| 
 
 CENA 07. CASEBRE. INT. NOITE. 
 
 ABRE em Élio jogando Bastião numa cadeira. 
 
 JOANNE – 
 
 Agora, meu querido, ou você abre o bico ou a gente vai te tratar como 
 merece. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Eu sou padrasto da Tânia. Mas eu não a matei. Sou tão vítima quanto vocês. 
 
 JOANNE – 
 
 Vítima? Tá querendo me tirar de otária, meu caro? Eu conheço os tipos como 
 você. E geralmente eu os mando para a cadeia depois de fazer uma castração. 
 
 Bastião se assusta. 
 
 ÉLIO – 
 
 Bom... Você abrir o bico, velho. Ou então, vai mijar sentado o resto da sua 
 vida. E sabe o que vão fazer com você na cadeia, né? Vai virar marica de 
 marginal. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Mas eu não matei a Tânia. Eu juro. 
 
 JOANNE – 
 
 Élio, vai lá na viatura e traz quatro bisturis.  
 
 BASTIÃO (desesperado) – 
 
 Não, por favor! Eu suplico! 
 
 JOANNE – 
 
 Então trata de cooperar, meu camarada. Porque a coisa tá feia pro seu lado e 
 tende a ficar ainda pior, ouviu? 
 
 Joanne busca Daiana, que estava em outro cômodo e a coloca diante de 
 Bastião. 
 
 JOANNE – 
 
 Tá vendo essa mulher aqui? Ela sabe da tua ligação com o que aconteceu com a 
 Tânia. Você e seja lá mais quem, montou esse plano meticulosamente, apagaram 
 qualquer evidência. Admito uma coisa: dificultaram para a polícia. Mas não 
 existe crime perfeito, meu camarada. Essa mulher aqui sabe da sua ligação 
 com o crime. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Estão blefando! 
 
 DAIANA – 
 
 Eu fui até a sua casa uma vez. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Você tá mentindo, garota. Eu nunca te vi. 
 
 DAIANA – 
 
 Fui, mas fiquei dentro do carro. Eu estive lá com o Teodoro. 
 
 Bastião se assusta. Joanne e Élio percebem. 
 
 JOANNE – 
 
 Tá vendo só? Esse caso tem mais fio solto que novelo de lã velho. 
 
 ÉLIO – 
 
 A gente já sabe da sua ligação com Teodoro e que você também o assassinou. 
 
 BASTIÃO (gritando) – 
 
 Jamais! Eu jamais mataria um filho. 
 
 Em Joanne e Élio surpresos. 
 
 CENA 08. APARTAMENTO DE ESTHER. SALA DE JANTAR. INT. NOITE. 
 
 Esther e Sabine se encaram. 
 
 ESTHER – 
 
 Eu já sei de tudo. 
 
 Lucas se levanta. Põe-se entre as duas. 
 
 ESTHER – 
 
 Sei que você e sua família são um bando de macumbeiros. Sei que você e o 
 Lucas estão de caso. 
 
 LUCAS – 
 
 Não tem caso nenhum, mãe. Sabine e eu estamos namorando. 
 
 ESTHER (incrédula) – 
 
 Não diga uma coisa dessas, meu filho. Eu te eduquei muito bem para se 
 engraçar com esse tipo de gente. 
 
 SABINE – 
 
 Que tipo de gente eu sou? 
 
 ESTHER – 
 
 Uma raça que merece ser exterminada da Terra. Você é uma bruxa. Garanto que 
 fez feitiço pro meu filho. Mas o meu Deus é maior. Com Deus e dinheiro eu 
 derroto tudo. 
 
 LUCAS – 
 
 Para com isso, mãe. Para com essas coisas. 
 
 SABINE – 
 
 A gente se apaixonou, dona Esther. Foi isso que aconteceu. Eu não fiz 
 bruxaria nenhuma. 
 
 ESTHER – 
 
 Fez sim. Mas você vai pagar bem caro, seu demônio. 
 
 Esther se desvencilha de Lucas e dá um forte tapa em Sabine, que cai no 
 chão. 
 
