TEASER
FADE IN:
CENA 1. RUA. EXTERIOR. NOITE.
O SOM de uma flauta ecoa por toda a vizinhança. Um homem misterioso, com um casaco escuro e chapéu, de rosto coberto pelas sombras, caminha pela calçada tocando o instrumento. Ele aproxima-se da fachada de uma residência charmosa, pintada em tons azuis, e fica a observá-la por alguns instantes.
Surge o letreiro: 1915
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 2. RESIDÊNCIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
JUDITH (em seus 45 anos, aparência jovem, vestido marrom) vem da cozinha trazendo uma bandeja com duas xícaras e um bule de chá. GLORIA (na mesma idade de Judith, porém envelhecida, cabelos um pouco grisalhos) está no sofá.
JUDITH
(coloca na mesa de centro) Aqui está o chá. (serve as xícaras) Assim você pode acalmar os seus nervos.
GLORIA
Obrigada.
Judith entrega uma xícara para Gloria, que está com as mãos trêmulas.
GLORIA (CONT’D)
(beberica) É uma verdadeira calamidade Judith. No que essa cidade se transformou? Não consigo me sentir segura nem dentro da minha própria casa.
JUDITH
Ouvi dizer que mais uma criança desapareceu há alguns dias. Os pais ouviram um estrondo forte na janela do quarto do menino e quando foram até lá, ele havia desaparecido como fumaça.
GLORIA
E a polícia parece estar mais apavorada do que nós. Dizem não ter nenhuma pista sobre esses desaparecimentos.
JUDITH
Há crueldade em todos os lados.
GLORIA
Eu não entendo o que está acontecendo com nosso mundo. Uma pobre e inocente criança? (suspira) Não posso nem pensar no que devem fazer com elas.
JUDITH
(se levanta) Fico tão preocupada com o Rudy. Se alguma coisa acontecesse com meu filho, eu não sei do que sou capaz.
Gloria segura na mão de Judith.
GLORIA
Nada de ruim vai acontecer ao Rudy.
Judith concorda com a cabeça. CÂMERA se afasta e revela uma sombra misteriosa as observando pela janela.
CENA 3. RESIDÊNCIA. COZINHA. INTERIOR. NOITE.
Judith entra e coloca a bandeja sobre a pia. Ela abre a torneira e lava as mãos, um pouco nervosa. Quando ergue seus olhos, vê a figura de um homem se formar no vidro em sua frente e arregala os olhos.
JUDITH
Santo Cristo...
O homem desaparece. Judith abre uma gaveta e retira de lá uma faca. ESTRONDO vindo do lado de fora. Ela corre até a porta e certifica-se de que ela está trancada.
JUDITH (CONT’D)
(ofegante) Calma Judith. Foi só coisa da sua cabeça. Você está segura. Ninguém pode entrar na sua casa.
Judith se vira e dá de cara com o homem da cena 1. Antes que ela possa gritar e erguer sua faca, ele enfia um pano em seu nariz e a faz perder os sentidos até cair desacordada no chão.
CENA 4. RESIDÊNCIA. QUARTO DE RUDY. INTERIOR. NOITE.
O pequeno RUDY (6 anos, cabelos loiros, vestindo pijama) está deitado em sua cama lendo um livro. Ele percebe a porta de seu quarto abrir-se lentamente.
RUDY
Mamãe?
VOZ MASCULINA
(O.S.) Não é a mamãe.
VICTOR (55 anos, alto, cabelos grisalhos, algumas rugas) entra, trazendo um balão vermelho em uma das mãos.
VICTOR
(sorridente) Olá Rudy.
RUDY
(assustado) Quem é você?
VICTOR
Eu sou um grande amigo.
RUDY
Amigo da minha mãe?
VICTOR
(sorri) Sou amigo de todo mundo. Trouxe um lindo balão pra você, veja. Gosta de vermelho?
RUDY
Eu não quero. Estou com medo.
VICTOR
(pensa) Bom... Tudo bem. Você gosta de música? Posso tocar uma canção na flauta para te deixar contente. O que acha?
RUDY
Eu quero que você saia do meu quarto. Nunca te vi na vizinhança. Não confio em você.
VICTOR
Você com certeza nunca me viu, mas vai se lembrar de mim para o resto da vida.
RUDY
(puxa o lençol) Eu quero a minha mãe!
VICTOR
(aproxima-se) Rudy, Rudy... Você tem tanta sorte em ter uma mãe.
O rosto perturbador de Victor invade a TELA. Em OFF, os gritos lancinantes do menino.
FIM DO TEASER ATO I
FADE OUT.
1x02 - VICTOR MONTGOMERY
FADE IN:
CENA 5. FERROVIA. EXTERIOR. NOITE.
Rosie Tate, com uniforme do orfanato e mochila nas costas, caminha de cabeça baixa pela linha de trem. Ao seu redor, uma extensa floresta. Uma fina neblina paira pelo ar. A menina entra no túnel e, em OFF, ouve-se o APITO do trem.
CENA 6. FERROVIA. TÚNEL. INTERIOR. NOITE.
À medida que o veículo se aproxima, barulhento e em alta velocidade, suas luzes iluminam o rosto de Rosie. Ela salta dos trilhos e encosta na parede do túnel, assustada. O trem entra.
Em suas janelas, estão várias crianças penduradas para fora, com os rostos cobertos por um saco com faces deformadas pintados de tinta. Rosie apenas observa, incrédula.
CENA 7. CHATEAU MARMONT. SALA DE AULA. INTERIOR. DIA.
Bowers bate com a régua na mesa de Rosie, que ergue os olhos no susto. As crianças começam a rir. Rosie troca um olhar de desconforto com Griffin. Bowers cruza os braços e a encara.
BOWERS
Em que mundo a senhorita estava, Rosie Tate?
ROSIE
Me desculpe. Tive uma noite ruim.
BOWERS
Não é justificativa para praticamente dormir na minha sala de aula.
ROSIE
Não vai acontecer novamente.
BOWERS
É claro que não vai. Não vou admitir esse comportamento relapso novamente, me entendeu?
ROSIE
Ok.
BOWERS
Vou pedir para que você abra o livro que solicitei para que trouxessem na aula de hoje e leia o parágrafo na página indicada.
Rosie engole a seco, baixa os olhos.
BOWERS (CONT’D)
Algum problema?
ROSIE
Eu acho que esqueci o livro.
BOWERS
(irônico) Esqueceu? Muito bem...
Bowers bate novamente com a régua na mesa da menina, dessa vez mais forte, assustando a classe inteira. Rosie se enfurece, mas Griffin faz sinal para ela fechar a boca.
BOWERS (CONT’D)
Vou deixar passar dessa vez.
Bowers contorna sua mesa e senta-se em sua poltrona.
BOWERS (CONT’D)
Dessa vez.
O professor puxa seus óculos.
BOWERS (CONT’D)
Já que nossa colega Rosie Tate esqueceu o livro, pode ler para nós, Shelley?
Silêncio. As crianças se olham. Bowers vê a carteira vazia na frente de Lizzie.
BOWERS (CONT’D)
Onde está Shelley?
CENA 8. CHATEAU MARMONT. SALA DE CRUELLA. INTERIOR. DIA.
Cruella sentada em sua poltrona, assinando alguns documentos. Charlotte entra.
CHARLOTTE
(ofegante) Senhora Blaylock/...
Cruella bate na mesa e se levanta.
CRUELLA
(irritada) O que eu disse sobre bater antes de entrar, sua estúpida?
