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Quase Perfeito - Capítulo 07

Minissérie de Wesley Alcântara
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CAPÍTULO 7
 
     
 
 
 

CENA 01. CASEBRE DE BASTIÃO. EXT. NOITE.

Bastião tenta se esquivar, mas Élio o imobiliza.

JOANNE – Nem tenta bancar o engraçadinho, senhor Sebastião. Nós já sabemos que foi você quem arquitetou o plano de morte da Tânia.

Bastião olha surpreso para Joanne. Élio puxa o homem e o coloca dentro da viatura ao lado de Daiana.

BASTIÃO – Vocês tão prendendo um inocente. Maior burrada da carreira de vocês.

JOANNE – Antes da delegacia, meu querido, nós vamos dar um rolé num lugarzinho que te é bem familiar.

BASTIÃO – Cês tão cometendo burrada, tá?

ÉLIO – Acho bom tu fechar o bico, entende?

Élio e Joanne entram na viatura, que sai em disparada.

CENA 02. MANSÃO MAGALHÃES. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.

Marta está sentada na cama, visivelmente bêbada. Pouco depois, ela se levanta e começa a se olhar no espelho.

MARTA – Por que o meu marido não me quis? O que eu tenho de errado? Eu sou bonita, não sou? Ei, olha essa barriguinha reta, esse cabelo bem cuidado, essa pele hidratada e cheirosa.

Marta começa a rir descontroladamente.

CENA 03. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.

Consuelo e Tamires estão sentadas a mesa jantando.

TAMIRES – Sua filha não vai descer para jantar?

CONSUELO – Tomou um porre e deve estar dormindo.

TAMIRES – Encerrar um casamento assim não é tão ruim. Vocês são ricas, ela pode ter o homem que quiser.

CONSUELO – Não é sobre ter dinheiro, Tamires. São sentimentos. Eu nunca fui fã do Kléber, mas eu respeitava o que a minha filha sentia por ele. Tenho medo no que a Marta possa se transformar. Ela é frágil.

TAMIRES – Desculpa, Consuelo, mas a sua filha não é frágil, ela é uma deslumbrada que acha que o marido deve girar em torno do umbigo dela. Ela queria ser dona do Kléber.

CONSUELO – Tá bom, menina. Agora acaba de comer e vamos para a sala. Hoje estudaremos um pouco sobre moda.

TAMIRES – Mas eu já sei tudo que preciso sobre moda.

CONSUELO – Tamanco e minissaia não estão na moda, ok?

CENA 04. MANSÃO MAGALHÃES. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.

Marta está vestida de noiva. Ela se olha no espelho, dá gargalhadas, gira. Até que começa a tentar se maquiar, mas se borra toda.

MARTA – Eu casei assim...

Marta fixa o olhar em seu reflexo no espelho.

***INSERT FLASHBACK***

IGREJA NOSSA SENHORA DE COPACABANA. INT. DIA.

No altar está o padre, Kléber (aparentando ter uns 30 anos), junto de um casal de meia idade, do outro lado está Consuelo e um homem.

Começa a tocar a marcha nupcial, a porta da igreja se abre, os convidados se levantam. Marta (aparentando ter 25 anos) entra vestida de noiva, sorridente, caminha até o altar.

 

***FIM DO FLASHBACK***

Marta se entristece, se senta no chão.

CENA 05. APARTAMENTO DE ESTHER. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.

Esther, Lucas e Sabine estão sentados a mesa jantando.

ESTHER – Está gostando desse prato, querida?

SABINE – É saboroso. Mas eu nunca tinha comido.

ESTHER – Eu imaginei, foi por isso que fiz. Quis te proporcionar uma refeição diferenciada. É vitela, uma maravilha.

SABINE – Apesar do nome engraçado, eu gostei. Bom saber.

ESTHER – Só saber mesmo, minha querida. Seu salário mixuruca não paga.

Sabine a olha surpresa.

LUCAS – Mãe, por favor!

ESTHER – Ainda mandei fazer mais comida cara, Sabine. Pra você provar. Se fosse num restaurante, vc teria que vender aquele barraco que mora e ainda ficaria para lavar os pratos.

Sabine fica muito constrangida, limpa a boca e ameaça se levantar.

ESTHER – Pode ficar onde está, garota.

SABINE – Eu não fico onde sou ofendida.

Sabine se levanta, Esther se levanta também e põe-se em seu caminho.

ESTHER – Eu te trouxe aqui pra gente resolver umas questões, sua macumbeira de araque.

Tensão nas duas se olhando.

CENA 06. FLORESTA DA TIJUCA. CASEBRE. EXT. NOITE.

CAM AÉREA mostra a viatura parando em frente a porta de entrada. Descem Joanne, Daiana e entram. Logo depois, Élio desce levando Bastião algemado.

   

 

     
     
 
QUASE PERFEITO - CAPÍTULO 7 (PENÚLTIMO CAPÍTULO)
     
 

CENA 07. CASEBRE. INT. NOITE.

ABRE em Élio jogando Bastião numa cadeira.

JOANNE – Agora, meu querido, ou você abre o bico ou a gente vai te tratar como merece.

BASTIÃO – Eu sou padrasto da Tânia. Mas eu não a matei. Sou tão vítima quanto vocês.

JOANNE – Vítima? Tá querendo me tirar de otária, meu caro? Eu conheço os tipos como você. E geralmente eu os mando para a cadeia depois de fazer uma castração.

Bastião se assusta.

ÉLIO – Bom... Você abrir o bico, velho. Ou então, vai mijar sentado o resto da sua vida. E sabe o que vão fazer com você na cadeia, né? Vai virar marica de marginal.

BASTIÃO – Mas eu não matei a Tânia. Eu juro.

JOANNE – Élio, vai lá na viatura e traz quatro bisturis.

BASTIÃO (desesperado) – Não, por favor! Eu suplico!

JOANNE – Então trata de cooperar, meu camarada. Porque a coisa tá feia pro seu lado e tende a ficar ainda pior, ouviu?

Joanne busca Daiana, que estava em outro cômodo e a coloca diante de Bastião.

JOANNE – Tá vendo essa mulher aqui? Ela sabe da tua ligação com o que aconteceu com a Tânia. Você e seja lá mais quem, montou esse plano meticulosamente, apagaram qualquer evidência. Admito uma coisa: dificultaram para a polícia. Mas não existe crime perfeito, meu camarada. Essa mulher aqui sabe da sua ligação com o crime.

BASTIÃO – Estão blefando!

DAIANA – Eu fui até a sua casa uma vez.

BASTIÃO – Você tá mentindo, garota. Eu nunca te vi.

DAIANA – Fui, mas fiquei dentro do carro. Eu estive lá com o Teodoro.

Bastião se assusta. Joanne e Élio percebem.

JOANNE – Tá vendo só? Esse caso tem mais fio solto que novelo de lã velho.

ÉLIO – A gente já sabe da sua ligação com Teodoro e que você também o assassinou.

BASTIÃO (gritando) – Jamais! Eu jamais mataria um filho.

Em Joanne e Élio surpresos.

CENA 08. APARTAMENTO DE ESTHER. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.

Esther e Sabine se encaram.

ESTHER – Eu já sei de tudo.

Lucas se levanta. Põe-se entre as duas.

ESTHER – Sei que você e sua família são um bando de macumbeiros. Sei que você e o Lucas estão de caso.

LUCAS – Não tem caso nenhum, mãe. Sabine e eu estamos namorando.

ESTHER (incrédula) – Não diga uma coisa dessas, meu filho. Eu te eduquei muito bem para se engraçar com esse tipo de gente.

SABINE – Que tipo de gente eu sou?

ESTHER – Uma raça que merece ser exterminada da Terra. Você é uma bruxa. Garanto que fez feitiço pro meu filho. Mas o meu Deus é maior. Com Deus e dinheiro eu derroto tudo.

LUCAS – Para com isso, mãe. Para com essas coisas.

SABINE – A gente se apaixonou, dona Esther. Foi isso que aconteceu. Eu não fiz bruxaria nenhuma.

ESTHER – Fez sim. Mas você vai pagar bem caro, seu demônio.