 ESTHER – 
 
 Você é mais suja do que qualquer lixo que esteja nesse chão. Saia da minha 
 casa. Saia da vida do meu filho. 
 
 Lucas ajuda Sabine se levantar. 
 
 LUCAS – 
 
 Eu te levo em casa, Sabine. 
 
 ESTHER – 
 
 Vai levar nada. Quero que você tome distância dessa gente dela. 
 
 SABINE – 
 
 A minha gente sabe o que é respeito, dona Esther. Uma pena que todo o 
 dinheiro da senhora não tenha lhe ensinado isso. 
 
 Sabine sai. Lucas encara Esther. 
 
 LUCAS – 
 
 Você foi ridícula. 
 
 ESTHER – 
 
 Olha como fala comigo, garoto. Um dia você ainda vai me agradecer por tudo 
 isso. 
 
 LUCAS – 
 
 Eu não sou sua propriedade. Eu escolho com quem ficar. 
 
 ESTHER – 
 
 Você não ouse me desafiar, Lucas D’Ávila. Eu sou sua mãe. 
 
 LUCAS – 
 
 Antes não fosse. 
 
 No ímpeto, Esther dá um tapa em Lucas. 
 
 LUCAS – 
 
 Primeira e última vez que você faz isso. 
 
 ESTHER – 
 
 Farei quantas vezes mais eu achar necessário. Agora trata de ir para o seu 
 quarto e repensar toda a burrada que você fez. 
 
 Lucas se afasta. Em Esther. 
 
 CENA 09. CASEBRE. INT. NOITE. 
 
 Joanne encara Bastião. 
 
 JOANNE – 
 
 Você é pai do Teodoro? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Sim. Teodoro é meu filho do primeiro casamento. Em segundas núpcias tive 
 duas meninas com a mãe da Tânia. 
 
 JOANNE – 
 
 E o que ele fazia lá? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Foi me visitar. Eu tava apertado de grana e ele levou pra mim. Eu nunca fui 
 um bom pai pra eles. 
 
 JOANNE – 
 
 Eles quem? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Todos eles. Os meus filhos, uai. Eu fui ausente, eu bati, eu cometi vários 
 tipos de violência contra eles ou pessoas que eles amavam. Teodoro se 
 afastou, retirou meu sobrenome e se deu bem na vida. 
 
 ÉLIO – 
 
 E você como bom pai que foi, quis se aproveitar disso, não é? 
 
 BASTIÃO – 
 
 É. Eu quis sim. Pedia dinheiro, fingia que estava doente. 
 
 DAIANA – 
 
 Mas nesse dia o Teodoro não deu dinheiro pro senhor. Ele deixou a carteira e 
 o celular comigo. 
 
 JOANNE – 
 
 E então, papai do ano, vai desembuchar a verdade ou prefere perder o pêndulo 
 que usa pra urinar? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Tá. O Teodoro descobriu que eu usava o dinheiro dele pra beber, fazer 
 fezinha no jogo do bicho e, às vezes, sair com umas rampeiras lá do bairro. 
 
 JOANNE – 
 
 Rampeiras? 
 
 ÉLIO – 
 
 Essas meninas que saem com homem por dinheiro.  
 
 Joanne olha surpresa para Élio. 
 
 JOANNE – 
 
 Tá bem entendido, hein? 
 
 Élio fica sem jeito. 
 
 JOANNE – 
 
 Vamos lá, cara, explica logo o restante. Tá se prolongando demais. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Ele foi lá me cobrar sobre as mentiras. 
 
 JOANNE – 
 
 Mas o Teodoro sabia quem tinha matado a Tânia. 
 
 BASTIÃO – 
 
 E foi por isso que ele morreu. 
 
 ÉLIO – 
 
 Então se não foi você, você sabe quem foi. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Sei. Mas se eu disser, eu to morto. 
 
 Em Joanne, surpresa. 
 
 CENA 10. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE. 
 
 Consuelo e Tamires estão sentadas no sofá lendo revista, quando Marta 
 aparece no topo da escada vestida de noiva, mas com cabelo desgrenhado e 
 maquiagem borrada. 
 
