
É tempo de Natal! Todos os rostos estão felizes, em sintonia com a maior festa do ano, que une a humanidade inteira. É Natal. Os sinos tocam, convidando todos para a festa. O badalar ritmado soa como um convite ao amor, à fraternidade, à paz. A cidade e as lojas se enfeitam. Os anúncios sonoros enchem as ruas, convidando os transeuntes, convencendo-os da compra de mais um ou de um último presente. O vaivém das pessoas é como um balé colorido, de passos e ritmos diferenciados: um vai devagar, olhando, analisando o que vê; outro dá passos largos e para ao lado da vitrine ou de algum enfeite; há quem passe rapidamente, em um balé frenético, chuleando entre as pessoas, aproveitando os espaços vagos aqui e ali. Moças elegantes em seu andar cadenciado, pessoas simples que dão passos desconcertados, mães que protegem os filhos levando-os pelas mãos... um verdadeiro labirinto a céu aberto. Apesar da aparente balbúrdia, tudo flui harmoniosamente.
É Natal, e permaneço ali, olhando tudo à minha volta, à espera de algo que nem sei bem o quê. O olhar vislumbra as luzes que enchem a praça com seu brilho colorido. Cada lâmpada compõe uma nota nesta cintilante orquestra de cores. Encanto para os olhos; ânimo para a alma. Tudo fica mais belo, mais vibrante, mais encantado. Nota-se a euforia que toma conta dos passantes. Mas, em mim as luzes ainda não se acenderam. Continuo sentada no banco da praça, sem perspectiva. Só e deprimida, nada me alegra. Nenhum presente a ser comprado, nenhuma vitrine me convida, nenhum enfeite me seduz. Fico alheia ao toque dos sinos. A música natalina passa pelos ouvidos, mas não me penetra a alma, inquieta e solitária.
É Natal, e meu coração está angustiado. Sinto-me petrificada. Tudo à minha volta parece um sonho que acontece longe de mim. Os sons se misturam e me ensurdecem. Quero sair, mas o corpo não responde. Quero andar, no entanto os pés parecem pregados no chão. Quero alegrar-me, entretanto o sorriso não sai. As cores do Natal desapareceram. Tudo agora é cinza, como um borrão de nuvens em tempo chuvoso. A alma se enche de melancolia.
Nesse estado lastimável, por um descuido, deixei aberta uma fresta da janela da emoção, que há muito trancara a sete chaves. Por essa fresta, percebi, mais perto de mim do que eu gostaria, uma mulher e seus três filhos. Uma mulher nova, bonita, atraente até. Cabelos soltos, roupas simples, ombros caídos e olhar desolado. Os filhos, dois meninos e uma menina, linda, de cabelos louros e anelados. Os meninos olhavam juntos algo que, por estarem do outro lado da mãe, não consegui identificar. Um jogo, um tablet talvez. A menina brincava com flores que apanhara no jardim da praça. Arrumava, desarrumava, agrupava e conversava com elas. Fiquei a olhar aquela menina, num misto de curiosidade e ternura. Percebi quando ela pegou uma flor e ofereceu-a à mãe. Mais alguns segundos, vi quando ela me olhou e encontrou meu olhar. Um pouco sem graça, ela voltou a olhar as flores. Depois levantou os olhos novamente em minha direção. Tentei, em vão, desviar o olhar. Ela sorriu para mim de um jeito diferente, como se conhecesse as minhas dores, as minhas angústias, os meus medos. Mas meu coração permaneceu fechado. A menina deu alguns passos em direção ao jardim. Voltou depois, apressada, aproximou-se devagar, ofereceu-me uma flor e sorriu. Naquele momento, algo em meu coração foi desbloqueado. Sorri de volta e levei a mão para apanhar a pequena flor. O olhar puro da menina mexeu comigo e me fez perceber o que estava acontecendo ao redor. Agradeci o presente e coloquei a flor nos cabelos. Pedi licença, levantei-me e comecei a caminhar.
Andei seguindo o grupo dos que passam apressadamente, buscando os lugares mais vazios para adiantar os passos. Resoluta, atravessei a rua e entrei na grande loja da esquina. Afinal era Natal, e eu precisava comprar presentes. Saí da loja carregada de emoção e de sacolas, de todos os tamanhos. A passos lentos, apinhada de sacolas, atravessar a rua de volta foi uma verdadeira aventura. Quando finalmente pisei na praça, andei rápido, procurando o ponto de partida. A alguns passos daquele banco, senti a presença e o olhar da menina que, com certeza, estava curiosa. Aproximei-me e sorri para ela. Entreguei-lhe um presente. Recebi de volta o sorriso mais lindo que já vira. Olhei para a mulher. Ela olhou-me sem muita expressão. Desejei-lhe um “Feliz Natal”. A resposta veio com uma voz fraquinha, quase ininteligível. Abri então as sacolas e entreguei presentes para a família toda. Para as crianças foi uma grande festa; para a mulher, o alento de saber o contentamento dos filhos. O brilho no olhar, os risos e as palavras de agradecimento vieram de todos.
Saí dali a passos lentos, cadenciados, quase flutuando. O coração batia em outro compasso agora. O colorido da cidade refletiu também em mim. Senti a mágica daquele momento. Entendi que a magia do Natal é trazer alegria para o coração de alguém. E foi justamente o que aconteceu comigo. Ao entregar aqueles presentes, a alegria maior veio para mim, pois, apesar de estar só, pude tornar especial o Natal daquela menina, que me cativou, e de sua mãe e irmãos. Cada sorriso recebido veio como combustível para aplainar minha melancolia.
É Natal, e os sinos tocam. Minha alma fica em paz.
Tema de abertura
Jingle Bell Rock
Intérprete
Glee
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO

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