

FADE IN:
1. EXT./PÁTIO/DIA
Retomada.
ANTHENOKEN no colo de OMAR. ZOOM IN: ANTHIEPT se faz de forte embora tenha os
olhos lacrimejantes. SHENK brutamente empurra NEMEWÁ que vai alguns passos para
trás.
SHENK
Pretendes ficar parado, General? A
não ser que esteja imerso em algo, deverias deter o responsável.
OMAR olha
para NEMEWÁ esperando uma posição.
NEMEWÁ
Leve o vosso pai para os cuidados;
da ordem pública, cuido eu.
SHENK o
observa com desconfiança. NEMEWÁ SAI pisando duro.
ANTHIEPT
Façam
alguma coisa.
Passa
segurando as mãos dos transeuntes e servos em desespero.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Ajudem a salvar meu
filho. Ele será o sucessor. Ajudem-no.
Algumas
pessoas imóveis, outras se afastam; nuance de rejeição.
OMAR
(taciturno)
Deixe, rainha, ele desfaleceu. Esse
fardo é meu e de mais ninguém. (T)
Shenk, ajuda-me!
Música. OMAR ergue ANTHENOKEN e SHENK o pega. Cortam o pátio. ZOOM IN em ANTHIEPT acuada e temerosa.
2. INT./DORMITÓRIO RAINHA/DIA
Acelerada, ZAHRA adentra o ambiente vestindo uma túnica similar ao “intruso” e desfaz um turbante na mesma cor. Desesperada, procura por um lugar onde possa esconder as roupas e as coloca em meio as vestes da rainha. Nela, pensativa e preocupada. SAI furtivamente.
3. EXT./JARDINS/DIA
Furtivamente, atrás de moitas, MALIK se desfaz de sua túnica e turbante. Os coloca embaixo de plantas e empurra terra para tampar. Calmamente senta ao lado da fonte e molha mão para o barro escorrer. CAM acompanha a água suja descendo.
4. INT./DORMITÓRIO RAINHA/DIA
NEVERA
adentra o dormitório carregando uma túnica e turbante similar ao “intruso” nos
braços. Com cuidado os abre sobre o leito, os ajeita com muito cuidado e os
admira.
NEVERA
Um detalhe; e estará perfeito!
Tira a
adaga da cintura e deposita sobre as vestes. Abre um sorriso sádico e sai
furtivamente. Suspense. Cenário vazio. Travelling In até a roupa.
OMAR (V.O.)
Não
acreditei em uma só palavra.
5. INT./ORÁCULO/DIA
SETNIAK desconfiado dá pequenas batidas
com o cajado no chão.
SETNIAK
Não; eu sei! Embora quisesse...
OMAR com o olhar distante.
OMAR
(com
pesar)
Confesso que... imagens de uma vida me
turvou a mente e estive impelido a crer nesta mentira. (T) Talvez fosse tudo diferente!
SETNIAK
(pesaroso)
Não seria! Está escrito! As chamas
revelam que na sombra de tua alma tem a assinatura de carrasco aos teus. Ser
justo é uma dolorosa missão!
OMAR
Eu sei, eu sei! Sinto o peso. Não queria isso
ser assim.
SETNIAK
O é! Não precisa se debruçar a isso. O
destino acerta as contas em vosso nome. E assim vai ser!
Tensão.
ANTHIEPT
(V.O.)
(irada)
Aquilo no pátio?!
6. INT./REFEITÓRIO/DIA
ANTHIEPT e
TUTANCAN contra a luz. Mistério. Diálogo tenso e em tom de segredo.
ANTHIEPT
Tem vosso tato no meio! Pensas que
não sinto o cheiro de falcatrua?
TUTANCAN
(enfrenta)
E, se
tiver? Qual o problema?
ANTHIEPT
(irada)
Um erro que pode botar tudo à
perder! Além de ferir o vosso pai e irmão. Se fosses o faraó iria escrever a nossa
história com sangue?
TUTANCAN
Dize-o tu! Recordas? Disseste ser
uma sobrevivente entre os teus. Eu também o sou. E, não vou parar por aqui. Não
se culpe e nem tente me impedir. Sou o que sou! E, não sou “um fraco”!
SAI altivo.
ANTHIPET
A soberba antecede a ruína!
7. INT./DORMITÓRIO PRÍNCIPE/DIA
ANTHENOKEN
deitado cercado por sacerdotes. Ferida fechada. Um frasco é aberto e levam ao
nariz do paciente. Ele recobra os sentidos. Calmamente os sacerdotes recolhem
as coisas e SAEM. ANTHENOKEN tem os olhos fixos ao alto, perdido em
pensamentos. ZAHRA cruza com os sacerdotes e os agradece com um gesto de
cabeça. Vagarosamente aproxima do leito. Música ao fundo do diálogo. Ela o
observa sem esboçar qualquer tipo de sentimento.
ANTHENOKEN
Veio
certificar-se dos danos?
Ela dá de
ombros.
ANTHENOKEN
(Cont’d.) Não foi dessa vez! Quem
for o responsável desta trama, necessitas melhorar as estratégias.
ZAHRA
Não brinque com as palavras. De
tantas tentativas, o êxito vêm!
ANTHENOKEN
Vieste só para ver de perto a ruína?
ZAHRA
Estou aqui como esposa responsável!