CHARLOTTE
Me perdoe senhora Blaylock, eu estou muito nervosa.
CRUELLA
A próxima vez eu arranco uma das suas mãos, aí quem sabe você aprenda a se anunciar. (respira) Pode falar, Charlotte.
CHARLOTTE
Nós temos um grave problema.
CLOSE em Cruella.
CENA 9. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. DIA.
Cruella caminha balançando o molho de chaves para lá e para cá. Charlotte ao seu lado.
CRUELLA
O Reverendo sabe disso?
CHARLOTTE
Não, ele foi para a cidade cedo e disse que voltaria para o almoço.
CRUELLA
Deus seja louvado.
Elas chegam até uma das portas, a qual Cruella abre com a chave.
CENA 10. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE SHELLEY. INTERIOR. DIA.
Cruella entra. Charlotte fica na soleira. O local está arrumado e a janela trancada. Cruella olha em volta, tensa.
CRUELLA
(V.O.) Dois desaparecimentos.
CENA 11. CHATEAU MARMONT. COZINHA. INTERIOR. DIA.
Alguns funcionários, somados à Letha e Charlotte, em fila, enquanto Cruella anda de lá para cá, alterada.
CRUELLA
Dois desaparecimentos em menos de
24 horas. Como isso pode ser possível? Vocês sabem por que são pagos? Para evitar que coisas desse tipo aconteçam. Esse orfanato necessita de ordem. A vontade que eu tenho é de mandar cada um de vocês para o olho da rua. Bando de inúteis.
LETHA
Se me permite, diretora/...
CRUELLA
(interrompe) Não, eu não permito nada Letha, porque você é a mais incompetente de todas. Molly e Shelley desapareceram debaixo das suas barbas e você não fez absolutamente nada para impedir. E quanto a você, Charlotte? Você está em uma ótima posição dentro desta instituição, eu inclusive enxergava potencial em você, para quem sabe no futuro até mesmo substituir, mas não! É só mais uma decepção.
CHARLOTTE
(se emociona) Me perdoe, diretora!
CRUELLA
É culpa minha. Eu mimei você, te dei regalias, mesmo quando todos diziam o quão estúpida você era.
LETHA
O que fazemos para controlar as crianças? Todos estão comentando do desaparecimento.
CRUELLA
Molly e Shelley fugiram, não desapareceram. E se fugiram, não fazem mais parte desse orfanato. Eu espero que elas morram lá fora.
ALANA
(O.S.) Com licença.
Cruella vê Alana parada na porta.
CRUELLA
Essa é uma reunião interna, senhorita Maxwell, e pelo que me recordo você não é funcionária deste orfanato. Quem deve nos dar licença aqui é você.
ALANA
Eu sei o que aconteceu com Molly e Shelley.
CLOSES DESCONTÍNUOS entre Cruella e Alana.
CENA 12. CHATEAU MARMONT. SALA DE CRUELLA. INTERIOR. DIA.
Cruella e Alana tendo uma conversa.
CRUELLA
A senhorita realmente acha que eu vou acreditar no que está me dizendo?
ALANA
Eu não estou ficando louca, diretora. Eu tenho certeza do que eu vi. Molly foi sequestrada.
CRUELLA
Não, Molly fugiu acompanhada de Shelley. Essa é a verdade. Aquelas duas meninas nunca se enquadraram nessa instituição e decidiram seguir o próprio caminho sozinhas.
ALANA
Não, você não está entendendo, isso é mentira. Você sabe que isso é mentira.
CRUELLA
Então no que eu deveria acreditar? Que uma das minhas crianças foi sequestrada por uma entidade sobrenatural? (debocha) Faça-me favor, esperava mais vindo de uma mulher estudada como você.
ALANA
Ninguém aqui está falando em fantasmas.
CRUELLA
Sabe senhorita Maxwell, o homem que você disse ter visto... Bom, essa é uma velha história deste orfanato. É um mito criado pelas crianças, elas o chamam de Slenderman. Muitos já disseram tê-lo visto na floresta, mas sabemos como a imaginação pode nos levar aos mais terríveis devaneios.
ALANA
Você está perdendo o ponto que/...
CRUELLA
(interrompe) O ponto é que o Slenderman, ou que diabos ele se chame, é um mito. Uma lenda urbana. Ele não existe, minha querida.
ALANA
Eu não disse que esse orfanato está sendo atacado por uma criatura sobrenatural, diretora. Este homem não é uma entidade, muito pelo contrário. Ele é uma pessoa de carne e osso como nós e sequestrou Molly e Shelley. Eu o vi ontem à noite. Seja quem for esse homem, nós precisamos fazer alguma coisa.
Cruella abre uma gaveta e coloca uma garrafa de uísque vazia em cima da mesa.
CRUELLA
Sabe o que é isso? Charlotte achou na revista no seu quarto hoje cedo.
ALANA
Vocês não podem mexer nas minhas coisas.
CRUELLA
Essa propriedade é minha, eu posso mexer no que quiser. Você é que não pode trazer bebidas aqui para dentro. Aliás, você está aqui à trabalho, senhorita Maxwell.
ALANA
Tudo bem.
CRUELLA
Vou fazer uma pergunta bem sincera. Você estava bêbada ontem?
ALANA
(hesita) Eu... Não sei.
CRUELLA
A bebida por fazer com que vejamos coisas que não existem, concorda?
ALANA
Eu tenho a mais absoluta certeza do que eu vi.
CRUELLA
Mesmo?
ALANA
(se levanta) Não feche seus olhos diretora. Ou você toma as devidas providências, ou eu vou até as autoridades.
Alana encara Cruella e sai.
CENA 13. CHATEAU MARMONT. SALA. INTERIOR. DIA.
Alana e Rosie frente à frente, em torno de uma mesa redonda.
ALANA
Obrigada por ter vindo Rosie.
ROSIE
Por que você não permitiu que minha irmã viesse dessa vez?
ALANA
Precisava falar com você sozinha. Sabe Rosie, eu andei pensando muito desde o nosso último encontro, principalmente sobre o que você me disse.
ROSIE
Que eu sou a responsável pela morte do meu pai.
ALANA
Você disse aquilo para proteger a sua irmã? Para mim foi o que pareceu.
ROSIE
(se exalta) Não! Lily é inocente. Eu fiz tudo aquilo, somente eu.
Você não pode acusá-la.
ALANA
Não há razão para ser agressiva. De certa forma eu entendo a sua atitude. Se Lily fosse minha irmã, eu também a protegeria.
ROSIE
Ela precisa muito de mim.
ALANA
Eu admiro esse amor entre vocês. É algo muito bonito. Eu nunca tive uma irmã para que pudesse proteger. Sempre tive que enfrentar o mundo sozinha.
ROSIE
Você está tentando me comover. Eu conheço todos esses truques.
ALANA
Você é definitivamente muito esperta para uma menina de 13 anos. Por que mentir?
ROSIE
Eu não menti.
ALANA
Vou contar uma história que nunca contei à ninguém. (pausa) Meu pai foi um homem difícil. Sempre foi.
(MORE)
ALANA (CONT’D)
Era daqueles homens cabeça-dura, que acreditava que somente o seu pensamento era correto. Era grosseiro, impaciente e bebia descontroladamente. Eu nunca ouvi uma palavra de carinho dele e acredito que isso seja devido a criação que ele teve. Minha mãe foi uma sofredora por tê-lo aguentado quase 40 anos. Ela não tinha forças para enfrentá-lo quando ele aumentava a voz ao não gostar do tempero da comida ou da maneira como as roupas foram lavadas. Não foram uma ou duas vezes que o vi dar um tapa na cara dela. Aquilo machucava nós duas. (pausa) Me peguei muitas vezes desejando a morte dele para que a minha mãe ficasse livre para ser quem realmente era. Ela sempre quis cursar teatro, mas nunca pode por causa dele. Era coisa de prostituta, ele falava. Mesmo desejando a morte do meu pai, eu nunca tive coragem de fazer nada contra ele. Eu entendo o seu sentimento Rosie. Deve ser difícil perder a mãe e ficar aprisionada à um ser humano desprezível.
ROSIE
Você pode dizer que entende, mas não entende de verdade. Meu pai era mais do que um ser humano desprezível. Ele era um monstro.
ALANA
Todos os monstros são humanos.
ROSIE
Não ele. Que espécie de humano... (se emociona) Trata a própria filha como se ela fosse uma...
ALANA
Uma mulher?
ROSIE
Ele nos tocava, Alana. Todos os dias. E não importava o que dizíamos, ele ficava cada vez mais violento. Eu não podia deixar minha irmã naquela situação.
(MORE)
ROSIE (CONT’D)
Então, passei a imaginar como seria se nós acabássemos com ele. E foi o que fizemos. Esta é a verdade. Sim, nós o matamos, mas não somos psicopatas. Nós não merecemos morrer, Alana. Não nos deixe morrer.
Alana encara Rosie e não é capaz de dizer mais uma só palavra.
CENA 14. CHATEAU MARMONT. SALA DE CRUELLA. INTERIOR. DIA.
Letha entra. Cruella em pé, olhando pelo vidro da janela.
LETHA
Queria falar comigo, diretora?
CRUELLA
Eu preciso que você faça uma coisa pra mim.
LETHA
Qualquer coisa que estiver ao meu alcance.
CRUELLA
Essa psiquiatra, Alana Maxwell. Ela me ameaçou mais cedo e você sabe que eu odeio ameaças. Não sei o que ela pode estar tramando, mas fique de olho nela.
LETHA
Pode deixar.
CRUELLA
Eu sinto estar perdendo o controle da situação e isso não pode acontecer. Não falhe comigo novamente Letha.
LETHA
Sim senhora.
Cruella sai da sala. CLOSE em Letha.
CENA 15. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. DIA.
Alana dá uma volta pelo jardim da instituição. Um grupo de crianças passa jogando bola.
Alana sorri e segue seu caminho até encontrar Caleb cuidando dos canteiros de begônias do local.
ALANA
São lindas.
CALEB
(sorri) Obrigada, irmã.
Ele se levanta, tira sua luva e a cumprimenta.
CALEB (CONT’D)
Sou o Padre Caleb Strickland. Muito prazer.
ALANA
Alana Maxwell.
CALEB
A psiquiatra que veio analisar Rosie e Lily Tate, claro. O que está achando do nosso orfanato?
ALANA
Não tão perfeito quanto aparenta.
CALEB
(franze a testa) Como assim?
ALANA
Eu vi o que fizeram com Molly há duas noites atrás. Exorcismo. Esta é uma prática bastante condenável, Padre.
CALEB
Também não concordo, mas infelizmente estou aqui para receber ordens. Aquela foi uma decisão do Reverendo.
ALANA
Ele é o dono?
CALEB
Bem, ele tem o nome na escritura, mas quem manda mesmo é a senhora Blaylock.
ALANA
Percebi. Falei com ela hoje cedo. Me diga uma coisa Padre, qual o procedimento do orfanato quando alguma criança desaparece, como Molly e Shelley?
CALEB
Esta é uma instituição pública, senhora Maxwell. Todas as crianças que aqui vivem foram encontradas nas ruas ou abandonadas pelos pais. Nós a recolhemos e cuidamos delas, mas elas não são aprisionadas.
Ninguém as obriga a ficar. Quando alguém foge, é sua decisão. Não vamos atrás delas.
ALANA
Molly e Shelley não fugiram. Elas foram sequestradas e você sabe disso.
CALEB
Como assim?
ALANA
Ontem à noite, Padre, eu vi a Molly ser levada por um homem alto e pálido. Ele a sequestrou e eu tenho certeza que ele fez a mesma coisa com Shelley.
Caleb dá uma risada tímida e baixa a cabeça.
ALANA (CONT’D)
Falei algo que não deveria?
CALEB
Se importa se vier comigo até meu quarto?
CENA 16. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE CALEB. INTERIOR. DIA.
Caleb espia pela janela e fecha as cortinas. Alana, próxima à porta, encara uma cruz de madeira pregada na parede, em cima da cama.
CALEB
Eu preciso te contar uma história, senhorita Maxwell.
ALANA
Sou toda ouvidos.
CALEB
Eu sei que você vai achar que é insanidade, mas eu sei quem levou aquelas meninas. Ou melhor, o que as levou.
ALANA
Prossiga, Padre.
CALEB
Esta é uma velha história que corre pelos corredores do orfanato. Muita gente acredita que o Chateau Marmont é amaldiçoado.
ALANA
A lenda do Slenderman?
CALEB
Uma entidade na forma de um homem alto, vestido de preto, sem rosto, que sequestra crianças por motivos desconhecidos. Muitos dos nossos internos afirmaram já tê-lo visto por aqui, mas ninguém conseguiu provar a verdade.
ALANA
Me perdoe Padre, mas eu não vou acreditar que um fantasma é responsável por isso. Eu sei o que eu vi. Quem levou aquelas meninas é um ser humano feito eu e você.
CALEB
É o que você imagina que viu. A lenda diz que o Slenderman pode confundir suas vítimas, fazendo-as acreditar numa coisa que não existe.
ALANA
Eu ainda acredito que isso seja bobagem.
CALEB
Deixe-me mostrar uma coisa.
Caleb abre seu guarda-roupas e traz uma pasta preta.
CALEB (CONT’D)
Todos os anos nós tiramos uma foto das crianças com a equipe do orfanato para a posteridade. É uma tradição que começou desde quando o Chateau foi doado para a Igreja em 1917. Tenho a cópia de todas as fotos.
Caleb coloca a pasta sobre a cama e retira de lá uma das fotos, mostrando-a para Alana.
CALEB (CONT’D)
Esta é a foto que tiramos há exatos
2 meses atrás.
INSERT:
Na fotografia, as crianças estão dispostas em várias fileiras, lado a lado, na frente do orfanato, acompanhados dos funcionários.
ALANA
(O.S.) Qual o problema com essa foto?
CALEB
(O.S.) Veja a janela do lado esquerdo.
CÂMERA dá um SUPER-CLOSE na janela, onde revela-se a imagem desfocada do Slenderman através do vidro.
VOLTA À CENA.
Alana joga a foto na cama.
ALANA
Isso é um truque de imagem.
CALEB
Quero que você veja a foto da primeira turma, feita há 50 anos atrás.
Caleb entrega outra foto para Alana, esta com o papel mais envelhecido.
INSERT:
Na imagem, outro grupo de crianças, dessa vez menor, dispostos na frente do casarão. Junto deles pode-se ver o Reverendo em seus 30 anos.
ALANA
(O.S.) Nossa, ele já existia nessa época.
CALEB
(O.S.) Dê uma olhada na janela superior.
SUPER-CLOSE em uma das janelas: a figura do Slenderman distorcida através do vidro.
VOLTA À CENA.
Alana arregala os olhos e olha para Caleb.
CALEB (CONT’D)
Outro truque de imagem? Posso te mostrar as fotos de todos os anos. Ele está em todas elas.
ALANA
Não pode ser real.
CALEB
Eu sei que parece loucura, mas ele existe Alana. Ele não é como nós. Ele vem de outro lugar. Molly e Shelley não são as primeiras crianças que desapareceram do nada. Nos últimos 6 meses, cerca de 5 crianças sumiram em circunstâncias misteriosas. Agora 7, com Molly e Shelley. Nos últimos 50 anos, mais 100.
Alana balança a cabeça negativamente, confusa.
CALEB (CONT’D)
Eu sei que para você é difícil de acreditar, mas a verdade está aí. A polícia não pode nos ajudar. Na verdade, é provável que ninguém possa.
Alana abre a porta e sai dali rapidamente, bem nervosa. CLOSE em Caleb.
FIM DO ATO I ATO II
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 17. FLORESTA. EXTERIOR. NOITE.
CÂMERA AÉREA desliza pela copa das árvores, iluminadas pela luz da lua cheia.
CENA 18. CHATEAU MARMONT. SALA DE JANTAR. INTERIOR. NOITE.
As crianças têm seu jantar sentados em torno de duas mesas retangulares enormes. CÂMERA foca em Griffin e Rosie.
GRIFFIN
Eu não consigo acreditar que Shelley fugiu.
ROSIE
O que você acha que aconteceu com ela?
GRIFFIN
Acho que os rumores podem ser verdade. Talvez o Slenderman tenha levado Shelley e Molly.
ROSIE
Você acredita nisso de Slenderman?
GRIFFIN
Você não?
ROSIE
Claro que não. É história criada pra assustar as crianças. Shelley e Molly fizeram o que era correto.
Fugiram daqui.
Griffin olha para Rosie, incrédulo.
GRIFFIN
Você/...
Rosie olha para trás, vê Letha parada na porta.
ROSIE
(murmura) Fala baixo.
GRIFFIN
Nós não podemos fugir.
ROSIE
Eu não posso ficar mais nenhum segundo aqui. Aquela psiquiatra pode condenar eu e Lily à cadeira elétrica.
GRIFFIN
Para onde iríamos? (murmura) O mundo é cruel Rosie.
ROSIE
Eu não sei. Só quero saber se você está comigo.
GRIFFIN
Sim!
ROSIE
Vou pensar em alguma coisa antes de dormir e amanhã decidimos tudo.
GRIFFIN
Feito!
Rosie concorda. CÂMERA mostra, alguns lugares longe de Griffin e Rosie, Lizzie os observando com atenção.
CENA 19. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE GRIFFIN. INTERIOR. NOITE.
Griffin dorme em sua cama, abraçado em um urso de pelúcia. A porta se abre e Lizzie entra. Com forte maquiagem no rosto, ela aproxima-se e deita ao lado do menino, velando seu sono. Aos poucos, Griffin vai abrindo os olhos e vê Lizzie.
GRIFFIN
(sonolento) Lizzie?
LIZZIE
(sorri) Eu pareço uma menina bonita?
GRIFFIN
(murmura) Hum?
LIZZIE
Eu sou tão bonita quando ela? Passei esse batom especialmente pra você. Se chama “Vermelho Violente- me”.
GRIFFIN
Você é maluca!
Lizzie coloca sua mão por debaixo das cobertas de Griffin, que se levanta, assustado.
GRIFFIN (CONT’D)
Sai do meu quarto Lizzie.
LIZZIE
Só estava tentando fazer você não lembrar dela. (se levanta) Me diga Griffin, você se masturba pensando na Rosie?
GRIFFIN
Você é absurdamente louca Lizzie. Nós somos apenas crianças.
Lizzie empurra Griffin contra parede.
LIZZIE
Sabe com quantos anos eu perdi minha virgindade? 5 anos. (sussurra) Um dos meus primos foi dormir na casa dos meus pais e me convidou para descobrir o que havia debaixo do lençol. Ele tinha 15 anos.
GRIFFIN
Você é nojenta, Lizzie.
LIZZIE
Qual é Grifs, me mostre o que você tem.
Griffin empurra Lizzie contra o chão e ela começa a chorar como uma criança inocente.
LIZZIE (CONT’D)
(soluçando) Me perdoe Griffin. Eu não devia estar aqui. Eu não sei o que está acontecendo comigo.
Lizzie muda rapidamente sua expressão e o encara com ódio.
LIZZIE (CONT’D)
Aquela desgraçada vai me pagar por ter tirado tudo que é meu e isso inclui você.
Lizzie se levanta e sai. CLOSE em Griffin, apavorado.
CENA 20. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
O rosto de Lizzie surge de um corredor lateral. Ela observa de longe a porta de um dos quartos e sorri, enigmática.
CENA 21. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ROSIE E LILY. INTERIOR. NOITE.
Enquanto Rosie dorme, Lily está jogada no tapete entre as duas camas, desenhando em uma folha branca. As cortinas abertas fazem com que a luz da lua ilumine o ambiente escuro.
VOZ FEMININA (V.O.) Lily...
Lily olha para trás, assustada, mas não se move.
VOZ FEMININA (CONT’D)
(V.O.) Preciso de sua ajuda, Lily!
Lily vê Rosie dormindo, levanta-se e abre a porta do quarto. Ela toma coragem e sai.
CENA 22. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
Lily caminha através do tapete e encontra uma boneca de pano sentada no chão. Lily sorri e agacha-se, pegando a boneca.
LILY
Senhorita Martin, por que você está aqui fora? Senti sua falta.
A menina abraça a pequena boneca, até que um vulto escuro passa por suas costas. Lily se vira, não vê ninguém.
VOZ FEMININA
(V.O.) Por aqui, Lily!
CENA 23. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. NOITE.
Lily surge na ponta da escada e olha lá para baixo. Poucas luzes estão acesas e ela não vê ninguém.
LILY
Quem está aí?
VOZ FEMININA
(V.O.) Estou atrás de você!
E Lizzie aparece pelas costas de Lily, empurrando-a. A boneca e pano cai no chão e o corpo de Lily desaba pelos degraus, até estirar-se no piso frio. Lizzie observa com frieza e desaparece. CLOSE no rosto desacordado de Lily.
CHARLOTTE
(O.S.) Oh meu Deus, Lily!
Charlotte vem de outro lado e ajoelha-se nos pés da menina, dando umas batidas em seu rosto.
CENA 24. CHATEAU MARMONT. CONSULTÓRIO DE HERMANN. INTERIOR. NOITE.
P.V. de uma pessoa com a visão distorcida. O rosto de Hermann surge na tela.
HERMANN
(eco) Lily? Você me escuta?
LILY
(O.S.) O que aconteceu?
VOLTA À CENA.
Lily está amarrada na maca do médico. Ela se debate, mas não consegue se soltar.
LILY (CONT’D)
Por que eu estou amarrada? (choraminga) Eu preciso da minha irmã.
HERMANN
(caminha em volta dela) Não minha querida. Eu dar o que você realmente precisa.
Com calma, ele levanta a camisola da menina e vai delicadamente puxando sua calcinha para baixo.
HERMANN (CONT’D)
Você teve um tombo e tanto. O doutor Hermann vai garantir que você fique boa rapidinho.
Hermann aproxima seus lábios dos de Lily, até que os olhos dela se reviram e várias aranhas começam a sair de dentro de sua boca.
HERMANN (CONT’D)
(assustado) Mas o que/...
As aranhas espalham-se pelo chão e vão cercando o médico, que bate contra um armário. Hermann começa a gritar e os animais vão subindo pela sua perna.
