O
tempo, impiedoso, avança sobre a ampulheta, roubando-lhe quase todos os grãos
de areia… O país respira as eleições presidenciais e está dividido entre duas
correntes políticas que se digladiam para manter-se no poder com o povo no
cabresto. Por todos os cantos, o Brasil é invadido por motociatas, que avançam
às principais rodovias do Brasil, conduzidas pelo principal mandatário, que
mesmo sem usar o capacete e dono de uma empáfia singular, é ovacionado por onde
passa, aos gritos de um turba ensandecida, trajando as cores da bandeira.
Chamada de patriota, esta gente alega defender a liberdade, os valores
cristãos, a Pátria e a Família.
São
milhões e milhões, que glorificam o seu nome, escorados nas falácias
meticulosamente arquitetadas pelos ditos servos de Deus, que maculam os altares
das igrejas com a podridão da política. Se o Messias já chegou? Ele está
sentado na cadeira de presidente, de onde só Deus poderá retirá-lo, anunciam os
falsos profetas a um público sedento do verdadeiro Espírito Santo.
De
outro lado, as cores vermelhas balançam, é o comunismo se instalando com seus
longos e fortes tentáculos – espalham os adversários, diante da própria
ignorância –, na figura de um senhor de setenta e seis anos, duas vezes eleito
à presidência, que diz defender os mais pobres; seus olhos trazem paz, sua fala
popular atrai e convence, seu modo de lidar com os mais frágeis se assemelha,
em alguns episódios, ao populismo de Getúlio Vargas¹. É chamado de Ladrão pelo
oponente; de Esperança pelos seguidores.
Na
intensa batalha que se trava na esgotosfera², ele é alcunhado de defensor do
aborto e das minorias, pai da corrupção, descondenado dos crimes que a ele
foram imputados… Para os patriotas, é uma marionete do STF, de Alexandre de
Moraes e de sua trupe, como se o Brasil fosse um circo. E não é? Não! Berram
alguns! Aqui é lugar sério, tanto que se cercar, vira hospício.
Se
Policarpo Quaresma saltasse da obra de Lima Barreto, ainda assim morreria pelo
país? Na atual situação, seria de duvidar! Aliás, ser brasileiro em tempos tão
nebulosos já é um desafio. E enquanto essas duas forças duelam sem limitar os
ataques pessoais, sem oferecer um caminho próspero aos mais de 210 milhões de
brasileiros, o país não para. A Covid ainda faz vítimas, a fome permanece no
sertão, a economia desaba e a segurança pública, pasmem, escala níveis que
despertam inveja nos países mais violentos de um mundo já marcado por tantas
dores. Assaltos a casas, comércio e principalmente a bancos eclodem aqui, ali e
acolá, deixando muitas vítimas pelo caminho. Ninguém está seguro! De fato, como
dizem os mais antigos, um ano para entrar para a História… do Crime!
E
foi em uma das batalhas mais violentas entre polícia e bandidos, ocorrida em
Araçatuba, no interior paulista, que a criminalidade demonstrou sua força.
Moradores aterrorizados deitaram-se no chão, tentando defender-se das balas,
que se multiplicavam, deixando sua marca em tudo o que tocavam. O embate dura
tempo suficiente para ascender ao trending topics. O Brasil assiste a tudo
perplexo; há até quem compare aquela disputa à dos presidenciáveis, que se
utiliza apenas de uma outra munição.
Após
uma sequência de tentativas frustradas, a polícia rende, enfim, o bando. Nele
estão Ribeiro e alguns outros conhecidos do Português, que são imediatamente
encaminhados para o presídio mais próximo, exceto o líder, que segue para
Brasília, onde consta um mandado de prisão expedido há meses, por participação
no atentado que resultou no combate na Sol Nascente, na destruição da delegacia
e na morte de quase toda a equipe policial que estava de plantão.
Na
Papuda estão Enrico e Duarte, ambos aguardam o prisioneiro, precisam dele,
porque sabem que por trás do assalto está a Deusa que se fez de Bandida. Isso
era obra dela! E prendê-la é o que mais desejam. Após provar sua inocência e
reassumir o cargo, o delegado voltou a trabalhar com o amigo, e agora, entre os
mais próximos, são conhecidos como Sherlock Holmes e Watson, tal é a sintonia.
O que um pensa, o outro completa. É incrível! Como se os dois fossem apenas um!
O
portão do presídio se abre, a viatura avança, o aparato policial é gigantesco,
o elemento é mesmo perigoso. O preso desce, tem os pés e as mãos acorrentados.
Logo é conduzido para o interior do lugar. Colocado em uma sala, Ribeiro
prepara-se para o interrogatório.
—
Gentil Ribeiro do Carmo, seja bem-vindo às novas instalações — ironiza o
delegado. — Esperamos que goste!
Com
os olhos tomados de cólera, o criminoso range como um animal raivoso,
preparando-se para atacar.
—
Por que me trouxeram para cá? — indaga, confuso. — Fui pego numa parada, no
interior de São Paulo.
