimejante. A família REAL, apática, do outro. Takes de NEMEWÁ e ANTHENOKEN em embate de olhares. ANTHENOKEN começa a acompanhar o cortejo carregado por serviçais. Em seu rosto, sinais de dor. Leva a mão às costelas. SETNIAK balbucia uma espécie de oração em sequência. Toda a cena desenhada por instrumental. O cortejo parte.


16. EXT./PÁTIO DO PALÁCIO/PORTAL/RUAS DA CIDADE/DIA-ENTARDECER     

 

Vista do alto: cortejo pelo pátio. Os serviçais se ajoelham e se curvam com as cabeças ao chão.     Caminhar lento da família real atrás do carro funeral. Close na altivez de ANTHIEPT.


PORTAL:

 

Entrecortes: A urna é retirada da carruagem e transferida com esforço de muitos serviçais por uma rampa que dá em cima de uma embarcação sobre outra carruagem. Algo bem maior e digno de realeza. Os membros reais, cada qual, sobem em liteiras e são erguidos e carregados pelos serviçais.

 

RUAS DA CIDADE:

 

Vista do alto. Muitas pessoas acompanham o cortejo enquanto outras reverenciam de joelhos o cortejo passando. Uma grande fila de serviçais carregam frutas e quinquilharias. Algumas pessoas choram. NEMEWÁ, à pé, esgueira-se do cortejo para baixo de uma tenda de um comerciante. Sorrateira, NEVERA se aproxima. Diálogo sussurrado.

 

NEVERA

Tens que ir ao funeral. Enfrente-os. Aquele que segue é o vosso pai. Não deves diminuir os passos para a vitória.

 

NEMEWÁ

A vitória é uma quimera! Todos estão dispostos a morrer pelo trono.

 

NEMEWÁ abaixa a cabeça em gesto de desistência.

 

NEVERA

E, eu, disposta a morrer pela memória de vossa mãe. Não podes esquecer tudo de ruim que esta gente fez conosco. Honre a memória de Nerfiri, Nemewá.

 

NEMEWÁ ergue a cabeça e a fita com lágrimas. NEVERA toma a sua cabeça entre as mãos e beija seus lábios demoradamente. Afasta-se e o olha nos olhos. NEMEWÁ respira fundo e segue o cortejo limpando as lágrimas.

 

OMAR (V.O.)

(pesaroso)

Que Osíris tenha piedade de nós!


17. INT./CAIS/DIA-PÔR-DO-SOL                                     

 

Instrumental egípcio. Fim do cortejo. Abre a cena com escravos e serviçais empurrando a nau pelo cais com a urna funerária. Atrás, sentados solenes na carruagem, OMAR e SETNIAK; observam tudo atentamente. Dado momento, numa tentativa discreta, OMAR enxuga a uma lágrima furtiva com o mindinho.

 

SETNIAK

Não vais conseguir manter essa farsa por muito tempo.

 

OMAR

DO que está falando?

 

SETNIAK

Quando acendeu ao sacerdócio, eu já estava lá, no oráculo; sei de ti.

(sorri amigável)

Fique em paz. Penso que deves ter cautela daqui para adiante. No vale, há uma urna vazia de alguém cuja vida aqui está; e, se em cisma um curioso mexer/

 

OMAR

Não mexerão.

 

SETNIAK

Se o diz...

 

OMAR salta da carruagem.

 

OMAR

Certo de que não vens conosco?

 

SETNIAK

Jamais fui tão longe do oráculo. E, não será agora. Só saio para a morte.

 

OMAR

Que Amon o proteja!

 

SETNIAK assente com a cabeça e sorri. OMAR segue em direção às embarcações na margem.


18. EXT.INT/NAU REAL/SEGUNDA NAU/MARGEM DO NILO/DIA-PÔR-DO-SOL     


A NAU REAL é composta de ornamentos dourados e tendas à proa e poupa para proteger a nobreza. Na proa, dois tronos. Ao centro do Barco, um reservado fechado de madeira. A figuração ocupa a parte dos remos, logo abaixo. A SEGUNDA NAU se aplica da mesma forma, com menos pompa e um reservado.

 

NAU REAL:

 

ANTHENOKEN aparece à porta. ZAHRA no convés se depara com ele.

 

ANTHENOKEN

Não podes ficar aqui.

 

ZAHRA

Ainda sou a tua mulher.

 

ANTHENOKEN

Não mais.

 

MALIK aparece por trás dele e o toca os ombros. ZAHRA vira-se e segura o choro. Do outro lado do convés, aparece SHENK.

 

SHENK

Sinto, meu pai. Se não cabes minha mãe aqui, não me cabe também.

