Despedida de Solteira
de Mario Rezende
Cely e seu primo
Mauro gostavam-se desde crianças. Uma atração natural os impelia a brincarem e ficarem sempre juntos. Quando entraram na
adolescência e começaram as transformações dos corpos, foi um no outro que
perceberam as diferenças se realçarem, e, nessa relação, surgiram os primeiros
desejos. As carícias, inicialmente, casuais, eram sentidas com prazer
imenso.
Cely
percebeu que gostava muito dele. Não como primo, mas de uma maneira diferente.
Passou, então, a entender o significado de paixão e o interesse de uma moça por
um rapaz, embora ainda fosse adolescente. Pediu a uma das irmãs dele, que sabia
dos seus sentimentos, para lhe perguntar se também gostava dela, com a
recomendação de que, caso a resposta fosse positiva, dissesse a ele, para
encontrar-se com ela, no mesmo dia, à saída da escola.
Ele foi, lógico! Quando ela o viu, ficou muito feliz e correu ao seu
encontro com o coração disparado. Não precisaram falar nada, tudo já tinha sido
acertado num acordo tácito, que foi selado pelo primeiro beijo, desajeitado
pela falta de experiência, mas festejado por eles como a realização de um
sonho, e, pelas colegas dela, com aplausos e assovios que os deixaram
encabulados e fizeram com que se afastassem rapidamente, para ficarem sozinhos
e fazer os seus planos. A reciprocidade dos sentimentos levou-os a serem,
respectivamente, os primeiros namorados.
Ele passou a esperá-la todos os dias. Namoravam no caminho para a casa
dela, escondidos, agarradinhos no banco do ônibus, pois tinham receio que os
respectivos pais não entendessem e não admitissem o namoro entre eles.
Mas não deu para esconder por muito tempo, pois Mauro ia com mais
frequência à casa dos tios, pretextando visitar os seus avós maternos, que lá
residiam, e eles não conseguiam disfarçar a paixão que os unia, cada vez mais
forte. A família, a princípio, aceitou o namorico, pensando que era coisa de
adolescentes, e, logo, terminaria. Mas, o tempo foi passando e o relacionamento
se firmando e, naquela altura, era conhecido por toda a família. Os pais
passaram a se preocupar com a consanguinidade, pelo risco de encontro de genes
recessivos na família, possibilitando a geração de filhos doentes, e a tentar
afastá-los um do outro sob essa alegação.
Até que o pai de Cely foi transferido para uma cidade no Paraná e não
puderam continuar o enredo amoroso, apesar de que continuaram se correspondendo
por todos os meios possíveis, pois, apesar de estarem afastados, o amor
persistia, doendo no peito de cada um, pela falta do outro.
Sem perspectiva de reatarem o namoro, considerando-se que não eram
adultos e dependiam dos pais, foram levando a vida de adolescentes e namoraram
outras pessoas, apesar de que a chama daquele amor não se apagou.
Passados alguns anos, ela voltou com os pais para o Rio de Janeiro e
foram residir num bairro muito distante, de modo que pouco se viam. Naquela
altura, já eram adultos. Ele trabalhava num banco e estava noivo. Ela soube
disso quando lhe telefonou para dizer que queria vê-lo para conversarem, embora
ambos soubessem que seria difícil reatarem o namoro pelos mesmos motivos
familiares.
Ainda assim, eles se encontraram, conversaram e reviveram os tempos de
namoro. Descobriram que ainda se gostavam, beijaram-se, mas resolveram que
deveriam ser só amigos apesar de ambos jurarem que se amariam para sempre.
Decidida a questão, ela conheceu um rapaz na
faculdade e iniciou o namoro que resultou em noivado e, a partir daí,
preparou-se para o casamento, assim que se formassem, ela e o noivo.
Na proximidade do casamento dela, as colegas resolveram fazer um chá de lingerie. Uma inovação na despedida de
solteira que ajuda bastante no estoque de roupas sensuais, próprias para a lua
de mel, incluindo brinquedinhos eróticos
para apimentar a relação. Uma novidade que chama muito a atenção das mulheres
por ser algo diferente. Chá de panela era coisa do passado. Foi-se o tempo em
que as mulheres só davam adeus à solteirice recebendo panos de pratos e formas
para bolo. As brincadeiras ganharam nova versão.
A celebração combina adivinhações e brincadeiras eróticas com os
presentes recebidos, música, bebida e muita diversão. Num clima de alegria e
liberdade total, tudo poderia acontecer e para o evento se tornar mais picante,
algumas vezes se contrata um stripper. Nesses encontros o objetivo não é
somente dar presente para a noiva, a cabeça da mulher mudou, elas estavam mais
ousadas.
Eram sete horas da noite do sábado anterior ao do seu casamento, quando
Cely, vestida apenas com um corpete branco, cinta-liga e véu na cabeça,
recepcionou suas amigas no apartamento de uma delas, em frente à praia, em
Ipanema, enquanto o noivo encontrava a turma dele, em outro local, que ela
desconhecia. As tias e a mãe, evidentemente, face ao objetivo da festa, não
foram convidadas. Ela não largou a taça de vinho branco que foi reabastecida
algumas vezes, dada a sua espontaneidade.
Quando começou a entrega das lembrancinhas, as amigas faziam piadinhas e
insistiam para que Cely experimentasse cada uma delas, o que a obrigava a ficar
o tempo todo seminua. Os brinquedinhos
eróticos ela recusou-se a experimentar, pois nem pensava em usar aquelas
coisas. Como da festa só participavam mulheres, o clima de liberdade e
sensualidade era grande e contagiante. Quase todas já tinham bebido além do
normal, principalmente tequila. Certa altura, ela já estava dançando só de
calcinha e sutiã, com outras duas, no meio da sala, imitando pole-dance.
Para surpresa de Cely e das amigas, de repente, entrou no apartamento um
rapaz vestido de caubói e mascarado. Foi direto para o centro da sala e pegou a
mão da noiva. A mulherada ficou espantada, a princípio, mas como já estavam num
clima de grande excitamento, pensaram que alguém tivesse contratado um stripper
e começaram a bater palmas. Gritavam e incentivavam a noiva a dançar com ele. O
rapaz atirou o chapéu para as mulheres que disputaram o brinde com alvoroço e
começou a desabotoar a camisa lentamente, encarando a noiva que lhe
correspondia. As mulheres mal continham a euforia, ansiosas para ver até onde
ele ia. Jogou para o lado a jaqueta e a calça jeans e, só de sunga branca,
exibindo o corpo sem pelos e uma cicatriz na coxa direita, pouco acima do joelho,
resultado de um corte feito por um pedaço de vidro quebrado que o Mauro fez,
quando eram crianças e estavam brincando no quintal da casa dele. Com o olhar
sedutor, puxou Cely para colar o corpo dela ao seu. Quando os corpos se uniram
começaram a dançar sensualmente. As mulheres aplaudiam entusiasmadas,
assoviavam e gritavam. Ele deslizou a mão pelo corpo dela, desde a nuca até o
meio das coxas e sussurrou ao seu ouvido: “Eu te amo”. Ela não resistiu e
atracou-se a ele beijando-o com loucura e acariciando todo o seu corpo sem se
importar com a plateia. As mulheres explodiram de entusiasmo. Algumas gritavam
que estavam com inveja, perguntando se também poderiam aproveitar, imaginando
que ele tivesse dito para ela algo irresistivelmente sedutor e sexy que a tivesse
incentivado, e seguiam observando, com avidez, o espetáculo.
Ele a virou de costas e a encostou numa parede, pressionando o seu corpo
contra o dela. Os movimentos dos dois já pareciam exagerados e não se
importavam com as mulheres que os observavam, vidradas, quando ele abriu uma
porta que dava para um quarto. Entraram e trancaram-se.
Se a música não estivesse tão alta, daria para se perceber o silêncio
que as mulheres, boquiabertas, fizeram naquele momento, surpresas, perplexas...
Ninguém parecia imaginar o que estava acontecendo com a amiga a poucos dias do
casamento.
Amaram-se durante cerca de duas horas. Por fim, ela abriu a porta e viu
que a sala estava vazia, apesar de que tinha alguém no quarto da colega, pois
ela ouviu música e vozes em baixo tom. Despediram-se com vários beijos e quase
voltaram para o quarto... Juraram amor eterno. Cely abriu a porta do quarto da
colega, Rafaela, dona do apartamento. Estavam conversando, ela e a Fernanda,
que era sua melhor amiga.
Ela esclareceu para as duas quem era o cowboy mascarado, dizendo que estava muito feliz, pois naquela noite tinha realizado o grande sonho da sua vida e agradeceu às amigas que, sem saberem, lhe proporcionaram a oportunidade de ganhar o melhor presente de despedida de solteira.
Gisela Lopes Peçanha
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
Copyright © 2023 - WebTV
www.redewtv.com
Comentários:
0 comentários: