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A Magia do Natal: Capítulo 05 - Paz

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Conto escrito por: JF Martignoni

Depois de dez horas de trabalho estou na frente do portão da minha casa, aperto o botão do controle eletrônico e ele abre lentamente revelando para mim a vaga do carro da minha esposa vazia. Paz. Entro no espaço destinado ao meu carro, aperto o botão do portão e ele se fecha. No rádio do carro toca Metallica, a quarta faixa do meu CD favorito, que inclusive comprei original por respeito, coisa que raramente faço. Reload originalmente lançado em 1997. Esta é minha música favorita do meu CD favorito, Unforgiven II.

What I've felt. What I've known.

Turn the pages. Turn the stone.

Behind the door, should I open it for you?

Desligo o rádio e há um completo silêncio preenchendo o ar. Paz. Abro a porta do carro, desço e fecho a porta do carro. Ninguém vem correndo e gritando me abraçar. Nem criança, nem cachorro. Paz. Abro a geladeira e pego a última fatia de pizza Sadia de calabresa, e decido comer fria e com as mãos. Pude observar que as verduras estão apodrecendo, mas cuidarei disto depois. Pego a caixa de suco de laranja e está vazia. Provo a Coca-Cola e está sem gás. Mas ainda há três longnecks de Heineken. Pego uma e vou com minha pizza para comer em frente a televisão. Ligo e coloco no jogo do São Paulo contra o Botafogo pelo Campeonato Brasileiro. Ninguém incomoda para trocar de canal, ninguém reclama do volume da televisão. Paz.

Metade do segundo tempo e não saiu nenhum gol no jogo e acabaram as cervejas. Decido me masturbar ali na sala vendo o canal pornô. Qual o problema? Estou sozinho, sou um homem livre! Está na metade de uma cena, com uma oriental sendo fodida de quatro por um homem mais velho e careca. Sempre tive tesão por orientais. Começo a me masturbar e gozo junto com o ator, imaginando que sou eu gozando na boca dela. O tapete fica pura porra, mas limpo isso depois. É melhor eu dormir para estar disposto para o dia de amanhã, terei uma reunião com os vendedores e se não deixá-los inspirados para vender mais posso ter que demitir alguns, tenho que me preparar, em poucos dias começa um ano novo. A pensão está acabando com meu orçamento e logo terei que vender esta casa para comprar um apartamento para mim e outro para a minha esposa.

Subo os degraus ouvindo meus passos ecoando no escuro como se estivesse desbravando um castelo abandonado. Tomo um banho demorado, pois não há ninguém para reclamar e pedir para apurar porque também quer tomar banho. Paz. Esqueci a toalha no chão do banheiro e agora está úmida e fedendo, saio em busca de outras toalhas no armário do banheiro. Encontro apenas uma de rosto limpa. Foda-se uso esta mesmo. Deito em minha cama nu, não há ninguém para se incomodar com isso mesmo e faz calor. Só falta um barulho de chuva para ser perfeito, mas mesmo assim: paz.

Estico-me bem na cama, afinal tenho uma king-size só para mim e não para dividir com três filhos, cachorro e mulher. Paz. Me reviro por uns trinta minutos, realmente está difícil dormir, mas isso é por que não estou cansado como deveria. Logo começo a academia e a esta hora estarei podre de cansado, e de quebra fico com um corpo melhor e quem sabe consigo uma mulher muito mais nova que minha esposa. Muito mais gostosa também. Quem sabe posso voltar a sair nas baladas, não estou tão velho. Trinta e oito anos, mas com um corpo melhor do que muitos jovens de vinte, e com minha experiência vou fazer as garotas gozarem mais do que pensavam que podiam. Elas estão acostumadas com esses garotos que saíram da punheta ontem, depois que eu comer uma como todas, uma vai contar para a outra.

Talvez seja melhor eu assistir um filme, depois programo a TV e ela se desliga sozinha enquanto eu durmo. Posso assistir qualquer um que eu quiser. Paz. Que merda só tem filmes familiares, quem gosta de filmes familiares? ‘Marley & Eu’ o caralho; ‘Pequena Miss Sunshine’ minha rola; ’12 é Demais’ que se foda!

Desligo a televisão e ligo para minha esposa. Só quero mostrar que serei um pai presente mesmo depois da separação. Não estou querendo voltar. Não estou sofrendo. Só sou um homem maduro, é sou um homem maduro e não causarei problemas pra família depois da separação. Vou comer todas as bocetas que não comi enquanto era casado e serei o melhor pai do mundo. Quem sabe darei algumas transadas com minha esposa, se ela quiser. Mas nem sinto tanta falta dela, o sexo era ótimo, mas eu estava meio enjoado. Ninguém atende o telefone. Que merda!

Pego um cigarro boto o roupão e vou fumar lá fora. Os vizinhos estão fazendo a ceia de Natal em família. Estão todos lá, avós, irmãos, filhos, netos e eu ali fumando no escuro. Tento ligar para minha mulher novamente. Ninguém atende.

Eu bebia demais, eu entendo. Eu mentia, eu entendo. Eu não me botava no lugar de vocês, eu entendo. Eu nunca estava em casa, eu entendo. Eu fui na zona algumas vezes, mas era para transar com mulheres diferentes sem ser traição. Eu sempre estava de mal humor, mas o trabalho que me estressava. Eu brigava com as crianças por coisas idiotas, eu entendo. Eu estava em crise de meia idade, eu entendo. Lágrimas correm pelo meu rosto e sei que é depressão. Essa casa não é um lar sem vocês, agora eu entendo.

Ligo novamente para minha mulher. Ninguém atende. Olho para o gancho da rede. Olho para a corda da rede. Subo em uma cadeira. Amarro a corda no gancho. Amarro a corda em meu pescoço. Chuto a cadeira. A vida vai deixando meu corpo aos poucos, uma fraqueza geral toma meu corpo, respirar é cada vez mais difícil. Evito fazer barulhos para morrer em paz, não tenho pelo que viver.

O gancho cai da parede, e dou de joelhos no chão. Vejo ainda zonzo meu celular vibrar no chão, era o telefone da minha ex-mulher chamando.

- Boa noite pai, ligamos para desejar um feliz natal, te amamos muito.




conto escrito por
JF Martignoni 

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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