—
E que parada, meu amigo!!! Todo mundo assistiu!!! — aplaude Enrico. — Então
você chefiava o bando, não é? Nossa! É uma tarefa difícil, mas se lhe confiaram
é porque é bom no que faz… Esperava outra pessoa! Você é uma figurinha ainda
pouco manjada, apesar da vasta ficha policial.
—
De quem você está falando? — pergunta, numa voz transtornada. — EU SOU O
PATRÃO!
—
Patrão??? — desacredita. — Uau!!! Pois dessa eu não sabia! E você, Duarte?
—
Muito menos, senhor! Pelo jeito o Português agora está delegando a principal
função da Família a qualquer bandidinho de quinta categoria.
—
Sou eu quem manda em todos, seus idiotas!!! — berra, ao perceber que os
oficiais o menosprezavam. — Comigo a coisa é mais embaixo, piscou, meto-lhe
bala sem pensar duas vezes.
—
Verdade??? Então esta Família está mesmo em decadência… Luizinho demorou
décadas para ser preso e você, em menos de seis meses, está no xilindró. Que
patrão mais incrível! — gargalha. — Se o Português te pegar agora, cara, tá
ferrado. O homem não vai deixar barato, você arruinou um de seus negócios e,
pelo que sei, aí dentro — aponta para as celas —, está cheio de cupinchas dele,
basta um simples aceno para que alguém o fure.
Ribeiro
o observa com os olhos agigantados e em total silêncio.
—
Apesar de estar em uma das mais seguras penitenciárias do país, sempre há algum
momento em que os guardas fecham os olhos, abandonam os postos, perdem o foco,
é natural, não é? — continua o delegado, seguindo uma linha de raciocínio que o
levará às revelações de que tanto almeja. — Justamente nestes momentos, algum
engraçadinho se arrisca; de posse de um pequeno objeto cortante, retirado de
alguma parte do corpo, desfere-lhe o golpe… E quando se der conta, estará
estirado no chão, com a boca cheia de formiga. Nossa! — surpreende-se. — Estou
adiantando o futuro, até pareço a cigana, que assim como você, está na Colmeia
há meses, completamente judiada, sofrendo todo tipo de espancamento por parte
das detentas… E de quem foram as ordens? Pago-lhe um doce se adivinhar! — dá
uma risadinha de deboche. — Não sei por mais quanto tempo ela aguentará, da
última vez que estive lá, Aurora estava na enfermaria, com a barriga aberta…
Tem ideia disso? E os guardas não viram nada, não é Duarte? — vira- se para o
amigo, tomado pela dissimulação. — Impossível! Para que servem as câmeras?
—
Queimaram na última chuva, disseram na apuração preliminar — responde o
auxiliar, intrigando ainda mais o bandido, que se mostra acuado diante da
ofensiva.
—
E todos foram inocentados e voltaram a seus postos; mas bastaram duas ou três
semanas para que a infeliz sofresse novo golpe sem que ninguém percebesse. Até
quando? — pergunta o delegado, simulando um momento de indignação. — Se fizeram
isso com ela, o que não farão com você? Temo por sua segurança! Vai que as
câmeras estejam também avariadas e um policial adormeça no posto, seria o
suficiente para que… entendeu?
—
Aonde quer chegar com toda essa conversinha??? — brada o bandido. — Quero
proteção!
—
Proteção??? — faz cara de riso. — Ouviu isso, Duarte? Ele quer proteção!
—
Estou sob a guarda do Estado, exijo meus direitos.
—
A população é que devemos proteger! — mostra-se incisivo, dando um tapa na
mesa. — Que parte não entendeu que aqui está só? Nem Deus, em sua imensa
misericórdia, é capaz de enxergá-lo. Espero que tenha uma boa noite! — diz,
levantando-se da cadeira. — Vamos, Duarte! Este ladrãozinho é carta marcada,
não nos tem nada a oferecer.
—
Vão me deixar… mas… mas… como assim??? — pergunta, num misto de surpresa e
apreensão.
—
Se vire, malandro! — o ajudante sorri.
—
Esperem! Precisam garantir minha segurança — bate na mesa. — Esperem!
—
De um bandidinho qualquer que se vende como Patrão?
Nunca!
Que tenha uma boa noite!
—
Eu sou o Patrão! Entendam! O Português me colocou no topo da pirâmide — começa
a se entregar, caindo no jogo do delegado.
—
E por que ele faria isso se tem contigo a fera, aquela mulher endemoniada, que
por sangue é capaz das maiores atrocidades? Você quer é nos usar, porque sabe,
basta um apelo nosso ao diretor do presídio para que seja posto na solitária,
onde ninguém há de encontrá-lo. Pois nessa não cairemos.
Abrem
a porta para se retirar, quando o bandido lhes atrai.
—
Diana está em ruínas! Aprontou demais!
—
O que disse? — Enrico retorna, mantendo-se ainda em pé. — E como saberemos se
não está mentindo?
—
Dou minha palavra! — responde, suando frio.
