

FADE IN:
1. INT./RESERVADO NAU REAL/POPA/NOITE 1
Retomada.
Clima tenso. Em ANTHENOKEN com a mão fechada e olhar obcecado. MALIK engole
seco. TUTANCAN dorme.
MALIK
(V.O.)
Pergunto: é o que realmente quer?
ANTHENOKEN
e MALIK SAEM. TUTANCAN abre os olhos como quem finda uma farsa. Suspense.
POPA:
MALIK toca
o ombro de ANTHENOKEN com carinho.
ANTHENOKEN
Esse desejo é maior que tudo! Não o
reconheço. Quando ele me olha, sinto arrepiar até a nuca, como o anúncio de uma
tragédia.
MALIK
É preciso sapiência e
discernimento. É teu filho; teu sangue!
ANTHENOKEN
Os Tirensens sempre derramaram do
seu próprio sangue. Apesar de desejar que fosse diferente, isso não mudará.
ANTHENOKEN,
entristecido, beija a mão de MALIK.
ANTHENOKEN
(Cont’d.) Ele tem um olhar, sabe?! Devorador. É obstinado e consegue tudo o que
quer. Enquanto um de nós vivo for, o outro não terá paz.
MALIK
Sinto-me responsável por isso. Deixe-me
ir para longe daqui com o meu povo e tudo isso terá um fim!
ANTHENOKEN
Jamais! A tua presença é alimento!
Já perdi muito tempo; agora, estou livre e não me prenderei novamente.
MALIK
A nossa relação não terá bons
frutos.
(arrependido)
Escute: estou envolvido em coisas
das quais me envergonho. Nemewá me obr/
ANTHENOKEN
Nemewá! Sempre Nemewá em meu
caminho!
(respira
fundo)
Não diga nada. Não o cabe entre nós.
O que quero e preciso para ser feliz está aqui! O que passou; passou!
Toca o rosto de MALIK que beija a sua mão com
carinho.
MALIK
Adoraria que viesse comigo,
príncipe! Em busca da felicidade; apenas nós; sem nada e ninguém para
atrapalhar! Vivermos uma vida comum, longe daqui. Abro mão de tudo por ti.
Abras a mão de vosso posto e do trono, por mim.
ANTHENOKEN
Não sei! Não sei! O que pedes está
aquém de muitas coisas e valores.
ANTHENOKEN pensativo e MALIK com medo. Suspense.
2. EXT./FOOTAGE: SOL NASCENTE NO DESERTO/DIA 2
Takes
descontínuos de um bando a atravessar o deserto sobre cavalos e camelos em alta
velocidade.
OMAR (V.O.)
Assim o é... E, tão breve, após o descanso, a rainha se pronunciará sobre o destino de Luxor!
3. EXT./PARLATÓRIO DO PÁTIO/DIA
OMAR enrola
o papiro diante vasto público a se dispersar pelo pátio. Desfoque revela NEVERA
preocupada. Ele caminha entre serviçais que armam tendas para um momento
festivo.
NEVERA
(V.O.)
(ríspida)
Aonde ele está?!
4. INT./TEMPLO DE OSÍRIS/DIA
NEVERA segura
OMAR pelo braço.
OMAR
Não me toque, mulher!
NEVERA
Digas aonde o encontro!
OMAR
(sincero)
Não veio conosco. Infelizmente
ficou. E, talvez, seja melhor assim.
OMAR se
desvencilha e começa a andar.
NEVERA
Como tio, és, entre tantas, mais
uma decepção para o Nemewá.
OMAR congela de súbito.
NEVERA
(Cont’d.) Diga-me o que foi feito
dele e seu segredo estará guardado!
OMAR se vira e a fita. Caminha calmamente até
ela.
NEVERA
(Cont’d.) Sei que foste trapaceado
pelo irmão. Renunciou os desejos pessoais por Anounak! Guarda mágoas profundas!
Assim como Nemewá!
OMAR
Não tens idade para essa memória! Uma
serviçal ouve coisas que, se, não apuradas, sabiamente as guardam, como um segredo
pessoal. (T) Nada tenho a dizer a respeito de Nemewá. Sendo ele injustiçado e,
supostamente, sendo o meu sobrinho! Não posso me levar a trair as tradições. Faço
o que deve ser moralmente feito!
Clima tenso.
NEVERA
A traição é um desvio moral ao
mesmo que tempo que é um dever. Não se vive duas verdades! Neste momento, tomar
a posição favorável o coloca como um traidor. Assim, que seja uma traição por
aquilo que é o justo!
NEVERA adianta alguns passos e fica tet-a-tet.
NEVERA
(Cont’d.) A justiça é por Nemewá!
Bem sabes, melhor que ninguém, o que ele sente. Carregas a mesma dor de não suceder
ao pai. Nemewá, mais ainda, pois não teve o reconhecimento do pai e sofre por
uma mãe assassinada.
(lacrimeja/falsa)
Sabe-se qual o sofrimento de agora
que sumiu. Dize-o tu, que o levou em uma nau e voltou sem ele... Aonde está meu
sobrinho?
OMAR
(tom baixo)
Ficou no
Vale dos Reis. A última vez que o vi estava na tumba. E, vivo!
NEVERA
(joga)
Vo busca-lo! Carrego a continuidade
da família. Tudo o que ele sonhou e não teve o tempo de sabe-lo.
Passa a mão
carinhosamente sobre o ventre.
NEVERA
(Cont’d.) Aqui, resguardo O
guerreiro herdeiro das novas gerações.
OMAR
(pesaroso)
Se houver uma vida, de fato,
debruce em clamar aos deuses pelo retorno de Nemewá. É triste a criança crescer
sem a presença do pai.
Suspense.
SHENK
(V.O.)
Ele voltará. É certo!
OMAR SAI pisando duro.
OMAR (V.O.)
Como podes saber?
5. FLASHBACK: EXT./POPA SEGUNDA NAU/NOITE
Tom de segredo. OMAR e SHENK sentados em
um palanque de madeira na popa da nau sob luzes de tochas.
SHENK
Tens que confiar em mim. Não posso
dizê-lo mais nada. Isso traria uma série de conflitos. (T) Confias?!
OMAR
Não tenho outra escolha!
Suspense. Silêncio.
6. EXT./FOOTAGE: DESERTO/MARGENS DO NILO/DIA/NOITE
Efeito de
passagem de tempo oscilando entre caminhadas do bando que atravessa o deserto.
Várias luas e sóis se passam. Dado momento, o bando para à margem do rio. Um
deles desce do cavalo e tira o turbante para tomar água. É Nemewá.
OMAR (V.O.)
Temo que ele não volte?
7. INT./ORÁCULO/DIA
SETNIAK
Voltar, voltará!
OMAR
Vossa afirmação! O que vê?!
OMAR Caminha em volta ao oráculo até
aproximar-se de SETNIAK.
SETNIAK
Sangue; sofrimento! Uma tragédia
recai sobre os Tirenses. Um passo em falso e Luxor não mais prosperará.
OMAR
Como posso impedir?
SETNIAK
Não pode. O que nos cabe é viver um
dia de cada vez.
OMAR
Ao menos uma vez, deixe os enigmas
e mistérios e me aponte as soluções. O que é preciso para evitar a tragédia?
SETNIAK levanta e caminha em silêncio batendo o
cajado em volta do oráculo.
OMAR
(insiste)
(Cont’d.) Por todo o sagrado; ajuda-me
a preservar Luxor!
SETNIAK
(triste)
Consegue sozinho. Um dia de cada
vez.
OMAR
(implora)
Lhe rogo!
SETNIAK
Não posso! O meu tempo findou aqui
e agora. Em poucos dias as inundações chegarão com as baixas temperaturas. Eu,
não estarei mais... entre vós.
Caminha sentido a porta, apoiado em seu cajado.
OMAR
(baqueado)
O que farei sem ti... amigo?!
SETNIAK
Seguirá o teu destino! É consagrado!
O sumo-sacerdócio é uma bênção em forma de sabedoria. Opte pela razão. Se
afaste dos problemas. (T) Cuide do oráculo.
OMAR ajoelha-se em frente ao oráculo.
OMAR
Não sei como fazê-lo!
SETNIAK interrompe o caminho.
SETNIAK
Quando estiver preparado, saberá.
Preocupado e com medo, OMAR baixa a cabeça e toca a testa no chão. Respira fundo e aos poucos sua feição muda para um ar agravante. Lágrimas escorram. Quando se ergue, SETNIAK já não está mais presente. Suspense. Instrumental triste.
8. INT./SALÃO DO TRONO/DIA
ANTHIEPT ao
trono e de frente com ANTHENOKEN. ZAHRA, SHENK e TUTANCAN em volta deles. Ao
redor, escribas, sacerdotes e serviçais os abanam com leques de plumas.
ANTHIEPT caminha de um lado ao outro enquanto se pronuncia.
ANTHIEPT
Todos sabem o motivo pelo qual
estão aqui. E, creio que anseiam por essas palavras que proferirei à respeito
do futuro de Luxor.
Burburinho.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Silêncio! (T) Aqui,
quando a rainha fala, todos se calam.
Silêncio
absoluto. OMAR entra sorrateiro, sem ser notado.
ANTHIEPT
(Cont’d.) O tempo urge; e, uma nova
governança deverá surgir aos vossos olhos. Ainda continuarei aqui, ao trono
como rainha; porém, sem o poder de decisões. O que Luxor precisa é de alguém com
mais vitalidade e o meu tempo se finda em breve.
(sincera)
Imaginei que teria mais força e mais
vitalidade. Estava enganada. Sem mais demora, amanhã, pela manhã, o povo
saudará festivamente o novo faraó. E, por isso, estão aqui: para ajudarem a direcionar
as questões econômicas e diplomáticas deste reino ao próximo governante, que
será o legítimo herdeiro...
Burburinho.
ANTHIEPT
(tom alto)
(Cont’d.) Como dizia: Anthenoken é
o eleito pelo destino e pelos Deuses.
ANTHENOKEN
engole seco. Alguém grita: (V.O.) “E, NEMEWÁ”?
ANTHIEPT
(controla a
ira)
(Cont’d.) Nemewá, se acovardou!
INSERT:
EXT./DESERTO/DIA
NEMEWÁ à
frente de um bando com cavalos a correr pelo deserto.
ANTHIEPT
(V.O.)
Envergonhou-se de suas mentiras;
preferiu seguir a vida em outra cidade, partindo do Vale para nunca mais pisar nestas
Terras sagradas de Osíris.
Puxa o
arreio do cavalo e para. Distante, de cima de um monte de areia, avista Luxor.
NEMEWÁ
(para si)
Amanhã; tomo aquilo que me é de
direito!
FIM DO
INSERT:
SALA DO
TRONO:
Detalhe da
mão de ANTHIEPT esticada.
ANTHIEPT
Venha ao meu lado, meu filho. Serás
o Faraó. O legítimo responsável por tudo o que nossa família construiu.
Sorri orgulhosa.
ANTHENOKEN
(direto)
Não! Não serei o Faraó.
ANTHIEPT
desfaz o sorriso.
ANTHENOKEN
(Cont’d.) Deves ficar como rainha
até que os demais estejam aptos ao trono. Não eu! Não como propuseste.
TUTANCAN
tampa o sorriso de satisfação com as mãos. ANTHIPET desmonta a sua elegância em
uma face monstruosa de poder.
ANTHENOKEN
(Cont’d.) Não vais me obrigar! Há
tempos que deixei de ser um jogo em vossas mãos. Não abrirei mão do que desejo
para ceder aos teus caprichos.
ANTHIEPT caminha em círculos como quem espanta
galinhas.
ANTHIEPT
Saiam! Saiam todos! Deixem-nos aqui!
Temos que definir a entronação de meu
filho. Saiam!
(histérica)
Saiaaaam! Eu ordeno!
Aos poucos,
as pessoas vão saindo enquanto ANTHIEPT, ofegante, fita ANTHENOKEN
demoradamente com ódio. ZAHRA e SHENK abaixam a cabeça em respeito. OMAR fica e
dá alguns passos na direção deles. ANTHIEPT estica o braço rudemente para que
ele pare. ANTHENOKEN se vira para OMAR.
ANTHENOKEN
Não mudarei de opinião, Sacerdote.
OMAR
Não vim lhe convencer do contrário.
Vim expressar a minha admiração. É preciso ter coragem para romper com os
ciclos. Ainda mais para algo tão grande e perigoso para alguém de sua casta. Tens
o dom da sabedoria!
ANTHIEPT
(com asco)
Deves estar sorrindo por dentro.
Isso não durará muito; o vosso Nemewá não voltará. A minha linhagem reinará!
OMAR sorri com canto de boca.
OMAR
A nossa! A nossa linhagem!
Vira-se e ruma à porta. Na porta para e encara
ANTHIEPT.
OMAR
O que me dá paz é saber que os
traços do destino não se deita sob nenhuma intenção humana.
OMAR SAI. ANTHIEPT para ANTHENOKEN:
ANTHIEPT
Como podes jogar ao vento o que seu
pai, vosso avô e todos os nossos antepassados construíram? Como renegas o
próprio destino?!
ANTHENOKEN
Não. Esse não é o meu destino. É o
vosso desejo! Esse lugar pertence à Nemewá. Por tudo o que fez e passou.
ANTHIEPT
Crise de consciência! Perdeste o
juízo?! Nemewá está morto!
ANTHENOKEN
Até que encontrem o seu corpo, ele
é o herdeiro. E, mesmo assim, pesa sobre isso, a condição que impuseste:
afastar Malik de nossas vidas. Isso não vai acontecer. Se subir ao trono, Malik
ficará ao meu lado.
ZAHRA
Isso é humilhante demais para mim
que sou a mãe de teus filhos e a pessoa que deveria estar ao seu lado.
ANTHENOKEN
Ainda serás a rainha. Se eu assumir
o trono, de fato, sentarás ao meu lado como mereces, porém, será evidente aos
olhos de todos que não há mais nada entre nós. Porque esconder algo que todos
já sabem?
ZAHRA, em
prantos SAI apressada. SHENK, lacrimeja, TUTANCAN rói as unhas, pensativo.
ANTHIEPT
(com asco)
Consegue ouvir o que disse?! O quão
sem juízo está! O povo não merece um Faraó fraco. Um amante dos iguais!
ANTHENOKEN
Então, definitivamente, não
assumirei o posto se vago estiver.
ANTHIEPT volta ao trono.
ANTHIEPT
(desiste)
O tempo expirou. E, também não
tenho mais tempo. Estou cansada! (T) Luxor precisa de um governante. E não será
ninguém que não desta família. Pela manhã de amanhã esteja preparado ao
cerimonial. Sentarás ao meu lado.
ANTHENOKEN
Não. Isso não acontecerá. Entendas
que não pode manipular a tudo e a todos. Passo o meu direito adiante. Quer
queira ou, não!
ANTHENOKEN aproxima
de SHENK e toca os seus braços esfregando-os com carinho.
ANTHENOKEN
(Cont’d.) Com todo o respeito que lhe
tenho em meu coração, filho, aceita assumir o trono em meu lugar?
SHENK
(esquivo)
Será... que estou pronto?!
TUTANCAN
(com inveja)
Se não estiver preparado. Eu estou!
ANTHENOKEN
(por cima
dos ombros)
Não ouviste a tua avó? Nós, fracos
e que deitamo-nos aos semelhantes somos indignos do trono.
ANTHIEPT
(chateada)
Não foi o que disse. Se fosse
assim, não teria insistido na tua sucessão.
ANTHENOKEN
Ao pedir que me afastasse Malik foi
o mesmo que dizer que a minha condição é indigna.
(à SHENK)
Este trono é seu, meu filho! É o
que deve estar escrito pelos Deuses!
TUTANCAN
E, quanto a mim?
Tensão.
ANTHENOKEN vai à TUTANCAN, e o fita em seus olhos. ANTHIEPT apreensiva.
ANTHENOKEN
Terás apenas aquilo que mereces. O
que plantaste, será colhido. Teme o seu destino, ou aceita-o de peito aberto?
(T) Pois é o que a vida lhe reserva, meu filho. Infelizmente, por ti, não há o
que possa ser feito!
Faz um gesto de cabeça e SAI. TUTANCAN deixa uma lágrima de ódio escorrer. ZOOM IN em SHENK preocupado. Suspense.
9. INT./TEMPLO DE OSÍRIS/DIA
TUTANCAN
ENTRA rapidamente e se joga de joelhos na fonte. Lava o rosto e desaba em choro
gutural.
TUTANCAN
Ele me odeia! Ele me odeia!
(mordendo)
Antes que ele me destrua, eu o
destruo primeiro.
Choro. Suspense.
10. INT./ORÁCULO/DIA
Chamas
altas. OMAR ajoelhado e com a testa no chão à beira do oráculo. Respira fundo.
OMAR
Apenas a
escuridão!
(irado)
Porque não
revela-te a mim, oráculo? Sou o Sumo-sacerdote desta gente!
Esmurra o joelho com o punho fechado. Em resposta, a chama sobe ao teto e dança em espiral. Luz em excesso. Omar se joga para trás para evitar o contato com o fogo. Tampa os olhos com o braço. A chama se desfaz e ele SAI correndo.
11. EXT./DORMITÓRIO DO PRÍNCIPE/DIA
SHENK e
ZAHRA frente à frente.
ZAHRA
Ele não podia ter feito isso comigo!
SHENK
É por ele, mãe. Está inseguro. Não
se sente preparado. (T) E, outra, Nemewá pode voltar.
ZAHRA
Não voltará!
SHENK
Como pode saber?
ZAHRA o fita rapidamente e abaixa a cabeça envergonhada.
SHENK
(joga)
(Cont’d.) Tens um segredo?
ZAHRA
(evasiva)
Muitas perguntas, Shenk. Nem tudo
tem uma resposta. A maior parte do que se vive é intuição e aposta. (T) Preciso
pensar! Deixe-me sozinha à revisitar a minha mente.
SHENK SAI. Nela pensativa.
12. FLASHBACK: INT./DORMITÓRIO RAINHA/NOITE
Retomada da cena 26, do
capítulo 8. Penumbra. SHENK no corredor ouvindo a conversa.
ANTHIEPT
(V.O.)
Ele é obstinado! Só a morte pode
impedi-lo, ou...
SHENK espia da porta,
ANTHIEPTH e uma pessoa de costa enxugando a cabeça com longos panos.
ANTHIEPT
(Cont’d.) ...trancafiá-lo; num
lugar cuja porta não o deixaria sair nunca mais!
ZAHRA
retira os panos da cabeça e revela a face. DESFOQUE: SHENK surpreso.
ZAHRA
Não sei se quero participar disso.
Um passo em falso e o vosso filho jamais verá o dia novamente.
ANTHIEPT
Pense, Zahra! É a garantia de nossa família no Poder. Participando ou não, o plano será executado. Quero preservar a vida de meu filho! Se, ele não ascender, morrerá!
13. EXT./ESCADARIAS DO PÁTIO/DIA
ANTHENOKEN a
observar os preparativos. SHENK para do seu lado.
ANTHENOKEN
Isso tudo é um erro! Não temos o
que comemorar. Enfim, estou em paz comigo mesmo, agora. (T) Saber de tudo,
deu-me as forças para negar a isso.
SHENK
Eu não entendo. Por qual motivo
renegar o seu destino ao trono?
ANTHENOKEN
o fita e retoma o olhar para as arrumações.
SHENK
(Cont’d.) O que descobriu que lhe
fez renegar o trono; o fato de Nemewá ser vosso irmão? Se for por isso/
ANTHENOKEN
Não! Não é por isso! É por isso!
Ergue a
vestimenta e mostra o ferimento. Pega no braço de SHENK e vira para mostrar a
cicatriz do dia do atentado.
ANTHENOKEN
(Cont’d.) E, por isso! Entende?
SHENK
Feridas fazem a história dos
grandes soberanos, pai.
ANTHENOKEN
Essas feridas da carne não podem
ser maiores que as da alma. Pior quando isso parte de seus familiares.
SHENK
Não posso crer que alguém tenha
tram/
ANTHENOKEN
Seu irmão.
(segreda)
Seu irmão tentou comprar as ações e
o silêncio do assassino que em remorso, arrependeu-se e revelou-se a mim.
(lacrimeja)
Escute! Não cometa o erro que
cometi em crer na inocência daqueles a quem se ama. Aqui, não se pode confiar
em ninguém. Esse covil está repleto de serpentes!
SHENK
Porque me confias tal, se ninguém é
digno de confiança?
ANTHENOKEN
Tens em ti, desde cedo, o
equilíbrio dos grandes homens! Este posto é teu!
SHENK
Lhe sou grato pelas palavras. E,
por sua confiança em me conceder o trono.
ANTENOKEN
Guarda o que vos digo: se quiserem
e insistirem pelo trono, abra mão. Sua vida é mais preciosa e, a sapiência nos
diz que o forte guerreiro retoma o seu posto de origem se permanecer vivo. O
que é teu será teu. Ninguém tomará. Chegará a ti sem esforço.
(com
carinho)
Não morra por isto! É efêmero!
SHENK
O que pretendes fazer de agora em
diante já que será alvo de maldades?
ANTHENOKEN
(olhar
obstinado)
Tenho que me acertar com as pessoas
do meu entorno. E, depois, preciso sair do centro das atenções, pois as pessoas
só comentam aquilo que veem. Pretendo viajar; peço que me conceda o cargo de
relações entre os reinos assim que subir ao trono. Podes me conceder?
SHENK
(com
carinho)
Está concedido. Tudo por ti, meu
pai.
ANTHENOKEN emocionado, passa o braço por trás do filho em companheirismo. Música sobe e eles observam as arrumações.
14. INT./ORÁCULO/DIA
Vista do alto. ZAHRA ENTRA apressadamente. Chama por SETNIAK e o procura. Não o encontra, SAI preocupada.
15. EXT./DESERTO/DIA-ENTARDECER
Ventania. Cobras cortam as areias. Pés e cajado de SETNIAK por entre o bailar das cobras. Suspense.
16. EXT./CORREDORES/CASA DE BANHO/DIA-ENTARDECER
NEVERA
passa com uma tina de água. TUTANCAN lhe aborda.
TUTANCAN
A rainha
lhe ordena que leve um recado ao príncipe, meu pai.
NEVERA
(desconfiada)
Estou indo
ao seu encontro. Deixe que ouço de sua própria boca.
TUTANCAN
És muito
atrevida!
A pega
firme pelo braço.
TUTANCAN
(obstinado/rude)
Não há tempo. O sol se põe e a
rainha urge para que as coisas se resolvam logo para a posse de amanhã. Leve o
recado urgente ou será punida pela própria.
NEVERA
(receosa)
O que devo
dizê-lo?
TUTANCAN
Diga ao príncipe que o escravo
branco o espera na casa de grãos ao romper da noite.
NEVERA
Convivo com a rainha e sei que se
trata de uma inverdade, tal recado.
TUTANCAN
(joga)
Digamos que também tenho interesse
nisso. (T) É uma emboscada! Ela quer findar o relacionamento dos dois de uma
vez por todas. Vá e o diga em segredo! Depois, mantenha sua língua guardada se
não quiser perde-la.
NEVERA
(contrariada)
Sim, amo!
NEVERA SAI
apressada.
CASA DE
BANHO:
MALIK
preocupado. TUTANCAN visivelmente fora de seu juízo se coloca de frente dele
que se levanta agilmente.
TUTANCAN
Não se
curve!
MALIK
Jamais o faria. Não reverencio
assassinos.
TUTANCAN
Assassino?! Até hoje, não
assassinei ninguém. Sou apenas reativo. Ataco se for atacado.
MALIK
Não sei o que pretendes aqui. Diga
o que tens a dizer e deixe-me. Espero por vosso pai. É a ele quem amo.
TUTANCAN
(explode)
Ele não virá! O amor acabou por
causa de um trono! A rainha deu o ultimato e ele preferiu lhe abandonar a
perder a sucessão.
MALIK
engole seco.
TUTANCAN
(Cont’d.) Dói ser trocado?! Foi
assim que me senti quando escolheu a ele e não à mim! O que vim fazer aqui? Lhe
avisar que está livre. O príncipe não quer lhe ver mais. Nunca mais! Eis que me
mandou como seu porta-voz.
MALIK
lacrimeja.
TUTANCAN
(Cont’d.) Sem ninguém no caminho,
poderia me oferecer a ti como um dia o quis. Entendi que não sou homem de
restos. Te matei dentro de mim.
MALIK
(segura o
choro)
De ti, não quero saber nada. E, nem
acredito no que dizes. Vosso despeito faz com que profira essas palavras que
machucam. Seu pai jamais me abandonaria. Estamos apaixonados!
TUTANCAN
Abandonou. E rápido! Acredite! A
rainha sabe ser convincente quando quer. E, se quer um conselho, saia de nossas
vistas o quanto antes. Pois, se, ela não o castigar, retomo à ideia de lhe
amarrar aos cavalos e soltá-los no deserto.
Sorri ironicamente e SAI. Em MALIK enxugando as lágrimas.
17. INT./EXT./TEMPLO DE OSÍRIS/DSERTO/DIA-PÔR-DO-SOL
PORTA
batendo. OMAR se vira assustado. É ZAHRA
ZAHRA
Não encontro Setniak; o viste?
OMAR
Foi cumprir o destino dele.
ZAHRA
Não o compreendo.
OMAR
O tempo dele na Terra... se
expirou! Foi ao caminho da casa dos Deuses.
ZAHRA
(lacrimeja)
Não tem como impedi-lo?
DESERTO:
Cajado de
SETNIAK ao chão. Serpente com olhos turvos como a do adivinho se desenrola do
cajado e serpenteia pelas areias.
OMAR (V.O.)
Uma vez iniciada a caminhada. Só se
para quando se encontra com Rá!
CAM se
afasta e revela o corpo inerte de SETNIAK com os olhos abertos e uma das mãos
direcionadas ao sol. Risos de SETNIAK preenchem a cena. Pegadas surgem passo a
passo como se a alma de SETNIAK caminhasse rumo ao sol.
TEMPLO DE
OSÍRIS:
ZAHRA deixando as lágrimas escorrerem.
ZAHRA
A dor do luto é forte. O tinha como
amigo e confidente. Ele não poderia! Não depois de me revelar a tragédia entre
meus filhos! E, neste momento o meu coração pressente que algo muito grande está
para acontecer. Temo por mim e por meus filhos. Como posso evitar uma tragédia,
Omar? Ajuda-me!
OMAR
O que tiver que ser, será! Ninguém
foge de seu destino. Pode retardá-lo; jamais evita-lo. E, sobre os vossos
filhos, não precisa ser adivinho. A ambição e a inveja estampada no olhar de
Tutancan já mostra que ele não reconhece os limites. É a rainha num corpo de
homem. Se quer, de fato, evitar que ele faça algo, castre o seu ego; não há
outra forma de controla-lo.
ZAHRA apreensiva.
18. INT./DROMITÓRIO RAINHA/DIA-PÔR-DO-SOL
TUTANCAN
senta-se ao leito de ANTIEPTH com um jarro e dois copos. Enche um de BEBIDA e
LHE entrega. Nela desconfiada.
ANTHIEPT
Não beberás?
Ele sorri e
enche um copo. Vira num gole só. Ela sorri e vira o dela. Ele enche de novo.
TUTANCAN
Precisamos esquecer os dias ruins!
É hora de deixar o passado para trás, minha avó. Vida nova à frente!
TUTANCAN sorri e bebe. ANTHIEPT sorri de volta
e vira o copo diante de seu olhar ardiloso.
JUMP CUT:
ANTHIEPT
gargalha bêbada com os olhos quase fechando. Ele sorrindo se levanta fingindo
estar bêbado.
TUTANCAN
Acho que exagerei, minha avó. Estou
como sono!
ANTHIEPT cambaleando, se apoia nele.
ANTHIEPT
Estava gostoso! Porém, amanhã
teremos um novo rei. Seu pai vai ao trono... Não. Seu irmão! Seu irmão!
TUTANCAN
(ardiloso)
Isso me dou muito, avó! Eu poderia
ter sido o eleito!
Ela o segura pelo queixo.
ANTHIEPT
Tudo o que mais queria era ver-te
ao meu lado no trono. Não fosse as tuas escolhas e a tua libido, eu teria lhe
dado esse espaço com orgulho.
TUTANCAN
Meu pai se deita com outro homem e
nem por isso deixou de aventá-lo.
ANTHIEPT toma uma feição mais séria.
ANTHIEPT
Basta! Não me questione. Eu sei o
que faço!
Da um tapa leve de ponta de dedos em seu rosto.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Ele me deu netos. E tu?
Poderia ter sido diferente, afinal, se existe alguém que mais usa o falo neste
reino, desconheço.
TUTANCAN a senta no leito e a ajeita para
deitar.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Nunca mais me questione!
És o que te fiz. Deve-me a tua preleção. Agora, deite-me, quero dormir.
Ele a deita
e a ajeita. A observa a apagar em sono. Abaixa próximo ao ouvido dela e
sussurra:
TUTANCAN
Jamais poderás reclamar mim; como
disseste, sou o que tu me tornou, avó! E, agora. Tenho um acerto de contas à
fazer.
TUTANCAN SAI. ZOOM IN em ANTHIEPT apagada. Suspense.
19. INT./CASA DE BANHO/NOITE
MALIK
pensativo com as mãos à boca. NEVERA, em maldade, se aproxima dele em tom de
segredo.
NEVERA
Tens que evitar uma tragédia!
MALIK
(sem
entender)
Como poderia? E, com quem?
NEVERA
O neto da rainha... Ele mandou-me
dar um recado em vosso nome ao príncipe.
MALIK
Que recado?!
NEVERA
Para que o príncipe o encontrasse
na casa de grãos, assim que chegasse à noite. Creio que ele esteja tramando
algo para impedir ao pai de subir ao trono.
MALIK
(afoito)
Aquele é capaz de tudo! Vou dar um
jeito nisso; agora!
Levanta-se. NEVERA o segura
pelo braço.
NEVERA
Haja o que houver, eu nunca lhe
contei nada.
MALIK concorda e SAI. NEVERA em sorriso velado
de satisfação.
NEVERA
(para si)
Uma tragédia familiar retardará a
sucessão em alguns dias; e, talvez Nemewá retorne em tempo.
Suspense.
20. INT./PÁTIO/RUAS DA CIDADE/NOITE
PÁTIO:
Suspense. Vista do alto.
TUTANCAN passa rapidamente pelo pátio vazio. FX: Relinchos de cavalos e rodas
de carruagem.
RUAS DA CIDADE:
Carruagem passa rasgando as ruas com TUTANCAN em cima.
21. INT./CORREDOR/NOITE
ZAHRA, perturbada tromba com
NEVERA.
ZAHRA
Viste algum
de meus filhos?
NEVERA
Não, senhora; estou com a rainha.
ZAHRA assente com a cabeça e
continua apressada pelo corredor.
NEVERA
(para si)
Tão logo
saberá, senhora! Tenho fé!
Suspense.
22. EXT.INT/FACHADA E CASA DE GRÃOS/NOITE
TUTANCAN desce da carruagem.
Caminha pé-ante-pé (PL. Detalhe) por entre os entulhos no entorno da FACHADA
da casa. Pega uma tora de madeira grossa e pesada. Suspense.
CASA DE GRÃOS:
Impaciente, ANTHENOKEN caminha de um lado ao outro. Respira fundo e se senta sobre as sacas. Olha para o nada pensativo.
23. INT./CORREDOR/NOITE
ZAHRA e SHENK se abraçam.
ZAHRA
(sincera)
Como é bom
vê-lo, meu filho!
SHENK
Vosso coração está acelerado.
Aconteceu algo?
ZAHRA
Não aconteceu nada. Apenas
preocupada com o desfecho da reunião de hoje.
SHENK
Foi estranho! Conversei sobre isso
com o meu pai há pouco; até que ele recebeu um recado para se encontrar com
Malik.
ZAHRA
(disfarça)
Deixe-o! Deixe-o ser feliz. Ninguém
sabe o dia de amanhã. E, vosso irmão? Sabe dele?
SHENK
(preocupado)
Como de costume, possivelmente na
busca pela cura da rejeição nos braços de algum serviçal.
ZAHRA
(preocupada)
Não repita isso! Evite conflitos
com o vosso irmão. Pelo menos até passar esta fase.
Suspense.
24. INT./CASA DE GRÃOS/NOITE
Porta se batendo. ANTHENOKEN
se levanta e dá alguns passos.
ANTHENOKEN
(surpreso)
Tutancan! Não o esperava aqui...
TUTANCAN
Imagino que
esperava o branco!
ANTHENOKEN observa a tora
(POV) na mão de TUTANCAN e se afasta até ficar acuado na parede.
ANTHENOKEN
Não quero
brigar com você!
TUTANCAN
Não haverá briga, pai... Isso é uma
precaução.
Obcecado,
aproxima-se de ANTHENOKEN que transparece o medo.
TUTANCAN
(Cont’d.) Estamos aqui, novamente.
Se lembra do tapa daquela noite em que viste a mim com seu escravo branco?
ANTHENOKEN
engole seco.
TUTANCAN
(Cont’d.) E, da noite do retorno,
na nau? Terias coragem de fazer comigo o que pensaste?
ANTHENOKEN
(altera-se)
Diga o que quer de mim!
Pancada
seca na cabeça. ANTHENOKEN cai desfalecido. TUTANCAN o olha com ódio.
TUTANCAN
(doentio)
Vingança! É só o que quero!
Tensão.
25. INT./CORREDOR/NOITE
ZAHRA leva a mão ao peito, agacha
e grita. SHENK assustado.
SHENK
Fale
comigo, mãe! Fale comigo!
ZAHRA faz
que não com a cabeça.
ZAHRA
Leve-me ao meu leito e não saia do
meu lado; prometa-me que vais ficar comigo!
SHENK assustado. Tensão.
26. INT./CASA DE GRÃOS/NOITE
TUTANCAN joga ANTHENOKEN
sobre as sacas e o observa com asco. CAM passeia pelo cenário e mostra o
porrete de madeira ao chão sujo de sangue. Passeia pelo corpo de ANTHENOKEN até
chegar na testa escorrendo muito sangue. O tom de TUTANCAN é de um psicopata em
série.
TUTANCAN
É assim que termina. Quando puderes
matar primeiro, mate! É assim que a vovó me ensinou.
Porta bate e TUTANCAN se
vira.
MALIK
(baqueado)
O que
fizeste com ele?
TUTANCAN
Nada. Ele
bateu a cabeça quando caiu.
MALIK se aproxima de
ANTHENOKEN e ergue a sua cabeça.
MALIK
(em choro)
Meu amo! Fale comigo! Fale-me!
MALIK
debruça em ANTHENOKEN e chora, TUTANCAN pega o porrete.
TUTANCAN
Vamos
acabar com isso de vez!
MALIK se
vira com os braços sobre a cabeça e se joga esquivando da pancada. TUTANCAN
investe várias vezes para cima dele, até que uma o acerta em cheio na cabeça.
FADE OUT.
27. EXT./FACHADA CASA DE GRÃOS/NOITE
ANTHENOKEN na carruagem. TUTANCAN joga MALIK por cima dele. FX: Carroça em movimento.
28. EXT./REPRESA DO NILO/NOITE
TUTANCAN arrasta MALIK pelas pernas entre as pedras e o joga no rio. Vista por baixo e por dentro do rio. FX: Chicote, relincho e carroça em movimento. O corpo desliza pelo rio e se enrosca à margem. Pés brancos no enquadramento e, depois, as mãos o puxam para fora da água. Revela um beduíno a socorrê-lo furtivamente com outros o observando à distância. Suspense.
29. EXT./DUNAS/NOITE
ANTENOKEN
com mãos amarradas por uma corda ao cavalo. TUTANCAN retira pedaços da pele com
cuidado e o sangue escorre.
ANTHENOKEN
Assim, atiça o cheiro aos chacais!
Que fique a carcaça para contar a história de um rei que nunca o foi.
Dá um tapa
no cavalo que dispara arrastando ANTHENOKEN.
CORTA PARA O:
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P R Ó X I M
O C A P Í T U L O
JOÃO SANE MALAGUTTI
Elenco ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA
Direção
ANDERSON SILVA
BRUNO OLSEN
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO

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