 CONSUELO (assustada) – 
 
 Mas o que é isso, Marta? 
 
 TAMIRES – 
 
 Credo! 
 
 As duas se levantam. Marta começa a gargalhar. 
 
 CONSUELO – 
 
 Mas o que significa isso, Marta Beatriz? 
 
 MARTA – 
 
 Eu fico linda de noiva, não fico? 
 
 TAMIRES – 
 
 Que coisa mais sinistra. 
 
 Marta começa a descer as escadas cantando a marcha nupcial. 
 
 TAMIRES – 
 
 Sua filha pirou total na batatinha, dona Consuelo. 
 
 MARTA (gritando) – 
 
 Eu to casada! Eu sou casada! Só a morte me separa daquele homem, mamãe. 
 
 Marta retira um isqueiro de dentro do busto do vestido e o acende. 
 
 Close na chama, bem viva e, ao fundo, o sorriso diabólico de Marta. 
 
 CENA 11. CASEBRE. INT. NOITE. 
 
 Joanne olha cara a cara para Bastião. 
 
 JOANNE – 
 
 Vai continuar com esse lengalenga, meu senhor? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Vocês acham mesmo que eu vivo escondido por causa de que? 
 
 ÉLIO – 
 
 Isso é o senhor quem vai me dizer. 
 
 JOANNE – 
 
 Ou diz agora, ou eu farei esse seu pinto virar caverna.  
 
 Bastião fica apreensivo. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Cês não são polícia nada. Tão querendo me torturar, pra ver se eu abro o 
 bico. 
 
 JOANNE – 
 
 Tu acha mermo, cara? Eu ia perder tempo com você pra que? 
 
 ÉLIO – 
 
 A gente encurralou ele, delegada. Tá na cara que o assassino da Tânia dos 
 Anjos é esse velho. 
 
 JOANNE – 
 
 Vamos levar pro distrito e amanhã eu faço a liberação dele pra Bangu. 
 
 BASTIÃO (amedrontado) – 
 
 O que? Bangu? Mas eu não sou o assassino, já disse. 
 
 JOANNE – 
 
 Mas tá encobrindo um. Ou tu desembucha quem é, ou tu vai pagar por ele. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Vocês não podem me prender por falta de provas. 
 
 JOANNE – 
 
 Meu senhor, acho que tu não conseguiu compreender a magnitude da enrascada 
 que tá metido. Vou lhe explicar uma última vez. O senhor era padrasto da 
 vítima, seu filho morreu depois de saber quem era o assassino e, na melhor 
 das hipóteses, o senhor é o principal suspeito. Compreendeu meu raciocínio? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Sim. 
 
 JOANNE – 
 
 O senhor tem dinheiro para pagar um bom advogado criminalista? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Mas eu não tenho nem dinheiro pra comer direito. 
 
 JOANNE – 
 
 Então, meu querido, você utilizaria o serviço da Defensoria Pública da 
 cidade do Rio de Janeiro. Com milhares de processos na sua frente e pouca 
 gente trabalhando. Sabe quantos anos levaria esse teu processo? Uns quatro 
 ou cinco. Tá realmente afim de esperar? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Tudo bem...Tudo bem! Mas eu preciso de proteção policial, preciso estar 
 longe do Rio. 
 
 ÉLIO – 
 
 A polícia não negocia com bandido. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Eu tenho provas que incriminam o assassino. Mas se eu não tiver auxílio, vou 
 morrer no instante em que colocar os pés na cadeia. Aí, senhores, adeus pra 
 tudo. 
 
 Joanne olha para Élio, em seguida, os dois saem da casa. Daiana fica acuada 
 num canto, enquanto Bastião a encara. 
 
 CENA 12. CASEBRE. EXT. NOITE. 
 
 Joanne e Élio estão próximos a viatura. 
 
 ÉLIO – 
 
 E então? 
 
 JOANNE – 
 
 Eu to sem jurisdição pra poder levá-lo até a delegacia. Não podemos 
 prendê-lo. 
 
 ÉLIO – 
 
 Mas ele não sabe. 
 
 JOANNE – 
 
 Hora ou outra ele vai perceber. A gente ameaçou, trouxe pra um lugar ermo. 
 Aliás, ele nem teve uma reação estranha ao ver a casa, ao saber que a gente 
 sabe da casa. 
 
 ÉLIO – 
 
 Essa gente tem sangue frio, Joanne. 
 
 JOANNE – 
 
 Eu tenho uma idéia. 
 
 Joanne começa a contar para Élio. 
 
 CENA 13. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE. 
 
 Marta parada no meio da escada, com o isqueiro aceso. 
 
 CONSUELO (preocupada) – 
 
 O que você vai fazer, Marta? 
 
 MARTA – 
 
 Eu tô exausta, minha mãe. Sem o Kléber, minha vida não tem sentido. Se ele 
 quer a separação, ele vai ter. Mas será pelos meios divinos. 
 
 Marta coloca fogo em seu vestido e começa a gargalhar. Em Consuelo, estado 
 de pânico. 
 
 CENA 14. CASEBRE. INT. NOITE. 
 
 Joanne e Élio entram. Bastião fica ansioso. 
 
 JOANNE – 
 
 Tudo bem. Nós vamos fazer um acordo com o senhor. 
 
 BASTIÃO – 
 
 E como será? 
 
 JOANNE – 
 
 Você tem provas onde? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Eu os levo até minhas provas. Mas quero liberdade e algum dinheiro para eu 
 fugir. 
 
 ÉLIO – 
 
 Mas nós não podemos ter as provas por esses meios. Caracterizaria como 
 suborno. Seríamos até expulsos da corporação e as provas seriam invalidadas. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Essa é a minha condição. 
 
 JOANNE – 
 
 Nessas circunstâncias a gente não aceita. O senhor vai pra Bangu e 
 apodrecerá lá até ter algum advogado da Defensoria. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Assim que me prenderem, vai chover repórter lá querendo falar comigo. Sabe o 
 que farei? Contarei que vocês me trouxeram até aqui, que me torturaram e, em 
 seguida, contarei onde estão as provas que incriminam o verdadeiro 
 assassino. Como seria a situação de vocês depois disso? Creio que nada boa, 
 né? 
 
 Élio e Joanne se olham surpresos. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Vocês decidem. Ou eu vou livre e vocês saem como heróis. Ou então vocês 
 terão a carreira detonada feito explosivo. 
 
 DAIANA – 
 
 Calma! Eu tive uma idéia e acho que pode funcionar. 
 
 JOANNE – 
 
 E como será? 
 
 DAIANA – 
 
 Eu vou financiar o dinheiro para ele sair da cidade. 
 
 Bastião, Joanne e Élio se olham surpresos. 
 
 CENA 15. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE. 
 
 O vestido de Marta começa a pegar fogo. Ela ri diabolicamente. Consuelo 
 permanece apreensiva. 
 
 CONSUELO (desesperada) – 
 
 Apaga isso, Marta. Você vai se machucar. 
 
 MARTA – 
 
 É impossível me machucar mais. 
 
 Nesse instante, Neide vem da cozinha com um balde d’água e joga em Marta, 
 apagando o fogo. 
 
 CONSUELO – 
 
 Eu não sei nem como te agradecer, Neide. 
 
 NEIDE – 
 
 Eu acompanhei a movimentação. 
 
 TAMIRES – 
 
 Se fosse minha filha eu deixava queimar. É muito mimada. 
 
 CONSUELO (gritando) – 
 
 Vai dormir, Tamires. Sai daqui agora. 
 
 Tamires começa a subir as escadas, mas para diante de Marta. 
 
 TAMIRES – 
 
 Você gosta de chamar a atenção, sua maluca. 
 
 Tamires termina de subir. 
 
 NEIDE – 
 
 Vou fazer um café bem forte e amargo pra dona Marta. 
 
 Neide se afasta, indo em direção a cozinha. 
 
 Consuelo encara Marta, que se encolhe e se senta nos degraus da escada. 
 
 CONSUELO – 
 
 Que cena deprimente, Marta Beatriz. Eu não esperava isso de você. 
  
 
 Consuelo se aproxima de Marta. 
 
 CONSUELO – 
 
 Olha pra você. Veja o seu estado.  
 
 Consuelo começa a dar tapas em Marta, que tenta se defender. 
 
 MARTA (gritando) – 
 
 Para, mãe... Para, por favor! 
 
 CONSUELO (gritando) – 
 
 Eu não paro. Não vou parar nunca. Eu hesitei a vida toda em te encostar a 
 mão, mas olha no que você se transformou. 
 
 Consuelo dá mais alguns tapas em Marta. Até que se senta ao lado dela. 
 
 CONSUELO – 
 
 Eu errei feio na sua educação, Marta. Mas onde foi? 
 
 MARTA – 
 
 Me faltou amor, mãe. 
 
 SONOPLASTIA: MÃE – RICK E RENNER. 
 
 Consuelo se emociona, abraça Marta e ambas começam a chorar. 
 
 CENA 16. PRAZERES. EXT. NOITE. 
 
 Sonoplastia da cena anterior continua. Imagens do bairro. 
 
 CENA 17. CASEBRE DE BASTIÃO. EXT. NOITE. 
 
 MÚSICA CESSA. 
 
 A viatura da polícia para em frente ao portão da casa. Joanne, Élio, Daiana 
 e Bastião descem. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Amanhã eu vou com vocês até o local das provas. Podem ficar tranqüilos. 
 
 JOANNE – 
 
 Por precaução, Élio vai passar a noite aqui fora vigiando a sua casa até que 
 a Daiana apareça com o dinheiro, ok? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Tudo bem! Agora eu vou entrar. 
 
 Bastião entra. 
 
 JOANNE – 
 
 Seguinte, Élio. Não deixa ele sair daqui em hipótese alguma, nem deixa 
 ninguém entrar. É a nossa única chance. 
 
 ÉLIO – 
 
 Pode deixar comigo, doutora. 
 
 JOANNE – 
 
 Daiana, vem comigo. Vou pegar um táxi e te levar até em casa. Lá você tem 
 proteção policial. 
 
 DAIANA – 
 
 Mas e o dinheiro, quem vai me entregar? 
 
 JOANNE – 
 
 Tenho tudo sob controle. Amanhã as oito eu passo na sua casa. Amanhã será o 
 grande dia! 
 
 Em Joanne, convicta. 
 
 CENA 18. CASA DE DOS ANJOS. SALA. INT. NOITE. 
 
 Dos Anjos e Yago estão sentados assistindo tevê, quando Sabine entra 
 chorando. 
 
 DOS ANJOS – 
 
 Filha, o que foi que aconteceu? 
 
 SABINE – 
 
 Ah, mãezinha, foi o pior jantar da minha vida. 
 
 Dos Anjos se levanta e abraça Sabine. 
 
 YAGO – 
 
 Te bateram, titia? 
 
 Sabine seca as lágrimas, se aproxima de Yago. 
 
 SABINE – 
 
 Não, meu querido. Sabe de uma coisa, tem adultos que dizem coisas feias e 
 deixam a gente triste. 
 
 YAGO – 
 
 Eu nunca vou ser adulto. Não quero ver ninguém chorando. 
 
 SABINE – 
 
 Eu também não gosto de fazer ninguém chorar. 
 
 Yago abraça Sabine. 
 
 DOS ANJOS – 
 
 Agora é hora do senhor escovar os dentes e ir deitar. Amanhã tem aula. 
 
 YAGO – 
 
 Já sei: é hora de conversa de adulto. Tô indo nessa! 
 
 Yago sai correndo. 
 
 DOS ANJOS – 
 
 O que aconteceu? 
 
 SABINE – 
 
 O pior, minha mãe. 
 
 DOS ANJOS – 
 
 Vamos pra cozinha. Vou preparar um chá de melissa pra gente e você vai me 
 contando tudo. 
 
 Sabine assente com a cabeça. As duas se encaminham em direção a cozinha. 
 
 CENA 19. APARTAMENTO DE JOANNE. PORTÃO DE ENTRADA. EXT. NOITE. 
 
 Joanne desembarca do táxi e já avista Kléber próximo dali. Ela se aproxima. 
 
 JOANNE – 
 
 O que tá fazendo aqui, Kléber? 
 
 KLÉBER – 
 
 Eu vim te ver. 
 
 JOANNE – 
 
 Não to bem. Tô exausta e prefiro que você vá embora. 
 
 KLÉBER – 
 
 Eu acho que a gente deve conversar. Tem coisas que ficaram muito mal 
 entendidas. 
 
 JOANNE – 
 
 Aconteceu o que tinha de acontecer. Eu to afastada da delegacia por, pelo 
 menos, cinco meses. Tá bom? 
 
 KLÉBER – 
 
 Acho que quem fez aquela foto nos fez um bem danado. 
 
 Joanne o olha como se não compreendesse. 
 
 JOANNE – 
 
 Bem? A minha carreira tá por um fio. 
 
 KLÉBER – 
 
 Finalmente eu me separei da Marta. De verdade. Saí daquela casa, rompi com 
 aquela família. 
 
 JOANNE – 
 
 E você espera que eu faça o que? Que lhe dê os parabéns? 
 
 KLÉBER – 
 
 Deixa eu subir, vamos conversar. Eu tenho uma proposta muito interessante 
 para você. 
 
 JOANNE – 
 
 De falsas propostas eu tô exausta. 
 
 Joanne vai caminhando em direção ao prédio. 
 
 KLÉBER – 
 
 Vamos reconstruir juntos tudo isso. Nós dois perdemos muita coisa, Jô. Nós 
 dois estamos enfrentando dias turbulentos desde esse crime das bombas. Não 
 vamos deixar passar a maior oportunidade das nossas vidas. Por favor! 
 
 Joanne para, olha para Kléber. 
 
 JOANNE – 
 
 Como eu odeio não resistir a você. 
 
 Kléber corre, lhe tasca um beijaço. 
 
 SONOPLASTIA: APOLOGIZE – ONE REPUBLIC 
 
 CORTA RÁPIDO PARA: 
 
 CENA 20. APARTAMENTO DE JOANNE. QUARTO. INT. NOITE. 
 
 ABRE em Kléber jogando Joanne nua na cama. Ele se despe e cai sobre ela. Os 
 dois começam a se beijar. 
 
 JOANNE – 
 
 Eu te amo tanto. 
 
 KLÉBER – 
 
 Cala a boca e me beija, delegata! 
 
 Os dois continuam a se beijar. 
 
 MÚSICA CESSA. 
 
 CENA 21. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. NOITE. 
 
 Dos anjos e Sabine estão sentadas a mesa tomando chá. 
 
 DOS ANJOS – 
 
 Que intolerante essa dondoca, minha filha. 
 
 SABINE – 
 
 Doeu tanto, minha mãe. Ver ela falar da nossa religião, excomungar a gente 
 como se fôssemos demônios. 
 
 DOS ANJOS – 
 
 Mas para muita gente é isso que representamos. Mas, filha, lembra quando eu 
 te expliquei lá no início? 
 
 SABINE – 
 
 Sobre o que? 
 
 DOS ANJOS – 
 
 Quando a gente começa a freqüentar o candomblé, a umbanda o qualquer outra 
 religião de matriz africana, devemos estar cientes de que seremos alvos de 
 muita gente intolerante. Que nos olharão e falarão de nós com total falta de 
 respeito. 
 
 SABINE – 
 
 Mas estamos em pleno século vinte e um, mãe. 
 
 DOS ANJOS – 
 
 É batalha diária, Sabine. A gente não pode, por medo deles, se desviar do 
 nosso caminho. Temos uma pertença! 
 
 Sabine e Dos Anjos se abraçam. 
 
 SABINE – 
 
 Como diria Mãe Marina de Oxalá: “Que a paz seja o que nos uma!” 
 
 CENA 22. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA. 
 
 SONOPLASTIA: NICE – BEBEL GILBERTO 
 
 Takes rápidos e pontuais dos pontos turísticos do Rio de Janeiro 
 amanhecendo. 
 
 CENA 23. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE JANTAR. INT. DIA. 
 
 Tamires e Consuelo estão sentadas a mesa tomando café da manhã. 
 
 TAMIRES – 
 
 E como foi ontem com a sua filha? 
 
 CONSUELO – 
 
 Trata de tomar esse café rápido e correr pro inglês. Estive conversando com 
 seus professores e me falaram que sua conversação tá péssima. 
 
 TAMIRES – 
 
 Eu tô um pouco cansada. 
 
 CONSUELO – 
 
 Querida, meu dinheiro não é capim. Ou você sai dessa casa pra fazer o curso 
 e tentar ser alguém na grande roda, ou tu pode dar tchau a essa vidinha. 
 
 Nesse instante, Marta entra e se senta. 
 
 MARTA – 
 
 Bom dia! 
 
 TAMIRES – 
 
 Pede a Neide um chazinho de boldo. É tiro e queda para ressaca. 
 
 MARTA – 
 
 Muito obrigada, mas ficarei com um cafezinho preto mesmo. 
 
 Nesse instante, Neide entra com um buque de rosas vermelhas e um embrulho 
 dourado. 
 
 CONSUELO – 
 
 Mas o que é isso, Neide? 
 
 NEIDE – 
 
 O motoboy acabou de entregar. São para a dona Marta. 
 
 Neide entrega a Marta, que fica surpresa. 
 
 MARTA – 
 
 Pra mim? Quem será que mandou? 
 
 Marta revira o buquê e acha um cartão. 
 
 MARTA (lendo o cartão) – 
 
 “Espero que goste das flores e, principalmente, das fotos. Com amor, 
 Kléber!” 
 
 Marta sorri. Tamires e Consuelo fazem cara feia. 
 
 CONSUELO – 
 
 Eu não acredito que depois de tudo, o canalha ainda teve a audácia de te 
 mandar presentinho. 
 
 MARTA – 
 
 Foi fofo, mãe. O Kléber viu a burrada que fez e se arrependeu. 
 
 CONSUELO – 
 
 Nessa casa ele não pisa mai, ou não me chamo Consuelo Castelo Branco. 
 
 Marta abre o embrulho e vê várias fotos de Kléber e Tamires transando. 
 
 MARTA – 
 
 Mas o que é isso aqui? 
 
 CONSUELO – 
 
 O que foi? 
 
 Marta joga as fotos em cima da mesa. Consuelo se surpreende. Tamires fica 
 paralisada. 
 
 MARTA (a Tamires) – 
 
 Agora você vai me explicar o que é isso. 
 
 Em Marta. 
 
 CENA 24. CASEBRE DE BASTIÃO. RUA. EXT. DIA. 
 
 Élio está parado de pé em frente a viatura. Pouco depois, Daiana desembarca 
 de um táxi e vai até ele. 
 
 ÉLIO (estranhando) – 
 
 O que você faz sozinha aqui? 
 
 DAIANA – 
 
 A delegada ficou de me buscar as oito da manhã, mas não apareceu. 
 
 ÉLIO – 
 
 Ela também não atende o celular. Acho melhor ir até a casa dela ver o que 
 aconteceu. 
 
 DAIANA – 
 
 Mas e o Bastião? 
 
 ÉLIO – 
 
 Tem razão. Ele pode fugir. 
 
 DAIANA – 
 
 O que acha da gente entrar? 
 
 ÉLIO – 
 
 É arriscado. 
 
 DAIANA – 
 
 Arriscado é a gente ficar dando sopa aqui. Ele pode desconfiar que algo deu 
 errado. 
 
 ÉLIO – 
 
 Tem razão. Vamos entrar. 
 
 Élio e Daiana entram. 
 
 CENA 25. CASEBRE DE BASTIÃO. SALA. INT. DIA. 
 
 Élio vem vindo do quarto. 
 
 ÉLIO – 
 
 Nada aqui. O sem vergonha fugiu pelos fundos. 
 
 Daiana puxa uma caixa debaixo do sofá. 
 