 

Abraça a mãe e descem. ANTHENOKEN suspira com feição triste.

 

EM TERRA:

 

NEVERA aparece no meio da multidão pescoçando entre as pessoas em busca de encontrar alguém.

 

NAU REAL:

 

ANTHIEPT sobe à nau ajudada pelos serviçais. Aproxima-se de ANTHENOKEN e o mede com o olhar.

 

ANTHIEPT

Não há lugar para mim também?

 

ANTHENOKEN abaixa a cabeça envergonhado. ANTHIEPT, assoberbada caminha à proa e observa a margem (POV) repleta de pessoas que se ajoelham em reverência ao vê-la.

 

ANTHIEPT

(à ANTHENOKEN)

(Cont’d.) Sente-se no trono ao meu lado. Sem a ajuda deste teu escravo. Não o quero aos olhos do povo.

 

ANTHENOKEN caminha gemendo de dor vagarosamente enquanto MALIK volta para dentro do reservado com feição triste. Atrás deles, TUTANCAN se debruça num dos tronos provocativamente.

 

TUTANCAN

É importante aparecermos unidos!

 

ANTHENOKEN tranca a cara.

 

ANTHIEPT

Sempre! Tens razão.

(à ANTHENOKEN)

A nossa glória é que estas pessoas nem imaginam o que se passa dentro daquelas muralhas.

 

SEGUNDA NAU:

 

ZAHRA anda de um lado para o outro. Tensão. OMAR a observa.

 

ZAHRA

Ele não podia ter feito isso comigo!

 

OMAR

Acalme-se. O juízo dele está preso em ilusões. Na primeira decepção, ele pedirá perdão. Deixe o tempo correr que ele há de enxergar o que fez.

 

SHENK

O sacerdote está certo! É preciso ter calma. Ele não subirá ao trono sem uma rainha.

 

ZAHRA

(controlando-se)

Assim espero. Assim espero! Ou terá ganho uma inimiga voraz!

 

Em SHENK preocupado.

 

MARGEM DO NILO/NAU REAL/SEGUNDA NAU:

 

Pessoas aglomeradas choram. Outras acenam. NEMEWÁ aparece do meio do povo e coloca-se à margem. Solene faz concha com as mãos à boca. Tem um brilho “diferente” nos olhos.

 

NEMEWÁ

(grita)

Parem! (T) Não pode partir sem mim!

 

ANTHIEPT e TUTANCAN debruçam no convés assustados

 

ANTHIEPT

Ele não pode fazer isso!

 

TUTANCAN preocupado. Da SEGUNDA NAU, OMAR, ZAHRA e SHENK ficam em pé na proa para observarem o ato. CAM passeia em seus rostos apreensivos. Da margem NEMEWÁ continua:

 

NEMEWÁ

Não podem impedir um General de acompanhar o sepultamento daquela pessoa a quem mais amou.

(lacrimeja)

O Faraó foi um pai para mim!

 

ZAHRA (V.O.)

Parem a embarcação!

 

NEMEWÁ aliviado. NEVERA, no meio do povo, sorri triunfal.

 

ZAHRA

(Cont’d.) Eu ordeno que busquem o general na margem.

 

OMAR e SHENK olham apreensivos. Os serviçais jogam um barco no rio para busca-lo. Na NAU REAL, ANTHENOKEN com dores aproxima-se de TUTANCAN e de ANTHIEPT apreensivos no convés.

 

ANTENOKEN

O que ela pensa estar fazendo?

 

ANTHIEPT

Evitando um escândalo e salvando a sua pele. Coisa que vosso escravo não fez.

 

TUTANCAN

Como sempre, doa-se a quem não lhe ama.

 

Encara ANTHENOKEN que o fuzila com o olhar. Retoma na travessia de NEMEWÁ, em pé no barco com os escravos remando, o levam para a SEGUNDA NAU. Vento em suas vestes. Aproximam-se da NAU. A reflete a redenção do General. Ele adentra a embarcação acolhido por ZAHRA que lhe estende a mão. Música instrumental domina a cena. Cada personagem com olhar ao longe presos em pensamentos. Um gato preto se esfrega na perna de NEMEWÁ e recebe um carinho.

 

FADE OUT.


19. INT./CASA DE NERFIRI/NOITE                                   

 

FADE IN.

 

Efeito de uma tocha se acendendo. Sorrindo como uma pessoa que perdeu a noção do perigo, Nerfiri esparrama óleo pela casa. Após, olha bem para as chamas da tocha.

 

NEVERA

Liberto-te, minha irmã. Será como se nunca estivéssemos existidos aqui. A nossa existência é uma memória a ser apagada deste casebre com o tempo. O nosso lugar é naquele palácio!

 

Ri alto e tresloucadamente. Suspense musicado enquanto acende várias pontos de fogo com a tocha. Fogo vai subindo. Detalhe do rosto de NEVERA transformado pela loucura.


20. INT./RESERVADO DA SEGUNDA NAU/NOITE                           

 

Na tocha sobre um móvel qualquer. NEMEWÁ ENTRA.

 

NEMEWÁ

Perdoe-me princesa; não quero ser indelicado.

 

ZAHRA assente deitada sobre um leito improvisado.

 

NEMEWÁ

(Cont’d.) Vossa colaboração foi de suma importância para que eu pudesse acompanhar o funeral.

(sincero)

Não esperava. Obrigado!

ZAHRA se coloca diante dele.

 

ZAHRA

Anounak foi seu pai. Mesmo que em condição de adultério! Só fui justa! Saiba que é só. Não terás a minha simpatia. Espero que tenha o mesmo senso de justiça com os meus, quando precisarmos.

 

Alguns segundos de silêncio.

 

NEMEWÁ

(chateado)

Tudo, não precisa terminar nessa antipatia. Busco o que me cabe, apenas.

 

ZAHRA

O que te cabe, também cabe à nós. Estamos correndo no mesmo objetivo, só que cada um de um lado. (T) Agradecimento aceito, é hora de descansar. Por gentileza, feche ao sair.


21. INT./RESERVADO E PROA NAU REAL/CONVÉS SEGUNDA NAU/NOITE        

 

Penumbra. Luz mínima de fogareiros.

 

NAU REAL:

 

ANTHENOKEN deitado de olhos abertos, pensativo. Durante a fala o efeito desfoque revela TUTANCAN deitado mais atrás.

 

ZAHRA (V.O.)

Quando as ambições são as mesmas, não existem dois lados. A disputa é certa e às vezes requer sangue frio. Recuar não é uma premissa. Mesmo diante do medo. O ataque é iminente.

PROA DA NAU REAL:

 

RAINHA no trono, exausta, debruçada sobre os braços que tampa o seu rosto.

 

ZAHRA (V.O.)

A batalha pode parecer perdida e, no entanto, só se perde quando desiste. Quando se tem sangue frio nas veias até o final...

 

MALIK se aproxima.

 

MALIK

A Rainha não irá dormir? O príncipe mandou vos perguntar.

 

ANTHIEPT

Uma rainha jamais dorme ou deixa seu trono em perigo.

 

O encara.

 

ANTHIEPT

(tom acusatório)

(Cont’d.) Ainda mais, quando o mal insiste em ficar assim: tão perto!

 

ZAHRA (V.O.)

...Garante a sobrevivência e a vitória.

 

PROA DA SEGUNDA NAU:

 

SHENK, OMAR e NEMEWÁ, cada qual, em um canto. Olhares distantes e imersos em pensamentos. CAM busca rosto por rosto durante a fala. Suspense.

 

ZAHRA (V.O.)

Entretanto, nada é estático. Nem mesmo a aclamada vitória. Um dia, uns estão por cima, noutros, a roda vira e ficam por baixo. O que é certo, é que só existe a luta diária para se chegar aonde se deseja.


22. EXT./RIO NILO/NOITE                                          

 

Reflexo de luzes das tochas em ondas feitas pelos remos das embarcações. PLANO PANORÂMICO: as principais naus atrás da nau funerária; mais atrás, um pequeno número de embarcações. Clima Tenso.

 

FADE OUT.

 

SFX: Barulho de madeira caindo.


23. EXT./VALE DOS REIS/DIA                                       

 

FADE IN.

 

CAM passeia por caixas e caixas de madeiras abertas. Desfoque revela escravos a adentrar a câmara funerária com mobiliários e cestas de frutas. Parados, a família real sob coberturas seguradas pelos serviçais. CAM passeia pelos rostos cansados e entediados. Atrás de ANTHENOKEN, MALIK a abaná-lo com grande leque de plumas.

 

JUMP CUT:

 

Múmia carregada pelos SACERDOTES até parte mais alta. Erguem a múmia de ANOUNAK para iniciar o “Ritual do Abre a Boca”. Com uma enxó, OMAR passa na boca da múmia. ANTHIEPT, ofegante, segura o choro e tenta disfarçar as lágrimas. ANOUNAK, como um fantasma observa todo o processo. Os Sacerdotes devolvem a múmia para dentro da urna e a tranca. Os serviçais, com muita dificuldade carregam a urna funerária para dentro da câmara. ANOUNAK acompanha até a porta quando OMAR ENTRA. Olha para trás e observa tristemente a sua família atenta ao ritual. Do nada uma tempestade de areia vem do rio. SFX: grãos de areia se aproximam da porta da câmara formando a uma mulher: NERFIRI. Dão-se as mãos e ENTRAM. Close em ANTHIEPT amargurada.


24. INT./CÂMARA MORTUÁRIA/DIA                                    

 

NEMEWÁ de um lado da urna. Do outro, a família real. Em volta de todos, os sacerdotes. OMAR ao centro, toca nos pés da urna dourada e aos poucos, em lágrimas, debruça a cabeça e chora. As lágrimas de ANTHIEPT escorrem. MEMEWÁ segura as lágrimas.

OMAR limpa as lágrimas, se levanta e abre os braços.

 

OMAR

A nossa intervenção se encerra aqui. O caminho se segue com Anounak II, para o grande julgamento de frente com Osíris.

 

Aos poucos todos vão saindo. NEMEWÁ fica imóvel. ANTHIEPT para e ameaça falar algo. OMAR a toca no braço e meneia a cabeça negativamente. Ela engole a fala e segue com o grupo. TUTANCAN se desvencilha do grupo furtivamente.

 

JUMP CUT:

 

NEMEWÁ ajoelha-se ao chão e chora. ANOUNAK e NERFIRI o abraçam diante de forte luz. A luz se apaga e NEMEWÁ está deitado. Silêncio. Ele abre os olhos e se nota sozinho. Vai ao corredor de saída e dá com a porta de pedra fechada. Surto de desespero. Grita e chora. Esmurra a porta. Afasta-se dela, encara e se joga contra ela. Bate a cabeça e perde a noção. Cai ao chão do lado de uma ferramenta de ferro fundido sem notar. Sangue escorre do supercílio. Detalhe na ferramenta. Suspense.

 

OMAR (V.O.)

Aonde está Nemewá?


25. INT./SEGUNDA NAU/DIA                                         

 

ZAHRA de frente com OMAR. Mais atrás dela, SHENK.

 

ZAHRA

(desconversa)

Em algum lugar desta embarcação. Não sei! Como posso saber?

OMAR

Não está em lugar algum! Deve ter ficado. Exijo que voltemos!

 

ZAHRA

(enfrenta)

Não! Não voltaremos. Se ele ficou, foi por escolha própria. Não devemos interferir nas escolhas dele!

 

OMAR

Conveniente para vossa família.

 

Vai até SHENK.

 

OMAR

(Cont’d) Vós que sois o equilibrado dessa família. Diga-me: não fizeram nada contra o general?

 

SHENK o encara e baixa os olhos antes de responder.

 

SHENK

(mente)

Não sei, Sumo-Sacerdote. Sinto muito!


26. FLASHBACK: INT./DORMITÓRIO RAINHA/NOITE                       

 

Penumbra. SHENK no corredor ouvindo a conversa.

 

ANTHIEPT (V.O.)

Ele é obstinado! Só a morte pode impedí-lo, ou...

 

SHENK espia da porta, ANTHIEPTH e uma pessoa de costa enxugando a cabeça com longos panos.

 

ANTHIEPT

(Cont’d.) ...trancafiá-lo; num lugar cuja porta não o deixaria sair nunca mais!


27. FLASHBACK: INT.EXT./CÂMARA MORTUÁRIA DO VALE DOS REIS/NOITE    

 

Retoma na saída da família real e demais pessoas da tumba. SHENK vê TUTANCAN cochichando com alguém sem ser percebido. Desconfiado, SHENK volta e pega, dentre o material depositado na câmara, uma barra de ferro em forma de Ank. Discretamente a carrega e, antes de SAIR a deposita no chão ao lado da porta.


28. INT./SEGUNDA NAU/DIA                                         

 

Retoma de onde parou. SHENK cabisbaixo. OMAR à sua frente.

 

OMAR

(desconfiado)

Há algo obscuro aqui. Não gosto disso! Há uma disputa, eu sei...

(à ZAHRA)

...No entanto deve ser honesta. Lhe clamo princesa. Voltemos!

 

Parece arrependida.

 

ZAHRA

(engolindo o remorso)

Devias tê-lo procurado assim eu estraste aqui. Agora estamos longe. Se quiser, Sacerdote, volte à nado.

 

OMAR a encara irritado e SAI. ZAHRA, chateada, encara SHENK. Ele abaixa a cabeça e respira fundo.


29. INT./EXT./RESERVADO E PROA DA NAU REAL/DIA                    

 

TUTANCAN no leito cercado por serviçais o servindo com frutas e o abanando. Sorri misteriosamente enquanto entorna uma taça.

ANTHENOKEN olha para MALIK e faz gesto com a cabeça para SAIR. O mesmo para os demais serviçais que obedecem. TUTANCAN se acua no leito assustado.

 

ANTHENOKEN

Acalma-te! Só quero entender...

TUTANCAN

(desconfiado)

Entender?! O que?!

 

ANTHENOKEN

Desde quando sentes atração por homens?

 

TUTANCAN

Desde sempre. Vim ao mundo assim: voracidade, jeito e corpo de homem! Aprisionado ao fogo e a uma alma de mulher que... me queima por inteiro. Tem horas que sinto que esse corpo não é meu. Que esse mundo não é meu e, para me aceitar, preciso que as pessoas me aceitem.

 

ANTHENOKEN

(perdido)

Agradeço por elucidar.

 

Ameaça SAIR.

 

TUTANCAN

Sei que tens os mesmos dilemas. Somos diferentes por fora e bem parecidos em nossa essência!

 

ANTHENOKEN

(ríspido)

Não! Não somos! Quero me alimentar de uma relação sofisticada. O desejo é mera consequência. Em definitivo, não sou uma cadela no cio e, tampouco me importa a aceitação. Sou seguro de mim e me amo. E, isso, por si só, já me basta!

 

SAI. TUTANCAN deixa o corpo cair e lacrimeja decepcionado.

 

PROA:

 

ANTHIEPT no trono. ANTHENOKEN chega ao seu lado. Olha para o horizonte por alguns segundos.

 

ANTHENOKEN

Me matarias se em algum um dia lhe oferecesse algum risco?

 

ANTHIEPT

O meu senso moral me obriga a dizer que não quando as minhas mágoas recente reverberam dentro de mim tal desejo. Sou mãe e, até os animais cuidam de suas crias. Que mãe seria eu se agisse de forma irracional?

 

ANTHENOKEN

Não foi o que perguntei. Vou reformular: matarias ao próprio filho se não houvesse como pará-lo?

 

ANTHIEPT

(pensativa)

Não vou lhe responder. Isso não é sobre mim. Nem sobre ti. É como está percebendo o seu entorno hostil.

(sagaz)

Sofreu um atentado e se feriu. Isso te mobiliza a enxergar perigos. Só cuide para que as suas desconfianças não excedam à realidade.


30. INT./CÂMARA FUNERÁRIA/DIA                                    

 

NEMEWÁ se levanta. Começa a gritar desesperadamente por socorro e arranhar a porta até sangrar as unhas. Suspense. Dado momento deixa o corpo cair ao lado da barra. Pensativo olha para a barra.


31. EXT./VALE DOS REIS/DIA   

                                    

“MAKTUB” (Marcos Viana). Beduínos chegam em camelos e cavalos sobre um dos montes. A maior parte deles devem ser figurantes que já estiveram em cena Da construção da represa do Nilo. TRAVELLING OUT (por grua) até revelar o panorama do Vale e os mesmos descendo os montes para frente da Câmara Funerária. Os cavalos e camelos param e eles descem. Suspense.


32. EXT./RIO NILO/NOITE                                          

 

Suspense. Panorâmica das NAUS remando pelo rio com as tochas acesas.


33. INT./RESERVADO SEGUNDA NAU/NOITE                              

 

ZAHRA bebe água. Do nada leva a mão à garganta. Deixa a taça cair. Tem um ataque súbito. Leva a mão ao peito e cai. SHENK a acode assustado. Suspense. Ela se levanta fragilizada e se abraçam.


34. INT./RESERVADO NAU REAL/NOITE                                 

 

TUTANCAN dorme. ANTHENOKEN se aproxima e fecha uma das mãos com ódio. Suspense dramático e instrumental. MALIK se aproxima por trás dele e coloca a mão em seu ombro. ANTHENOKEN o olha por cima dos ombros.

 

MALIK

(sussurra)

É o que realmente quer?

 

ANTHENOKEN olha para TUTANCAN e respira fundo. Suspense.

 

CORTA PARA O:

 

============================================================


P R Ó X I M O   C A P Í T U L O

============================================================

==============================================================








Minissérie de
JOÃO SANE MALAGUTTI

Elenco
ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA

Direção
ANDERSON SILVA

Produção
BRUNO OLSEN


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



Copyright 
© 2025 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução

Compartilhe:
Next
This is the most recent post.
Previous
Postagem mais antiga

Capítulos de O Eleito

Minisséries

No Ar

O Eleito

Comentários:

0 comentários: