
Odilon termina de se enxugar após o banho. Veste uma camisa e uma bermuda. Passa pela cozinha; Odílio está sentado à mesa com café da manhã já preparado. Odilon vai até o quintal, pendura sua toalha no varal e retorna para a cozinha. Senta-se numa das cadeiras, próximo a Odílio.
         – Fala o que cê tem pra falar – diz Odilon, frio e seco.
         – Eu não sei se você percebeu que o movimento das lojas e da casa funerária tão fraco. Até as rinhas tão ruim.
         – Da casa funerária eu percebi, das suas lojas e seus negócio eu não sabia – diz Odilon, alterando a tonalidade de sua voz em “suas lojas” e “seus negócio”.
         – Então, eu tava pensando aqui, que a gente podia resolver emergencialmente, pelo menos o problema da funerária – propõe Odílio.
         Odilon balança a cabeça de um lado para o outro.
         – Odilon, vamo fazer do jeito mais fácil de ganhar dinheiro. Eu não posso obrigar as pessoa a comprarem rádio, geladeira, fogão.
         – Eu acho que a gente já tinha conversado sobre isso. Eu não quero mais participar dessas coisa.
         – Odilon, nós tamo sem dinheiro. Você esqueceu que agora eu tô comprando os produtos das lojas de forma legal? Eu não contava que o movimento ia cair e nós ia ficar de mãos atadas. A gente “fabrica” uns defuntos pra se segurar por uns dois meses – explica Odílio.
         Odilon se exalta.
         – Eu já disse que não ia mais participar disso! Para de insistência.
         – Eu também não queria fazer mais isso, mas a gente tá sem alternativa, Odilon. Olha, olha. Vamos fazer o seguinte: eu sei o que você mais quer nessa vida é se livrar de mim. Vamos fazer assim: a gente arranja cinco ou seis enterros esse mês, daí eu te dou 10% dos lucros das lojas. Da casa funerária continua 50% pra cada um, e o melhor: você vai poder ter sua casinha e morar com a Tereza, eu até pago o casamento de vocês dois – propõe Odílio.
         Odilon que estava exaltado, agora está mais calmo, e demonstra curiosidade diante da proposta de Odílio. Ele balança a cabeça de um lado para o outro, fecha os olhos e depois pergunta:
         – Tá. E como vai ser?
         – Você vai deixando as coisas meio que preparadas lá na funerária, que eu vou dar um jeito num carro hoje. Isso é bobagem e dá pra eu fazer sozinho. Acho que vou fazer isso com aquele turco que mora perto do Ferreira, mas ainda tô decidindo. Depois eu dou um jeito num bêbado qualquer. Aí a gente deixa pra fazer outro trabalho no final da semana que vem. Uns outros a gente deixa mais pra frente. O que você acha? – explica Odílio.
         Odilon concorda.
         – Certo.
         – Mas olha: o da semana que vem, acho que pode ser na sexta. Esse eu tava pensando de você levar lá pro rio pra pescar. Como você fez daquelas vezes.
         Odilon fica pensativo.
– Pensa. Você tendo a sua casinha, vivendo a sua vida com a Tereza; a sua “Tetê” – diz Odílio, sorrindo.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela

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