—
Palavra, meu caro? E desde quando bandido tem palavra? Valha-me Deus, isso está
melhor que stand-up. Vamos, esse daí não é de nada! — o delegado, como autor de
um plano bem arquitetado, continua a desmerecê-lo, para a ira do condenado, que
à lona, não vê outra alternativa, a não ser revelar tudo o que sabe.
—
EU SEI ONDE ELA ESTÁ!!! EU SEI!!! VOU CONTAR TUDO!!! NADA PASSARÁ EM BRANCO!!!
MAS ME AJUDEM!!!
—
Tudo mesmo? — pergunta Enrico. — Sabe, para um bandidão, você é meio medroso!
—
Cuidado com o que diz, delegado! Se eu não estivesse algemado…
—
Vai me ameaçar? — fixa-se nos olhos dele. — Vai? Pede minha ajuda e depois se
faz de rogado? Qual é a sua malandro? — dá outro tapa na mesa. — Que está com
medo dos homens do Português, não tenho dúvidas, mas se pensa que nos usará,
está enganado. Ou me entrega algo de concreto ou essa noite vai virar
mulherzinha, porque os policiais já estão espalhando aos quatro ventos que além
de assaltante, você também é estuprador! Na cadeia, um cara desses não se cria!
Primeiro o violentam, depois o esfolam vivo!
—
ESTUPRADOR??? — desespera-se. — DE ONDE TIRARAM ISSO???
—
Aprendemos com Diana! — caçoa a autoridade. — Se deu certo com Álvaro, por que
não daria com você? Como é ingênuo…
—
O Estado deve zelar por minha vida…
—
Nós somos o Estado e as únicas vidas que zelaremos serão pelas que sobreviveram
no assalto. E não adianta pedir ajuda, contar com o apoio dos Direitos Humanos,
porque quando seu apelo lá chegar, já estará debaixo da terra, sendo comido com
gosto pelos vermes, sacou, malandro?
—
Quero um advogado! Tenho direitos…
—
Como esse cara pôde se tornar o Patrão? É burro demais! — irrita-se. — Escute
aqui, o que tem a nos oferecer além deste lenga-lenga? Não estou com muita
paciência hoje, se não nos der algo interessante, vamos abandoná-lo de vez e
entregá-lo às hienas famintas do lusitano.
—
E O QUE QUEREM SABER???
—
Onde está Diana??? E por que ela não estava liderando o bando??? Vamos!
Desembuche! Sua última chance! Dou-lhe uma, duas… — ameaça deixar a sala outra
vez, sendo imediatamente contido pelas palavras do detento.
—
Diana se fodeu, cara! Tá na pindaíba! Atraindo coroa pra gente assaltar.
—
Como assim? Ela saiu daqui como quem tinha o rei na barriga.
—
Durou pouco esta fase. Ao chegar em Sampa, a bicha cresceu os olhos sobre os
negócios, como se entendesse de alguma coisa, e terminou na lama. A mina não
tem parafusos!
—
O que foi que ela fez? — cobra, atento aos movimentos dele.
—
Ela deu em cima do Álvaro de novo, que não a queria mais, estava farto de suas
mentiras, de seu humor bipolar, mas se ele não cedesse aos caprichos dela,
seria morto. O cara virou um escravo sexual e isso ele não aceitava. Egídio
adorou e passou a ver na mina uma musa, tanto que a venerava; mas que não se
engane, na cabeça dele, caso ela caísse, ele seria o novo Patrão. E do topo da
pirâmide, ela coordenou assaltos a supermercados, lotéricas, bancos; ordenou a
morte de algumas figuras rivais, com um detalhe, quem matava era ela, porque
sentia um imenso prazer, como se algo se apossasse dela… — narra com certa
indignação. — Precisava ver, quando estourava uma cabeça, gargalhava, dançando,
com a arma em punho, e não tinha quem a tirasse daquele transe. Ela sorvia cada
assassinato como se fosse um presente divino. Bastava desafiá-la para receber
um tiro! Pirada de tudo! Não contente, deu ordem para que a pilantragem
aumentasse os lucros com os roubos de celulares e carros, os golpes por
telefone e caixas eletrônicos, além das que simulavam falsas vaquinhas on-line
para ajudar crianças doentes. Teve a coragem de fazer uma montagem com a
fotografia de uma garotinha com câncer e se passar por parente dela. Álvaro
enlouqueceu. Faria de tudo, menos usar a imagem de uma vítima naquele estado!
Era um bandido de princípios. Ela se viu contrariada e, fora de si, tentou
matá-lo, mas assim como aconteceu com Luizinho, a arma não funcionou. Todo
mundo imaginou que foi a cigana que interveio, mas sei lá, dessa vez ninguém
tinha certeza.
“Certamente,
foi! Aurora é perdidamente apaixonada por aquele ladrão” — pensa Enrico,
enquanto o analisa.
—
Para compensar o fracasso da tentativa — continua Ribeiro
—,
mandou que lhe dessem uma surra, daquelas de tirar o couro. Álvaro apanhou
tanto, mais tanto, que só não morreu porque eu entrei na frente antes que
Egídio desse a última paulada em sua cabeça. Era um show de horrores! —
suspira, balançando a cabeça de um lado para o outro. — Mas passados alguns
dias, ela retornava e dava de novo em cima do cara, como se nada tivesse
acontecido, e o atraía para a cama! O negócio dela era manter o bandido ao
alcance dos olhos e continuar aprontando, afinal, em tudo tinha sua digital.
—
Como assim?
—
Ela gostava de se envolver diretamente nas ações da quadrilha. Veja, Luizinho
dava as ordens, mantinha-se distante, até como uma forma de proteção; já com
ela era diferente, se houvesse um assalto, ela o encabeçaria; se dessem um
golpe num idoso, era ela que o espancava; se enfrentassem a polícia, era ela
quem primeiro acertaria algum policial… Uma coisa doida! Tão doida que os
próprios membros da Família recorreram ao Português, que se fez de morto,
porque ela o estava enchendo os bolsos. A última que inventou era o de atrair
os velhos para programas. Verdade mesmo! — reforça o teor da sua narração. —
Ela postava fotos em vários sites pornôs, cobrando um alto valor… A bicha é
linda!!! Quem não pagaria pra ter aquela formosura numa cama? Só se o cara não
fosse chegado à fruta!
—
Ela se prostituía? — desconfia o delegado.
—
Não, senhor! Era tudo uma farsa!
—
E como funcionava?
—
O esquema era o seguinte, ela sempre marcava o encontro no Monte Olimpo, um dos
hotéis mais caros dos Jardins, região nobre da capital paulistana. Acompanhada
do pretendente, em sua maioria empresários, deputados, senadores e outras
figuras de grande relevância na estrutura social do país, ela subia até o
quarto, onde o envolvia, enquanto um pilantra à espreita os fotografava; quando
iriam para os finalmente, o bandido abandonava o esconderijo e partia para cima
do infeliz, roubando-lhe tudo. Antes que ele pudesse pedir socorro, as fotos
lhe eram apresentadas. Casado e gozando de reputação ilibada, temia pela imagem
pública – e essa gente se preocupa com outra coisa? –, então cedia às
chantagens. O passo seguinte era levá-lo até o caixa eletrônico mais próximo,
em que seria depenado até a última moeda. E lá mesmo o deixavam!
Enrico
lê a fisionomia do criminoso e percebe credibilidade em suas palavras.
—
Fizeram isso diversas vezes, com a participação direta do gerente do hotel, que
recebia uma boa porcentagem do lucro. Há até quem diga que o maluco era a fim
da vagaba, mas isso nunca ficou provado. O negócio ficou tão grande que coube
ao próprio sujeito cuidar da lista de clientes, acredita? Como ninguém
denunciava por medo de que as fotos fossem vazadas, a velharada abastada se
atraía às mentiras contadas de que ela, a Deusa Bandida, em pleno Monte Olimpo,
satisfazia todos os desejos mais íntimos e peculiares dos homens de bem. As
histórias que contavam eram muitas, nem imaginam, por isso vinham coroas de
todos os cantos, inclusive do estrangeiro!!! Álvaro desaprovava tudo isso! Mas
Diana não tinha paradeiro. Ser bandida é uma coisa; louca é outra totalmente
diferente.
—
Quer um copo d’água? — pergunta Duarte, percebendo que ele estava com o fôlego
cansado e os lábios secos.
—
Manda aí…
—
Continue! — determina Enrico. — E o que mais ela fez?
—
Ela tinha uma coisa com criança, principalmente com trigêmeos.
—
Como assim? — pergunta o delegado, associando o relato à falsa trama do
nascimento dos três irmãos dela.
—
Sei lá! — vira o copo, depois limpa os cantos da boca com as mãos. — Teve uma
noite que ela mandou um pivete roubar um carro, aí…
—
Aí…??? — Enrico mostra-se ansioso. — Fale!!!
—
Ela fez uma coisa monstruosa!
—
Como o quê??? Diga logo!!! — determina com veemência.
Ribeiro,
a contragosto, recorda-se de um dos momentos mais cruéis que já presenciou:
“O
rádio ligado ecoa ‘Como é grande o meu amor por você’, de Roberto Carlos,
enquanto o carro segue pela via, conduzido por uma balzaquiana de cor
amorenada, cujo cansaço se evidencia pelas grandes olheiras. No banco de trás
há três cadeirinhas, onde três garotinhos de uns dois meses dormem em paz…
Graças a Deus! — pensa a mãe, afinal, eles haviam passado o dia todo no
hospital, com febre batendo nos quarenta graus, vítima de uma virose qualquer,
dessas que vem e vai sem qualquer explicação.
Aproxima-se
o farol e o carro para aos poucos. A rua está deserta! Nenhuma alma penada para
contar histórias, trocar receitas ou informar as últimas do além. O céu,
enegrecido como só visto em dias de temporal, oculta a lua e as estrelas. Reina
o breu! A mulher olha uma ou duas vezes para o relógio, impacienta-se, queria
estar em casa, ao lado do esposo que a espera, deitada, descansando… Estava
ausente de casa há muitas horas.
O
sinal continua fechado! Irrequieta, pensa avançá-lo, ninguém iria ver e, mesmo
que visse, pagaria apenas uma leve multa, dessas que qualquer “poupancinha” é
capaz de quitar; todavia, a consciência – o ser que vive em nós como se
fôssemos a sua morada eterna –, a proíbe, pois além dela, o carro levava também
os frutos de seu amor… E se, por acaso, algo lhes acontecesse, resquício de um
suposto acidente? Jamais se perdoaria! Melhor esperar! E assim faz! Novamente
olha o relógio, passam das vinte e duas horas.
O
sinal abre. Ela avança, sua casa está a algumas quadras. Ao fazer a curva, um
novo sinaleiro se fecha. O carro novamente para! Um relâmpago corta o céu,
momento em que um jovem passa à sua frente e algo lhe chama a atenção àquela
figura estranha, meio cadavérica, com as calças caídas mostrando a cueca e um
boné vermelho sangue contrastando com a luzerna intermitente que se reflete de
um longo colar preso ao pescoço. Por alguns instantes, perde-se a analisá-lo, é
neste momento que um frio lhe corre a espinha. O sinal permanece fechado! A
emissora de rádio, a pedido de outra ouvinte, por incrível que pareça, repete a
mesma canção do rei. De relance, ela vê os filhos… Está tudo bem! Eles dormem
como anjos! Ao retornar a atenção à figura, não mais a encontra.
—
VÁ LOGO! VÁÁÁÁÁ!!!!!! — a porta do passageiro se abre com violência! Lá está o
rapaz de há pouco, aparentemente sob o efeito de algum entorpecente, com uma
pistola nas mãos, berrando para que saia logo dali. — VÁ LOGO! SE NÃO QUER QUE
EU LHE META UMA BALA NA CABEÇA!!! NÃO ESTÁ ME OUVINDO,
SUA…
SUA…??? — indaga, com a arma rente à cabeça da mulher, que, alucinada pelo
medo, troca o acelerador pela embreagem e afoga o carro. — VAMOS!!! SAIA JÁ
DAQUI!!! SAIA!!!
A
algazarra acorda as crianças, que atormentadas pela situação, emitem um choro
fino, estridente, de alguém que está em desespero, prestes a ser lançado à cova
do esquecimento. Surpreso com a presença dos bebês – algo que ele não havia se
atinado ao invadir o veículo, volta- se à mulher com a saliva escorrendo pela
boca:
—
DESGRAÇA!!! COM ISSO EU NÃO CONTAVA!!! CALE A BOCA DESSES INFELIZES!!! VAMOS,
SUA… VOCÊ… ELES, CAMBADA! CALE A BOCA DESSAS CRIATURAS, JÁÁÁÁÁ!!!!!!
Ela
tenta, sem sucesso, acalmar os pequeninos, enquanto religa o carro.
—
O que está acontecendo lá? — pergunta Ribeiro a Álvaro, sendo acompanhado pelos
olhos curiosos de Diana, que os segue à certa distância.
—
Estranho! Por que o moleque ainda não deu um chega pra lá na mulher e lhe tomou
o carro?
—
Aí tem coisa! — alerta Diana. — Não os perca de vista! Vamos!
—
Meninos… é… é… a mamãe… calma, fi-filhos! Nana neném, que a cuca vem pegar… —
cantarola, numa voz quase inaudível; pensa em tranquilizá-los, evitando que
ambos acabem vítimas do assaltante e “horror urbano” nas páginas policiais dos
sites de notícias. Percebendo ser em vão, volta-se para o bandido e implora: —
Deixe-nos, mo-ço, por favor! Leve a bolsa, esta pulseira… não é de ouro, mas
deve valer alguma coisa… — começa a chorar. — Deixe-nos viver, por favor! EU
IMPLORO!
—
CALE ESSA BOCA! — acerta o queixo dela com as costas da pistola, uma ferida se
abre e o sangue desce, sem rumo, pelo vestido cinza escuro que havia ganhado do
esposo.
—
De-baixo do banco está minha bolsa, pegue-a e se vá… POR FAVOR! — suplica ao
pressentir que seus filhos não se calariam.
—
SÓ ESSA MISÉRIA??? — diz, abrindo a carteira dela com violência. — VAMOS PRO
BANCO… VOU LEVAR TUDO!!!
Mesmo
com a arma apontada à cabeça, ela tenta manter a calma e prossegue o trajeto na
busca angustiada por um caixa eletrônico, antes que uma desgraça de fato lhes
aconteça. Cada vez mais encolerizado com o choro, o rapaz surta de vez e
desfere uma coronhada contra a cabeça de um dos bebês, que desfalece após
convulsionar, levando a mãe a abandonar o volante para atacar o marginal. Dono
de uma força deveras maior, ele a agarra pelo pescoço e a comprime contra a
porta do motorista, enquanto a outra mão, com a pistola, encontra a cabeça de
outro pequenino.