HERMANN (CONT’D)
(grita) Socorro!
Uma forte luz branca piscante invade o local e um agudo ruído ecoa na cabeça de Hermann, que cai de joelhos. As aranhas se desmancham e viram pequenas partículas pretas, que vão se juntando até formar a silhueta de um homem muito alto.
Hermann ergue seus olhos e vê a figura do Slenderman.
HERMANN (CONT’D)
(murmura) Oh meu Deus...
Os braços da entidade esticam-se na direção de Hermann e agarram seus pés. Hermann tenta se arrastar pelo chão, tentando fugir, mas é suspenso no ar.
HERMANN (CONT’D)
(se debate, grita) Socorro! Alguém me ajuda! Por favor!
Abre-se uma fenda na cabeça do Slenderman e o médico despenca para dentro da imensidão.
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 25. AMBIENTE DESCONHECIDO.
O corpo de Hermann cai de bruços num chão empoçado de água. O médico ergue seus olhos, não vê nada além de uma imensidão negra. Com dificuldade, levanta-se. Olha para todos os lados, sem rumo. Em OFF, uma risada infantil. Hermann se vira no susto e o corpo vivo de Molly surge pendurado em uma forca.
HERMANN
(arregala os olhos) Molly?
MOLLY
(sorridente) Olá doutor.
HERMANN
Onde eu estou?
MOLLY
(voz distorcida) Bem-vindo ao inferno.
HERMANN
O que fizeram com você?
MOLLY
Quem fez isso foi você. Eu morri por sua causa. Você é um assassino, Bernard.
HERMANN
(grita) Não!
MOLLY
(alto) Assassino!
Ao tentar sair dali correndo, Hermann encontra Lily, de camisola branca, com um urso de pelúcia nas mãos.
LILY
Não há para onde escapar, doutor Hermann.
HERMANN
(apavorado) Eu estou morto?
LILY
Você morreu há muito tempo.
Lily começa a gargalhar e seu corpo vira fumaça, dissipando- se pelo ar. Hermann olha em volta novamente, não vê nada nem ninguém, apenas a imensidão escura.
HERMANN
(berra) Eu preciso sair daqui!
Uma mão feminina paira por seu ombro. Cruella surge e segue caminhando, não sem antes disparar um olhar cínico para ele.
CRUELLA
É tudo meu!
CHARLOTTE
(V.O.) Doutor Hermann?
SUPER CLOSE no rosto pálido de Hermann.
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 26. CHATEAU MARMONT. CONSULTÓRIO DE HERMANN. INTERIOR. NOITE.
Pelo P.V. de Hermann, o rosto de Charlotte invade a tela.
CHARLOTTE
Doutor Hermann?
VOLTA À CENA.
Sem equilíbrio, o médico levanta-se do chão com a ajuda da jovem.
CHARLOTTE (CONT’D)
O que aconteceu? Ouvi seus gritos.
Hermann olha em torno do local e vê tudo intacto, porém Lily não está mais ali.
HERMANN
(confuso) Eu... Eu não sei.
CHARLOTTE
Onde está Lily Tate?
CLOSE na expressão incrédula do médico.
FIM DO ATO II
ATO III
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 27. CHATEAU MARMONT. SALA DE ESTAR. INTERIOR. NOITE.
Local espaçoso e agradável, com vários sofás, uma mesa redonda de vidro e vários quadros espalhados pela parede. Alana está tocando uma belíssima canção no piano, compenetrada. Ela ergue os olhos, vê Lizzie na porta e para de tocar.
ALANA
Lizzie?
Lizzie foge rapidamente. Alana estranha e vai na direção da menina.
CENA 28. CHATEAU MARMONT. INTERIOR. NOITE.
Alana caminha por um corredor largo, repleto de quadros de homens e mulheres, segurando a vela acesa.
ALANA
Lizzie? Fale comigo. Eu sei que você está em algum lugar.
CLOSE na chama da vela.
CENA 29. CHATEAU MARMONT. BIBLIOTECA. INTERIOR. NOITE.
As portas se abrem e Alana entra. Como as luzes estão ligadas, ela deixa a vela sobre um velho balcão de madeira.
O local é enorme, repleto de prateleiras abarrotadas de livros dos mais variados tipos.
ALANA
Interessante.
Alana vai dando uma olhada nos volumes e pega um e outro para conferir a capa. Após passar por quase todas as prateleiras, Alana encontra um livro de encarte amarelo. Ao tentar retirá- lo, ela se surpreende quando a parede se afasta, revelando algum tipo de passagem.
ALANA (CONT’D)
Que diabos...
Alana empurra a parede para o lado com esforço e se depara com uma escadaria para a escuridão. CLOSE em Alana.
CENA 30. CHATEAU MARMONT. PORÃO SECRETO. INTERIOR. NOITE.
Alana desce a curta escadaria de madeira com a vela nas mãos. Ela chega até um local misterioso, repleto de prateleiras empoeiradas com várias caixas etiquetadas.
No centro do ambiente há uma banheira encardida, com vários objetos dentro. Alana olha em volta, curiosa.
Quando ela se vira, a chama da vela ilumina o rosto de Letha. Alana dá um grito de horror e quase cai pra trás.
LETHA
Procurando por alguma coisa?
ALANA
(ofegante) Letha! (respira) Você é como uma sombra.
LETHA
Não sou eu que estou me escondendo nas sombras, senhorita Maxwell.
ALANA
Me desculpe. Eu encontrei esse lugar por acaso.
LETHA
Por acaso não, você estava xeretando em nossa biblioteca, eu a segui lá de cima. A propósito, bela canção no piano.
ALANA
Obrigada.
LETHA
Qual seu objetivo aqui, senhorita Maxwell?
ALANA
(franze a testa) Quem faz essa pergunta sou eu. Crianças que desaparecem. Ruídos misteriosos à noite. Exorcismo. Uma passagem secreta. Por Deus, Letha, quais outros segredos esconde essa instituição?
LETHA
Todos nós possuímos segredos. Quais são os seus?
ALANA
A diretora pediu que você me vigiasse?
LETHA
Nós não confiamos em você, senhorita Maxwell. Está aqui há três dias e já causou muitos problemas pra quem veio apenas escrever uma recomendação sobre duas crianças assassinas.
ALANA
Talvez a diretora esteja incomodada com o fato de eu estar descobrindo a realidade sobre o que acontece aqui.
LETHA
Bom, deixe-me saciar sua curiosidade. Faça sua pergunta que eu ficarei lisonjeada em responder.
ALANA
Eu preciso entender que lugar é esse.
LETHA
Para você entender que lugar é esse, você precisa saber da história do homem que o construiu.
E a CÂMERA aproxima-se da banheira.
LETHA (CONT’D)
(O.S.) Victor Montgomery.
FLASHBACK PARA:
CENA 31. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.
Uma tempestade aproxima-se. Os raios iluminam o céu. O vento forte faz voar as folhas das árvores. Uma carroça estaciona na frente da escadaria da construção.
LETHA
(V.O.) Victor Montgomery construiu a propriedade em 1911, como presente para a esposa, Connie.
A porta da carroça se abre e Victor desce. Em seguida, dá a mão para ajudar CONNIE (43 anos, ruiva, pele clara, barriga de grávida) descer. Connie dá um largo sorriso ao ver a residência.
CONNIE
É perfeita.
Surge o letreiro: 1911
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 32. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE CASAL. INTERIOR. DIA.
Connie deitada em sua cama, bem acomodada, ostentando sua barriga de gravidez.