Esther se desvencilha de Lucas e dá um forte tapa em Sabine, que cai no chão.

ESTHER – Você é mais suja do que qualquer lixo que esteja nesse chão. Saia da minha casa. Saia da vida do meu filho.

Lucas ajuda Sabine se levantar.

LUCAS – Eu te levo em casa, Sabine.

ESTHER – Vai levar nada. Quero que você tome distância dessa gente dela.

SABINE – A minha gente sabe o que é respeito, dona Esther. Uma pena que todo o dinheiro da senhora não tenha lhe ensinado isso.

Sabine sai. Lucas encara Esther.

LUCAS – Você foi ridícula.

ESTHER – Olha como fala comigo, garoto. Um dia você ainda vai me agradecer por tudo isso.

LUCAS – Eu não sou sua propriedade. Eu escolho com quem ficar.

ESTHER – Você não ouse me desafiar, Lucas D’Ávila. Eu sou sua mãe.

LUCAS – Antes não fosse.

No ímpeto, Esther dá um tapa em Lucas.

LUCAS – Primeira e última vez que você faz isso.

ESTHER – Farei quantas vezes mais eu achar necessário. Agora trata de ir para o seu quarto e repensar toda a burrada que você fez.

Lucas se afasta. Em Esther.

CENA 09. CASEBRE. INT. NOITE.

Joanne encara Bastião.

JOANNE – Você é pai do Teodoro?

BASTIÃO – Sim. Teodoro é meu filho do primeiro casamento. Em segundas núpcias tive duas meninas com a mãe da Tânia.

JOANNE – E o que ele fazia lá?

BASTIÃO – Foi me visitar. Eu tava apertado de grana e ele levou pra mim. Eu nunca fui um bom pai pra eles.

JOANNE – Eles quem?

BASTIÃO – Todos eles. Os meus filhos, uai. Eu fui ausente, eu bati, eu cometi vários tipos de violência contra eles ou pessoas que eles amavam. Teodoro se afastou, retirou meu sobrenome e se deu bem na vida.

ÉLIO – E você como bom pai que foi, quis se aproveitar disso, não é?

BASTIÃO – É. Eu quis sim. Pedia dinheiro, fingia que estava doente.

DAIANA – Mas nesse dia o Teodoro não deu dinheiro pro senhor. Ele deixou a carteira e o celular comigo.

JOANNE – E então, papai do ano, vai desembuchar a verdade ou prefere perder o pêndulo que usa pra urinar?

BASTIÃO – Tá. O Teodoro descobriu que eu usava o dinheiro dele pra beber, fazer fezinha no jogo do bicho e, às vezes, sair com umas rampeiras lá do bairro.

JOANNE – Rampeiras?

ÉLIO – Essas meninas que saem com homem por dinheiro.

Joanne olha surpresa para Élio.

JOANNE – Tá bem entendido, hein?

Élio fica sem jeito.

JOANNE – Vamos lá, cara, explica logo o restante. Tá se prolongando demais.

BASTIÃO – Ele foi lá me cobrar sobre as mentiras.

JOANNE – Mas o Teodoro sabia quem tinha matado a Tânia.

BASTIÃO – E foi por isso que ele morreu.

ÉLIO – Então se não foi você, você sabe quem foi.

BASTIÃO – Sei. Mas se eu disser, eu to morto.

Em Joanne, surpresa.

CENA 10. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

Consuelo e Tamires estão sentadas no sofá lendo revista, quando Marta aparece no topo da escada vestida de noiva, mas com cabelo desgrenhado e maquiagem borrada.

CONSUELO (assustada) – Mas o que é isso, Marta?

TAMIRES – Credo!

As duas se levantam. Marta começa a gargalhar.

CONSUELO – Mas o que significa isso, Marta Beatriz?

MARTA – Eu fico linda de noiva, não fico?

TAMIRES – Que coisa mais sinistra.

Marta começa a descer as escadas cantando a marcha nupcial.

TAMIRES – Sua filha pirou total na batatinha, dona Consuelo.

MARTA (gritando) – Eu to casada! Eu sou casada! Só a morte me separa daquele homem, mamãe.

Marta retira um isqueiro de dentro do busto do vestido e o acende.

Close na chama, bem viva e, ao fundo, o sorriso diabólico de Marta.

CENA 11. CASEBRE. INT. NOITE.

Joanne olha cara a cara para Bastião.

JOANNE – Vai continuar com esse lengalenga, meu senhor?

BASTIÃO – Vocês acham mesmo que eu vivo escondido por causa de que?

ÉLIO – Isso é o senhor quem vai me dizer.

JOANNE – Ou diz agora, ou eu farei esse seu pinto virar caverna.

Bastião fica apreensivo.

BASTIÃO – Cês não são polícia nada. Tão querendo me torturar, pra ver se eu abro o bico.

JOANNE – Tu acha mermo, cara? Eu ia perder tempo com você pra que?

ÉLIO – A gente encurralou ele, delegada. Tá na cara que o assassino da Tânia dos Anjos é esse velho.

JOANNE – Vamos levar pro distrito e amanhã eu faço a liberação dele pra Bangu.

BASTIÃO (amedrontado) – O que? Bangu? Mas eu não sou o assassino, já disse.

JOANNE – Mas tá encobrindo um. Ou tu desembucha quem é, ou tu vai pagar por ele.

BASTIÃO – Vocês não podem me prender por falta de provas.

JOANNE – Meu senhor, acho que tu não conseguiu compreender a magnitude da enrascada que tá metido. Vou lhe explicar uma última vez. O senhor era padrasto da vítima, seu filho morreu depois de saber quem era o assassino e, na melhor das hipóteses, o senhor é o principal suspeito. Compreendeu meu raciocínio?

BASTIÃO – Sim.

JOANNE – O senhor tem dinheiro para pagar um bom advogado criminalista?

BASTIÃO – Mas eu não tenho nem dinheiro pra comer direito.

JOANNE – Então, meu querido, você utilizaria o serviço da Defensoria Pública da cidade do Rio de Janeiro. Com milhares de processos na sua frente e pouca gente trabalhando. Sabe quantos anos levaria esse teu processo? Uns quatro ou cinco. Tá realmente afim de esperar?

BASTIÃO – Tudo bem...Tudo bem! Mas eu preciso de proteção policial, preciso estar longe do Rio.

ÉLIO – A polícia não negocia com bandido.

BASTIÃO – Eu tenho provas que incriminam o assassino. Mas se eu não tiver auxílio, vou morrer no instante em que colocar os pés na cadeia. Aí, senhores, adeus pra tudo.

Joanne olha para Élio, em seguida, os dois saem da casa. Daiana fica acuada num canto, enquanto Bastião a encara.

CENA 12. CASEBRE. EXT. NOITE.

Joanne e Élio estão próximos a viatura.

ÉLIO – E então?

JOANNE – Eu to sem jurisdição pra poder levá-lo até a delegacia. Não podemos prendê-lo.

ÉLIO – Mas ele não sabe.

JOANNE – Hora ou outra ele vai perceber. A gente ameaçou, trouxe pra um lugar ermo. Aliás, ele nem teve uma reação estranha ao ver a casa, ao saber que a gente sabe da casa.

ÉLIO – Essa gente tem sangue frio, Joanne.

JOANNE – Eu tenho uma idéia.

Joanne começa a contar para Élio.

CENA 13. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

Marta parada no meio da escada, com o isqueiro aceso.

CONSUELO (preocupada) – O que você vai fazer, Marta?

MARTA – Eu tô exausta, minha mãe. Sem o Kléber, minha vida não tem sentido. Se ele quer a separação, ele vai ter. Mas será pelos meios divinos.

Marta coloca fogo em seu vestido e começa a gargalhar. Em Consuelo, estado de pânico.

CENA 14. CASEBRE. INT. NOITE.

Joanne e Élio entram. Bastião fica ansioso.

JOANNE – Tudo bem. Nós vamos fazer um acordo com o senhor.

BASTIÃO – E como será?

JOANNE – Você tem provas onde?

BASTIÃO – Eu os levo até minhas provas. Mas quero liberdade e algum dinheiro para eu fugir.

ÉLIO – Mas nós não podemos ter as provas por esses meios. Caracterizaria como suborno. Seríamos até expulsos da corporação e as provas seriam invalidadas.

BASTIÃO – Essa é a minha condição.

JOANNE – Nessas circunstâncias a gente não aceita. O senhor vai pra Bangu e apodrecerá lá até ter algum advogado da Defensoria.

BASTIÃO – Assim que me prenderem, vai chover repórter lá querendo falar comigo. Sabe o que farei? Contarei que vocês me trouxeram até aqui, que me torturaram e, em seguida, contarei onde estão as provas que incriminam o verdadeiro assassino. Como seria a situação de vocês depois disso? Creio que nada boa, né?

Élio e Joanne se olham surpresos.

BASTIÃO – Vocês decidem. Ou eu vou livre e vocês saem como heróis. Ou então vocês terão a carreira detonada feito explosivo.

DAIANA – Calma! Eu tive uma idéia e acho que pode funcionar.

JOANNE – E como será?

DAIANA – Eu vou financiar o dinheiro para ele sair da cidade.

Bastião, Joanne e Élio se olham surpresos.

CENA 15. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

O vestido de Marta começa a pegar fogo. Ela ri diabolicamente. Consuelo permanece apreensiva.

CONSUELO (desesperada) – Apaga isso, Marta. Você vai se machucar.

MARTA – É impossível me machucar mais.

Nesse instante, Neide vem da cozinha com um balde d’água e joga em Marta, apagando o fogo.

CONSUELO – Eu não sei nem como te agradecer, Neide.

NEIDE – Eu acompanhei a movimentação.

TAMIRES – Se fosse minha filha eu deixava queimar. É muito mimada.

CONSUELO (gritando) – Vai dormir, Tamires. Sai daqui agora.

Tamires começa a subir as escadas, mas para diante de Marta.

TAMIRES – Você gosta de chamar a atenção, sua maluca.

Tamires termina de subir.

NEIDE – Vou fazer um café bem forte e amargo pra dona Marta.

Neide se afasta, indo em direção a cozinha.

Consuelo encara Marta, que se encolhe e se senta nos degraus da escada.

CONSUELO – Que cena deprimente, Marta Beatriz. Eu não esperava isso de você.

Consuelo se aproxima de Marta.

CONSUELO – Olha pra você. Veja o seu estado.

Consuelo começa a dar tapas em Marta, que tenta se defender.

MARTA (gritando) – Para, mãe... Para, por favor!

CONSUELO (gritando) – Eu não paro. Não vou parar nunca. Eu hesitei a vida toda em te encostar a mão, mas olha no que você se transformou.

Consuelo dá mais alguns tapas em Marta. Até que se senta ao lado dela.

CONSUELO – Eu errei feio na sua educação, Marta. Mas onde foi?

MARTA – Me faltou amor, mãe.

SONOPLASTIA: MÃE – RICK E RENNER.

Consuelo se emociona, abraça Marta e ambas começam a chorar.

CENA 16. PRAZERES. EXT. NOITE.

Sonoplastia da cena anterior continua. Imagens do bairro.

CENA 17. CASEBRE DE BASTIÃO. EXT. NOITE.

MÚSICA CESSA.

A viatura da polícia para em frente ao portão da casa. Joanne, Élio, Daiana e Bastião descem.

BASTIÃO – Amanhã eu vou com vocês até o local das provas. Podem ficar tranqüilos.

JOANNE – Por precaução, Élio vai passar a noite aqui fora vigiando a sua casa até que a Daiana apareça com o dinheiro, ok?

BASTIÃO – Tudo bem! Agora eu vou entrar.

Bastião entra.

JOANNE – Seguinte, Élio. Não deixa ele sair daqui em hipótese alguma, nem deixa ninguém entrar. É a nossa única chance.

ÉLIO – Pode deixar comigo, doutora.

JOANNE – Daiana, vem comigo. Vou pegar um táxi e te levar até em casa. Lá você tem proteção policial.

DAIANA – Mas e o dinheiro, quem vai me entregar?

JOANNE – Tenho tudo sob controle. Amanhã as oito eu passo na sua casa. Amanhã será o grande dia!

Em Joanne, convicta.

CENA 18. CASA DE DOS ANJOS. SALA. INT. NOITE.

Dos Anjos e Yago estão sentados assistindo tevê, quando Sabine entra chorando.

DOS ANJOS – Filha, o que foi que aconteceu?

SABINE – Ah, mãezinha, foi o pior jantar da minha vida.

Dos Anjos se levanta e abraça Sabine.

YAGO – Te bateram, titia?

Sabine seca as lágrimas, se aproxima de Yago.

SABINE – Não, meu querido. Sabe de uma coisa, tem adultos que dizem coisas feias e deixam a gente triste.

YAGO – Eu nunca vou ser adulto. Não quero ver ninguém chorando.

SABINE – Eu também não gosto de fazer ninguém chorar.

Yago abraça Sabine.

DOS ANJOS – Agora é hora do senhor escovar os dentes e ir deitar. Amanhã tem aula.

YAGO – Já sei: é hora de conversa de adulto. Tô indo nessa!

Yago sai correndo.

DOS ANJOS – O que aconteceu?

SABINE – O pior, minha mãe.

DOS ANJOS – Vamos pra cozinha. Vou preparar um chá de melissa pra gente e você vai me contando tudo.

Sabine assente com a cabeça. As duas se encaminham em direção a cozinha.

CENA 19. APARTAMENTO DE JOANNE. PORTÃO DE ENTRADA. EXT. NOITE.

Joanne desembarca do táxi e já avista Kléber próximo dali. Ela se aproxima.

JOANNE – O que tá fazendo aqui, Kléber?

KLÉBER – Eu vim te ver.

JOANNE – Não to bem. Tô exausta e prefiro que você vá embora.

KLÉBER – Eu acho que a gente deve conversar. Tem coisas que ficaram muito mal entendidas.

JOANNE – Aconteceu o que tinha de acontecer. Eu to afastada da delegacia por, pelo menos, cinco meses. Tá bom?

KLÉBER – Acho que quem fez aquela foto nos fez um bem danado.

Joanne o olha como se não compreendesse.

JOANNE – Bem? A minha carreira tá por um fio.

KLÉBER – Finalmente eu me separei da Marta. De verdade. Saí daquela casa, rompi com aquela família.

JOANNE – E você espera que eu faça o que? Que lhe dê os parabéns?

KLÉBER – Deixa eu subir, vamos conversar. Eu tenho uma proposta muito interessante para você.

JOANNE – De falsas propostas eu tô exausta.

Joanne vai caminhando em direção ao prédio.

KLÉBER – Vamos reconstruir juntos tudo isso. Nós dois perdemos muita coisa, Jô. Nós dois estamos enfrentando dias turbulentos desde esse crime das bombas. Não vamos deixar passar a maior oportunidade das nossas vidas. Por favor!

Joanne para, olha para Kléber.

JOANNE – Como eu odeio não resistir a você.

Kléber corre, lhe tasca um beijaço.

SONOPLASTIA: APOLOGIZE – ONE REPUBLIC

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 20. APARTAMENTO DE JOANNE. QUARTO. INT. NOITE.

ABRE em Kléber jogando Joanne nua na cama. Ele se despe e cai sobre ela. Os dois começam a se beijar.

JOANNE – Eu te amo tanto.

KLÉBER – Cala a boca e me beija, delegata!

Os dois continuam a se beijar.

MÚSICA CESSA.

CENA 21. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. NOITE.

Dos anjos e Sabine estão sentadas a mesa tomando chá.

DOS ANJOS – Que intolerante essa dondoca, minha filha.

SABINE – Doeu tanto, minha mãe. Ver ela falar da nossa religião, excomungar a gente como se fôssemos demônios.

DOS ANJOS – Mas para muita gente é isso que representamos. Mas, filha, lembra quando eu te expliquei lá no início?

SABINE – Sobre o que?

DOS ANJOS – Quando a gente começa a freqüentar o candomblé, a umbanda o qualquer outra religião de matriz africana, devemos estar cientes de que seremos alvos de muita gente intolerante. Que nos olharão e falarão de nós com total falta de respeito.

SABINE – Mas estamos em pleno século vinte e um, mãe.

DOS ANJOS – É batalha diária, Sabine. A gente não pode, por medo deles, se desviar do nosso caminho. Temos uma pertença!

Sabine e Dos Anjos se abraçam.

SABINE – Como diria Mãe Marina de Oxalá: “Que a paz seja o que nos uma!”

CENA 22. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: NICE – BEBEL GILBERTO

Takes rápidos e pontuais dos pontos turísticos do Rio de Janeiro amanhecendo.

CENA 23. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

Tamires e Consuelo estão sentadas a mesa tomando café da manhã.

TAMIRES – E como foi ontem com a sua filha?

CONSUELO – Trata de tomar esse café rápido e correr pro inglês. Estive conversando com seus professores e me falaram que sua conversação tá péssima.

TAMIRES – Eu tô um pouco cansada.

CONSUELO – Querida, meu dinheiro não é capim. Ou você sai dessa casa pra fazer o curso e tentar ser alguém na grande roda, ou tu pode dar tchau a essa vidinha.

Nesse instante, Marta entra e se senta.

MARTA – Bom dia!

TAMIRES – Pede a Neide um chazinho de boldo. É tiro e queda para ressaca.

MARTA – Muito obrigada, mas ficarei com um cafezinho preto mesmo.

Nesse instante, Neide entra com um buque de rosas vermelhas e um embrulho dourado.

CONSUELO – Mas o que é isso, Neide?

NEIDE – O motoboy acabou de entregar. São para a dona Marta.

Neide entrega a Marta, que fica surpresa.

MARTA – Pra mim? Quem será que mandou?

Marta revira o buquê e acha um cartão.

MARTA (lendo o cartão) – “Espero que goste das flores e, principalmente, das fotos. Com amor, Kléber!”

Marta sorri. Tamires e Consuelo fazem cara feia.

CONSUELO – Eu não acredito que depois de tudo, o canalha ainda teve a audácia de te mandar presentinho.

MARTA – Foi fofo, mãe. O Kléber viu a burrada que fez e se arrependeu.

CONSUELO – Nessa casa ele não pisa mai, ou não me chamo Consuelo Castelo Branco.

Marta abre o embrulho e vê várias fotos de Kléber e Tamires transando.

MARTA – Mas o que é isso aqui?

CONSUELO – O que foi?

Marta joga as fotos em cima da mesa. Consuelo se surpreende. Tamires fica paralisada.

MARTA (a Tamires) – Agora você vai me explicar o que é isso.

Em Marta.

CENA 24. CASEBRE DE BASTIÃO. RUA. EXT. DIA.

Élio está parado de pé em frente a viatura. Pouco depois, Daiana desembarca de um táxi e vai até ele.

ÉLIO (estranhando) – O que você faz sozinha aqui?

DAIANA – A delegada ficou de me buscar as oito da manhã, mas não apareceu.

ÉLIO – Ela também não atende o celular. Acho melhor ir até a casa dela ver o que aconteceu.

DAIANA – Mas e o Bastião?

ÉLIO – Tem razão. Ele pode fugir.

DAIANA – O que acha da gente entrar?

ÉLIO – É arriscado.

DAIANA – Arriscado é a gente ficar dando sopa aqui. Ele pode desconfiar que algo deu errado.

ÉLIO – Tem razão. Vamos entrar.

Élio e Daiana entram.

CENA 25. CASEBRE DE BASTIÃO. SALA. INT. DIA.

Élio vem vindo do quarto.

ÉLIO – Nada aqui. O sem vergonha fugiu pelos fundos.

Daiana puxa uma caixa debaixo do sofá.

ÉLIO – O que é isso.

DAIANA – Não sei, mas achei aqui. Vamos abrir.

Élio abre a caixa e acha várias jóias e extratos bancários.

DAIANA – O que é isso?

ÉLIO – São jóias e extrato de depósitos bancários feitos para Tânia dos Anjos.

Daiana pega algumas jóias, olha.

DAIANA – Mas essas jóias não são de verdade. Olha o peso, estão sem brilho também.

ÉLIO – É muito dinheiro que depositavam para essa Tânia. Eu acho que ela chantageava o assassino.

DAIANA – E quem é o assassino?

ÉLIO – Você vai cair para trás quando souber.

Daiana e Élio se olham.

CENA 26. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. DIA.

Dos Anjos está coando café, quando Bastião entra com tudo.

DOS ANJOS – O que você está fazendo aqui?

BASTIÃO – Eu tô envolvido numa fria, nega. Você precisa me ajudar a fugir.

DOS ANJOS – Mas eu não vou. Agora some daqui.

BASTIÃO – Se não me ajudar, eu revelo tudo para as meninas.

Nesse instante Sabine entra.

SABINE – Revela o que? (se surpreende) Pai, você tá vivo?

Em Dos Anjos e Bastião assustados.

CENA 27. APARTAMENTO DE JOANNE. QUARTO. INT. DIA.

Joanne acorda com o celular tocando. Olha para Kléber que continua dormindo. Ela atende.

JOANNE (cel.) – Oi, Élio. Desculpa, eu perdi a hora.

INTERCALAR CENA EM JOANNE NO APARTAMENTO E ÉLIO NO CASEBRE DE BASTIÃO.

Joanne se encaminha até o banheiro.

ÉLIO (CEL.) – Eu tenho uma notícia muito importante pra te dar.

JOANNE (cel.) – Você tá onde?

ÉLIO (cel.) – Tô na casa do Bastião.

JOANNE (cel.) – Então me espera que eu tô chegando aí.

ÉLIO (cel.) – Eu encontrei jóias falsas, iguais aquelas que foram encontradas com a Tânia. E encontrei recibos de pagamentos altíssimos do Kléber Magalhães para a Tânia.

JOANNE (cel./ surpresa) – O que?

ÉLIO (cel.) – Eles se conheciam. E pelo andar da carruagem, a Tânia estava extorquindo ele.

JOANNE ( cel.) – Então você quer dizer que o assassino do crime das bombas é o.../

ÉLIO (cel.) – Kléber Magalhães, o dono da joalheria Cintra.

Nesse instante, Joanne vê Kléber pelo reflexo do espelho e se assusta.

KLÉBER – Te assustei, querida?

JOANNE (disfarçando) – Não, claro que não. Eu tava falando com o Élio no celular.

KLÉBER – Então desliga pra gente namorar um pouquinho mais.

Joanne desliga e vira-se para Kléber, que lhe aponta uma arma.

KLÉBER – Você não sai viva daqui.

JOANNE (amedrontada) – Por favor, Kléber, não faça nada que vá se arrepender depois.

KLÉBER – Nadou, nadou, mas vai morrer na praia, querida.

SLOW: Kléber destrava a arma. Joanne coloca as mãos protegendo a face.
   

 

     

Autor:

Wesley Alcântara

Elenco:

Carolina Ferraz como Joanne Andrade
Dalton Vigh como Kléber de Magalhães
Deborah Evelyn como Marta Beatriz Castelo Branco de Magalhães
Marco Pigossi como Edgar Zampari
Letícia Persiles como Sabine dos Anjos Souza
Rômulo Estrela como Élio Fiúza
Marcello Melo Jr. como Eleandro Silva
Caio Paduan como Lucas D’Ávila
Narjara Turetta como Daiana Oliveira
Gabriella Mustafá como Tamires dos Anjos Souza
Luka como Ayres Costa
Cauã Reymond como Valeska Moretti
Ângela Vieira como Esther D’Ávila

Atores Convidados:

Stenio Garcia como Orestes Blumenau
Francisco Cuoco como Bastião Souza

Atrizes Convidadas:

Eva Wilma como Consuelo Castelo Branco
Zezé Motta como Dos Anjos

Participações Especiais:

Cris Vianna como Tânia dos Anjos
Carmo Dalla Vecchia como Teodoro Malta

Trilha Sonora:

Martelo Bigorna – Lenine (abertura)
Mãe – Rick e Renner
Apologize – One Republic
Nice – Bebel Gilberto

Produção:


Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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Proibida a cópia ou a reprodução

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