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ESCOLHAS DA VIDA - CAPÍTULO 02

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CAPÍTULO 02
 
 

     

 

     
 

CENA 01. APTO FERNANDA E PAULA. INT. NOITE.

Continuação do capítulo anterior. Gabriel espera a resposta de Fernanda.

GABRIEL: - E então? Posso entrar?

PAULA: - Mas é claro que não! Cara de pau! Sai logo daqui antes que/

FERNANDA: - Deixa, Paula.

PAULA (encara Nanda/surpresa): - Como é que é? Não, Nanda, eu não acredito que você vai deixar esse cara entrar aqui na nossa casa!

GABRIEL (sutil): - Você fala como se de fato fossem um casal.

PAULA (enfatiza): - Nós somos um casal!

FERNANDA (a Paula): - Deixa eu resolver essa história com ele. E essa será a primeira e última vez que o Gabriel vai por os pés aqui dentro.

Fernanda encara Gabriel. Ele com expressão de cinismo.

GABRIEL (a Paula): - Vai me dar licença?

Paula se afasta, enfurecida. Passa por Nanda no corredor e entra no quarto, batendo a porta. Gabriel e Fernanda ficam a se olhar.

FERNANDA: - Pode entrar.

Gabriel entra, encosta a porta. Caminha em direção à Fernanda. Os dois ficam frente a frente. Gabriel sorri, satisfeito.

FERNANDA (tom): - Nunca mais faça isso.

GABRIEL: - Eu precisava te ver.

FERNANDA: - Você sabia muito bem que eu não iria nesse jantar.

GABRIEL: - Era importante pra nós.

FERNANDA (respira): - Não existe mais nós, Gabriel. Há muito tempo!

Fernanda se afasta, caminha pela sala.

CORTA:

CENA 02. APTO FERNANDA E PAULA. QUARTO. INT. NOITE.

Paula caminha de um lado a outro do quarto, tentando se acalmar. Ela se aproxima da porta fechada, encosta o ouvido, tentado escutar a conversa da sala.

CORTA:

CENA 03. APTO FERNANDA E PAULA. SALA. INT. NOITE.

Fernanda vira-se de frente para Gabriel.

FERNANDA: - Será que é tão difícil de entender isso? É tão difícil respeitar minha decisão?

GABRIEL: - É difícil sim, Nanda. É muito difícil. E sabe por quê? Porque eu ainda amo você. Amo muito. E me dói profundamente ver que... Tudo o que a gente viveu, que a gente construiu juntos/

FERNANDA: - Nós não construímos nada juntos, Gabriel. Não aumenta as coisas.

GABRIEL: - Toda a nossa relação foi por água abaixo quando você conheceu essa louca aí e resolveu apostar numa aventura.

FERNANDA: - Aventura?!

GABRIEL: - Sim, Nanda. Isso tudo o que você tá vivendo é uma aventura. Eu sei, seus pais sabem e no fundo, bem no fundo, você também sabe que isso não vai pra frente. Tudo bem que bissexualidade hoje é moda, mas você, Nanda... Você nunca foi disso, sempre foi tão autêntica!

FERNANDA: - O meu sentimento pela Paula não é um modismo, Gabriel. Tá aí uma coisa que me fez escolher ficar com ela: sentimento nunca pode ser moda. Ele tem que ser sentido e respeitado. Você que reclamava tanto do seu pai, que era cego pelo serviço, tem muita semelhança com ele. Você é cego para o amor. Cego para sentimento.

GABRIEL: - Você acha?

PLANO GERAL. Gabriel retira do bolso do casaco a caixinha de joia e deixa sobre a mesa. Fernanda olha, um tanto surpresa. Ela encara Gabriel. Tempo.

GABRIEL: - Pode abrir. É sua.

FERNANDA: - Eu não posso mais ficar aceitando seus presentes.

Gabriel pega e abre a caixa, mostra o anel para Fernanda.

FERNANDA: - É lindo. Mas não precisava ter comprado.

GABRIEL: - É a prova do meu amor, Fernanda.

Ela balança a cabeça em negação, cansada.

FERNANDA: - Uma prova de amor não está em algo material, Gabriel! Não está em nada disso... Olha, já chega! Eu tive um dia cheio hoje, estou cansada. É melhor você ir.

GABRIEL: - Nanda, eu/

FERNANDA (impaciente): - Gabriel, por favor!

GABRIEL: - Tudo bem.

Ele pega a caixa, guarda no casaco novamente. Fernanda passa por ele, vai até à porta, abre. Gabriel vai ao encontro dela. Encara.

GABRIEL: - A gente não acabou.

Gabriel vai embora. Fernanda fecha a porta atrás de si, fica escorada, pensativa. Paula surge, fica a observar Fernanda. As duas ficam a se olhar.

PAULA: - As flores que você trouxe hoje, foi ele quem te deu né?

Fernanda baixa o olhar, mas afirma com a cabeça. Paula bufa e volta para o quarto. Fernanda vai atrás.

CORTA:

CENA 04. APTO FERNANDA E PAULA. QUARTO. INT. NOITE.

Paula entra apressada, se joga na cama. Lágrimas nos olhos. Fernanda entra logo atrás.

PAULA: - Não gosto quando você mente para mim.

FERNANDA: - Eu não menti pra você. Eu não queria te chatear com isso tudo, com essa história.

PAULA: - Ele te manda flores, com convite pra jantar. E não satisfeito, vem aqui na nossa casa, entra, conversa com você numa boa. (senta na cama) Isso cansa, sabia? Como você acha que eu me sinto diante disso?

FERNANDA: Não vai mais acontecer.

PAULA: Isso inclui não mentir mais pra mim?

FERNANDA: Desculpa, amor.

PAULA: Olha, eu não quero mais esse cara entre nós! Isso tudo, essa situação me deixa péssima.

Fernanda se aproxima, senta-se ao lado. Paula abraça Fernanda, forte. As duas ficam abraçadas.

FERNANDA: - Eu sinto muito que isso ainda continue acontecendo. Eu também não quero e prometo que não vou mais ficar alimentando esperanças no Gabriel.

PAULA: - Eu tenho medo de perder você.

FERNANDA: - Você não vai me perder.

MUSIC ON: (Do Romantismo à Roma Antiga – Maurício Baia)

As duas se encaram por um tempo. Fernanda enxuga as lágrimas de Paula. Paula acaricia lentamente o rosto de Fernanda. Em SLOW MOTION seus rostos se aproximam e elas se beijam, com paixão. Vão deitando sobre a cama, trocando beijos, se despindo. CAM vai desviando para a janela do quarto, aberta, mostrando a noite carioca.

CENA 05. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE.

CLIPE da noite carioca passando até que nasce um dia ensolarado. TAKES gerais da Cidade Maravilhosa num dia de sol. Pessoas na praia, caminhando no calçadão. Movimento intenso de carros, asas-deltas voando no céu.

MUSIC OFF.

CENA 06. LAGOA RODRIGO DE FREITAS. EXT. DIA.

Entre as pessoas que se exercitam na beira da lagoa, estão Roberta e Matheus, também se exercitando.

ROBERTA: - Já soube do novo burburinho que rola aqui na cidade?

MATHEUS: - Acho que sim. Anda rolando tanta coisa por aqui.

ROBERTA: - Da nova danceteria que vai abrir hoje.

MATHEUS (eufórico): - Menina! Ouvi sim, dizem que vai ser de arrasar!

Algumas pessoas passam olhando para Matheus, que se contém.

MATHEUS: - Ouvi sim. Parece que vai ser boa.

ROBERTA: - Então, eu pensei em convidar as meninas, a Paula e a Nanda, para irem na inauguração. O que você acha?

MATHEUS (faz charme): - Ah, só as meninas é?

ROBERTA: - Ai, você também né Matheus. Mas você não conta. Está sempre na minha lista vip, né fofa?

MATHEUS: - Ai, não me chama assim em público!

ROBERTA: - Tá bom, biba.

MATHEUS: - Ai Roberta! Assim também não né!

Os dois saem caminhando enquanto ela ri.

CENA 07. APTO FERNANDA E PAULA. QUARTO. INT. DIA.

CAM abre da janela do quarto indo em direção à cama, onde Fernanda está deitada, dormindo, enrolada entre os lençóis. Paula entra no local trazendo uma bandeja de café da manhã. Deixa sobre a cômoda. Paula se aproxima de Fernanda, alisando seu corpo.

PAULA: - Acorda, meu amor... Está na hora de levantar.

FERNANDA (se espreguiçado): - Tem certeza?

PAULA: - Absoluta, sua preguiçosa. Acorda pra tomar o café da manhã delicioso que eu preparei pra gente.

Enquanto Fernanda se ajeita na cama, Paula pega a bandeja.

FERNANDA: - Nossa, quanta coisa boa!

PAULA: - Comprei pão fresquinho, fiz uma vitamina, tem frutas, iogurte. Tudo como você gosta.

FERNANDA (acaricia o rosto de Paula): - Você é um anjo!

PAULA: - Você é que é! Agora prova a vitamina, quero saber se você vai gostar mesmo.

FERNANDA (provando): - Está uma delícia!

As duas tomam café. Tempo.

FERNANDA: - Olha Paula, sobre ontem, eu queria que você/

PAULA: - Ontem já passou, Nanda. Tá tudo bem.

FERNANDA: - Mesmo? Eu prometo que não/

PAULA: - Promete que vai terminar seu café da manhã direitinho e ir pra rua curtir esse sol!

FERNANDA: - Eu preciso organizar umas coisas, mas depois eu vou dar uma volta sim. Obrigada!

Fernanda sorri, graciosa. Paula acaricia seu rosto.

PAULA: - Eu amo você viu.

FERNANDA: - Também te amo. Muito.

As duas seguem tomando café.

CENA 08. CASA SOLANO. COZINHA. INT. DIA.

Sentados a mesa, Solano (negro, 70 anos, cabelos grisalhos), Isaura (negra, 50 anos, magra, cabelos pretos, altura dos ombros) e Bruno (negro, 25 anos, magro, corpo atlético). Terminam de tomar café. Bruno levanta-se da mesa, um pouco apressado, vai saindo do cômodo.

ISAURA: - Tomou café direito, Bruno?

BRUNO (grita/OFF): - Tomei!

SOLANO: - Ele deve estar ansioso.

Isaura começa a tirar as coisas da mesa.

ISAURA: - Mas precisa se alimentar direito. Como é que vai sair correndo pra rua sem comer? Capaz de passar mal ainda!

Bruno entra na cozinha novamente. Procura sua chave.

ISAURA: - Pegou o endereço direitinho do local da entrevista?

BRUNO: - Peguei, mãe.

ISAURA: - Leva o seu celular. Qualquer coisa, liga.

SOLANO: - Minha filha, o Bruno não é mais uma criança.

ISAURA: - Coisa de mãe, gente! Coisa de mãe!

Bruno encontra a chave em cima da geladeira. Se aproxima de Isaura, a beija no rosto.

BRUNO: - Eu adoro a sua preocupação com seu filhinho aqui. Mas pode ficar tranquila que vai dar tudo certo.

ISAURA: - Estou torcendo por você.

E beija a testa dele.

SOLANO: - Vai logo, senão perde o horário!

BRUNO (saindo): - Tchau!

ISAURA: - Que Deus te ilumine!

SOLANO: - O garoto vai se dar bem, filha.

ISAURA: - Tomara, papai. Tomara!

CENA 09. CASA ELIANE. COZINHA. INT. DIA.

Eliane, João e Tito estão tomando café. Em silêncio. TOCA a campainha.

TITO: Deixa que eu vou.

Tito levanta-se da mesa e sai para atender a porta. Eliane e João ficam a sós, mas não trocam uma palavra. Tempo e Tito retorna.

TITO: - É pra você, pai.

JOÃO: - Quem é?

TITO: - Um tal de Lauro.

JOÃO: - Droga.

ELIANE: - Cobrador, não é?

JOÃO (levantando-se): - Deixa que eu vou lá resolver.

João sai da cozinha e CAM a segue até a SALA onde Lauro (50 anos, negro, óculos, estatura mediana) o aguarda.

LAURO: - Bom dia, João.

JOÃO: - É, o dia não começou tão bom assim pra mim não. Já tenho cara cobrando a essa hora da manhã na minha porta!

LAURO: - É o meu serviço, João. E você sabe que estou aqui não porque quero, mas por sua causa.

JOÃO: - Eu sei, mas/

LAURO: - Qual vai ser a desculpa dessa vez?

JOÃO: - Eu prometo que pago o que eu to devendo no final do mês.

LAURO: - De novo essa história, João? O fim do mês já passou, estamos quase chegando no final desse mês e nada do dinheiro aparecer! Poxa, eu te vendi o carro e você me deu garantia que ia conseguir pagar!

JOÃO: - Eu sei, mas a situação aqui apertou!

LAURO: - E a minha situação na revendedora também, porque eu to tendo que enrolar lá pra safar a tua pele e a minha. O dono quer o dinheiro, rapaz! Eu não vou mais conseguir segurar a tua barra.

JOÃO: - Dá mais uns dias pra mim, por favor? Eu preciso do carro pra fazer os meus serviços.

LAURO: - Eu vou te dar mais uns dias sim. Mas olha bem, se na próxima vez não tiver dinheiro, eu levo o carro na mesma hora.

Eliane entra com um cigarro aceso na boca.

LAURO: - Bom dia, dona Eliane.

Eliane cumprimenta Lauro apenas com um sinal com a cabeça.

LAURO: - Passar bem, João.

Lauro se retira, bate a porta. João se mostra um pouco preocupado. Senta-se no sofá.

ELIANE: - Você não pagou o carro ainda?

JOÃO: - Faltam umas parcelas.

ELIANE: - E o dinheiro que eu tirei da poupança do Tito? Onde você colocou essa droga que era pra pagar esse maldito carro? O que você fez?

Ele já levanta irritadíssimo.

JOÃO: - Não enche, Eliane! Eu to aqui procurando uma solução e você me aporrinhando!

Eliane avança aos tapas sobre João, que se defende.

ELIANE (grita): - Você gastou o dinheiro com safadeza, não é? Canalha! Cachorro!

JOÃO (grita): - Para, Eliane! Para!

ELIANE: - Vagabundo, você não presta, João!

João empurra Eliane, que cai no sofá. Ele, irritado, levanta a mão para ela, ameaçando agredi-la, mas se contém ao ver que Tito está parado na porta observando toda a cena. João baixa mão, sai da sala e vai em direção ao quarto. Eliane, no sofá, se recompõe. Ela vê que Tito está na sala.

ELIANE: - Ele não consegue respeitar ninguém, mas depois eu vou conversar direito com ele.

Tito não dá bola para Eliane e sai de casa, um tanto cabisbaixo.

CORTA:

CENA 10. RUA. EXT. DIA.

Tito acaba de sair de casa e caminha pela calçada, alguém chama por ele. CAM vai buscar Bia (18 anos, loira, cabelos lisos, pele clara, simpática), que está sentada na área em frente à sua casa.

BIA: - Tito! Tá indo pra onde?

TITO: - Nenhum lugar especial não. Só pra aliviar um pouco a cabeça.

BIA: - Quer conversar?

Tito se aproxima do portão da casa de Bia. Ela faz sinal pra ele entrar. Ele entra, senta-se no degrau da escada. Bia senta ao lado dele.

BIA: - O que é que tá pegando? Estou te achando meio pra baixo mesmo.

TITO: - Nada não.

BIA: - Pode falar, Tito. Somos amigos, não somos?

Ele fica calado, mas abre um sorriso amarelo.

BIA: - Se não quiser falar, tudo bem, eu entendo. Mas quando precisar desabafar, pode contar comigo.

TITO: - Valeu.

BIA: - Falando em contar, você nem sabe da maior. Vou começar um estágio naquela agência de publicidade que eu te falei, lembra? Aquela grandona lá do centro, toda moderna!

TITO: - Sério? Que legal!

BIA: - Eles disseram que ficam comigo ainda depois que terminar a escola, desde que eu ingresse na faculdade de publicidade né? E como eu sonho muito em ser uma publicitária, tão cedo eu não saio de lá!

TITO: - É bem a sua área mesmo, né?

BIA: - Eu sonho com isso desde criancinha, eu acho! Eu gosto dessa parte da comunicação.

ÁUDIO OFF. Bia continua falando empolgada, Tito a olha com afeição, observando toda a beleza da moça.

CENA 11. APTO FERNANDA E PAULA. SALA. INT. DIA.

Fernanda organiza umas revistas e livros na estante, quando seu celular toca. Ela atende.

FERNANDA: - Alô?

GABRIEL (OFF): - Oi Nanda, sou eu.

FERNANDA: - Eu não acredito que você tem a cara de pau de me ligar depois do que conversamos ontem. Aliás, como você conseguiu meu número, Gabriel?!

GABRIEL (OFF): - Isso não vem ao caso agora. Eu liguei mais para dizer pra você que eu separei as suas coisas que ainda estavam aqui em casa.

FERNANDA: - Finalmente.

Paula entra na sala.

PAULA: - Quem é?

Fernanda não responde, apenas encara Paula, que percebe.

PAULA: - Gabriel?! Mas que droga!

GABRIEL (OFF): - Então, eu gostaria de saber se tem como você vir aqui buscá-las. Hoje ainda.

FERNANDA: - Eu ir buscar aí na sua casa?

Paula gesticula que não. Fernanda tenta acalmá-la.

FERNANDA: - Eu vou sim, Gabriel. Deixa tudo separado. Mais tarde eu passo aí.

GABRIEL (OFF): - Vou te esperar, então. Beijo.

FERNANDA: - Tchau. (desliga o telefone)

PAULA: - Você está louca?! É claro que você não vai na casa desse idiota! Nanda, a gente já conversou sobre isso.

FERNANDA: - Eu vou lá, pego as minhas coisas e vou embora. Pronto.

PAULA: - Mas o que ele ainda tem seu lá?

FERNANDA: - Tem umas roupas, material da faculdade. Coisas minhas.

Paula senta-se no sofá, chateada. Fernanda senta-se ao lado dela e a enche de beijinhos pelo rosto.

FERNANDA: - Oh, minha pimentinha! Deixa de ser nervosinha, amor... Eu vou e volto, é rapidinho. Eu volto pra ficar aqui com você, no nosso cantinho!

PAULA (tentando se manter séria): - Para, Nanda. Você sabe que eu não gosto do Gabriel em volta de você. Nossa, depois da audácia dele de vir aqui ontem... Agora quer que você vá lá na casa dele. Não gosto disso!

FERNANDA (fazendo carinho em Paula): - Ele não vai fazer nada comigo. Até porque Gabriel não é louco de encostar em mim. Só você pode, só você.

CENA 12. SÃO JOÃO DA BARRA. EXT. DIA.

MUSIC ON: (Shiver Down My Spine - Claudia Leitte)

TAKES GERAIS de São João da Barra, região litorânea do Estado do Rio, mostrando a praia, a arquitetura com casas antigas, alguns pontos turísticos.

CORTA:

CENA 13. SÃO JOÃO DA BARRA. CASA EM CONSTRUÇÃO. EXT. DIA.

Uma casa em obras. Alguns pedreiros trabalhando. A construção tem dois andares. Muitos tijolos, areia. Um dos operários vira massa de cimento com a pá.

CORTA PARA o INTERIOR do local onde dois homens trabalham. Um deles é Dionísio (negro, 60 anos, aparência cansada) está fazendo reboco na parede enquanto o outro, Alex (negro, cerca de 25 anos, porte atlético) trabalha na construção de um balcão de tijolos.

MUSIC FADE.

DIONÍSIO: - Ainda bem que não pegamos nenhum dia de chuva. Está dando pra tocar a obra a todo vapor.

ALEX: - Graças a Deus, meu pai. E essa grana vai ser muito bem-vinda pra gente.

DIONÍSIO: - Vai sim, Alex.

Dionísio para seus afazeres um instante e observa o filho trabalhando, analisa.

DIONÍSIO: Tô gostando de ver hein. Aprendeu direitinho.

ALEX: - O senhor é um bom professor! E eu, modéstia à parte, um ótimo aluno.

Os dois riem e seguem trabalhando.

CENA 14. SÃO JOÃO DA BARRA. PRÉDIO COMERCIAL. EXT. DIA.

Um carro classe A estaciona em frente ao prédio. Osvaldo (55 anos, branco, cabelos grisalhos, alto) desce do veículo, trajando terno e gravata, carregando uma maleta. Ele observa a fachada do prédio e entra.

CORTA:

CENA 15. PRÉDIO COMERCIAL. SALA. INT. DIA.

Osvaldo está reunido com um grupo de empresários. Todos sentados em volta de uma mesa grande. Na ponta, Augusto (cerca de 50 anos, barbudo, gordinho, calvo, terno e gravata), analisa alguns papéis.

Outros engravatados estão sentados à mesa (em torno de 7). Na outra ponta, Osvaldo observa, com sua maleta à frente. Próxima da mesa, uma moça (loira, cerca de 25 anos, corpo escultural) trajando blazer e saia, acompanha o encontro.

AUGUSTO: - Pelo que vejo está tudo ok, Osvaldo.

OSVALDO: - Eu disse que conseguiria. Esses documentos não são liberados tão facilmente. É preciso ter tato e saber o caminho certo.

AUGUSTO: - E ter dinheiro também né. Afinal, eu e meus colegas que bancamos isso.

OSVALDO: - Quanto a isso não se preocupem, o dinheiro de vocês foi muito bem empregado. Todos os contratos necessários para a construção e abertura do shopping da Barra estão aí. Alvarás, todas as licenças.

Um dos engravatados se manifesta.

HOMEM: - Tem certeza que isso não vai dar problema pra gente?

OSVALDO: - Absoluta. Eu falei com gente de confiança da prefeitura. E também do Ministério Público. Não há nada que o dinheiro não compre. Se vocês fizerem tudo certinho, ninguém barra ninguém, com o perdão do trocadilho.

AUGUSTO: - Pois bem, senhores. Tudo certo. Acho que fizemos um bom negócio com o Osvaldo. (solicita à moça) Cibele, o documento.

Cibele vai até um armário, abre uma das portas e retira dois envelopes, volumosos. Entrega para Osvaldo, enquanto troca olhares com ele.

OSVALDO: - Documento?

AUGUSTO: - Uma forma diferente para se referir à... Propina.

Osvaldo sorri, de canto de boca. Abre os envelopes, vê que tem dinheiro vivo, boa quantia. Ele guarda os envelopes em sua maleta, satisfeito.

CORTA:

CENA 16. PRÉDIO COMERCIAL. EXT. DIA.

Osvaldo e Augusto conversam, próximos do carro do primeiro.

AUGUSTO: - Talvez eu precise de você para outros favores.

OSVALDO: - Estou à disposição, Augusto. Pagando bem, que mal tem? E o documento que eu recebi me será muito útil.

AUGUSTO: - Não me diga que está em dívidas? (risos)

OSVALDO: - Quem tem mulher e filha modelo, precisa também investir... E ceder a certos caprichos, para não ter mais estresse da vida corrida.

AUGUSTO: - Sei como é. Então, pensando nisso, para ajudar você a aliviar esse estresse, eu posso te indicar uma massagem muito boa.

OSVALDO: - Massagem é?

AUGUSTO: - Você não vai querer saber de outra coisa.

Cibele sai do prédio, caminha sensual. Osvaldo e Augusto trocam olhares, cúmplices. Cibele se aproxima de Osvaldo.

OSVALDO: - Você conhece um lugar que faça massagem por aqui, Cibele?

CIBELE: - Eu sou a massagista. (sorri, maliciosa)

Cibele entra no carro, no banco do carona. Osvaldo e Augusto sorriem, se cumprimentam. Osvaldo entra no carro e sai. O outro fica por ali, rindo.

CENA 17. CASA ARTHUR E NORMA. SALA. INT. DIA.

Arthur está assistindo TV, quando Norma entra na sala com sua agenda de anotações.

NORMA: - Já coloquei tudo na lista aqui do mercado, mas estou com a impressão de que estou esquecendo alguma coisa.

ARTHUR: - Colocou minha cerveja aí?

NORMA: - Foi a primeira coisa que eu coloquei.

ARTHUR: - Então não está esquecendo nada.

NORMA: - Poupe-me, Arthur!

ARTHUR (risos): - Estou brincando com você.

NORMA: - Ah, lembrei! O peru!

ARTHUR: - Peru?

NORMA: - Para o seu aniversário. Esse ano vamos mudar o cardápio! É sempre churrasco na piscina! Esse ano quem vai preparar tudo sou eu. Vai ser um jantar pequeno, só para a família e os amigos mais chegados. Sem aquela multidão de pessoas, de amigos do futebol, do serviço, do bar, da academia.

ARTHUR: - Então você não quer que convide ninguém, é isso?!

NORMA: - Pode convidar sim, mas seleciona bem, antes. Não esquece, esse ano é só para os mais chegados. O Gilson e a Ângela, o Walter e a Rebeca, por exemplo.

ARTHUR: - Tá bom, tá bom.

NORMA: - Vou fazer um peru assado bem gostoso pra comemorar mais uma primavera do meu amor.

ARTHUR: - Querida, ainda faltam alguns dias. Dá tempo pra se preparar. Não precisa comprar isso agora.

NORMA: - Tem que programar cedo, Arthur. Quero que saia tudo perfeito. (guarda a agenda na bolsa) Pronto, já terminei a lista. Eu vou indo pro mercado, quando eu terminar as compras, te ligo pra você ir me buscar, tá bom?

ARTHUR: - Tudo bem.

Norma se aproxima de Arthur, o beija carinhosamente e sai.

CENA 18. EMPRESA QUALQUER. SALA DE ENTREVISTAS. INT. DIA.

Bruno está sentado em uma cadeira, de frente para o recrutador da empresa, que analisa concentrado o currículo do rapaz. Bruno parece um pouco ansioso.  O silêncio toma conta da sala por um instante.

RECRUTADOR: - Você tem bastante experiência. E isso é muito bom, tem até curso de línguas. Inglês fluente?

BRUNO: - Sim.

RECRUTADOR: - In the current job market, speaking English is essential to have a good job. (No mercado de trabalho atual, falar inglês é essencial para se ter um bom emprego.)

O recrutador encara Bruno, aguardando uma resposta.

BRUNO: - Surely, even now we live in a globalized environment and strong competition between individuals and organizations. (Com certeza, ainda mais agora em que vivemos num ambiente globalizado e de forte concorrência entre as pessoas e as organizações.)

O recrutador se surpreende com o desempenho dele. Bruno procura manter-se calmo.

RECRUTADOR: - Nós vamos ficar com o seu currículo para uma análise mais profunda e entraremos em contato assim que terminarmos a seleção. Ainda faltam candidatos a serem entrevistados.

BRUNO: - Tudo bem. Obrigado pela oportunidade.

Bruno levanta-se e sai da sala.

CORTA:

CENA 19. EMPRESA QUALQUER. ANTE-SALA. INT. DIA.

Do lado de fora, Bruno suspira aliviado. Outros candidatos estão no local. Ele bebe um pouco d’água no bebedouro, procura secar um pouco o suor e sai.

CENA 20. CASA GABRIEL. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

PLANO GERAL do ambiente moderno e com mobília de alta qualidade, sofá, mesa de centro, TV, estante com livros e quadros na parede, na parte de trás uma escada vazada no formato espiral. A campainha TOCA. Gabriel surge apressado. Antes de atender ajeita o cabelo e a roupa na frente do espelho. Se prepara e abre.

GABRIEL: - Nanda!

FERNANDA: - Por que a surpresa, Gabriel? Esqueceu que eu vinha?

GABRIEL: - Não esqueci, não. Só não esperava que fosse tão cedo.

FERNANDA: - Desculpe, se eu estou te atrapalhando em alguma coisa eu volto mais tarde.

GABRIEL: - Imagina. Você nunca me atrapalha em nada. Entra.

Fernanda entra na casa. Gabriel fecha a porta.

GABRIEL: - Aceita uma água, um suco?

FERNANDA: - Não quero nada não, obrigada. Só vim mesmo pegar minhas coisas.

GABRIEL: - Tudo bem. Elas estão lá em cima, você conhece o caminho.

Nanda anda meio sem jeito, seguida por ele.

CENA 21. SUPERMERCADO COMPRE AKI. INT. DIA.

Paula está no caixa, atendendo um cliente, enquanto Roberta está na ponta do balcão.

PAULA (passando as compras): - E quando vai ser essa inauguração?

ROBERTA: - Hoje à noite. Vamos?

PAULA: - Hum, não sei não. Ultimamente eu tenho andado tão cansada, sem ânimo pra sair de casa. E outra, amanhã eu não tenho folga.

ROBERTA: - Ai Paula, mas pensa vai! Há quanto tempo a gente não sai à noite pra dançar?

PAULA: - Nem lembro mais. (ao cliente) Vinte e cinco e setenta.

A mulher mexe na bolsa.

ROBERTA: - Então! Vamos lá, vai? Faz um esforço!

PAULA: - Vou pensar. Mas não prometo nada.

ROBERTA: - Fala pra Nanda também. Tenho certeza que ela vai adorar e vai arrastar você pra noite! (risos)

Ivete se aproxima do caixa de Paula, que finaliza o atendimento da cliente.

IVETE: - Muita conversa, Paula. A dona Ilda já fez comentários lá na salinha.

ROBERTA: - Quem é dona Ilda?

PAULA: - A velha carrancuda, dona do supermercado. Pode deixar Ivete, a Roberta já está de saída, não é?

ROBERTA: - Claro, eu só vim dar um recadinho pra Paulinha.

IVETE: - Desculpa gente, eu não queria atrapalhar né, mas sabe como é a dona Ilda. É bom não bater de frente.

PAULA: - Nem esquenta. Valeu, Ivete.

Ivete sai.

ROBERTA: - Bom, vou indo lá então. Oh, vou esperar vocês duas mais tarde hein? (saindo)

Roberta vai embora. Em seguida, outro cliente chega no caixa de Paula, que o atende com um sorriso.

CENA 22. RUA. CENTRO DA CIDADE. EXT. DIA.

Bruno atravessa a rua e quando chega ao outro lado é surpreendido com o esbarrão de Lisa (negra, cabelos crespos, volumosos, alta, magra), que iria atravessar a rua apressada. Lisa deixa cair sua pasta com fotos e papéis.

BRUNO: - Com pressa hein?

LISA: - Desculpa! Eu queria pegar o sinal aberto ainda.

Os dois se abaixam para pegar as fotos e papéis caídos. Bruno pega uma foto de Lisa, acha linda. Lisa guarda o material na pasta e pega a foto da mão de Bruno. Suas mãos se tocam. Os dois trocam olhares. Levantam-se.

BRUNO (entrega a foto): - É modelo?

LISA: - Sou sim. Fiz uns testes e/

BRUNO: - Você é muito bonita. Leva jeito pra essas coisas.

LISA: - Obrigada.

Os dois ficam a se olhar por um instante. O sinal para os carros fecha. Abre para os pedestres.

BRUNO: - O sinal abriu.

LISA: - É mesmo! Obrigada! (atravessando a rua) E desculpa!

BRUNO (grita): - Qual o seu nome?!

Lisa não escuta, sumindo no meio das pessoas que atravessam a rua. Bruno fica pensativo por um tempo. Vai embora.

CENA 23. CASA GABRIEL. QUARTO. INT. DIA.

Fernanda fecha a caixa com suas coisas que Gabriel já havia deixado separado.

GABRIEL: - Está tudo aí?

FERNANDA: - Está sim. Tudo certo. Bom, acho que agora eu vou indo.

GABRIEL: - Nanda, espera. A gente precisa conversar.

FERNANDA: - De novo, Gabriel?

GABRIEL: - Você não foi ao jantar, nem agradeceu as flores que eu mandei.

FERNANDA: - Muito obrigada pelas flores. São lindas e estão enfeitando muito bem a sala do meu apartamento. Agora o jantar, você sabia que eu não iria, já falei isso.

GABRIEL: - Eu não me conformo.

FERNANDA: - Pensei que já tivesse entendido a minha opinião, a minha escolha. Aliás, nós realmente podemos evitar ter essa conversa mais uma vez!

GABRIEL: - É patético tudo isso, Nanda! Nós tínhamos um futuro lindo pela frente, tudo certo para o casamento!

FERNANDA: - Nós não tínhamos nenhum futuro Gabriel e você sabe muito bem disso. Você vivia para os negócios da sua família. E eu me apaixonei por outra pessoa.

GABRIEL (murmura): - Por uma mulher...

FERNANDA: - E que mal há nisso? Até onde eu sei, pro amor não há regras.

GABRIEL: - Palavras lindas na teoria. Mas eu sei muito bem que é tudo clichê para justificar a sua rebeldia.

FERNANDA (pegando as coisas e saindo): - Eu não sou obrigada a ficar aqui ouvindo isso. Obrigada por juntar minhas coisas.

Ela vai pegar a caixa. Ele segura seu braço.

GABRIEL: - Calma Nanda, eu não queria dizer isso.

FERNANDA: - Mas disse.

Ele a solta, se mostra um pouco arrependido.

FERNANDA: - Eu não quero brigar com você. Vamos deixar as coisas assim como estão. Vai ser melhor.

GABRIEL: - Melhor pra quem? Pra você?

FERNANDA: - Para nós dois!

GABRIEL (aproximando-se dela): - Será que você não entende? Eu só vou ficar melhor depois que sentir os teus lábios tocando os meus novamente.

Gabriel tenta beijar Fernanda, que se esquiva.

FERNANDA (estressa): - Não, Gabriel! Já chega. Eu não deveria ter vindo aqui, bem que a Paula avisou.

Fernanda sai. Gabriel não vai atrás dela.

GABRIEL: - Droga! Você ainda vai ser minha, Nanda. Pode apostar que vai.

CENA 24. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE.

TAKE rápido da cidade, já noite. As luzes dos prédios, dos carros no trânsito.

CENA 25. SÃO JOÃO DA BARRA. MOTEL. EXT. NOITE

PLANO GERAL. O portão do motel se abre e o carro de Osvaldo vai saindo, parando logo em seguida. CORTA PARA o INTERIOR do veículo. Ele e Cibele riem sem parar. PLANO DETALHE de garrafas de bebida alcoólica e pequenos papelotes no cão do carro.

OSVALDO: - Você é mesmo safada, hein! Me fez até provar dessas coisas... Que loucura! Eu, depois de velho, cheirando pó (ri)

CIBELE: - É ótimo pra dar uma animada. E você se soltou muito depois de uns tirinhos.

OSVALDO: - Com você é impossível não se soltar, gostosa.

Osvaldo puxa Cibele pelo pescoço, a beija fortemente.

OSVALDO: - Vou te deixar no ponto de ônibus mais próximo. Preciso voltar pro Rio de Janeiro ainda hoje.

Osvaldo liga o carro e sai, acelerando o veículo pela rua.

CENA 26. APTO OSVALDO E REGINA. INT. NOITE.

PLANO GERAL do apartamento de luxo onde vivem Osvaldo e Regina. Bem decorado, sofisticado, bem iluminado. Do living da sala de estar, vê-se a duas mulheres. Regina (50 anos, magra, cabelos ondulados, escuros, expressão firme) e Mariana (24 anos, magra, cabelos claros, ondulados, pele clara) entram no apto, carregando sacolas de compras de lojas de grife.

REGINA: - Fazia muito tempo que não ficávamos batendo perna no shopping até essa hora!

MARIANA: - Verdade, mamãe. Saímos de lá noite!

REGINA: - Temos que fazer isso mais vezes. (senta-se no sofá) Estou pensando até em pedir para o seu pai aumentar o limite do meu cartão.

MARIANA: - Mamãe, eu não vejo necessidade para tantos gastos. Tudo bem, hoje nós nos excedemos um pouco, mas não há necessidade de fazermos isso com tanta frequência.

REGINA: - Mariana, meu amor, dinheiro foi feito para gastar. E o Osvaldo trabalha para isso, para ter dinheiro e para que nós possamos gastar com coisas boas. Roupas, acessórios, viagens...

MARIANA: - Um pouco fútil, não acha?

REGINA: - Ai, não, Mariana! Não venha pagar de humilde porque você nasceu em berço de ouro, meu amor. Milhões de meninas da favela queriam estar no seu lugar.

MARIANA (comenta): - Não é por isso que eu devo esbanjar assim. Questão de opinião, de consciência.

REGINA: - Pois então fique você com a sua consciência que eu fico com a minha, rica e linda. Falando em linda, tudo certo para o seu teste na agência, amanhã?

MARIANA: - Tudo sim. É só um book experimental, mas já é um começo.

REGINA: - Não dou um mês pra você despontar nas passarelas de todo o país, filha. Você tem talento. Acho até que demorou pra começar a modelar.

MARIANA: - Tudo tem o seu tempo certo, mãe. Agora deixa eu ir lá pro quarto, organizar isso tudo.

REGINA: - Eu vi que vai ter a inauguração de uma casa noturna nova aqui na zona sul. Você não vai?

MARIANA: - Pois é, eu fiquei sabendo. Mas não vou não. Preciso estar bem para o book amanhã. E agora eu quero separar as roupas antigas para doação e guardar essas novas aqui.

REGINA: - Tá certa. Foco!

MARIANA: - Papai não veio ainda?

REGINA: - Pelo visto não. E nem ligou. Ele ia para São João da Barra, nem sei pra que lado fica isso aqui no Rio. Logo mais vou ligar pra ele, pra saber onde ele está.

Mariana pega suas compras e segue para o seu quarto. Regina continua na sala, resolve ligar a TV. Do ponto de vista de Regina, CAM detalha a moça do tempo, que é negra.

REGINA: - Agora até nos telejornais eles começam a ganhar espaço. Cotas para esse povo trabalhar em telejornais é demais pra mim.

Regina muda de canal, está passando um programa de variedades. Ela começa a assistir.

CENA 27. DANCETERIA JOQUER. EXT. NOITE.

CAM mostra a fachada da danceteria. Abre PLANO GERAL onde muitas pessoas estão na frente do prédio, na fila. Imprensa registrando todos os momentos. Gente bonita, bem vestida, de alto nível.

CORTA:

CENA 28. DANCETERIA JOQUER. INT. NOITE.

Mais pessoas. Música alta e animada. O ambiente é moderno e sofisticado. Luzes coloridas iluminam o local. Galera dançando, bebendo, conversando. Em um dos pontos, os fotógrafos se aglomeram para os registros dos sócios, donos da danceteria. No foco das câmeras, Diogo (30 anos, alto, corpo atlético, loiro) e Rick (28 anos, alto, magro, cabelos curtos, castanhos), abraçados, sorridentes. Diogo, entre uma foto e outra, lança olhares para o camarote, onde Carla (30 anos, loira, cabelos curtos, cacheados, magra, pele clara) está, tomando champanhe. Ela sorri carinhosamente para ele, que logo é interceptado por um repórter para uma entrevista.

REPÓRTER: - Então Diogo Troianni, o que os clientes podem esperar desse novo empreendimento noturno da cidade?

DIOGO: - Bom, nossos clientes podem esperar muita coisa boa, uma ótima opção de lazer, com conforto e sofisticação. A casa é uma das mais modernas e de padrão europeu. Enfim, quem gosta de curtir a vida e a noite, principalmente, já tem o lugar perfeito para isso.

Rick se aproxima de Diogo.

RICK: - Diogo, o pessoal do Comando da Noite quer uma entrevista sua. Eles estão ao vivo.

Diogo acompanha Rick até um grupo de repórteres. CORTA PARA a entrada da danceteria onde Roberta e Matheus chegam.

MATHEUS (impressionado): - Menina, que lugar é esse?! Chiquetérrimo!

ROBERTA: - Segura a onda Matheus, segura a onda. Mas que o lugar é um luxo só, isso é!