LETHA
(V.O.) Connie estava grávida do primeiro filho do casal. Victor estava muito contente em finalmente ter o seu tão esperado herdeiro.
CÂMERA se afasta para revelar Victor sentado numa cadeira ao lado da cama, tocando flauta. Connie aprecia a música.
LETHA (CONT’D)
(V.O.) Como a mulher não podia fazer muita coisa, Victor abdicou da carreira de músico para passar os dias tocando flauta para ela, a fim de alegrá-la. Victor definitivamente amava Connie intensamente.
CENA 33. TEATRO MUNICIPAL. INTERIOR. NOITE.
Plateia cheia. As cortinas do palco se abrem para Victor, acompanhado de uma pequena orquestra. Ele começa os primeiros sons da flauta e o restante da equipe entra em seguida, com os outros instrumentos.
CLOSES DESCONTÍNUOS nos presentes do concerto, apreciando a música com os olhos brilhando. CLOSE em Victor no palco, compenetrado.
LETHA
(V.O.) Porém um dia tudo mudou de repente.
CENA 34. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE CASAL. INTERIOR. NOITE.
Connie na cama, com as pernas suspensas, gritando de dor e o rosto encharcado de suor. Duas enfermeiras em torno dela, uma agarrada em sua mão e a outra pressionando a barriga. Victor no fundo do quarto, apreensivo, observando tudo. Connie dá um grito lancinante.
Uma das enfermeiras ergue o feto e rapidamente o entrega para sua colega, que o enrola em um pano branco e sai do quarto.
CONNIE
(ofegante) O que aconteceu? (pega na enfermeira) Cadê meu filho?
Victor se aproxima, exaltado.
VICTOR
Enfermeira?
E a enfermeira olha para Victor, desolada, sem saber o que dizer.
LETHA
(V.O.) O bebê já estava morto há mais de 2 semanas dentro dela.
Quase a matou também.
CENA 35. CEMITÉRIO. EXTERIOR. DIA.
Um pequeno caixão branco sendo colocado dentro da cova. Um grupo de pessoas ali em volta, de preto, em silêncio. Victor e Connie na frente da sepultura, incrédulos. Connie chora e encosta a cabeça no ombro do marido, que está com os olhos cheios de lágrimas.
LETHA
(V.O.) É difícil quando perdemos alguma coisa que queremos muito. A situação ficou terrível depois do trágico nascimento. Connie nunca mais foi a mesma.
CENA 36. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. DIA.
Connie sentada em uma cadeira de palha, com um chapéu na cabeça, apreciando o sol. Victor sai dos fundos do casarão e aproxima-se da esposa. Connie está com o olhar vazio fixo no horizonte.
VICTOR
(agacha) Está tudo bem por aqui?
Connie não responde e muito menos olha para o marido. Victor suspira e pega na mão dela.
VICTOR (CONT’D)
Sei que é difícil Connie, mas odeio ver você assim. Não trocamos uma palavra desde que... (pausa) Desde que aquilo tudo aconteceu. Estou me sentindo destruído por dentro assim como você. Precisamos nos apoiar nesse momento.
Connie se mantém irredutível. Victor baixa a cabeça.
VICTOR (CONT’D)
Eu construí essa casa enorme para que pudéssemos ser felizes como uma verdadeira família, mas tudo parece uma grande mentira agora. (pausa) Eu devolveria cada tijolo se fosse para ter Andrew de volta.
Connie se levanta.
CONNIE
Preciso de um banho.
VICTOR
Connie...
Connie o ignora e entra na residência. Victor fica ali, sozinho, desolado.
LETHA
(V.O.) Victor sequer imaginava que seu inferno ainda não tinha começado.
CENA 37. CHATEAU MARMONT. BANHEIRO. INTERIOR. DIA.
CÂMERA AÉREA mostra Connie dentro da banheira. Ela respira fundo, fecha os olhos e afunda-se na água. BATIDAS na porta. Victor abre.
VICTOR
Connie?
Connie está morta dentro da banheira, com os dois braços retalhados. O sangue misturado com a água transborda e toma conta do piso branco.
VICTOR (CONT’D)
(berra) Connie!
Victor corre até a esposa e a puxa para fora da banheira. Victor começa a chorar desesperadamente, abraçado no corpo nu e sem vida da mulher.
CENA 38. CHATEAU MARMONT. QUARTO. INTERIOR. DIA.
Victor sai do banheiro, molhado de sangue, e abre a gaveta de um armário. Ele retira de lá um pequeno revólver e coloca dentro da própria boca.
LETHA
(V.O.) Por um segundo ele achou que a saída era apertar o gatilho.
Victor fecha os olhos, mas seu corpo paralisa. Ele chora feito uma criança e deixa a arma cair no chão. Aos poucos, vai perdendo as forças nas pernas e senta-se, escorado no armário.
LETHA (CONT’D)
(V.O.) Ele não tinha coragem. É uma pena, pois teria sido muito melhor se ele tivesse tirado a própria vida.
FIM DO FLASHBACK.
CENA 39. CHATEAU MARMONT. PORÃO SECRETO. INTERIOR. NOITE.
Continuação da cena 29. Letha se aproxima da banheira empoeirada.
LETHA
Foi dentro dela que Connie Montgomery cometeu suicídio. Não é assustador? A banheira possui uma energia muito negativa.
ALANA
Por que vocês mantém ela aqui?
LETHA
Quando o casarão foi doado à Igreja, a maioria dos móveis foi trocado, mas de alguma forma eles não conseguiram se livrar disso, então deixaram aqui, junto de outros objetos pessoais do fundador.
ALANA
É uma história bastante cinematográfica.
LETHA
A vida de Victor Montgomery daria um ótimo filme de terror, com certeza.
ALANA
O que aconteceu depois da morte de Connie? Victor superou?
LETHA
Querida, que homem superaria a morte de um filho e o suicídio da esposa? Victor nunca superou. Ele enterrou Connie e seguiu com sua vida, é claro. Para as pessoas, ele aparentemente havia superado tudo aquilo. Mas bem no fundo, só ele sabia a verdade.
FLASHBACK PARA:
CENA 40. CHATEAU MARMONT. SALA PRINCIPAL. INTERIOR. NOITE.
Uma mão masculina bate com um garfo em uma taça de champanhe.
VICTOR
(O.S.)
Sua atenção, senhoras e senhores!
CÂMERA se afasta e revela um grupo de pessoas dispostas pelo local, em uma festa, todos vestindo as mais diversas fantasias. Victor na frente de todos eles, sorridente, fantasiado de Conde Drácula.
VICTOR (CONT’D)
Gostaria de dizer que é uma honra recebê-los em minha residência, especialmente nessa data tão festiva. (pausa) Halloween sempre foi minha data preferida. Eu nunca me importei com esse negócio de doces ou travessuras. Na verdade, pra mim tudo soava chato demais. O que eu mais gostava no Halloween eram as histórias de terror sobre os espíritos que andavam livres entre nós, humanos, pregando peças na escuridão. Eu espero que todos aqui sejam de carne e osso, por Deus!
Os convidados dão risada.
VICTOR (CONT’D)
Eu gostaria de saber qual de vocês é corajoso o suficiente para entrar na minha câmara dos horrores.
CLOSE em Victor.
CENA 41. CHATEAU MARMONT. SALA MISTERIOSA. INTERIOR. NOITE.
Local com pouca luz, iluminado por apenas alguns castiçais. Há cerca de 10 mesas redondas dispostas pelo ambiente, cada uma delas com vasilhas ou panelas fechadas. Victor entra acompanhado de dois rapazes e aproxima-se de uma das mesas.
VICTOR
Conseguem adivinhar o que há aqui dentro?
Victor ergue parte da tampa e um dos rapazes coloca as mãos lá dentro. Ele examina o conteúdo e sorri para Victor.
RAPAZ #1
Seus empregados devem ter levado a tarde inteira descascando uvas.
Victor abre a panela e revela vários olhos humanos boiando em sangue. Ele dá risada e vai para outra mesa.
VICTOR
Gostaria de por a mão na próxima surpresa? Vou te dar uma dica. É longo, molhado e muito escorregadio.
O segundo rapaz coloca a mão no conteúdo, temeroso, enquanto Victor se diverte.
RAPAZ #2
(mexe) Eu diria que é um cordão de linguiças.
Victor ergue a tampa e revela várias partes de intestinos também boiando em sangue.
RAPAZ #1
(sorri) Belas peças, senhor Montgomery. Quase me fazem acreditar que são de verdade.
VICTOR
Eu tenho apenas mais uma surpresa para vocês, meus jovens rapazes. Espero que sejam corajosos o suficiente. Deem uma olhada.
Victor vai até outra mesa, onde dá uma bandeja. Ele ergue e os dois rapazes começam a gritar ao verem a cabeça decapitada de Rudy, com os olhos arregalados. Eles saem correndo dali, enquanto Victor gargalha.
VICTOR (CONT’D)
Vocês não são homens o suficiente para a minha câmara dos horrores!
CENA 42. CHATEAU MARMONT. PORÃO SECRETO. INTERIOR. NOITE.
Victor desce a escada de madeira segurando um castiçal e caminha entre várias celas, onde várias crianças estão trancafiadas. Uma delas pula contra a grade e joga fezes no rosto de Victor, que o encara.
VICTOR
Você vai se arrepender por ter feito isso com o papai, Donnie.
CRIANÇA
(O.S.) Por que você faz isso com a gente?
Victor se vira e vê uma menina toda suja, suada e acuada, sentada no chão.
VICTOR
(sorri) Por que eu posso?
CRIANÇA
Nos deixe sair daqui!
VICTOR
E por que faria isso? Essa é a sua casa, vocês são meus bebês.
Ficaremos juntos pra sempre.
CENA 43. ESCOLA. PÁTIO. EXTERIOR. DIA.
Um grupo de crianças brincando de esconde-esconde no gramado. Victor está do outro lado da grade, as observando com um olhar perturbador.
LETHA
(V.O.) A tragédia fez com que Victor enlouquecesse. Aflorou o psicopata que sempre existiu dentro dele. Ele estava obcecado pela ideia de ter um filho e para isso passou a sequestrar diversas crianças na região.
CENA 44. HOSPITAL. CORREDOR. INTERIOR. DIA.
CÂMERA acompanha dois sapatos brancos caminhando pelo piso xadrez.
LETHA
(V.O.) Ele ia até hospitais, orfanatos e escolas e enganava os pequenos anjinhos. Um de seus métodos favoritos era seduzi-los com a melodia de sua flauta, do mesmo jeito que tocava para Connie.
CÂMERA sobe revelando Victor vestindo o jaleco dos enfermeiros. Ele aproxima-se de uma porta, olha para os lados e entra. CLOSE na placa fixada na parede: “ALA INFANTIL”.
CENA 45. RUA. EXTERIOR. NOITE.
Victor caminhando entre as sombras, tocando sua flauta. Atrás dele, várias crianças em fila indiana, o acompanhando, admiradas pela canção.
ALANA
(V.O.) E como tudo isso terminou?
LETHA
Bem, este é um grande mistério.
CENA 46. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.
PLANO GERAL da fachada do casarão. Pequenas partículas pretas voam pelo ar em direção a residência.
CENA 47. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE VICTOR. INTERIOR. NOITE.
A luz da lua penetra pelas frestas da janela. Victor dorme profundamente em sua cama. Uma pequena fumaça de cor escura começa a entrar por debaixo da porta e tomar conta o ambiente.
LETHA
(V.O.) Algo visitou Victor aquela noite e fez com que ele pagasse por todos os seus crimes.
Victor acorda e assusta-se ao ver a fumaça. Ele salta da cama, corre para fora do quarto.
CENA 48. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
Ao fundo do local, está a figura do Slenderman, imóvel. Victor o observa com curiosidade.
VICTOR
Quem é você? Esta é minha propriedade.
A corpo do homem se contorce para trás e uma fenda se abre em sua cabeça sem rosto. De lá saem labaredas, que voam na direção de Victor e consomem todo o seu corpo.
VICTOR (CONT’D)
(berra) Socorro!
Victor se debate, mas o fogo aumenta. Ele cambaleia para trás e colide contra a vidraça na parede. O vidro se quebra e Victor despenca lá de cima.
CENA 49. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.
CÂMERA aproxima-se lentamente do corpo de Victor, em cima de uma pilha de madeiras, todo deformado devido as queimaduras. CLOSE nos olhos arregalados dele.
LETHA
(V.O.) O corpo de Victor Montgomery foi encontrado pelas autoridades somente 10 dias depois, já em estado de decomposição. As crianças no porão haviam simplesmente desaparecido.
FIM DO FLASHBACK.
CENA 50. CHATEAU MARMONT. PORÃO SECRETO. INTERIOR. NOITE.
Continuação da cena 38. Letha e Alana conversando.
LETHA
Depois que o corpo de Victor foi enterrado, a mansão ficou disponível para compra. A trágica história fez com que os preços caíssem, mas ainda sim poucas pessoas se mostraram interessadas em comprá-la.
ALANA
Independente para onde formos, sempre vamos nos deparar com a história de alguém.
LETHA
Pois é, mas nada como essa história. Na verdade algumas famílias até tentaram viver no Chateau por um tempo, mas todas. fugiam em desespero. Diziam ser assombrada. Eles ouviam o som da flauta de Victor durante a noite. Aterrorizante. A fama cresceu e o governo adquiriu o imóvel.
ALANA
Que posteriormente foi doado à Igreja.
LETHA
Exatamente. O Reverendo Fain decidiu escrever uma nova história para esse lugar e acabou fundando nosso orfanato.
ALANA
Quem você acha que assassinou Victor Montgomery e levou as crianças aprisionadas?
LETHA
É difícil dizer. Talvez tudo isso seja inventado, uma lenda urbana. Talvez ele tenha se suicidado e as crianças arrumaram um jeito de fugir, não sei. O que você acha, senhorita Maxwell?
ALANA
Eu não acredito em fantasmas.
Letha sorri e concorda. CLOSE em Alana.
CENA 51. CHATEAU MARMONT. CONSULTÓRIO DE HERMANN. INTERIOR. NOITE.
Hermann sentado na maca, enquanto Charlotte limpa seu rosto machucado com algodão.
HERMANN
Você teve um dia longo hoje, Charlotte. É melhor subir e descansar.
CHARLOTTE
Imagine doutor. Não saio daqui enquanto não cuidar dos seus machucados.
HERMANN
Você é tão adorável.
CHARLOTTE
É meu trabalho cuidar das pessoas.
HERMANN
Letha não iria gostar de te ver no meu consultório a essa hora da noite.
CHARLOTTE
Dadas as circunstâncias, tenho certeza que ela entenderia. Você levou um belo tombo.
HERMANN
É o que parece.
CHARLOTTE
O que realmente aconteceu, doutor Hermann?
HERMANN
Eu não consigo explicar. Foi como uma alucinação, uma miragem. Tudo aconteceu muito de repente.
CHARLOTTE
Lily Tate fez isso com você?
HERMANN
Não, claro que não. Não tenho ideia de como ela desapareceu.
CHARLOTTE
Me pareceu que você estava sendo atacado por alguém.
HERMANN
Charlotte, talvez não seja bom falarmos sobre isso. Foi apenas uma confusão minha. Acho que acabei tropeçando e caí no chão, foi isso.
CHARLOTTE
Tudo bem, já acabei por aqui.
Hermann desce da maca.
HERMANN
Obrigado. Pode ir agora.
CHARLOTTE
Com licença.
Charlotte baixa a cabeça e sai. Assim que a porta se bate, Hermann caminha até a janela e olha lá fora. Ele fecha as cortinas, amedrontado.
FADE OUT.
FIM DO ATO III
ATO FINAL
FADE IN:
CENA 52. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ROSIE E LILY. INTERIOR. NOITE.
Rosie dormindo placidamente. CÂMERA aproxima-se de seu rosto e a IMAGEM SE DISTORCE.
FUNDE COM:
CENA 53. LOCAL DESCONHECIDO. EXTERIOR. NOITE.
CÂMERA em TRAVELLING revela várias crianças, lado a lado, dispostas em um enorme paredão de madeira. Suas cabeças estão escondidas dentro de sacos escuros, onde estão pintados rostos deformados. Ao fim da parede, uma das crianças retira o saco da cabeça. É Lily.
LILY
(emocionada) Não faça isso.
E ela começa a gritar desesperadamente.
CENA 54. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ROSIE E LILY. INTERIOR. NOITE.
Rosie salta da cama, suada. Ela põe as duas mãos na cabeça e tenta se recompor. Quando olha para a cama de Lily, percebe que a menina não está ali.
ROSIE
Lily?
Rosie salta da cama, nervosa, e vê a boneca de pano de Lily no tapete. CLOSE na boneca. Em OFF, BATIDAS na porta.
CENA 55. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE GRIFFIN. INTERIOR. NOITE.
Griffin abre a porta. Rosie entra.
GRIFFIN
Rosie?!
O menino rapidamente fecha a porta. Rosie anda de um lado para o outro.
ROSIE
Desculpa aparecer assim. Eu preciso da sua ajuda.
GRIFFIN
(fala baixo) É perigoso para você estar aqui!
ROSIE
Eu sei, mas é urgente. (respira) Acho que minha irmã desapareceu.
GRIFFIN
Desapareceu?!
ROSIE
Eu acho que sim. Acordei de um pesadelo e notei que a cama dela estava vazia. Ela sumiu, Griffin. Ou pior/...
GRIFFIN
(interrompe) Foi sequestrada.
ROSIE
Eu tenho certeza que isso é coisa daquela psiquiatra. Ela decidiu culpar Lily pelo que aconteceu com meu pai. (trêmula) Eu preciso fazer alguma coisa.
GRIFFIN
Fica calma!
ROSIE
Você tem que me ajudar a procurá- la, Griffin. Se ela realmente foi levada, não deve estar longe daqui. Quem sabe ainda esteja dentro do orfanato.
GRIFFIN
Você enlouqueceu de vez? Não podemos zanzar por aí à noite. Se Letha nos descobre, ela vai contar pra diretora e então/...
ROSIE
(interrompe) Eu não ligo para a diretora! É a vida da minha irmã que está em jogo Griffin. Eu prometi que jamais a abandonaria e vou fazer jus à essa promessa. Eu vou atrás dela e preciso de você.
GRIFFIN
(nervoso) Rosie...
ROSIE
Você é meu amigo ou não é?
GRIFFIN
Lógico que eu sou!
ROSIE
Então me ajuda. Por favor!
Griffin respira fundo e, mesmo hesitante, concorda com a cabeça.
ROSIE (CONT’D)
Eu sabia que podia contar com você.
GRIFFIN
Ok!
Ele vai até a janela e dá uma olhada no jardim.
GRIFFIN (CONT’D)
Qual é o plano?
CLOSES DESCONTÍNUOS nos dois.
CENA 56. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE LETHA. INTERIOR. NOITE.
Letha sai do banheiro de camisola, puxa as cobertas e se deita na cama. Ela fecha os olhos e, segundos depois, os abre. Letha dá um suspiro agoniado e senta-se. Ela olha a imagem de Jesus Cristo crucificado na parede.
CENA 57. CHATEAU MARMONT. SUÍTE DE CRUELLA. INTERIOR. NOITE.
BATIDAS na porta. Cruella aproxima-se e abre. Dá de cara com Letha, de roupão e cabelos soltos.
CRUELLA
Algum problema?
LETHA
Precisamos conversar.
Cruella a encara e afasta-se, permitindo que ela entre no ambiente.
CRUELLA
Seja breve, Letha. Estou prestes a me arrumar para um jantar com o Reverendo.
Letha percebe o vestido esticado em cima da cama e franze a testa.
LETHA
Jantar?
CRUELLA
Eu o convidei. Temos muito o que conversar sobre o futuro dessa instituição. Enfim, isso não é do seu alcance. Vá direto ao ponto. Qual o motivo dessa conversa?
LETHA
Nós nos conhecemos há praticamente duas décadas e eu sempre a respeitei profundamente. Quando o Reverendo decidiu colocá-la no comando do Chateau, fiz uma promessa de jamais esconder qualquer coisa de você.
CRUELLA
Exatamente. E apesar dos recentes acontecimentos, você nunca deu margem para que eu duvidasse da sua lealdade.
LETHA
Eu quebrei a promessa, Cruella. Eu omiti uma coisa muito importante. Isso está me corroendo por dentro. Não posso esconder mais nada.
CRUELLA
(cruza os braços) O que houve Letha?
LETHA
É sobre Shelley.
CRUELLA
A garota que fugiu.
LETHA
Ela não fugiu. Ela foi assassinada.
Cruella levanta as sobrancelhas, surpresa.
LETHA (CONT’D)
Eu me livrei do corpo e acobertei o assassino, me desculpe.
CRUELLA
Quem?
Letha baixa a cabeça e, de repente, começa a chorar. Cruella se irrita e dá um tapa na cara dela.
CRUELLA (CONT’D)
(alto) Pare já com isso.
Letha põe a mão no rosto e encara Cruella, com os olhos vermelhos.
CRUELLA (CONT’D)
Nada de piedade no meu orfanato. (pausa) Me diga, quem matou Shelley?
LETHA
Foi Lizzie.
Cruella pensa por alguns instantes e abre um sorriso.
CRUELLA
Bom saber.
CENA 58. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. NOITE.
Alexia desce a escadaria com um molho de chaves nas mãos. Ela cruza o hall rapidamente e entra em outro ambiente. Pouco tempo depois, Rosie e Griffin também descem a escada e, pé por pé, seguem a direção da mulher.
CENA 59. CHATEAU MARMONT. COZINHA. INTERIOR. NOITE.
Alexia entra. Ela vai até uma estreita porta de madeira ao fundo do local, destranca a fechadura e entra, fechando-a em seguida. Rosie e Griffin aparecem.
GRIFFIN
(murmura) Onde ela está indo?
ROSIE
Não sei, mas talvez seja para onde tenham levado a Lily. Vamos atrás dela.
Griffin concorda e os dois entram pela portinhola.
CENA 60. CHATEAU MARMONT. INTERIOR. NOITE.