ANTHENOKEN revira s olhos e faz feição de
contragosto.
ZAHRA
(Cont’d) Um gesto honesto de
cônjuge. E, aonde está o vosso escravo-amante, e amigo, neste momento de
precisão?
O encara severamente. Ele engole seco e fecha os olhos a fim de findar a conversa. ZAHRA SAI. ANTHENOKEN pensativo e acuado.
8. INT./TEMPLO DE OSÍRIS/DIA
NEMEWÁ
encara OMAR severamente.
OMAR
(grita)
Basta! Não participarei disso!
NEMEWÁ
O que
mudou?
OMAR
Ainda quero ver-te no trono.
Apenas, enquanto um Sumo-sacerdote não posso compactuar com essas tragédias. Um
atentado não é algo banal!
NEMEWÁ
Qual a verdade implícita nessa sua crise
de consciência? Acreditou no que ela lhe disse?
OMAR
Estive inclinado a aceita-lo como
meu filho. Isso não vem ao cerne! Eu me arrependi. Hora má em que aceitei
assumir um dos lados nesta disputa. (T) Sois irmãos! Isso deveria evitar muitas
coisas. Sangue do mesmo sangue! Criados lado a lado! O laço se rompeu. E, de
forma vil e brutal!
(amargurado)
Aceito a disputa entre vós só não me
peça para aceitar os métodos! Eu sei que estais por trás desse atentado.
NEMEWÁ
E, se fui o mentor? O que muda?!
(sincero)
Isso não me deixa feliz! A vingança
não sobrepõe a dor que carrego. Sofri o abandono de meu pai por uma família de
aparência? Isso está impregnado em mim como esse ar que respiro. É muito
injusto me deixar neste momento de mais precisão.
OMAR
Sinto muito! Também tenho as minhas
convicções. Ajudei-te e me arrependo. Agora, deves caminhar sozinho. Sejas
digno na disputa e não recorra aos artifícios sujos e, nem a mim.
NEMEWÁ
Pensei que fosse um homem em busca
do que é melhor para Luxor! Me enganei. És um joguete na mão dela!
OMAR
Ouças bem e não torne tudo isso
mais difícil para mim... (T) Os amo; meu sobrinho. Aos dois igualmente!
Abaixa a
cabeça e tampa o rosto com as mãos. NEMEWÁ baqueado.
NEMEWÁ
O que dizes
tu?! (T) Sobrinho?
OMAR
levanta a cabeça banhada de lágrimas.
OMAR
Sim. Meu sobrinho!
NEMEWÁ
Dize-o
irmão de Anounak?!
OMAR
Sou um segredo velado e bem
guardado. O irmão mais velho de vosso pai. Ele me tomou o direito ao trono, por
ser mais forte; restou-me o sacerdócio. Por identificação, o ajudei, Nemewá! És o primevo, mereces o trono, como sempre
mereci! Julguei injusto não poder participar da sucessão. Agora, não quero e
não posso mais ajuda-lo. Atacas o nosso sangue e, assim, ataca a mim. Dói ver
um de vós ferido! Não devo compactuar mais com isso. Fiz o que pude; deves
seguir sozinho agora.
NEMEWÁ
lacrimeja com revolta. Nele ofegante. Breve silêncio.
NEMEWÁ
Mentiste por uma vida toda! Porque
não disseste ser meu tio há mais tempo. Acalmarias meu coração. (T) És tão vil
como a rainha!
(espumando)
Sigo sozinho, como sempre fui.
Estou aprendendo a odiá-los; dia-à-dia.
Irado, chuta a porta do templo e SAI. OMAR debruça sobre o altar, lacrimeja e respira aliviado.
9. INT./DORMITÓRIO DO PRÍNCIPE/DIA
ANTHIEPT
Não! Não irás! Não está em
condições de seguir numa travessia dessas! É perigoso!
ANTHENOKEN
caminha com dificuldade e geme de dor.
ANTHENOKEN
Perigoso é ficar aqui!
(ríspido)
Ferido sou um alvo fácil para que
os inimigos me ataquem. És o que deseja? Me deixar em segundo plano, como fez
por toda a sua vida?
ANTHIEPT
Não faleis assim comigo! Sou a tua
mãe e me preocupo! A travessia pelo Nilo até ao vale o debilitará ainda mais.
Penses! Tens que estar melhor para ascender ao trono, assim que esse escândalo
passar!
ANTHENOKEN
Minhas esperanças quanto a isso é
uma chama que não mais arde. Sentar-te-ás no lugar do meu pai. Queres provar do
poder somente para mostrar a Nemewá que de fato foste a mulher do Faraó. Isso
tudo diz respeito a sua decepção e, não ao meu direito.
SHENK se aproxima acompanhado de ZAHRA.
ANTHIEPT
(mordendo)
Não o coloco em teu devido lugar
por essa afronta devido aos ferimentos. Está decretado: ficarás resguardado até
a posse!
ANTHENOKEN
(enfrenta)
Se queres que eu sobreviva, me
leves junto; ou também sou uma ameaça?
SHENK
Meu pai tem razão. Aqui, ele é um
alvo fácil. Ainda mais ferido e com o exército sob o comando de N/
ANTHIEPT
(preocupada)
Não é com Nemewá que devemos nos
preocupar?
(à Shenk)
Viste Tutancan? Preciso freiá-lo!
ZAHRA
O que temes? As liberdades dadas ou
os incentivos aos quais depositou neste seu neto torto?
ANTHIEPT
És a mãe e não deverias proferir
dessa forma sobre o vosso filho!
ZAHRA
Filho? De fato? Só posso dizer que
o dei a vida, pois, tu, o roubaste de mim. Tanto em corpo quanto em alma. Não
tenho elogios a tecê-lo e nada de mim encontro neste rapaz ao qual a senhora o
tornou em uma aberração!
ANTHIEPT
Tutancan é um doce de menino!
Apenas está deslumbrado com a vida. Quem de nós nunca errou ou se deslumbrou
com as próprias curiosidades e ambições?
ANTHENOKEN
Não o proteja. A natureza deste meu
filho é má. E, não deveis fechar os olhos para a verdade. Mesmo que doa!
ANTHIEPT
É apenas um fruto diferente num pé
de tâmaras perfeitas. Deveis amá-lo como se ama as frutas perfeitas.
ZAHRA
Frutas perfeitas não agridem e nem
ofendem as pessoas!
ANTHIEPT
O amor cura! Ele jamais foi capaz
de me afrontar!
(à Shenk)
Meu neto, vós que sois o sol como
era teu avô, o encontre e o prepare para zarpar. As naus partem antes do
pôr-do-sol.
Contrariado,
SHENK assente. ZAHRA o segura pela mão. Tira uma adaga dentre os seios e
deposita em sua mão. ANTHENOKEN engole seco.
ZAHRA
Todo cuidado é pouco! Proteja-se!
ANTHIEPT dá um tapa na adaga que voa ao chão.
ANTHIEPT
Não ouses tocar num fio de cabelo
de vosso irmão! Sejas sábio e o acolha. Ele precisa de amor e não de ameaças!
Nessa questão, entre nós, és o melhor de todos!
Tensão.
SETNIAK
(V.O.)
O destino... se cumprirá!
10. INT./ORÁCULO/DIA
Chamas altas. Por entre elas vê-se o rosto de SETNIAK. Ele macera folhas secas sobe o foço alimentando as chamas. Bate o cajado e a fumaça sobe.
SETNIAK
Dois irmãos sobem, dois descem e
tão breve, a rainha, adoece!
(taciturno)
Não há mal que fique sem punição. O
castigo é a culpa de uma mente atormentada. Os fantasmas do passado não
sossegam até que aquela alma ruim pelo nariz escorra... para nunca mais voltar!
E, assim será! Maktub!
Risada sombria Acompanhada de um cacoete de olhos inquietos.
11. INT./JARDINS/DIA
TUTANCAN
A sua paga!
Entrega
várias joias enroladas em linho. MALIK abre o linho e seus olhos brilham.
TUTANCAN
(cont’d) Lhe disse! Tinha muito
mais de onde vieram aqueles. Convenhamos, mereceste! Atingiste a dois alvos em
uma única ação. O único erro foi não ter acabado de vez com o meu pai e o meu irmão!
MALIK
(contrariado)
O combinado era um susto!
TUTANCAN
(doentio)
Do susto à realidade a linha é
tênue. Sem esforço ou pudor algum, poderias tê-la ultrapassado.
MALIK, contrariado, fecha as joias no linho e
devolve.
MALIK
Tome. Não podemos fazer negócio.
TUTANCAN
Já o Fez! Ousas negar a minha paga?!
MALIK
Vossa índole é ruim! És imoral. Me
enganei quanto a vós. Afaste-se de mim. Não me tome mais!
MALIK ameaça SAIR e TUTANCAN o segura e devolve
as joias.
TUTANCAN
(agressivo)
Não temes a punição? Pois, serei o eleito!
Estais ante o futuro faraó.
MALIK
Vosso pai
será o Faraó! Ele! Tu, não!
TUTANCAN
(doentio)
Não o verás naquele trono! Poderias
ter a dádiva de ser o primeiro homem da realeza Luxor, no entanto, opta pela
dor. Assim que tomar posse do MEU lugar, passearás pelas areias à cavalo!
Amarrado, com pequenos cortes nessa tua bela tez esbranquiçada. Exalarás o
cheiro de sangue pulsante para atrair aos chacais, até que os coma vivo!
MALIK
(de igual
para igual)
Prefiro a morte pelos chacais à viver
contigo! E, não me ameaces; não o temo! A tua realeza se curva no meio de
minhas pernas. Achas forte? És o mais fraco de todos. O homem cujas as ações se
movem pelo desejo da carne é um homem que trilha ao abismo! Deste tipo de
gente, prefiro não respirar o mesmo ar.
Joga as joias sobre TUTANCAN e SAI. Ele lacrimeja com ódio. Gritos desesperados de ANTHIEPT (V.O.) fazem a transição.
12. INT./DORMITÓRIO RAINHA/DIA
ANTHIEPT
acuada no canto. NEVERA lhe oferece água num cálice.
NEVERA
Foi só um
susto! Beba, soberana!
ANTHIPET dá
um tapa no cálice que voa longe molhando a ambas.
ANTHIEPT
(obcecada)
Não foi somente um susto! Isto é
uma ameaça velada. Entende?!
NEVERA
Quem teria essa ousadia?
Transtornada
e com o olhar ao longe.
SHENK
ENTRA com ZAHRA.
ANTHIEPT
Qualquer
um. As pessoas me querem fora de suas vidas!
ZAHRA
É uma constatação ou apenas um
sentimento de culpa pelas vossas ações?
SHENK
(repreende/tom
baixo)
Mãe; não...
ANTHIEPT o
abraça e ele não retribui de imediato dando sinal de frieza. Acaba
correspondendo superficialmente ao abraço.
SHENK
O que
houve?
ANTHIEPT
Tinhas razão. Aqui, todos seremos
alvos fáceis. Ninguém está protegido dentro dessas muralhas! Veja! Tiveram a
ousadia de colocar as roupas do criminoso em meu leito!
ZAHRA se
aproxima e analisa as peças. NEVERA apreensiva.
ZAHRA
A rainha está alterada! Seria mais
fácil tê-la atacado enquanto dormia. Quem fez isso, só quis provoca-la.
SHENK
Um mero susto. Uma brincadeira de
mal gosto! Descanse; volto em breve com Tutancan e partiremos!
SHENK beija
a sua mão em respeito e SAI. ZAHRA olha inquisitiva à NEVERA; a mesma entende o
e SAI.
ZAHRA
Sempre admirei a tua força. Quis
ser vossa amiga e fechei os meus olhos aos absurdos... Agora, não posso mais
ser conivente com a senhora. Mostrou-se uma pessoa instável e indigna. Percebo
que a sua força é uma máscara que disfarça a vossa fragilidade.
ANTHIEPT
(acuada)
Aonde queres atingir?
ZAHRA
Exatamente aonde está sentindo! Na
sua impotência. Estais fora de vosso juízo! Queres insistir num erro para o
trono!
ANTHIEPT
Não perdi o juízo. Tampouco
perdida. Por quem me toma para me julgar? Conheço e partilho do teu despeito.
Foste traída; o que sente é natural. Só não aceito que jogue as tuas tristezas
sobre meus ombros. Enfrente os teus problemas, como sempre o fiz. Siga o teu
rumo; procure a tua paz e deixe-me com os meus fantasmas!
ZAHRA
(com
desdém)
Com licença!
ZAHRA SAI.
ANTHIEPT, receosa, caminha até as vestes e a cheira.
ANTHIEPT
(para si)
Ervas!
Ervas do jardim!
Nela, pensativa com os tecidos ao nariz. NEVERA espia de longe. Suspense.
13. INT./DORMITÓRIO HERDEIROS/DIA
TUTANCAN em seu leito observa os serviçais arrumarem seu baú com vestimentas. SHENK ENTRA. TUTANCAN passa por ele e esbarra de propósito. Ambos se desafiam com o olhar. TUTANCAN SAI. Em SHENK irritado.
14. INT./CASA DE BANHOS/DIA
MALIK, pensativo, lava-se com ervas. Mais adiante, NEVERA macera flores desesperadamente e entra com roupa e tudo na fonte e esfrega as pétalas em seu corpo. Dado momento, lagrimas escorrem e MALIK se entrega ao choro. Deve ser explícito o seu sofrimento. Leva a mão com água o rosto e engole o choro.
15. INT./EXT./TEMPLO DE OSÍRIS/DIA-ENTARDECER
Takes descontínuos de muitos figurantes integrando o preparo final do evento funerário e o traslado da múmia. Esta cena compões basicamente de pessoas com máscaras dos Deuses: Anúbis, Hórus, Tot, Sobek, Bastet, Hator e Sekhmet. CAM passeia por eles. ANUBIS coloca a máscara de ouro sobre a múmia de ANOUNAK e na sequência outro coloca um escravelho de ouro em seu peito. A múmia é depositada em uma urna dourada, formação de cestas de comidas. A urna funerária é colocada em outra maior. Por fim, lacra-se a urna com cera e a colocam sobre uma carruagem puxada por bois. O cortejo se inicia sob os olhares de OMAR, que retira a máscara de Anúbis. Diversos serviçais em filas seguem a carruagem. DESFOQUE: NEMEWÁ de um lado lacrimejante. A família REAL, apática, do outro. Takes de NEMEWÁ e ANTHENOKEN em embate de olhares. ANTHENOKEN começa a acompanhar o cortejo carregado por serviçais. Em seu rosto, sinais de dor. Leva a mão às costelas. SETNIAK balbucia uma espécie de oração em sequência. Toda a cena desenhada por instrumental. O cortejo parte.
16. EXT./PÁTIO DO PALÁCIO/PORTAL/RUAS DA CIDADE/DIA-ENTARDECER
Vista do
alto: cortejo pelo pátio. Os serviçais se ajoelham e se curvam com as cabeças
ao chão. Caminhar lento da família
real atrás do carro funeral. Close na altivez de ANTHIEPT.
PORTAL:
Entrecortes:
A urna é retirada da carruagem e transferida com esforço de muitos serviçais
por uma rampa que dá em cima de uma embarcação sobre outra carruagem. Algo bem
maior e digno de realeza. Os membros reais, cada qual, sobem em liteiras e são
erguidos e carregados pelos serviçais.
RUAS DA
CIDADE:
Vista do
alto. Muitas pessoas acompanham o cortejo enquanto outras reverenciam de
joelhos o cortejo passando. Uma grande fila de serviçais carregam frutas e
quinquilharias. Algumas pessoas choram. NEMEWÁ, à pé, esgueira-se do cortejo para
baixo de uma tenda de um comerciante. Sorrateira, NEVERA se aproxima. Diálogo
sussurrado.
NEVERA
Tens que ir ao funeral.
Enfrente-os. Aquele que segue é o vosso pai. Não deves diminuir os passos para a
vitória.
NEMEWÁ
A vitória é uma quimera! Todos
estão dispostos a morrer pelo trono.
NEMEWÁ
abaixa a cabeça em gesto de desistência.
NEVERA
E, eu, disposta a morrer pela
memória de vossa mãe. Não podes esquecer tudo de ruim que esta gente fez
conosco. Honre a memória de Nerfiri, Nemewá.
NEMEWÁ
ergue a cabeça e a fita com lágrimas. NEVERA toma a sua cabeça entre as mãos e
beija seus lábios demoradamente. Afasta-se e o olha nos olhos. NEMEWÁ respira
fundo e segue o cortejo limpando as lágrimas.
OMAR (V.O.)
(pesaroso)
Que Osíris tenha piedade de nós!
17. INT./CAIS/DIA-PÔR-DO-SOL
Instrumental
egípcio. Fim do cortejo. Abre a cena com escravos e serviçais empurrando a nau
pelo cais com a urna funerária. Atrás, sentados solenes na carruagem, OMAR e
SETNIAK; observam tudo atentamente. Dado momento, numa tentativa discreta, OMAR
enxuga a uma lágrima furtiva com o mindinho.
SETNIAK
Não vais conseguir manter essa
farsa por muito tempo.
OMAR
DO que está falando?
SETNIAK
Quando acendeu ao sacerdócio, eu já
estava lá, no oráculo; sei de ti.
(sorri
amigável)
Fique em paz. Penso que deves ter
cautela daqui para adiante. No vale, há uma urna vazia de alguém cuja vida aqui
está; e, se em cisma um curioso mexer/
OMAR
Não mexerão.
SETNIAK
Se o diz...
OMAR salta da carruagem.
OMAR
Certo de que não vens conosco?
SETNIAK
Jamais fui tão longe do oráculo. E,
não será agora. Só saio para a morte.
OMAR
Que Amon o proteja!
SETNIAK assente com a cabeça e sorri. OMAR segue em direção às embarcações na margem.
18. EXT.INT/NAU REAL/SEGUNDA NAU/MARGEM DO NILO/DIA-PÔR-DO-SOL
A NAU REAL
é composta de ornamentos dourados e tendas à proa e poupa para proteger a
nobreza. Na proa, dois tronos. Ao centro do Barco, um reservado fechado de
madeira. A figuração ocupa a parte dos remos, logo abaixo. A SEGUNDA NAU se
aplica da mesma forma, com menos pompa e um reservado.
NAU REAL:
ANTHENOKEN
aparece à porta. ZAHRA no convés se depara com ele.
ANTHENOKEN
Não podes ficar
aqui.
ZAHRA
Ainda sou a
tua mulher.
ANTHENOKEN
Não mais.
MALIK
aparece por trás dele e o toca os ombros. ZAHRA vira-se e segura o choro. Do
outro lado do convés, aparece SHENK.
SHENK
Sinto, meu
pai. Se não cabes minha mãe aqui, não me cabe também.
Abraça a
mãe e descem. ANTHENOKEN suspira com feição triste.
EM TERRA:
NEVERA
aparece no meio da multidão pescoçando entre as pessoas em busca de encontrar
alguém.
NAU REAL:
ANTHIEPT
sobe à nau ajudada pelos serviçais. Aproxima-se de ANTHENOKEN e o mede com o
olhar.
ANTHIEPT
Não há
lugar para mim também?
ANTHENOKEN
abaixa a cabeça envergonhado. ANTHIEPT, assoberbada caminha à proa e observa a
margem (POV) repleta de pessoas que se ajoelham em reverência ao vê-la.
ANTHIEPT
(à
ANTHENOKEN)
(Cont’d.) Sente-se
no trono ao meu lado. Sem a ajuda deste teu escravo. Não o quero aos olhos do
povo.
ANTHENOKEN
caminha gemendo de dor vagarosamente enquanto MALIK volta para dentro do
reservado com feição triste. Atrás deles, TUTANCAN se debruça num dos tronos
provocativamente.
TUTANCAN
É importante aparecermos unidos!
ANTHENOKEN
tranca a cara.
ANTHIEPT
Sempre! Tens razão.
(à
ANTHENOKEN)
A nossa glória é que estas pessoas
nem imaginam o que se passa dentro daquelas muralhas.
SEGUNDA
NAU:
ZAHRA anda
de um lado para o outro. Tensão. OMAR a observa.
ZAHRA
Ele não podia ter feito isso comigo!
OMAR
Acalme-se. O juízo dele está preso em
ilusões. Na primeira decepção, ele pedirá perdão. Deixe o tempo correr que ele
há de enxergar o que fez.
SHENK
O sacerdote está certo! É preciso
ter calma. Ele não subirá ao trono sem uma rainha.
ZAHRA
(controlando-se)
Assim espero. Assim espero! Ou terá
ganho uma inimiga voraz!
Em SHENK preocupado.
MARGEM DO
NILO/NAU REAL/SEGUNDA NAU:
Pessoas
aglomeradas choram. Outras acenam. NEMEWÁ aparece do meio do povo e coloca-se à
margem. Solene faz concha com as mãos à boca. Tem um brilho “diferente” nos
olhos.
NEMEWÁ
(grita)
Parem! (T) Não
pode partir sem mim!
ANTHIEPT e
TUTANCAN debruçam no convés assustados
ANTHIEPT
Ele não
pode fazer isso!
TUTANCAN
preocupado. Da SEGUNDA NAU, OMAR, ZAHRA e SHENK ficam em pé na proa para
observarem o ato. CAM passeia em seus rostos apreensivos. Da margem NEMEWÁ
continua:
NEMEWÁ
Não podem impedir um General de
acompanhar o sepultamento daquela pessoa a quem mais amou.
(lacrimeja)
O Faraó foi um pai para mim!
ZAHRA
(V.O.)
Parem a
embarcação!
NEMEWÁ
aliviado. NEVERA, no meio do povo, sorri triunfal.
ZAHRA
(Cont’d.) Eu ordeno que busquem o
general na margem.
OMAR e
SHENK olham apreensivos. Os serviçais jogam um barco no rio para busca-lo. Na
NAU REAL, ANTHENOKEN com dores aproxima-se de TUTANCAN e de ANTHIEPT apreensivos
no convés.
ANTENOKEN
O que ela pensa estar fazendo?
ANTHIEPT
Evitando um escândalo e salvando a
sua pele. Coisa que vosso escravo não fez.
TUTANCAN
Como sempre, doa-se a quem não lhe
ama.
Encara
ANTHENOKEN que o fuzila com o olhar. Retoma na travessia de NEMEWÁ, em pé no
barco com os escravos remando, o levam para a SEGUNDA NAU. Vento em suas
vestes. Aproximam-se da NAU. A reflete a redenção do General. Ele adentra a
embarcação acolhido por ZAHRA que lhe estende a mão. Música instrumental domina
a cena. Cada personagem com olhar ao longe presos em pensamentos. Um gato preto
se esfrega na perna de NEMEWÁ e recebe um carinho.
FADE OUT.
19. INT./CASA DE NERFIRI/NOITE
FADE IN.
Efeito de
uma tocha se acendendo. Sorrindo como uma pessoa que perdeu a noção do perigo,
Nerfiri esparrama óleo pela casa. Após, olha bem para as chamas da tocha.
NEVERA
Liberto-te, minha irmã. Será como
se nunca estivéssemos existidos aqui. A nossa existência é uma memória a ser
apagada deste casebre com o tempo. O nosso lugar é naquele palácio!
Ri alto e tresloucadamente. Suspense musicado enquanto acende várias pontos de fogo com a tocha. Fogo vai subindo. Detalhe do rosto de NEVERA transformado pela loucura.
20. INT./RESERVADO DA SEGUNDA NAU/NOITE
Na tocha sobre um móvel qualquer. NEMEWÁ ENTRA.
NEMEWÁ
Perdoe-me princesa; não quero ser
indelicado.
ZAHRA assente deitada sobre
um leito improvisado.
NEMEWÁ
(Cont’d.) Vossa colaboração foi de
suma importância para que eu pudesse acompanhar o funeral.
(sincero)
Não esperava. Obrigado!
ZAHRA se coloca diante dele.
ZAHRA
Anounak foi seu pai. Mesmo que em
condição de adultério! Só fui justa! Saiba que é só. Não terás a minha
simpatia. Espero que tenha o mesmo senso de justiça com os meus, quando
precisarmos.
Alguns segundos de silêncio.
NEMEWÁ
(chateado)
Tudo, não precisa terminar nessa
antipatia. Busco o que me cabe, apenas.
ZAHRA
O que te cabe, também cabe à nós.
Estamos correndo no mesmo objetivo, só que cada um de um lado. (T)
Agradecimento aceito, é hora de descansar. Por gentileza, feche ao sair.
21. INT./RESERVADO E PROA NAU REAL/CONVÉS SEGUNDA NAU/NOITE
Penumbra. Luz mínima de
fogareiros.
NAU REAL:
ANTHENOKEN deitado de olhos
abertos, pensativo. Durante a fala o efeito desfoque revela TUTANCAN deitado
mais atrás.
ZAHRA
(V.O.)
Quando as ambições são as mesmas,
não existem dois lados. A disputa é certa e às vezes requer sangue frio. Recuar
não é uma premissa. Mesmo diante do medo. O ataque é iminente.
PROA DA NAU REAL:
RAINHA no trono, exausta,
debruçada sobre os braços que tampa o seu rosto.
ZAHRA
(V.O.)
A batalha pode parecer perdida e,
no entanto, só se perde quando desiste. Quando se tem sangue frio nas veias até
o final...
MALIK se aproxima.
MALIK
A Rainha não irá dormir? O príncipe
mandou vos perguntar.
ANTHIEPT
Uma rainha jamais dorme ou deixa
seu trono em perigo.
O encara.
ANTHIEPT
(tom
acusatório)
(Cont’d.) Ainda mais, quando o mal
insiste em ficar assim: tão perto!
ZAHRA
(V.O.)
...Garante a sobrevivência e a
vitória.
PROA DA SEGUNDA NAU:
SHENK, OMAR e NEMEWÁ, cada
qual, em um canto. Olhares distantes e imersos em pensamentos. CAM busca rosto
por rosto durante a fala. Suspense.
ZAHRA
(V.O.)
Entretanto, nada é estático. Nem
mesmo a aclamada vitória. Um dia, uns estão por cima, noutros, a roda vira e
ficam por baixo. O que é certo, é que só existe a luta diária para se chegar
aonde se deseja.
22. EXT./RIO NILO/NOITE
Reflexo de luzes das tochas em
ondas feitas pelos remos das embarcações. PLANO PANORÂMICO: as principais naus
atrás da nau funerária; mais atrás, um pequeno número de embarcações. Clima
Tenso.
FADE OUT.
SFX: Barulho de madeira caindo.
23. EXT./VALE DOS REIS/DIA
FADE IN.
CAM passeia por caixas e
caixas de madeiras abertas. Desfoque revela escravos a adentrar a câmara funerária
com mobiliários e cestas de frutas. Parados, a família real sob coberturas
seguradas pelos serviçais. CAM passeia pelos rostos cansados e entediados.
Atrás de ANTHENOKEN, MALIK a abaná-lo com grande leque de plumas.
JUMP CUT:
Múmia carregada pelos SACERDOTES até parte mais alta. Erguem a múmia de ANOUNAK para iniciar o “Ritual do Abre a Boca”. Com uma enxó, OMAR passa na boca da múmia. ANTHIEPT, ofegante, segura o choro e tenta disfarçar as lágrimas. ANOUNAK, como um fantasma observa todo o processo. Os Sacerdotes devolvem a múmia para dentro da urna e a tranca. Os serviçais, com muita dificuldade carregam a urna funerária para dentro da câmara. ANOUNAK acompanha até a porta quando OMAR ENTRA. Olha para trás e observa tristemente a sua família atenta ao ritual. Do nada uma tempestade de areia vem do rio. SFX: grãos de areia se aproximam da porta da câmara formando a uma mulher: NERFIRI. Dão-se as mãos e ENTRAM. Close em ANTHIEPT amargurada.
24. INT./CÂMARA MORTUÁRIA/DIA
NEMEWÁ de um lado da urna.
Do outro, a família real. Em volta de todos, os sacerdotes. OMAR ao centro,
toca nos pés da urna dourada e aos poucos, em lágrimas, debruça a cabeça e
chora. As lágrimas de ANTHIEPT escorrem. MEMEWÁ segura as lágrimas.
OMAR limpa as lágrimas, se
levanta e abre os braços.
OMAR
A nossa intervenção se encerra
aqui. O caminho se segue com Anounak II, para o grande julgamento de frente com
Osíris.
Aos poucos todos vão saindo.
NEMEWÁ fica imóvel. ANTHIEPT para e ameaça falar algo. OMAR a toca no braço e meneia
a cabeça negativamente. Ela engole a fala e segue com o grupo. TUTANCAN se
desvencilha do grupo furtivamente.
JUMP CUT:
NEMEWÁ ajoelha-se ao chão e
chora. ANOUNAK e NERFIRI o abraçam diante de forte luz. A luz se apaga e NEMEWÁ
está deitado. Silêncio. Ele abre os olhos e se nota sozinho. Vai ao corredor de
saída e dá com a porta de pedra fechada. Surto de desespero. Grita e chora.
Esmurra a porta. Afasta-se dela, encara e se joga contra ela. Bate a cabeça e
perde a noção. Cai ao chão do lado de uma ferramenta de ferro fundido sem
notar. Sangue escorre do supercílio. Detalhe na ferramenta. Suspense.
OMAR (V.O.)
Aonde está
Nemewá?
25. INT./SEGUNDA NAU/DIA
ZAHRA de frente com OMAR.
Mais atrás dela, SHENK.
ZAHRA
(desconversa)
Em algum lugar desta embarcação.
Não sei! Como posso saber?
OMAR
Não está em lugar algum! Deve ter
ficado. Exijo que voltemos!
ZAHRA
(enfrenta)
Não! Não voltaremos. Se ele ficou,
foi por escolha própria. Não devemos interferir nas escolhas dele!
OMAR
Conveniente
para vossa família.
Vai até SHENK.
OMAR
(Cont’d) Vós que sois o equilibrado
dessa família. Diga-me: não fizeram nada contra o general?
SHENK o encara e baixa os
olhos antes de responder.
SHENK
(mente)
Não sei,
Sumo-Sacerdote. Sinto muito!
26. FLASHBACK: INT./DORMITÓRIO RAINHA/NOITE
Penumbra. SHENK no corredor
ouvindo a conversa.
ANTHIEPT
(V.O.)
Ele é obstinado! Só a morte pode
impedí-lo, ou...
SHENK espia da porta,
ANTHIEPTH e uma pessoa de costa enxugando a cabeça com longos panos.
ANTHIEPT
(Cont’d.) ...trancafiá-lo; num lugar cuja porta não o deixaria sair nunca mais!
27. FLASHBACK: INT.EXT./CÂMARA MORTUÁRIA DO VALE DOS REIS/NOITE
Retoma na saída da família real e demais pessoas da tumba. SHENK vê TUTANCAN cochichando com alguém sem ser percebido. Desconfiado, SHENK volta e pega, dentre o material depositado na câmara, uma barra de ferro em forma de Ank. Discretamente a carrega e, antes de SAIR a deposita no chão ao lado da porta.
28. INT./SEGUNDA NAU/DIA
Retoma de onde parou. SHENK
cabisbaixo. OMAR à sua frente.
OMAR
(desconfiado)
Há algo obscuro aqui. Não gosto
disso! Há uma disputa, eu sei...
(à ZAHRA)
...No entanto deve ser honesta. Lhe
clamo princesa. Voltemos!
Parece arrependida.
ZAHRA
(engolindo
o remorso)
Devias tê-lo procurado assim eu
estraste aqui. Agora estamos longe. Se quiser, Sacerdote, volte à nado.
OMAR a encara irritado e SAI. ZAHRA, chateada, encara SHENK. Ele abaixa a cabeça e respira fundo.
29. INT./EXT./RESERVADO E PROA DA NAU REAL/DIA
TUTANCAN no leito cercado
por serviçais o servindo com frutas e o abanando. Sorri misteriosamente
enquanto entorna uma taça.
ANTHENOKEN olha para MALIK e
faz gesto com a cabeça para SAIR. O mesmo para os demais serviçais que
obedecem. TUTANCAN se acua no leito assustado.
ANTHENOKEN
Acalma-te! Só quero entender...
TUTANCAN
(desconfiado)
Entender?! O que?!
ANTHENOKEN
Desde quando sentes atração por
homens?
TUTANCAN
Desde sempre. Vim ao mundo assim: voracidade,
jeito e corpo de homem! Aprisionado ao fogo e a uma alma de mulher que... me
queima por inteiro. Tem horas que sinto que esse corpo não é meu. Que esse
mundo não é meu e, para me aceitar, preciso que as pessoas me aceitem.
ANTHENOKEN
(perdido)
Agradeço por elucidar.
Ameaça SAIR.
TUTANCAN
Sei que tens os mesmos dilemas.
Somos diferentes por fora e bem parecidos em nossa essência!
ANTHENOKEN
(ríspido)
Não! Não somos! Quero me alimentar
de uma relação sofisticada. O desejo é mera consequência. Em definitivo, não
sou uma cadela no cio e, tampouco me importa a aceitação. Sou seguro de mim e
me amo. E, isso, por si só, já me basta!
SAI.
TUTANCAN deixa o corpo cair e lacrimeja decepcionado.
PROA:
ANTHIEPT no trono. ANTHENOKEN chega ao seu
lado. Olha para o horizonte por alguns segundos.
ANTHENOKEN
Me matarias se em algum um dia lhe
oferecesse algum risco?
ANTHIEPT
O meu senso moral me obriga a dizer
que não quando as minhas mágoas recente reverberam dentro de mim tal desejo.
Sou mãe e, até os animais cuidam de suas crias. Que mãe seria eu se agisse de
forma irracional?
ANTHENOKEN
Não foi o que perguntei. Vou
reformular: matarias ao próprio filho se não houvesse como pará-lo?
ANTHIEPT
(pensativa)
Não vou lhe responder. Isso não é
sobre mim. Nem sobre ti. É como está percebendo o seu entorno hostil.
(sagaz)
Sofreu um atentado e se feriu. Isso te mobiliza a enxergar perigos. Só cuide para que as suas desconfianças não excedam à realidade.
30. INT./CÂMARA FUNERÁRIA/DIA
NEMEWÁ se levanta. Começa a gritar desesperadamente por socorro e arranhar a porta até sangrar as unhas. Suspense. Dado momento deixa o corpo cair ao lado da barra. Pensativo olha para a barra.
31. EXT./VALE DOS REIS/DIA
“MAKTUB” (Marcos Viana). Beduínos chegam em camelos e cavalos sobre um dos montes. A maior parte deles devem ser figurantes que já estiveram em cena Da construção da represa do Nilo. TRAVELLING OUT (por grua) até revelar o panorama do Vale e os mesmos descendo os montes para frente da Câmara Funerária. Os cavalos e camelos param e eles descem. Suspense.
32. EXT./RIO NILO/NOITE
Suspense. Panorâmica das NAUS remando pelo rio com as tochas acesas.
33. INT./RESERVADO SEGUNDA NAU/NOITE
ZAHRA bebe água. Do nada leva a mão à garganta. Deixa a taça cair. Tem um ataque súbito. Leva a mão ao peito e cai. SHENK a acode assustado. Suspense. Ela se levanta fragilizada e se abraçam.
34. INT./RESERVADO NAU REAL/NOITE
TUTANCAN
dorme. ANTHENOKEN se aproxima e fecha uma das mãos com ódio. Suspense dramático
e instrumental. MALIK se aproxima por trás dele e coloca a mão em seu ombro.
ANTHENOKEN o olha por cima dos ombros.
MALIK
(sussurra)
É o que
realmente quer?
ANTHENOKEN
olha para TUTANCAN e respira fundo. Suspense.
CORTA PARA O:
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P R Ó X I M
O C A P Í T U L O
JOÃO SANE MALAGUTTI
Elenco ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA
Direção
ANDERSON SILVA
BRUNO OLSEN
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO

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