Os Opostos se Atraem
de Cristina Araújo
— Era hoje ou nunca!, dizia ele para si mesmo, enquanto andava contando
os passos em direção à padaria. Chegando, entrou acanhado e se aproximou do
balcão, mas quando seus olhos a viram, sua coragem o abandonou.
— Em que posso lhe ser útil? — perguntou.
— Quatro pães de sal, por favor. — respondeu sem jeito.
Enquanto ela embalava os pães, ele a observava e sofria por dentro por
ser tão tímido e não conseguir convidá-la para sair, mesmo tendo ensaiado
várias vezes diante do espelho, mas não foi o suficiente. O medo de ser
rejeitado o impedia de tentar.
— Te vi na igreja ontem, você vai sempre lá? — a pergunta o pegou
de surpresa, porque quando a viu na igreja, teve a impressão de que ela não
havia notado sua presença.
— Não! Foi a primeira vez. — na verdade ele só tinha ido porque
havia descoberto que ela frequentava aquela igreja.
— Bem que desconfiei, porque nunca tinha te visto lá antes. — falou rindo. — Hoje vai ter
reunião na casa de um dos jovens, se você quiser ir comigo é só vim me pegar às
seis aqui na padaria, vou direto daqui. — quando ouviu o convite seu coração
encheu de esperança, pois ele que queria convidar acabou sendo convidado.
— Sim! — respondeu no rompante. — Eu volto às seis. — foi falando e já ia saindo sem o pão
quando ela o lembrou.
— Seu pão! — ele voltou sem graça, pegou o pão, agradeceu e saiu vermelho de
vergonha parecendo um adolescente em seu primeiro encontro. Apesar de ele não ser
um adolescente, era com certeza o seu primeiro encontro.
A ansiedade o estava consumindo, ele sabia que era a oportunidade que
precisava para demonstrar suas boas intenções, só não sabia como, porque sua
timidez era como um bumerangue: toda vez que ele tentava superá-la, ela
retornava mais
forte.
Em frente à padaria ele a aguardava, tinha feito a barba e cortado o
cabelo, colocado perfume, até o carro ele tinha mandado lavar, queria muito
causar uma boa impressão. Enquanto caminhavam em direção ao carro, do nada ela
começou a rir alto. Sem entender o porquê, ele ficou mais retraído, abaixou a
cabeça pensando que o motivo do riso era algo referente a sua pessoa. Talvez
risse do seu traje, do seu corte de cabelo ou mesmo do seu jeito acanhado que
para alguns era típico de pessoas bobas, seus olhos se encheram d’água e estava
prestes a dar uma desculpa, voltar para casa, e desabar em prantos debaixo do
chuveiro como sempre fazia, quando se via em situações constrangedoras. Só não
o fez porque quando se virou para se desculpar, o rosto radiante de alegria da
amada o paralisou e ele não conseguiu tirar os olhos dela, que de repente
começou a apontar para sie própria e a se autocriticar.
— Parecemos personagens do filme “A Princesa e o Plebeu”, só que ao
contrário, porque você está parecendo um príncipe, e eu suada, descabelada e
suja de farinha pareço a plebeia do filme. — quando ele a ouviu o comparar com um
príncipe, toda timidez sumiu e a coragem tomou força e sem perceber a
elogiou.
— Está linda! Com certeza será a mais bonita da reunião. — ele mesmo se
espantou com a ousadia e voltou a ficar tímido e vermelho de vergonha.
A reunião foi prazerosa e até ele que era tímido acabou se sentindo à
vontade, porque lá ele encontrou alguns jovens que foram seus colegas de escola
e acabou se enturmando.
Quando ele a deixou em frente à porta de casa, ela novamente o
surpreendeu lhe pedindo o número do Whatsapp, o que foi para ele mais um
sinal de que ele havia conseguido subir alguns degraus em direção ao coração de
sua amada.
Ele estava se preparando para dormir quando o celular avisou que havia
chegado uma mensagem do Whatsapp: era ela lhe desejando boa noite e o
convidando para ir ao cinema no sábado, fazendo o coração do rapaz apaixonado
quase explodir, mas infelizmente ele teria que viajar a trabalho e ia ficar
três semanas fora. Foi com pesar que teve que recusar o convite.
Durante as semanas que se seguiram eles trocaram mensagens, que no
começo eram: “Bom dia!”, “Boa Tarde!”, “Boa noite!”. Depois passaram a ser
“Como você está?”, “Você já se alimentou?”, “Não trabalhe demais.”. Por fim
eles ficaram mais próximos mesmo conversando à distância, até que ele, em outro
ato de coragem, enviou a mensagem com a pergunta, que há muito tempo vem
desejando fazer. “Quer namorar comigo?”, pergunta que foi respondida quase que
imediatamente: “Sim!”. — Quando leu a resposta, seu coração parecia bateria de escola de samba,
em ritmo acelerado, não pensou duas vezes: avisou-a que chegaria no sábado
seguinte e a convidou para um encontro para comemorar o começo do namoro.
