
Sentada na sua cadeira favorita, pernas para o alto, vovó sempre começa o mês de dezembro com a mesma declaração:
— A época de Natal é a minha preferida! Todo mundo se emociona… bem, quase todo mundo, porque sempre tem um desmiolado indiferente por aí.
Nós rimos, porque na nossa família ninguém passa dezembro indiferente. Quando o mês chega, cada um entra em “modo natalino automático”.
Papai e tio José sobem e descem escadas colocando pisca-piscas como se iluminassem a Avenida Paulista. Maria passa o dia lavando panelas que eu nem sabia que existiam.
Mamãe e vovó abrem o armário “dos guardados especiais” e tiram as toalhas e os guardanapos mais bonitos, aqueles que só veem a luz do dia no Natal e, às vezes, no aniversário de casamento.
E tia Geni? Ah… essa é a general da decoração.
Chama as crianças, abre o maleiro e comanda:
— João Pedro, leve os pisca-piscas.
— Arthur, pegue os laços vermelhos.
— Joana, leve os papais-noéis.
— Felipe, leve as estrelas.
— André, pegue a caixa dos anjos.
— Marina, pegue as bolas douradas.
— Mariana, pegue as outras estrelas.
A sala vira uma bagunça mágica. Entre um “shhhh!” e outro, tia Geni monta a árvore de Natal e o presépio, conta a história do nascimento de Jesus para as crianças, enquanto elas a enchem de perguntas:
— Tia, o Menino Jesus chorava muito? Ele mamava mamadeira?
— Fique quieta, Joana! Naquele tempo não existia mamadeira! — esbravejou Arthur, do alto dos seus oito anos.
— Tia, Papai Noel vai ler nossas cartinhas?
— Aqui não tem chaminé, como ele vai entrar?
Tia Geni suspira, dá um sorriso e vai respondendo às perguntas carinhosamente. É sempre assim.
Este ano, teremos uma novidade que era o segredo bem guardado das crianças: o tio Oto ficou responsável por contratar um Papai Noel “de verdade” para entregar os presentes.
À tarde, nos sentamos na varanda para escrever as cartinhas e sortear o amigo secreto. Esses momentos valem por uma eternidade — as perguntas, a inocência, a confusão dos adultos que deixam tia Geni maluca… Natal sem isso não é Natal!
Chega, enfim, a véspera.
A casa está iluminada e um perfume só: temperos, farofa, rabanada…
As crianças jantam cedo e, antes de dormir, cantam parabéns para o Menino Jesus com a empolgação de quem está prestes a ganhar o universo inteiro.
De repente, escuta-se tlim-tlim-tlim… sininhos!
Tio Flávio arregala os olhos:
— Quem será?
As crianças correm para a porta.
E entra ele: Papai Noel — um pouco torto, um pouco suado, carregando um saco enorme.
Mas em vez do tradicional "OH-OH-OH", o que se ouve?
— ATCHIM! ATCHIM! ATCHIIIM!
A barba balança perigosamente. O bom velhinho tenta se arrumar, tropeça, quase derruba a árvore — que a Tia Geni corre segurar — e mais uma vez:
— ATCHIM!
As crianças se entreolham.
Os adultos travam o riso.
Tio Oto corre e leva o Papai Noel até o lavabo.
— O que está acontecendo, homem de Deus?
O Noel, coçando o nariz vermelho, sussurra:
— A barba… dá alergia. O rapaz que viria no meu lugar… não pôde vir. Vim eu mesmo!
Tio Oto respira fundo, enxuga a barba com a toalha, ajeita no lugar e devolve o Papai Noel para seu palco improvisado.
De volta à sala, Papai Noel toca o sino e começa a ler a primeira cartinha. Ou tenta. Aperta os olhos, vira a carta de lado, confunde “Marina” com “Mariana” e entrega o presente errado. E segue assim, trocando nomes, lendo do jeito que dá, mergulhando no saco como se procurasse um tesouro.
Quando as crianças começam a abrir os presentes, começa a confusão:
— Eu pedi boneca Barbie! — grita Marina.
— E eu pedi ursinho carinhoso! — reclama Mariana.
A sala vira uma assembleia mirim indignada.
No meio da balbúrdia, Felipe, meio desconfiado, ergue a barba do Papai Noel. O Arthur aperta o “barrigão”. Rapidamente a verdade aparece como pisca-pisca queimado: aquele Papai Noel era… bem… humano demais.
Tio Oto, meio sem saída, pergunta o que houve.
O bom velhinho, vermelho de vergonha, diz:
— Eu… estou desempregado faz tempo. Não enxergo direito, mas precisava muito do trabalho. A alergia à barba eu não sabia, mas… eu queria fazer bonito e deixar a criançada feliz. E sempre sonhei me vestir de Papai Noel.
A sala silencia.
Tia Wilma toma a palavra:
— Crianças, façam assim: abram todos os presentes e troquem entre vocês, cada um pega o que pediu ao Papai Noel. E vamos agradecer a esse Papai Noel que, mesmo cheio de dificuldades, veio trazer alegria pra vocês.
As crianças voam para os presentes… e depois voltam correndo para abraçar o Papai Noel atrapalhado.
Tio Flávio coloca a mão no ombro dele:
— Depois do feriado vamos levá-lo ao oftalmologista. E vamos comprar óculos novos, hein? Você merece enxergar o mundo direitinho.
O Papai Noel — agora sem barba, sem saco, mas com um sorriso maior que o Natal inteiro — enche os olhos de lágrimas.
— Foi a noite mais feliz da minha vida.
E nós todos sentimos, naquela hora, que era isso: o verdadeiro espírito do Natal passando pela sala, entre abraços, risos, presentes trocados e um novo amigo para a família!
Tema de abertura
Jingle Bell Rock
Intérprete
Glee
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO

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