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Antologia A Magia do Natal: 3x17 - Encontro de Natal (Season Finale)

Conto escrito por Agnes Izumi Nagashima
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Sinopse: Um senhor de barba longa e branca que não tinha boa recordação do dia de Natal ia todos os anos na estação de trem esperar o expresso que lhe tirou sua alegria mas ao mesmo tempo ele tem um novo encontro de Natal nesse mesmo trem. Uma história comovente sobre um novo renascer nessa data mágica e especial, o Natal.


3x17 - Encontro de Natal (Season Finale)
de Agnes Izumi Nagashima

O natal amanheceu vestido de cinza e úmido de chuva. As poucas pessoas que caminhavam estavam com guarda-chuva preto e a face sombria.  Os pingos de chuva esparsos num ritmo de adagio. Os poucos sorrisos eram centelhas na escuridão. Caminhava a passos lentos e cantarolava desviando das poças.

A barba longa e branca não negava a sua idade. Era feito de bruma de memórias. Sobrevivia para respirar a vida no sopro da existência e suspiro da alma.  A música e os livros acalmavam-no.

Chegou em sua casa de cor verde com adornos em vermelhos e luzes a piscar para iluminar o breu cinzento ao redor. Um sentimento de alma lavada com a água pluvial. Único problema foi seu livro molhado. Sempre carregava um junto a si nos braços. Mergulhava em cada página, cada linha era um impulso no nado livre da imaginação. Sair dessa realidade de descontentamento geral era a melhor viagem. Gostaria de sair do aquário vital para um mar de sonhos.

Após o banho, sentiu-se animado, preparou uma infusão floral e sentou-se ao piano. A partitura musical ia dos acordes menores até os maiores.  Passou ao solfejo. Inspirado, resolveu se preparar para o seu tão esperado encontro. Já passava o ano todo solitário, mas a noite de natal seria especial, tinha que ser com muito esmero.

Dizem que tudo se modifica com o tempo, mas as lembranças e os sonhos parecem permanecer intactos na memória. A noite de natal não lhe trazia boas recordações. Era uma data esperada avidamente por ser especial para a maioria das pessoas. Noite de ceia farta, presentes trocados e sorrisos estampados. Entretanto, há alguns anos, ele não recebeu esse tão sonhado presente. Na estação de trem, o expresso chegou vazio e não trouxe sua amada esposa e filha. Os olhos azuis marejados, uma torrente de lágrimas escoou pela face, o coração despedaçado em artérias e veias. Isolou-se do mundo social, um completo casmurro, a solidão açoitou seu interior.

Depois de tantos anos, hoje era uma nova oportunidade que se dera. Um encontro. Colocou sua camisa vermelha, terno preto e o cinto com uma grande fivela, desemaranhou os nós do cabelo comprido e branco como a neve. Escovou os dentes, passou perfume e com a mochila nas costas saiu.

O vento álgido soprava arrastando as folhas caídas. Caminhou a passos cadenciados com o coração célere como há tempos não pulsava. Adentrou a estação de trem à espera do expresso. Olhou ao redor para ver se reconhecia alguém. Sussurrou “feliz natal” às pessoas próximas, mas todos pareciam alheios a essa data comemorativa que deveria ser de solidariedade entre as pessoas. Pensou em ir embora, porém não poderia dispor de uma atitude dessas.

Procurou sua poltrona e se assentou. O interior do vagão tinha aquecimento, sua bochecha ficou mais rosada. Tirou o terno, movimentou os dedos e abriu sua mochila. De dentro dela retirou seu saxofone laqueado, levantou-se e começou a tocar uma canção de Natal.

Cada história de vida foi tocada com a música tão inesperada. Desconhecidos juntos se encontraram em vozes a cantarolar no interior do expresso que dessa vez estava carregado de amor e esperança. Uma menina, na sua candura, o indagou:

— O Senhor é o Papai Noel?

Os batimentos de seu coração atingiram a intensidade de alegro. Um sim musical saiu. Abraçaram-se. A menina encantada falou para a mãe:

—  Eu sabia que o Papai Noel iria vir alegrar nosso Natal. É o melhor presente que recebi na minha vida.

Com esse encontro, ele fechou a porta do passado e abriu a do futuro. O expresso trouxe sua vida de volta. Escreveu um livro sobre sua biografia em homenagem a sua amada esposa e inesquecível filha. E todos os anos, nos dias de Natal, ele colocava sua camisa vermelha, penteava sua barba longa e branca e distribuía música e livros para as pessoas.  O silêncio anterior apaziguado com melodia e palavras. Era feito de brumas de esperança.

Conto escrito por
Agnes Izumi Nagashima

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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