Para demonstrar a veracidade dos seus sentimentos, e para que ela não
tivesse nenhuma dúvida, do quanto era importante para ele, pediu que a
floricultura enviasse uma flor todos os dias e a entregasse na padaria, mas
antes procurou saber qual era a flor que melhor representava, o começo de
namoro, e descobriu que era a rosa de cor rosa. Para ele era de suma
importância tornar o primeiro encontro dos dois como namorados, em uma cena
inesquecível como acontece nas novelas.
Enquanto aguardava a hora do voo, ele rememorava as palavras que havia
ensaiado durante a semana, em frente ao espelho, decorou versos e galanteios
que copiou das revistas de namoro. Não era virgem, era seu primeiro
relacionamento e não queria que ela se arrependesse de ter aceitado o namoro,
pois ele sabia que ela já tinha namorado dois antes dele e que fazia apenas
dois meses que havia rompido um namoro de quase um ano, após pegar o ex-
namorado com outra.
Enfim, sábado! Os namorados se preparam para o encontro, ele colocou sua
melhor roupa, comprou o buquê de rosas rosa, e satisfeito sai para ir buscá-la
para passar um tempo juntos, seja no shopping ou em uma praça, dependeria da
escolha dela, porque namoro é isso! É mimar a namorada. Ao mesmo tempo ela
também se prepara para o encontro, usa sua melhor roupa, se enfeita, usa o
perfume mais caro, sua intenção é clara! Quer ser o foco, a única no pensamento
e no coração dele, porque namoro é isso! Conquistar o namorado.
Quando ela abre a porta, os então namorados se olham, e por algum tempo
os dois só enxergam um ao outro, as palavras ensaiadas não saíram e até o buquê
foi esquecido, mas ela se adianta e com um sorriso pega o buquê e agradece, o
convida para entrar e vai à procura de um jarro para colocar o buquê. Ele entra
seguindo os passos dela e a observa com adoração enquanto ela ajeitava as rosas
no jarro. Quando notou que estava sendo observada, ela olhou diretamente nos
olhos dele e sorriu, caminhou em sua direção e sabendo que ele nunca tomaria a
iniciativa de segurar sua mão, ela o agarrou pela mão e de mãos dadas saíram da
casa.
Já fazia um mês que eles estavam namorando, e ele queria levá-la para
jantar em um restaurante chique, desses iguais aos restaurantes que aparecem
nas novelas e filmes de romance, com direito a luz de vela e seresta.
Quando chegaram no restaurante, o maître os conduziu até à mesa
reservada.
Tudo estava indo
bem, até que de repente o ex dela se aproximou, abraçado ao que tudo indicava
ser a mulher, com a qual a havia traído, e com ar de zombaria falou:
— Me falaram que você havia me trocado por um janota podre de rico, dono
de uma grande cadeia de hotéis. — deu um risinho de deboche. — Confesso que não
acreditei, porque você nunca demonstrou ser interesseira enquanto namorávamos. — deu uma pausa e encarou
o atual da ex. — Entretanto, olhando para essa figura patética, que parece que saiu do
túnel do tempo, com essas roupas de mauricinho e esse cabelo, que parece
penteado com vaselina, reconheço que me enganei quanto ao seu caráter, porque
depois de namorar um homem como eu, você pegar uma caricatura dos anos setenta,
só pode ser interesse.
Ela ficou chocada com as palavras dele que não soube o que responder,
tamanha foi a surpresa ao descobrir que seu namorado era rico, que até aquele
momento ela pensava que era classe média. Ele percebeu a decepção nos olhos
dela e abaixou a cabeça aflito, as palavras do ex não atingiram o propósito
desejado, de trazer dúvida sobre o caráter dela, porque ele sabia que ela
desconhecia sua classe social.
— Ainda bem que me livrei de você. — falou com escárnio. — Quem diria, carinha
de boa moça, mas na verdade é uma alpinista social, uma oportunista e, no
português vulgar, uma vagabun...
O ex não tinha
terminado a fala, quando sentiu o melado escorrer pela boca, devido ao forte
impacto do soco dado pelo atual namorado de sua ex, que poderia ter cara de
bobo, jeito de bobo, mas tinha uma boa direita. Foi um soco histórico.
— Saia do meu restaurante, seu monte de lixo, ou vou chamar os seguranças
para tirá-lo. — falou sem gaguejar ou mostrar fraqueza, um lado dele que ela ainda não
tinha visto, o que provou para o seu ex que a aparência dele e a timidez não
eram sinônimos de fraco ou covarde. — Você não vale o chão que ela pisa, se
ousar a referir a ela nesses termos novamente, vou garantir que nunca mais abra
sua boca.
Ao ouvir o namorado a defender com tanta ênfase, ficou confusa, e fez a
si mesmo uma pergunta: “ Se ele realmente acreditava que ela não era
interesseira por que escondeu dela que ele era rico?”
Depois que o ex saiu eles continuaram o jantar, mas o clima havia
mudado, a alegria deu lugar ao desgosto, ela estava lá sentada àa sua
frente, mas era como se não tivesse, parecia muito distante, dos seus lábios
não se ouviu mais nenhum som e ficou o tempo todo do jantar de cabeça baixa.
Ele sabia o que estava se passando, com certeza pensava que ele desconfiava do
seu caráter, por isso escondeu que era um empresário bem-sucedido, ele queria
dizer que ela estava enganada e que ele nunca desconfiou que ela pudesse ser
interesseira, mas não queria mentir.
Quando a deixou em casa, ela foi muito fria e pediu que ele não a
procurasse nunca mais, esse pedido foi como um golpe de punhal em seu peito,
ele tentou se explicar, mas a voz não queria sair, ele nunca teve problemas em
falar com seus concorrentes, de igual para igual quando tratava de negócios, e
nem tinha medo de enfrentar seus adversários, mas quando se tratava de amor,
ele não conseguia vencer a timidez.
No outro dia ele tentou falar com ela pelo celular, mas ela o havia
bloqueado. Procurou-a pessoalmente, mas descobriu que ela havia pedido demissão
da padaria e se mudado, e não souberam informar para onde. Ele contratou um
detetive, precisava encontrá-la para contar o porquê escondeu que era rico, mas
ela sumiu sem deixar pistas, como ela era sozinha no mundo, o detetive não
encontrou nenhum parente para obter informações e os amigos também desconheciam
seu paradeiro, o que fez com que o detetive desistisse do caso.
Já fazia seis meses que ela estava morando na cidade vizinha onde
conseguiu um novo emprego, só que agora era em uma lanchonete. Havia feito
novos amigos, mas não estava namorando ninguém, porque ainda não havia superado
o que tinha acontecido e muito menos esquecido dele. Sempre que lembrava sentia
um aperto no peito, sentia saudade das conversas no Whatsapp, do jeito
que ele a mimava. Sentia falta do cheiro, sentia falta do abraço, sentia falta
de tudo até do jeito tímido de beijá-la.
— Você ouviu o áudio do Romeu apaixonado que está circulando em todas as
mídias? — perguntou sua colega de trabalho. — Ele está procurando sua Julieta.
— Ainda não, ando meio sem tempo para a net. — respondeu dando
atenção à amiga.
— Essa Julieta é uma sortuda, queria eu ser ela. — falou a amiga com
entusiasmo. — O homem além de rico está apaixonado. — explicou. — O coitado está
desesperado, a namorada dele desapareceu, depois que descobriu que ele era
rico.
— Desapareceu como? — ela perguntou desconfiando da coincidência.
— Pediu demissão do emprego e se mudou sem deixar rastro. — contou a colega.
— Qual é o nome dele? — perguntou tendo quase certeza da resposta.
— Ele não diz, usa apenas o codinome Romeu. — explicou a
colega.
— Você tem o áudio salvo? — ela perguntou.
Assim que a amiga colocou o áudio, ela teve suas suspeitas confirmadas,
mesmo tendo se passado seis meses, ela sabia de quem era a voz do áudio. Mesmo
sendo somente áudio, ela podia sentir o quanto foi difícil para ele gravar, o
tremor na voz denunciava que ele não tinha o hábito de gravar áudios.
“Sou um Romeu e estou procurando minha Julieta, que desapareceu sem
deixar qualquer pista para que eu a encontre. Ela é uma garota simples, que
trabalhava em uma padaria, e foi lá que a vi pela primeira vez. Parei lá para
comprar um lanche enquanto esperava o mecânico consertar o meu carro que
havia quebrado a marcha. Não foi ela quem me atendeu, mas enquanto era atendido
por outra, eu a observava, me encantei com o jeito simpático com que ela
atendia uma senhora idosa, depois desse dia, passei a ir comprar pães naquela
padaria, só para vê-la. Aos poucos fui me apaixonando e comecei a pensar em
conquistá-la, porém comecei mal o nosso relacionamento, induzi ela a pensar que
eu era da mesma classe social que ela, tomei essa atitude por já ter sofrido
assédio de pessoas interesseiras por medo ou egoísmo pensei somente em proteger
os meus sentimentos, e para ter certeza, que ela viesse a me enxergar sem ser
influenciada pelos bens que eu possuía, comprei um carro popular para que
o carro não fosse um atrativo. Quanto ao meu jeito de me vestir não mudei em
nada, porque mesmo sendo rico o meu estilo sempre foi comum. Tudo ia bem entre
nós dois até que ela veio a descobrir, infelizmente por boca do ex, quem eu
realmente era. No momento não consegui me explicar, porque não consegui achar
motivos, que justificasse ter escondido minha posição social, que não fosse o
medo de me envolver com interesseiras, ainda não encontro outro motivo, mas não
tive intenção de fazê-la de boba, minha intenção era ter certeza que ela me
amaria sendo um assalariado, tudo que quero agora é dizer que sinto muito tê-la
magoado, mas ela desapareceu, largou seu emprego na padaria e se mudou da
cidade, contratei um detetive, mas ele não conseguiu encontrá-la, por isso
estou gravando esse áudio na esperança de que viralize, e chegue até ela, e ela
saiba que a estou procurando, e só vou parar depois de lhe dizer de joelhos que
sinto muito, mesmo que nunca mais venhamos a nos ver depois, sei que lhe devo
esse pedido de desculpas, por favor compartilhe esse áudio para que chegue até
ela”.
Ela não pensou duas vezes - Desbloqueou no celular e lhe enviou o seu
novo endereço pelo Whatsapp, passou o dia todo verificando as notificações
para ver se ele havia respondido a mensagem. Quando chegou em casa decidiu
fazer uma abordagem direta e ligou para ele, ligou várias vezes e só deu caixa
postal. Depois de uma semana tentando entrar em contato com ele, a ansiedade
acabou dando lugar ao medo de que ele não se importasse mais com ela, porque
havia se passado muito tempo desde que o áudio foi postado nas mídias. Talvez
ele já tivesse outra pessoa em sua vida.
Ela acabou tomando uma atitude de coragem, afinal ela é quem desapareceu
sem dar a ele a chance de se explicar, então ela é quem teria que se expor,
mesmo correndo o risco de se magoar novamente. Agora que sabia que ele a
procurou, era vez dela, procurar por ele, o que não seria fácil porque não
sabia onde ele morava.
Ela voltou para cidade onde o conheceu, e foi ao restaurante onde ouviu
em alto e bom som ele dizer que era dele, mas o maître se recusou a dar
informações sobre o patrão, não tendo outra opção, resolveu procurar o seu ex
infiel. Foi um reencontro chato, na verdade constrangedor, primeiro porque eles
terminaram de forma não amigável e tinha a cena do soco que ele levou por
ofendê-la, mas depois desse soco, parece que ele ficou menos arrogante e a
tratou com respeito, respondendo às perguntas que ela fez. Descobriu que o ex
namorado rico, era dono do melhor restaurante e do melhor hotel da cidade, e
que possuía hotéis e restaurantes em várias cidades do país e no exterior, mas
infelizmente ele não soube lhe informar onde morava, só sabia que sua
residência oficial ficava nos EUA, e que quando está na cidade fica em uma das
suítes do próprio hotel
Ela voltou para casa sem conseguir nenhuma informação que a
levasse a encontrar seu ex-namorado rico. Teve que voltar porque havia tirado
só dois dias de folga do trabalho. Neles, chegou a ir ao hotel perguntar na
recepção por ele, mas a recepcionista agiu como o maître e disse que não estava
autorizada a dar informações sobre os hóspedes, muito menos se tratando do
patrão, sem ter mais onde procurar ela deixou um bilhete na recepção do hotel
endereçado a ele, pedindo que entrasse em contato com ela, agora é esperar que
ele leia e que a responda.
— Mais uma semana se passou e ela não teve resposta da mensagem do Whatsapp
e nem do bilhete deixado na recepção do hotel, o que fez com que ela
acreditasse que para ele a fila já tinha andado.
Ela estava fazendo o suco que o cliente havia pedido, quando ouviu uma
voz conhecida pedir a sua colega que lhe trouxesse um suco de acerola. Quando
ela se virou viu ele sentado em uma das mesas do canto, de cabeça baixa
estalando os dedos das mãos parecendo ansioso, fez o suco de acerola e avisou a
colega que ela mesmo levaria para o cliente, quando lhe estendeu o suco e ele
ergueu a cabeça, seus olhos se depararam com os dela e uma lágrima solitária
escorreu pelo canto do seu olho direito, ela soube naquele momento que se não
tomasse a iniciativa, ele se encolheria dentro de si como uma concha, sorriu
para ele demonstrando que estava feliz em vê-lo, o que fez com que seu rosto
pálido tomasse cor, sem esperar mais, ele se encheu de coragem, e se ajoelhou a
sua frente e a pediu perdão.
O namoro foi retomado, a timidez já não é mais obstáculo, porque os dois
descobriram que se completavam, ela é extrovertida e ele acanhado. O que
faltava em um, sobrava no outro, e assim como na “Lei de Coulomb” assim é no
amor! Os opostos se atraem.
— Era hoje ou nunca!, dizia ele para si mesmo, enquanto andava contando
os passos em direção à padaria. Chegando, entrou acanhado e se aproximou do
balcão, mas quando seus olhos a viram, sua coragem o abandonou.
— Em que posso lhe ser útil? — perguntou.
— Quatro pães de sal, por favor. — respondeu sem jeito.
Enquanto ela embalava os pães, ele a observava e sofria por dentro por
ser tão tímido e não conseguir convidá-la para sair, mesmo tendo ensaiado
várias vezes diante do espelho, mas não foi o suficiente. O medo de ser
rejeitado o impedia de tentar.
— Te vi na igreja ontem, você vai sempre lá? — a pergunta o pegou
de surpresa, porque quando a viu na igreja, teve a impressão de que ela não
havia notado sua presença.
— Não! Foi a primeira vez. — na verdade ele só tinha ido porque
havia descoberto que ela frequentava aquela igreja.
— Bem que desconfiei, porque nunca tinha te visto lá antes. — falou rindo. — Hoje vai ter
reunião na casa de um dos jovens, se você quiser ir comigo é só vim me pegar às
seis aqui na padaria, vou direto daqui. — quando ouviu o convite seu coração
encheu de esperança, pois ele que queria convidar acabou sendo convidado.
— Sim! — respondeu no rompante. — Eu volto às seis. — foi falando e já ia saindo sem o pão
quando ela o lembrou.
— Seu pão! — ele voltou sem graça, pegou o pão, agradeceu e saiu vermelho de
vergonha parecendo um adolescente em seu primeiro encontro. Apesar de ele não ser
um adolescente, era com certeza o seu primeiro encontro.
A ansiedade o estava consumindo, ele sabia que era a oportunidade que
precisava para demonstrar suas boas intenções, só não sabia como, porque sua
timidez era como um bumerangue: toda vez que ele tentava superá-la, ela
retornava mais
forte.
Em frente à padaria ele a aguardava, tinha feito a barba e cortado o
cabelo, colocado perfume, até o carro ele tinha mandado lavar, queria muito
causar uma boa impressão. Enquanto caminhavam em direção ao carro, do nada ela
começou a rir alto. Sem entender o porquê, ele ficou mais retraído, abaixou a
cabeça pensando que o motivo do riso era algo referente a sua pessoa. Talvez
risse do seu traje, do seu corte de cabelo ou mesmo do seu jeito acanhado que
para alguns era típico de pessoas bobas, seus olhos se encheram d’água e estava
prestes a dar uma desculpa, voltar para casa, e desabar em prantos debaixo do
chuveiro como sempre fazia, quando se via em situações constrangedoras. Só não
o fez porque quando se virou para se desculpar, o rosto radiante de alegria da
amada o paralisou e ele não conseguiu tirar os olhos dela, que de repente
começou a apontar para sie própria e a se autocriticar.
— Parecemos personagens do filme “A Princesa e o Plebeu”, só que ao
contrário, porque você está parecendo um príncipe, e eu suada, descabelada e
suja de farinha pareço a plebeia do filme. — quando ele a ouviu o comparar com um
príncipe, toda timidez sumiu e a coragem tomou força e sem perceber a
elogiou.
— Está linda! Com certeza será a mais bonita da reunião. — ele mesmo se
espantou com a ousadia e voltou a ficar tímido e vermelho de vergonha.
A reunião foi prazerosa e até ele que era tímido acabou se sentindo à
vontade, porque lá ele encontrou alguns jovens que foram seus colegas de escola
e acabou se enturmando.
Quando ele a deixou em frente à porta de casa, ela novamente o
surpreendeu lhe pedindo o número do Whatsapp, o que foi para ele mais um
sinal de que ele havia conseguido subir alguns degraus em direção ao coração de
sua amada.
Ele estava se preparando para dormir quando o celular avisou que havia
chegado uma mensagem do Whatsapp: era ela lhe desejando boa noite e o
convidando para ir ao cinema no sábado, fazendo o coração do rapaz apaixonado
quase explodir, mas infelizmente ele teria que viajar a trabalho e ia ficar
três semanas fora. Foi com pesar que teve que recusar o convite.
Durante as semanas que se seguiram eles trocaram mensagens, que no
começo eram: “Bom dia!”, “Boa Tarde!”, “Boa noite!”. Depois passaram a ser
“Como você está?”, “Você já se alimentou?”, “Não trabalhe demais.”. Por fim
eles ficaram mais próximos mesmo conversando à distância, até que ele, em outro
ato de coragem, enviou a mensagem com a pergunta, que há muito tempo vem
desejando fazer. “Quer namorar comigo?”, pergunta que foi respondida quase que
imediatamente: “Sim!”. — Quando leu a resposta, seu coração parecia bateria de escola de samba,
em ritmo acelerado, não pensou duas vezes: avisou-a que chegaria no sábado
seguinte e a convidou para um encontro para comemorar o começo do namoro.
Para demonstrar a veracidade dos seus sentimentos, e para que ela não
tivesse nenhuma dúvida, do quanto era importante para ele, pediu que a
floricultura enviasse uma flor todos os dias e a entregasse na padaria, mas
antes procurou saber qual era a flor que melhor representava, o começo de
namoro, e descobriu que era a rosa de cor rosa. Para ele era de suma
importância tornar o primeiro encontro dos dois como namorados, em uma cena
inesquecível como acontece nas novelas.
Enquanto aguardava a hora do voo, ele rememorava as palavras que havia
ensaiado durante a semana, em frente ao espelho, decorou versos e galanteios
que copiou das revistas de namoro. Não era virgem, era seu primeiro
relacionamento e não queria que ela se arrependesse de ter aceitado o namoro,
pois ele sabia que ela já tinha namorado dois antes dele e que fazia apenas
dois meses que havia rompido um namoro de quase um ano, após pegar o ex-
namorado com outra.
Enfim, sábado! Os namorados se preparam para o encontro, ele colocou sua
melhor roupa, comprou o buquê de rosas rosa, e satisfeito sai para ir buscá-la
para passar um tempo juntos, seja no shopping ou em uma praça, dependeria da
escolha dela, porque namoro é isso! É mimar a namorada. Ao mesmo tempo ela
também se prepara para o encontro, usa sua melhor roupa, se enfeita, usa o
perfume mais caro, sua intenção é clara! Quer ser o foco, a única no pensamento
e no coração dele, porque namoro é isso! Conquistar o namorado.
Quando ela abre a porta, os então namorados se olham, e por algum tempo
os dois só enxergam um ao outro, as palavras ensaiadas não saíram e até o buquê
foi esquecido, mas ela se adianta e com um sorriso pega o buquê e agradece, o
convida para entrar e vai à procura de um jarro para colocar o buquê. Ele entra
seguindo os passos dela e a observa com adoração enquanto ela ajeitava as rosas
no jarro. Quando notou que estava sendo observada, ela olhou diretamente nos
olhos dele e sorriu, caminhou em sua direção e sabendo que ele nunca tomaria a
iniciativa de segurar sua mão, ela o agarrou pela mão e de mãos dadas saíram da
casa.
Já fazia um mês que eles estavam namorando, e ele queria levá-la para
jantar em um restaurante chique, desses iguais aos restaurantes que aparecem
nas novelas e filmes de romance, com direito a luz de vela e seresta.
Quando chegaram no restaurante, o maître os conduziu até à mesa
reservada.
Tudo estava indo
bem, até que de repente o ex dela se aproximou, abraçado ao que tudo indicava
ser a mulher, com a qual a havia traído, e com ar de zombaria falou:
— Me falaram que você havia me trocado por um janota podre de rico, dono
de uma grande cadeia de hotéis. — deu um risinho de deboche. — Confesso que não
acreditei, porque você nunca demonstrou ser interesseira enquanto namorávamos. — deu uma pausa e encarou
o atual da ex. — Entretanto, olhando para essa figura patética, que parece que saiu do
túnel do tempo, com essas roupas de mauricinho e esse cabelo, que parece
penteado com vaselina, reconheço que me enganei quanto ao seu caráter, porque
depois de namorar um homem como eu, você pegar uma caricatura dos anos setenta,
só pode ser interesse.
Ela ficou chocada com as palavras dele que não soube o que responder,
tamanha foi a surpresa ao descobrir que seu namorado era rico, que até aquele
momento ela pensava que era classe média. Ele percebeu a decepção nos olhos
dela e abaixou a cabeça aflito, as palavras do ex não atingiram o propósito
desejado, de trazer dúvida sobre o caráter dela, porque ele sabia que ela
desconhecia sua classe social.
— Ainda bem que me livrei de você. — falou com escárnio. — Quem diria, carinha
de boa moça, mas na verdade é uma alpinista social, uma oportunista e, no
português vulgar, uma vagabun...
O ex não tinha
terminado a fala, quando sentiu o melado escorrer pela boca, devido ao forte
impacto do soco dado pelo atual namorado de sua ex, que poderia ter cara de
bobo, jeito de bobo, mas tinha uma boa direita. Foi um soco histórico.
— Saia do meu restaurante, seu monte de lixo, ou vou chamar os seguranças
para tirá-lo. — falou sem gaguejar ou mostrar fraqueza, um lado dele que ela ainda não
tinha visto, o que provou para o seu ex que a aparência dele e a timidez não
eram sinônimos de fraco ou covarde. — Você não vale o chão que ela pisa, se
ousar a referir a ela nesses termos novamente, vou garantir que nunca mais abra
sua boca.
Ao ouvir o namorado a defender com tanta ênfase, ficou confusa, e fez a
si mesmo uma pergunta: “ Se ele realmente acreditava que ela não era
interesseira por que escondeu dela que ele era rico?”
Depois que o ex saiu eles continuaram o jantar, mas o clima havia
mudado, a alegria deu lugar ao desgosto, ela estava lá sentada àa sua
frente, mas era como se não tivesse, parecia muito distante, dos seus lábios
não se ouviu mais nenhum som e ficou o tempo todo do jantar de cabeça baixa.
Ele sabia o que estava se passando, com certeza pensava que ele desconfiava do
seu caráter, por isso escondeu que era um empresário bem-sucedido, ele queria
dizer que ela estava enganada e que ele nunca desconfiou que ela pudesse ser
interesseira, mas não queria mentir.
Quando a deixou em casa, ela foi muito fria e pediu que ele não a
procurasse nunca mais, esse pedido foi como um golpe de punhal em seu peito,
ele tentou se explicar, mas a voz não queria sair, ele nunca teve problemas em
falar com seus concorrentes, de igual para igual quando tratava de negócios, e
nem tinha medo de enfrentar seus adversários, mas quando se tratava de amor,
ele não conseguia vencer a timidez.
No outro dia ele tentou falar com ela pelo celular, mas ela o havia
bloqueado. Procurou-a pessoalmente, mas descobriu que ela havia pedido demissão
da padaria e se mudado, e não souberam informar para onde. Ele contratou um
detetive, precisava encontrá-la para contar o porquê escondeu que era rico, mas
ela sumiu sem deixar pistas, como ela era sozinha no mundo, o detetive não
encontrou nenhum parente para obter informações e os amigos também desconheciam
seu paradeiro, o que fez com que o detetive desistisse do caso.
Já fazia seis meses que ela estava morando na cidade vizinha onde
conseguiu um novo emprego, só que agora era em uma lanchonete. Havia feito
novos amigos, mas não estava namorando ninguém, porque ainda não havia superado
o que tinha acontecido e muito menos esquecido dele. Sempre que lembrava sentia
um aperto no peito, sentia saudade das conversas no Whatsapp, do jeito
que ele a mimava. Sentia falta do cheiro, sentia falta do abraço, sentia falta
de tudo até do jeito tímido de beijá-la.
— Você ouviu o áudio do Romeu apaixonado que está circulando em todas as
mídias? — perguntou sua colega de trabalho. — Ele está procurando sua Julieta.
— Ainda não, ando meio sem tempo para a net. — respondeu dando
atenção à amiga.
— Essa Julieta é uma sortuda, queria eu ser ela. — falou a amiga com
entusiasmo. — O homem além de rico está apaixonado. — explicou. — O coitado está
desesperado, a namorada dele desapareceu, depois que descobriu que ele era
rico.
— Desapareceu como? — ela perguntou desconfiando da coincidência.
— Pediu demissão do emprego e se mudou sem deixar rastro. — contou a colega.
— Qual é o nome dele? — perguntou tendo quase certeza da resposta.
— Ele não diz, usa apenas o codinome Romeu. — explicou a
colega.
— Você tem o áudio salvo? — ela perguntou.
Assim que a amiga colocou o áudio, ela teve suas suspeitas confirmadas,
mesmo tendo se passado seis meses, ela sabia de quem era a voz do áudio. Mesmo
sendo somente áudio, ela podia sentir o quanto foi difícil para ele gravar, o
tremor na voz denunciava que ele não tinha o hábito de gravar áudios.
“Sou um Romeu e estou procurando minha Julieta, que desapareceu sem
deixar qualquer pista para que eu a encontre. Ela é uma garota simples, que
trabalhava em uma padaria, e foi lá que a vi pela primeira vez. Parei lá para
comprar um lanche enquanto esperava o mecânico consertar o meu carro que
havia quebrado a marcha. Não foi ela quem me atendeu, mas enquanto era atendido
por outra, eu a observava, me encantei com o jeito simpático com que ela
atendia uma senhora idosa, depois desse dia, passei a ir comprar pães naquela
padaria, só para vê-la. Aos poucos fui me apaixonando e comecei a pensar em
conquistá-la, porém comecei mal o nosso relacionamento, induzi ela a pensar que
eu era da mesma classe social que ela, tomei essa atitude por já ter sofrido
assédio de pessoas interesseiras por medo ou egoísmo pensei somente em proteger
os meus sentimentos, e para ter certeza, que ela viesse a me enxergar sem ser
influenciada pelos bens que eu possuía, comprei um carro popular para que
o carro não fosse um atrativo. Quanto ao meu jeito de me vestir não mudei em
nada, porque mesmo sendo rico o meu estilo sempre foi comum. Tudo ia bem entre
nós dois até que ela veio a descobrir, infelizmente por boca do ex, quem eu
realmente era. No momento não consegui me explicar, porque não consegui achar
motivos, que justificasse ter escondido minha posição social, que não fosse o
medo de me envolver com interesseiras, ainda não encontro outro motivo, mas não
tive intenção de fazê-la de boba, minha intenção era ter certeza que ela me
amaria sendo um assalariado, tudo que quero agora é dizer que sinto muito tê-la
magoado, mas ela desapareceu, largou seu emprego na padaria e se mudou da
cidade, contratei um detetive, mas ele não conseguiu encontrá-la, por isso
estou gravando esse áudio na esperança de que viralize, e chegue até ela, e ela
saiba que a estou procurando, e só vou parar depois de lhe dizer de joelhos que
sinto muito, mesmo que nunca mais venhamos a nos ver depois, sei que lhe devo
esse pedido de desculpas, por favor compartilhe esse áudio para que chegue até
ela”.
Ela não pensou duas vezes - Desbloqueou no celular e lhe enviou o seu
novo endereço pelo Whatsapp, passou o dia todo verificando as notificações
para ver se ele havia respondido a mensagem. Quando chegou em casa decidiu
fazer uma abordagem direta e ligou para ele, ligou várias vezes e só deu caixa
postal. Depois de uma semana tentando entrar em contato com ele, a ansiedade
acabou dando lugar ao medo de que ele não se importasse mais com ela, porque
havia se passado muito tempo desde que o áudio foi postado nas mídias. Talvez
ele já tivesse outra pessoa em sua vida.
Ela acabou tomando uma atitude de coragem, afinal ela é quem desapareceu
sem dar a ele a chance de se explicar, então ela é quem teria que se expor,
mesmo correndo o risco de se magoar novamente. Agora que sabia que ele a
procurou, era vez dela, procurar por ele, o que não seria fácil porque não
sabia onde ele morava.
Ela voltou para cidade onde o conheceu, e foi ao restaurante onde ouviu
em alto e bom som ele dizer que era dele, mas o maître se recusou a dar
informações sobre o patrão, não tendo outra opção, resolveu procurar o seu ex
infiel. Foi um reencontro chato, na verdade constrangedor, primeiro porque eles
terminaram de forma não amigável e tinha a cena do soco que ele levou por
ofendê-la, mas depois desse soco, parece que ele ficou menos arrogante e a
tratou com respeito, respondendo às perguntas que ela fez. Descobriu que o ex
namorado rico, era dono do melhor restaurante e do melhor hotel da cidade, e
que possuía hotéis e restaurantes em várias cidades do país e no exterior, mas
infelizmente ele não soube lhe informar onde morava, só sabia que sua
residência oficial ficava nos EUA, e que quando está na cidade fica em uma das
suítes do próprio hotel
Ela voltou para casa sem conseguir nenhuma informação que a
levasse a encontrar seu ex-namorado rico. Teve que voltar porque havia tirado
só dois dias de folga do trabalho. Neles, chegou a ir ao hotel perguntar na
recepção por ele, mas a recepcionista agiu como o maître e disse que não estava
autorizada a dar informações sobre os hóspedes, muito menos se tratando do
patrão, sem ter mais onde procurar ela deixou um bilhete na recepção do hotel
endereçado a ele, pedindo que entrasse em contato com ela, agora é esperar que
ele leia e que a responda.
— Mais uma semana se passou e ela não teve resposta da mensagem do Whatsapp
e nem do bilhete deixado na recepção do hotel, o que fez com que ela
acreditasse que para ele a fila já tinha andado.
Ela estava fazendo o suco que o cliente havia pedido, quando ouviu uma
voz conhecida pedir a sua colega que lhe trouxesse um suco de acerola. Quando
ela se virou viu ele sentado em uma das mesas do canto, de cabeça baixa
estalando os dedos das mãos parecendo ansioso, fez o suco de acerola e avisou a
colega que ela mesmo levaria para o cliente, quando lhe estendeu o suco e ele
ergueu a cabeça, seus olhos se depararam com os dela e uma lágrima solitária
escorreu pelo canto do seu olho direito, ela soube naquele momento que se não
tomasse a iniciativa, ele se encolheria dentro de si como uma concha, sorriu
para ele demonstrando que estava feliz em vê-lo, o que fez com que seu rosto
pálido tomasse cor, sem esperar mais, ele se encheu de coragem, e se ajoelhou a
sua frente e a pediu perdão.
O namoro foi retomado, a timidez já não é mais obstáculo, porque os dois descobriram que se completavam, ela é extrovertida e ele acanhado. O que faltava em um, sobrava no outro, e assim como na “Lei de Coulomb” assim é no amor! Os opostos se atraem.
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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