MATHEUS: - Mas por que eles cobram tão caro a entrada?

ROBERTA (observando um rapaz): - Porque eles guardam tesouros aqui dentro.

MATHEUS: - Eu não entendi.

ROBERTA: - Deixa pra lá.

MATHEUS: - E as meninas, não vêm?

ROBERTA: - Falei com a Paula. Ela ia falar com a Nanda também. Tomara que elas venham, pra gente se divertir um monte aqui.

MATHEUS: - Vamos pra pista!

Matheus e Roberta vão para o meio da pista de dança e se esbaldam ao som do DJ.

CENA 29. APTO PAULA E FERNANDA. QUARTO. INT. NOITE.

Paula senta-se na cama chateada. Fernanda senta-se ao lado dela.

PAULA: - Ele deu em cima de você?!

FERNANDA: - Mas não aconteceu nada.

PAULA: - Mas ele tentou, Nanda! Está vendo? Por isso que eu não gosto quando ele fica te ligando, insistindo!

FERNANDA: - Paula, eu falei que não aconteceu nada! Desencana. Você está sempre insegura, parece até que não confia em mim! (levanta-se)

PAULA: - Não foi isso que eu disse, Nanda!

FERNANDA: - Mas é isso que você deixa transparecer. Poxa, eu sei me defender do Gabriel e sei aquilo que eu quero pra mim.

Paula levanta-se e se aproxima de Fernanda.

PAULA: – Desculpa vai, eu sou mesmo uma boba, uma insegura. Eu só faço isso porque eu gosto de você.

FERNANDA: - Então tenta confiar mais em mim e mais no nosso amor.

Fernanda se afasta, pega um lindo vestido que estava sobre a cama.

FERNANDA: - Eu vou tomar um banho. A Roberta e o Matheus já devem estar esperando a gente.

Fernanda sai do quarto. Paula fica pensativa.

CENA 30. DANCETERIA JOQUER. CAMAROTE. INT. NOITE.

Carla bebe champanhe, observando toda a movimentação do local. Lisa se aproxima dela, acompanhada de Pedro (30 anos, porte atlético, cabelos pretos, curtos, postura, elegante).

LISA: - Fala amiga!

CARLA: - Lisa! Que bom que você veio!

As duas se abraçam.

CARLA: - Que bom que você veio! (vê Pedro) Oi Pedro! Bem-vindo!

PEDRO: - Obrigado, Carla. A danceteria é linda. Tem tudo pra dar certo.

CARLA: - Vai dar certo, sim.

LISA: - Esse evento é o mais comentado em toda cidade! E os meninos, onde estão?

CARLA: - Tá vendo aquele bolo de jornalistas lá embaixo? (aponta pela vidraça)

LISA: - Sim.

CARLA: - Eles estão lá no meio. (risos)

LISA: - Nossa, tanto assédio assim, é?! E você aqui, curtindo a festa no camarote?

CARLA: - Camarote exclusivo né, querida.

LISA: - Que luxo hein!

CARLA: - Tem que ter uma vantagem em ser noiva do dono do empreendimento né?

LISA: - Com certeza. Falando em noivado, como andam os preparativos para o casamento?

CARLA: - Parados né? O Diogo ficou totalmente envolvido nessa danceteria, quase não teve tempo pra nada. E eu também não quero decidir tudo sozinha. Quero a opinião dele. Agora que a danceteria está aberta, que as coisas começaram a fluir, nós vamos retomar tudo novamente.

LISA: - Que bom. Eu vi uma amiga minha lá embaixo, vou lá cumprimentar. Já retorno.

CARLA: - Fica a vontade e aproveita bem a festa.

Lisa sai do camarote.

CORTA:

CENA 31. DANCETERIA JOCKER. SALÃO. INT. NOITE.

Bruno e Vini (25 anos, magro, loiro, cabelos curtos, pele clara, pele bronzeada) entram na danceteria.

BRUNO: - Cara, que lugar maneiro hein!

VINI: - Te falei que o negócio era de elite, só tem playboy aqui!

BRUNO: - E nós!

VINI: - Olha só quanta gata!

BRUNO: - Valeu a pena pagar tudo aquilo na entrada.

VINI: - Olha só, vou dar um role por ai.

BRUNO: - Vai mesmo. Eu vou pro outro lado. Nos falamos depois.

VINI (saindo): - Certo.

Bruno caminha por entre as pessoas, quando, de repente, esbarra em Lisa. Os dois ficam surpresos. Lisa ri com a coincidência.

LISA: - Você está me seguindo, é isso?

BRUNO: - Eu acho que foi você quem me seguiu hein.

LISA: - Quanta coincidência, não acha?

BRUNO: - Coincidência ou destino?

LISA: - Desculpa, mas você não tem cara de quem acredita nessas coisas de destino.

BRUNO: - Não acredito mesmo. Falei porque sempre vejo os mocinhos falando isso nos filmes. E as mocinhas gostam.

Lisa ri.

BRUNO: - Você acredita no destino?

LISA: - Não tenho uma opinião formada sobre isso. Talvez eu não acredite, talvez sim.

BRUNO: - Então vamos deixar o destino de lado e tratar de falar sobre o nosso presente.

LISA: - Como assim, nosso presente?

BRUNO: - Ah, o início da nossa relação, da nossa amizade, podemos dizer.

LISA: - Hummm...

BRUNO: - Ou algo mais.

LISA: - É. Quem sabe?!

BRUNO: - O destino!

Os dois voltam a se olhar, sorriem.

BRUNO: - Já nos encontramos duas vezes e eu nem sei o seu nome.

LISA: - Eu também não sei o seu.

BRUNO: - Me chamo Bruno. E você?

LISA: - Lisa.

Beijam-se no rosto. Os dois ficam a conversar fora do áudio.

CORTA:

CENA 32. CASA BIA. VARANDA. EXT. NOITE.

Bia e Tito conversam na varanda.

BIA: - Nossa, anoiteceu e nem percebemos!

TITO: - Verdade. Fazia tempo que eu não passava o dia inteiro fora de casa assim, em boa companhia.

BIA: - Eu também gostei muito de passar o dia conversando com você.

TITO: - Valeu por tudo aí.

BIA: - Não precisa agradecer. Quando precisar, é só me chamar.

MUSIC ON: (O amor é ilusão – Rouge)

TEMPO neles que ficam a se olhar. Bia abraça Tito.

BIA: - Boa noite, Tito.

Tito, um pouco sem jeito, acena para Bia e vai saindo no portão. Ele dobra para outro lado.

BIA (alerta): - Tito, sua casa é pro outro lado! (riso)

TITO (sorri): - Eu sei. Mas eu vou dar umas voltas por aí.

BIA: - Bom passeio pra você.

Bia entra para casa. Tito vai caminhando pela calçada, com as mãos no bolso, sereno, sorrido bobo no rosto.

MUSIC OFF.

CENA 33. APTO PAULA E FERNANDA. QUARTO. INT. NOITE.

Fernanda entra já arrumada, linda. Paula está sentada na cama.

FERNANDA: - Paula! Você não vai se arrumar? Já estamos atrasadas!

PAULA: - Eu não vou.

FERNANDA: - Como assim, você não vai?! Nós combinamos com a Roberta e o Matheus.

PAULA: - Não to no clima, Nanda. Vai você.

FERNANDA: - Ah não, Paula. Sem você eu não vou.

PAULA: - Não, Nanda. Não é justo. Você já está pronta, toda arrumada. Linda.

FERNANDA: - Não é justo eu sair pra me divertir sabendo que você está nessa fossa aí a toa.

PAULA: - Eu estou bem. Pode ir. Eu sei que você está afim de sair. Não é justo você se privar por causa de mim. Pode ir Nanda. Você está precisando mesmo se divertir. Já trabalha bastante, cuida do apartamento, cuida de mim... Merece seu lazer.

FERNANDA: - Mas e você?

PAULA: - Eu vou ficar bem, não se preocupa. Tem uns DVDs de filmes aí, eu vou olhar. Nem demora muito eu já pego no sono. Pode ir.

Fernanda pensa um pouco, mas decide ir. Beija Paula carinhosamente e sai.

FERNANDA: - Fica bem mesmo?

PAULA: - Pode ficar tranquila.

Fernanda sai. Tempo e Paula deita-se na cama, pensativa.

MUSIC ON: (Do romantismo a Roma antiga – Maurício Baia)

PAULA (OFF/reflete): - Eu e a Nanda somos muito diferentes mesmo. Tenho medo que essa minha insegurança destrua nossa felicidade. Até aonde eu vou conseguir lidar com isso? Não quero perder a Nanda. Não posso.

Paula vira-se para o lado. PLANO DETALHE de seu rosto. Uma lágrima cai.

MUSIC OFF.

CENA 34. SÃO JOÃO DA BARRA. ESTRADA. EXT. NOITE.

Alex e Dionísio seguem caminhando pela beira estrada, pouco movimentada.

ALEX: - Se você quiser, a gente pode ir um pouco mais devagar, pai.

DIONÍSIO: - Não se preocupa, Alex. Vamos caminhando assim mesmo. Se a gente diminui o passo, chegaremos mais tarde em casa.

ALEX: - Sabe o que eu lembrei? Da gente voltando das pescarias em alto mar. Eu pequeno carregando aqueles baldes pesados, cheios de peixe.

DIONÍSIO (nostálgico): - Você sempre grudado em mim. E sua mãe ficava louca de você ir comigo pro mar à noite.

Os dois ficam em silêncio.

DIONÍSIO: - Sua mãe foi uma mulher e tanto.

ALEX: - Eu agradeço a Deus sempre, pai. Por ter você na minha vida e por Ele ter me dado a dona Amália de presente como mãe.

DIONÍSIO: - Ela está feliz de ver a gente junto ainda, voltando tarde da noite pra casa, mas felizes da vida.

ALEX: - Como é que eu não vou estar feliz ao lado do meu melhor amigo?

Alex abraça Dionísio. Os dois seguem caminhando pelo acostamento. Ao longe, ouve-se um carro cantando pneu. CAM vai buscar o automóvel que vem no mesmo sentido dos dois. Osvaldo dirige alcoolizado, som alto. PLANO DETALHE de seu telefone chamando, no visor a foto de REGINA piscando. Ele não percebe, tentando manter o carro alinhado na estrada. CORTA PARA o EXTERIOR da estrada onde Osvaldo dirige fazendo zig zag.

Alex percebe as luzes vindo de trás dele e de Dionísio.

ALEX: - Ih, pai. Vem vindo um carro em alta velocidade ali atrás.

DIONÍSIO: - Eles vivem correndo nessas rodovias. Acham que são pilotos de Fórmula 1!

ALEX: - Vem um pouco mais para o canto, nunca se sabe.

Alex tenta proteger Dionísio. O carro se aproxima dos dois em alta velocidade, já desgovernado. Em SLOW MOTION Alex e Dionísio se viram na direção do automóvel que colide com eles. Dionísio é lançado há alguns metros de distância, Alex sente menos o impacto. Osvaldo consegue brecar o carro, um pouco mais adiante. Ele desliga o motor, olha pelo espelho retrovisor, assustado, Alex e Dionísio caídos no chão.

Na tensão de Osvaldo, respiração ofegante.

 
     

CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO:

     
 

CENA. SÃO JOÃO DA BARRA. ESTRADA. EXT. NOITE.

Alex levanta-se com dificuldade e vê o corpo de Dionísio no chão. Ele se apavora, corre para ajudar o pai, que está desacordado.

ALEX (segura Dionísio): - Pai! Acorda, pai!

Alex vê o carro parado mais adiante.

ALEX (grita): - Ajuda aqui! Ajuda aqui, por favor!

Osvaldo observa tudo pelo retrovisor. Apreensivo, ele liga o carro novamente, pega a estrada e sai, acelerando. Alex fica desesperado.

ALEX: - Filho da mãe! Pai! Acorda, pai!

...

 
     

NESTA TERÇA, CAPÍTULO INÉDITO DA NOVELA "ESCOLHAS DA VIDA"

     
 

CENA. DANCETERIA JOCKER. INT. NOITE.

A música está a todo vapor. CAM vai buscar Fernanda que entra na danceteria e se impressiona com o local, bonito e badalado. PLANO GERAL. Ela e Diogo, que carrega um drink em uma das mãos, caminham na mesma direção, entre as pessoas, se esbarram.

DIOGO: - Opa!

FERNANDA: - Desculpa, desculpa! É que está bem cheio aqui né.

DIOGO: - Tudo bem, eu sei que foi sem querer.

FERNANDA: - Por sorte não virou a bebida na sua roupa.

DIOGO: - É verdade, mas se tivesse virado, também não teria problemas.

FERNANDA: - Claro que teria, imagina! Você ia ficar com a camisa toda molhada no meio da festa! Tudo por um descuido meu.

Ele toca o braço dela.

DIOGO: - Tudo bem, tá tranquilo.

Os dois trocam olhares intensos.

DIOGO: - Hoje a noite é de boas energias, animação. Nada atrapalharia. Pode ficar tranquila. Curte a festa!

Fernanda sorri, graciosa. Diogo também sorri. Carla se aproxima de Diogo, encarando Fernanda.

CARLA: - Algum problema, por aqui?

Diogo disfarça, solta o braço de Fernanda, constrangida, enquanto Carla encara a moça.

...

 
     
     
REALIZAÇÃO


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