— VOCÊ NÃO VALE NADA, A ÚNICA COISA QUE LHE SOBRARÁ SERÃO OS MIOLOS DESSAS PORCARIAS DE GENTE… — sentencia.
Suas
pretensões são alteradas pelo destino, quando o carro invade a calçada e colide
contra um muro. Sem cinto, o infeliz é atirado contra o vidro, que se estilhaça
com a pancada, enquanto a arma cai do lado de fora e dispara sem rumo.
Após
segundos desacordada, a mulher recobra os sentidos, empurra o indivíduo para o
lado e salta para o banco de trás, na falsa esperança de que os filhos teriam
um final feliz.
—
Pare o carro!!! — ordena Diana.
—
O que fez aquele noia? — pergunta Ribeiro, sem entender. — Era só para roubar o
carro, mas, a julgar pelo rumo dos fatos, ele teve outra intenção. Isso que dá
confiar em viciado, os caras metem louco e estragam tudo.
—
Precisamos ir embora! A polícia chegará em minutos — avisa Álvaro. — É muito
arriscado ficarmos aqui! Diana, você está entendendo?
—
Eu estou ouvindo choro de criança… — põe a mão na arma que se encontra rente ao
corpo.
—
Vamos embora!!! — grita o amado dela.
Contrariando
todas as advertências, ela deixa o veículo e se aproxima do outro bem devagar,
como se o frescor da morte lhe atiçasse o desejo mais letal. Vendo a mulher
chorando diante dos três meninos, aponta-lhes a arma, e antes de atirar, diz
consigo mesma:
—
João, Afonso e Francisco… quem disse que eu não os encontraria? Pois chegou a
hora do acerto de contas! — diz, tomada por uma hipnose, enquanto uma lágrima
desce pelo canto da face. — Vocês destruíram minha vida e eu destruirei a de
vocês!!!
—
Diana, a polícia está vindo, vamos embora!!! — pede Álvaro, se aproximando. —
Ei!!! O que você vai fazer??? — desespera-se ao perceber que ela atiraria nas
crianças. — Pare!!! Paaaare, Diana!!! Paaare!!!Paaaaaaaare!!!
‘Me
desespero a procurar / Alguma forma de lhe falar…’ — continua a canção de
Roberto Carlos no rádio. — ‘Como é grande o meu amor por você…’
—
Eu não tenho nenhum amor por vocês!!! — rebate a letra.
—
DIANA!!! EI, DEIXE DISSO!!! SÃO SÓ BEBÊS!!! VAMOS
SAIR
DAQUI!!! VENHA, MEU AMOR!!! — tenta convencê-la; em vão. — VENHA COMIGO!!!
—
Que criatura é essa??? — pergunta Ribeiro a si mesmo, dentro do carro, fazendo
o sinal da cruz.
—
Não faça isso, moça, pelo amor de Jesus Cristo, são meus bebês! — a mulher os
abraça na intenção de protegê-los.
—
O problema é seu! — responde, vendo nela a mãe que a abdicou.
Antes
que Álvaro conseguisse desarmá-la, a fera ruge, destruindo uma família inteira.
E o choro dos meninos dá lugar a um silêncio sepulcral.
—
DIAAAAAAAAAAANA!!!!!!!!!!!! — descontrola-se Álvaro, diante daquela desgraça. —
POR QUE VOCÊ FEZ ISSO??? POR QUÊ??? ERAM SÓ CRIANÇAS, DIANA!!! CRIANÇAS E UMA
MÃE!!! POR QUE FEZ ISSO??? POR QUÊ??? — chora demais.
—
Eram só três crianças e uma mãe… — repete, completamente fora de si — … João,
Francisco, Afonso e… Leonor!!! É!!! TODOS MORTOS!!!
—
Do que você está falando? — pega-a pelos ombros e a sacode com força, ao
perceber que ela está em uma espécie de transe. — Ei!!! Volte!!! Diana… Diana…
ei… vamos sair daqui!!!”
Ribeiro
abandona as lembranças.
—
Eu nunca tinha visto algo parecido, delegado! Ela matou aquela mulher e os três
meninos com gosto… Foi cruel demais!!!
—
Os trigêmeos ainda repercutem… — anuncia Enrico para Duarte, comovido com o
relato. — E o que aconteceu depois daí???
—
Ela mudou totalmente… Pirou de vez! Passou a dar ordens desconexas, a expor o
bando em suas investidas, a propor ações ruidosas, como a do contrabando de
diamantes para o exterior. Ao invés de seguir o exemplo dos mais experientes,
estudar as variáveis, perceber se o negócio era mesmo seguro e rentável, quis
fazer do jeito dela, contratou algumas mulas, que levariam as pedras dentro do
próprio estômago, como fazem com a coca. Quando chegaram ao aeroporto, um dos
malucos caiu num suador pesado e chamou a atenção da polícia ainda na revista;
levado ao scanner, lá estavam 30 diamantes. E ao invés do cara ficar calado,
chorando feito um covarde, entregou todos os comparsas. O esquema caiu por
terra. A Família perdeu milhões!
Levada
ao tribunal do crime, ela só não teve a cabeça arrancada porque o Português
interveio, para o espanto de todos.
—
E vocês nem desconfiam por que o lusitano a protegeu da morte? — inquire
Duarte, testando o bandido.
—
Dizem que ele é caidinho por ela…
“É
claro, ele a quer e tão logo cobrará a dívida! Isso não vai acabar bem! É só
esperar para ver!” — Enrico comenta consigo mesmo, enquanto acompanha Duarte em
seu questionamento.
—
Só por isso? — continua o auxiliar.
—
Também acho estranho, o homem é frio, calculista, manda apagar quem quer que
seja, basta cometer o menor deslize; com ela foi diferente, ele enfrentou a
todos, dizendo que se alguém a tocasse, seria morto, sem qualquer resquício de
piedade. O cara manda, é o juiz, então para dar uma amenizada no caso,
resolveram lhe aplicar uma pena branda: a de deixar o posto de mandatária da
quadrilha. E foi o que aconteceu. Reduzida a uma criatura insignificante, a
Deusa que era Bandida, perdeu o trono.
—
E o que aconteceu depois? — interpela o delegado.
—
Eu ascendi na organização, para a ira de Egídio, que mais uma vez era passado
para trás. O Português adorava zombar daquele burro, porque todo mundo sabia, o
cara é traíra, invejoso, tomado de ranço; em suas mãos, na primeira
oportunidade, toda a Família iria para o limbo. Então fui nomeado o novo Patrão
e, de imediato, ainda com a cena dos bebês e da mulher na cabeça, ordenei que a
vagabunda cuidasse apenas da atração dos velhos ricos, um crime pequeno, perto
dos que outrora arquitetava e botava em prática.
—
E ela aceitou?
—
Óbvio que não! Deu o seu show de sempre, ameaçando um e outro, mesmo na
condição em que se encontrava, a ponto de Álvaro a estapear para que parasse.
Mas ela não deixaria barato, cada agressão recebida era devolvida na mesma
intensidade, como se um capeta tivesse baixado nela. Incrível! Mesmo franzina,
tinha uma força descomunal. Dizia-se uma fera indomável, com dentes afiados,
garras em posição de ataque, e um desejo insaciável por sangue. Foram
necessários cinco homens para contê-la; se eles não tivessem agido logo, Álvaro
teria partido dessa para uma pior. A coisa foi mesmo feia!
Enrico
e Duarte entreolham-se surpresos.
—
Mas o que ninguém esperava era que Egídio, já muito revoltado – talvez também
mexido pela beleza da mulher –, tomasse suas dores e partisse para cima de
Álvaro, numa briga que quase terminou em morte. A fera, então dominada, fora
levada para um quarto nos fundos da mansão, onde permaneceu dois dias sem comer
e beber. Mas pensa que abaixou a crista? Nunca!
—
Mesmo nestas condições? — estranha o delegado. — Qualquer um esmoreceria.
—
Pois foi o que pensávamos… Até descobrirmos que Egídio lhe contrabandeava
alimentos. De alguma forma o cara estava parado na dela, enfeitiçado, a ponto
de pôr em risco a própria vida. Dizia aos quatros ventos que ela era dele. Como
assim? A puta era de Álvaro, por mais que estivessem separados, ou, na pior das
hipóteses, uma encomenda do Português.
—
E o que fizeram com ele?
—
Alguns socos bastaram para que caísse ao chão pedindo arrego. Toda aquela
coragem era só fachada!
—
E qual o desfecho de Diana? — interroga Duarte, analisando as expressões do
bandido.
—
Ela amansou após algum tempo e passou a viver na coleira de Egídio, ignorando o
amado. Mas como dizem, o tempo cura todas as feridas, e não é que o convívio
entre eles melhorou… Os três passaram a trabalhar juntos, apesar de todos
saberem que o desejo do malandro é o de findar com a vida de Álvaro. E ele está
próximo de conseguir, escreve aí! O bicho é pilantra da pior espécie.
“Sim.
A cigana previu! E será dentro do tal hotel” — relembra Enrico, olhando nos
olhos de Duarte, que o compreende. “Tenho de chegar até este lugar, armar uma
emboscada, e prender toda esta gente, a começar por Diana, mas como?” —
continua, estalando os dedos em seguida.
—
O que foi delegado? — estranha o ajudante. — Se eu estiver certo, o senhor…
—
Exatamente, meu amigo! — responde, com um sorrisinho no canto da boca.
—
Não entendi! — diz o assaltante.
—
E desde quando está aqui para entender alguma coisa? — ralha o delegado. — Só
faltava essa! Pois me responda, ela continua atuando no mesmo hotel, correto?
—
Sim! É uma ordem minha! Mas a bicha está imponente, agora se nega a atender
qualquer cliente; aliás, é ela quem os escolhe. Não tem jeito, com essa mulher,
só matando.
—
É ela quem escolhe os clientes? Mas… mas… como assim?
—
O gerente faz a triagem e só a oferece a quem tiver a maior grana… O esquema é
seguro, como já lhes contei.
—
Então não basta ser rico, tem que ter um nome de expressão para atrai-la?
—
Bem por aí!
—
Hum! — diz, pensativo, enquanto coça o queixo. — Só se eu montar uma farsa…
—
Para pegá-la? — o bandido gargalha. — Como já lhe disse, a vagaba é terrível,
mesmo na lama, ainda é capaz de aprontar… Teria de ser algo bem elaborado,
senão ela desconfiaria! E fique esperto, se ela enganou até o Português, não o
enganaria, delegado?
—
Só tem um jeito… Ele vai ter de me ajudar!
—
Ele? — indaga o auxiliar. — De quem está falando?
—
Venha comigo! — responde, levantando-se da cadeira e abrindo a porta. — Tenho
um plano!
—
Novidade!!! — dá uma risadinha.
—
E EEEU??? — desespera-se Ribeiro. — O senhor me prometeu segurança…
—
E terá, malandro! Ficará enjaulado numa solitária pelos próximos dias. E
aproveite para tirar um momento com Deus e pedir perdão pelos erros que
cometera, se o diabo não o levar antes — debocha.
—
Hã!!! O que quer dizer com isso??? — grita.
A
porta se fecha por um segundo e logo é reaberta por dois policiais, que socam
as palmas das mãos, indicando que o dia não seria dos melhores para o
criminoso.
—
É você que irá para a solitária, “queridinho”? Nossa! O que tem em seu rosto? —
acerta-lhe um soco. — Poxa! Está bem vermelho seu olho! Deixe eu ver se posso
ajudar! — puxa-o pela gola e lhe desfere outro golpe, desta vez contra a boca.
— Credo! Por que está sangrando?
E
a barbárie acontece diante dos olhos vendados de uma Justiça intrinsecamente
corrompida.
Pouco
tempo depois, na mansão dos Vaz…
—
Acharam minha filha? — pergunta Martim, de pijama, na sala de estar,
visivelmente abatido.
—
E sua esposa? — pergunta Enrico.
—
Bem, ela está… está… — procura por uma desculpa — … está em Nova Iorque, disse
que precisava de um tempo, que estava cansada de nosso casamento… Estou muito
só! Por que fui demitir a coitada da Matilde? Seria uma boa companhia neste
momento.
—
Até onde quer levar esta mentira, general? Sua esposa está em um sanatório de
Goiânia e, até onde sabemos, continua cuidando de três fantasminhas. Ela
regrediu no tratamento, não é? O que fizeram não tem perdão!
O
homem desaba em lágrimas.
—
Precisamos do senhor, sabemos onde encontrar Luara, mas para isso será preciso
muita coragem.
—
Ela se perdeu na vida, não foi?
—
Reflexo do que vivenciou dentro de casa, mas não estamos aqui para julgá-lo… O
senhor tem de nos ajudar a chegar até ela.
—
Querem que eu os ajude a prender minha filha??? Por acaso estão loucos??? —
revolta-se. — Jamais faria uma coisa dessas!!! Ela é sangue do meu sangue.
—
Por que não pensou nisso quando a abandonou para cuidar de três meninos que
jamais vieram a este mundo? Terá coragem de escanteá-la outra vez?
—
Eu… eu… nós nunca a abandonamos… — tenta se justificar
—
… ela que não soube entender as circunstâncias.
—
General, se não fizermos nada, a perderemos para sempre e desta vez não terá
volta. Logo ela realmente estará ao lado dos irmãos… É isso que deseja?
Martim
fita-o com aflição.
—
E o que eu posso fazer? Minutos depois…
—
Então será meu motorista? Que coisa mais doida!
—
De doidos vocês entendem — rebate, calando o general, que se senta.
—
Ajudem-nos, senhor, só assim poderá garantir a vida de sua filha.
—
E ela estará mesmo neste hotel, agindo como uma falsa
prostituta,
com a intenção de roubar as vítimas e chantageá-las?
—
Segundo o que apuramos, sim!
—
Mas ela saberá que somos nós!
—
Não! Usaremos um bom disfarce. Confie em mim! — pede Enrico com Duarte às
costas.
— Então, o que me resta? Vamos atrás de Luara! Talvez eu ainda consiga ser um pouco do pai que ela tanto almejou!
_____________
1. Foi presidente do Brasil entre os anos de 1930 a 1945 (período conhecido como Era Vargas) e de 1951 a 1954, tendo sido o presidente que mais tempo governou o Brasil. Entrou para a história do país ao ter realizado várias mudanças econômicas e sociais, principalmente na área dos direitos trabalhistas.
2. Termo pejorativo para se referir ao conjunto de mídias explicitamente alinhado a uma determinada ideologia política.
com ilustrações de
Andrea Mota
trilha sonora
REALIZAÇÃO

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