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Antologia A Magia do Natal: 9x04

Conto de Ozanan
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Sinopse: Lucas, um garoto observador, não entendia o "espírito natalino", notando apenas que, no Natal, sua rua se tornava inesperadamente gentil, com as pessoas parando de fingir pressa e de brigar.

9x04 - O Dia em que a Rua Ficou Calma
dOzanan

Lucas nunca entendeu o que acontecia no Natal. Não era a comida, nem os enfeites, nem a música repetida que o pai colocava no rádio desde cedo. Era outra coisa — uma coisa que ele só percebia, mas não sabia nomear. A rua, que no resto do ano parecia um campeonato de quem gritava mais, acordava calma. As pessoas, que normalmente passavam olhando pro chão ou fingindo pressa, de repente lembravam que tinham boca pra sorrir e mão pra acenar. Até o pão da padaria saía mais macio. Tudo parecia... gentil. Lucas ficava sentado no portão olhando esse fenômeno. Ele gostava de observar as coisas que ninguém explicava. E ninguém explicava o Natal. Todo mundo dizia “é o espírito natalino”, mas espírito de quê? De onde vinha? Por que só naquele dia? Enquanto pensava nisso, ele viu Seu Ademar passando. O mesmo Ademar que, três dias antes, tinha brigado com um cone de trânsito porque “estava no lugar errado”. No Natal, Ademar olhou para Lucas e disse: 

— Bom dia, campeão. 

Só. Simples. Mas parecia outra pessoa falando dentro dele. Mais tarde, Lucas viu a vizinha do 12, aquela que reclamava até da sombra da árvore, oferecer doce para as crianças. E viu o rapaz da moto, que sempre empinava a moto na porta de todo mundo, desmontar uma bicicleta velha para consertar a de uma menina que ele nem conhecia. Tudo isso no mesmo dia. Lucas ficou pensando se não era o mundo fingindo. Se não era um grande teatro anual. Se não era todo mundo se maquiando de “pessoa boa” só porque o calendário mandou. Mas não parecia fingimento. Parecia… revelação. Como se, por um dia, as pessoas lembrassem quem eram antes de esquecer de novo. No fim da tarde, enquanto as luzes piscavam nas casas, Lucas perguntou para si mesmo, em silêncio: 

— Por que só hoje? 

Ninguém respondeu.

Ele imaginou que talvez fosse porque as pessoas tinham comido coisas gostosas. Ou porque iam ganhar presentes. Ou porque era feriado. Mas nenhuma dessas respostas parecia grande o bastante. Não dava pra explicar a mudança do mundo com peru e panetone. À noite, sentou de novo no portão. O céu estava cheio de estrelas, como se tivesse vindo inteiro à festa. Lucas ficou olhando a rua iluminada e pensou que era bonito demais pra durar só um dia. Foi aí que uma senhora que ele nunca tinha visto passou devagar, apoiada numa sacola pequena. Ela olhou para Lucas como quem enxerga alguma coisa por dentro e disse, sem parar de andar: 

— Hoje ninguém tem medo, menino. 

Lucas arregalou os olhos. Como assim ninguém tem medo? Mas antes que ele perguntasse, a senhora já tinha virado a esquina e sumido. Medo? Ele ficou repetindo essa palavra. Medo do quê? Medo por quê? E por que o Natal tiraria o medo das pessoas? A rua estava tão silenciosa que parecia ouvir junto com ele. Lucas então lembrou: No resto do ano, as pessoas tinham medo de tudo. Medo de parecer fraco. Medo de parecer bobo. Medo de serem julgadas. Medo de serem gentis e não receber de volta. Medo de errar o tom. Medo de abrir o coração e virar piada. No Natal, ninguém estava preocupado com isso. Ninguém lembrava de subir o muro. Ninguém lembrava de fingir dureza. Ninguém lembrava das máscaras. Era como se, nesse dia, todo mundo descansasse de si mesmo. Lucas não sabia explicar com palavras bonitas, então pensou do jeito dele: “Parece que no Natal o pessoal deixa o coração andar sem capacete.” E, pela primeira vez, ele entendeu. Não era o dia que era especial. Eram as pessoas, que naquele dia paravam de esconder o que sempre tiveram. Por isso a rua mudava. Por isso a comida parecia mais gostosa. Por isso o mundo todo parecia respirar junto. Porque, só no Natal, ninguém tinha vergonha de ser bom. Lucas sorriu sozinho. Não tinha resposta mágica. Não tinha lição. Não tinha explicação religiosa ou filosófica. Apenas isso: No Natal, as pessoas se lembravam de que podiam ser luz. E no resto do ano... apenas esqueciam. Lucas levantou, voltou para dentro de casa e pensou que, talvez, só talvez, o Natal nem fosse para ser entendido. Era para ser sentido. E, quem sabe, repetido. Mesmo que ninguém perceba. Mesmo que seja só um menino tentando. Mesmo que o mundo ainda não esteja pronto. Ele olhou a rua pela última vez antes de fechar o portão e murmurou: 

— Se todo mundo consegue hoje... então dá pra conseguir qualquer dia. 

E naquele instante, pela primeira vez, Lucas sentiu que o Natal não cabia no calendário. Cabia nele. E naquela noite, antes de dormir, Lucas pensou numa coisa que ele nunca tinha pensado: Talvez o que todo mundo chama de “Natal” seja só o dia em que Jesus nasce dentro de cada um. O problema é que, no dia seguinte, a gente deixa Ele morrer de novo. Não lá em cima. Aqui dentro. “E veio a luz ao mundo... mas os homens amaram mais as trevas do que a luz.” (João 3:19) Lucas não entendeu tudo. Mas entendeu o suficiente. Sorriu, fechou os olhos, e deixou Jesus nascer — pelo menos naquela noite.                

Conto escrito por
Ozanan

Tema de abertura
Jingle Bell Rock

Intérprete
Glee

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima Gisela Lopes Peçanha Paulo Mendes Guerreiro Filho Rossidê Rodrigues Machado Telma Marya

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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