 ÉLIO – 
 
 O que é isso. 
 
 DAIANA – 
 
 Não sei, mas achei aqui. Vamos abrir. 
 
 Élio abre a caixa e acha várias jóias e extratos bancários. 
 
 DAIANA – 
 
 O que é isso? 
 
 ÉLIO – 
 
 São jóias e extrato de depósitos bancários feitos para Tânia dos Anjos. 
 
 Daiana pega algumas jóias, olha. 
 
 DAIANA – 
 
 Mas essas jóias não são de verdade. Olha o peso, estão sem brilho também. 
 
 ÉLIO – 
 
 É muito dinheiro que depositavam para essa Tânia. Eu acho que ela 
 chantageava o assassino. 
 
 DAIANA – 
 
 E quem é o assassino? 
 
 ÉLIO – 
 
 Você vai cair para trás quando souber. 
 
 Daiana e Élio se olham. 
 
 CENA 26. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. DIA. 
 
 Dos Anjos está coando café, quando Bastião entra com tudo. 
 
 DOS ANJOS – 
 
 O que você está fazendo aqui? 
 
 BASTIÃO – 
 
 Eu tô envolvido numa fria, nega. Você precisa me ajudar a fugir. 
 
 DOS ANJOS – 
 
 Mas eu não vou. Agora some daqui. 
 
 BASTIÃO – 
 
 Se não me ajudar, eu revelo tudo para as meninas. 
 
 Nesse instante Sabine entra. 
 
 SABINE – 
 
 Revela o que? (se surpreende) Pai, você tá vivo? 
 
 Em Dos Anjos e Bastião assustados. 
 
 CENA 27. APARTAMENTO DE JOANNE. QUARTO. INT. DIA. 
 
 Joanne acorda com o celular tocando. Olha para Kléber que continua dormindo. 
 Ela atende. 
 
 JOANNE (cel.) – 
 
 Oi, Élio. Desculpa, eu perdi a hora. 
 
 INTERCALAR CENA EM JOANNE NO APARTAMENTO E ÉLIO NO CASEBRE DE BASTIÃO. 
 
 Joanne se encaminha até o banheiro. 
 
 ÉLIO (CEL.) – 
 
 Eu tenho uma notícia muito importante pra te dar. 
 
 JOANNE (cel.) – 
 
 Você tá onde? 
 
 ÉLIO (cel.) – 
 
 Tô na casa do Bastião. 
 
 JOANNE (cel.) – 
 
 Então me espera que eu tô chegando aí. 
 
 ÉLIO (cel.) – 
 
 Eu encontrei jóias falsas, iguais aquelas que foram encontradas com a Tânia. 
 E encontrei recibos de pagamentos altíssimos do Kléber Magalhães para a 
 Tânia. 
 
 JOANNE (cel./ surpresa) – 
 
 O que? 
 
 ÉLIO (cel.) – 
 
 Eles se conheciam. E pelo andar da carruagem, a Tânia estava extorquindo 
 ele. 
 
 JOANNE ( cel.) – 
 
 Então você quer dizer que o assassino do crime das bombas é o.../ 
 
 ÉLIO (cel.) – 
 
 Kléber Magalhães, o dono da joalheria Cintra. 
 
 Nesse instante, Joanne vê Kléber pelo reflexo do espelho e se assusta. 
 
 KLÉBER – 
 
 Te assustei, querida? 
 
 JOANNE (disfarçando) – 
 
 Não, claro que não. Eu tava falando com o Élio no celular. 
 
 KLÉBER – 
 
 Então desliga pra gente namorar um pouquinho mais. 
 
 Joanne desliga e vira-se para Kléber, que lhe aponta uma arma. 
 
 KLÉBER – 
 
 Você não sai viva daqui. 
 
 JOANNE (amedrontada) – 
 
 Por favor, Kléber, não faça nada que vá se arrepender depois. 
 
 KLÉBER – 
 
 Nadou, nadou, mas vai morrer na praia, querida.SLOW: Kléber destrava a arma. Joanne coloca as mãos protegendo a face. | 
Comentários:
0 comentários: