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Laços de Amizade - Capítulo 24

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CAPÍTULO 24 - ÚLTIMO CAPÍTULO
 
     
 
     

 

     
 

| CENA 01 | Noite. Bar Ponto de Encontro. Interior.

O ambiente está lotado. Todas as mesas estão ocupadas. No andar de cima a pista de dança está animada, muitos jovens dançam ao som de um hit eletrônico, as luzes são fortes. Melissa e Janaína servem as mesas, apressadas e confusas com tanto trabalho. Valeska e Vanessa entram no local pela porta dupla. Valeska já começa a se mexer ao som da música. Vanessa está apreensiva.

VALESKA: Ai, se anima, maninha! Olha isso aqui! Tá bombando.

VANESSA: Não to no clima, Val. Acho melhor eu ir.

Valeska observa todo o local e vê Ronaldo e Carlos, sentados a uma mesa.

VALESKA: Olha só quem ta ali. O cara mais velho!

Ela aponta. Os olhares de Vanessa e Ronaldo se cruzam. Ele cumprimenta a garota cinicamente oferecendo uma bebida, de longe. Vanessa se apavora.

VANESSA: Eu quero ir embora! Vamos sair daqui, por favor!

VALESKA: Nem pensar. À noite ta só começando. Vamos pra pista!

Valeska arrasta Vanessa para o andar de cima. Na mesa de Carlos e Ronaldo, três garrafas de cerveja e dois copos cheios.

RONALDO: Ganhei a noite!

CARLOS: E eu, a minha. Olha só quem ta chegando. Serão dois coelhos numa cajadada só.

Ele toma que sobrou da cerveja no copo.

RONALDO: É o granfino...

Carlos sorri de canto de boca. Close na entrada do bar, Darlan cruza a porta e vai em direção a Chad, que está no balcão. Janaína percebe sua presença, mas disfarça. Ela passa com uma bandeja pela mesa de Carlos e Ronaldo.

JANAÍNA: Veio fazer o que aqui?

RONALDO: Isso é jeito de tratar um cliente? Vou reclamar com a gerência hein.

Melissa surge por trás de Janaína, com aquele sorriso.

MELISSA: Algum problema, senhores?

RONALDO: Problema? Com você aqui não tem problema nenhum, delícia.

MELISSA: O senhor me respeite que sou uma mulher casada.

Ela mostra o anel de compromisso.

RONALDO: Casada... E gostosa!

Carlos e Ronaldo riem, sacanas. Melissa se ofende e se prepara para dar uma resposta.

JANAÍNA: Deixa isso pra lá, Melissa. Não vale a pena perder tempo com dois bêbados.

Janaína tira Melissa dali. Eles ainda estão rindo.

RONALDO: Vou chegar na loirinha.

Ele se levanta da mesa indo em direção ao andar de cima. Carlos observa Janaína, fissurado. Enquanto ela olha Darlan, de costa para ela, conversando com Chad.

CARLOS: Desgraçada.

Melissa e Janaína passam pelo balcão, indo para cozinha.  

CHAD: A que devo a honra de sua presença no meu humilde estabelecimento, senhor Darlan?

DARLAN: A ocasião é oportuna, meu caro.

CHAD: Bebe alguma coisa?

DARLAN: Um whisky, por favor.

CHAD: No capricho. O primeiro é por conta da casa!

No andar de cima. As pessoas estão frenéticas, dançando ao som da balada eletrônica. O DJ manuseia a aparelhagem. Valeska chama atenção de todos no local com sua dança até perceber Ronaldo se aproximando. Ela para e fala ofegante. Vanessa está tensa.

VALESKA: Garota de sorte...! Ele ta vindo aí!

Vanessa está apavorada, mas tenta esconder. Ronaldo se aproxima, com um sorriso sacana no rosto.

VALESKA: Deixa de ser boba e vai logo falar com ele.

Valeska literalmente empurra a irmã para os braços de Ronaldo e continua dançando.

RONALDO (cínico): Sentiu saudades, belezinha?

VANESSA: Se você não me soltar eu grito!

RONALDO (ameaçador): E aí eu estouro os miolos da sua irmãzinha.

Ele levanta o lado direito de sua blusa pólo azul, deixando a ponta de um revólver à mostra. Vanessa aperta os olhos para ter certeza daquilo.

RONALDO: Agora. Devagar. A gente vai sair daqui e vamos pro meu carro. Feito um casalzinho.

Ele segura com delicadeza o braço dela e os dois começam a caminhar. Valeska observa e fica feliz pela irmã. Vanessa treme.

| CENA 02 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Sala. Interior.

A porta é aberta e por ela entram Igor, Celso e Jaqueline, que conduz a cadeira de rodas do namorado.

IGOR (abalado): Vou pro meu quarto.

Ele se retira. Jaqueline posiciona Celso próximo ao sofá e se senta.

CELSO: Como é que você ta, hein?

JAQUELINE: Descobrir que você foi enganada a vida inteira pela sua própria mãe é algo totalmente inacreditável, Celso. Ela diz que fez tudo isso por nós, mas, será mesmo? No fundo eu não acredito. Alguém que é capaz de mentir por tanto tempo, é capaz de qualquer coisa. Além disso, ela tentou matar uma pessoa! (pausa) E o que mais me dói é saber que ela fez isso só pra se beneficiar e se livrar da cadeia. Egoísta!

CELSO: Não fica assim, Jaque. Vai passar.

JAQUELINE (chorando): É como se eu não conhecesse a mulher que me deu a vida, entende?

Ele limpa as lágrimas dela.

CELSO: Eu to aqui do seu lado, viu?!

JAQUELINE: Me sinto tão mal pelo modo como tenho tratado a Janaína.

CELSO: Quanto a isso não precisa se preocupar. A Janaína entende o lado de vocês. Sem falar que ela não pode culpá-los de nada. Essa mentira toda só começou porque ela compactou com sua mãe.

JAQUELINE: Isso não muda o fato de que nessa história, ela é a vítima. Foi presa. Perdeu anos da vida trancada e quando saiu não teve chance pra recomeçar. E olha como ela foi ganhar a vida?

CELSO: Isso é passado. Agora ta tudo bem. Ela ta refazendo a vida ao lado da Bruna, trabalhando no Ponto e tudo.

JAQUELINE: Eu me sinto tão culpada quanto aquela mulher deveria se sentir!

CELSO: Aquela mulher é sua mãe. Com seus defeitos, mas é sua mãe e isso não vai mudar nunca.

JAQUELINE: Já mudou, Celso. Pra mim, ela morreu!

| CENA 03 | Bar Ponto de Encontro. Exterior.

Ronaldo e Vanessa saem do bar pela porta dupla. O modo gentil como ele a levara até a saída se converte em grosseira. Ronaldo segura com força o braço dela, que tenta se soltar, em vão.

VANESSA: Por favor, me deixa em paz...

RONALDO (cheirando-a): Não consigo.

VANESSA: O que é que você vai fazer comigo?

RONALDO (saliente): Advinha?!

Um gol preto estaciona na calçada contrária a entrada do bar. No interior do veículo, Cláudio. Ele se prepara para abrir a porta quando percebe os dois se afastando. Ronaldo agora puxa o cabelo de Vanessa e aponta a arma para sua cabeça.

CLÁUDIO (afobado): Vanessa...?!

Ronaldo joga Vanessa dentro do carro com grosseira. Entra no lado do motorista e liga o carro, saindo dali rapidamente. Cláudio espera um pouco e também da à partida.

| CENA 04 | República Universitária Laços de Amizade. Quarto Uva. Interior.

Luciano, vestindo uma calça jeans azul e uma camiseta regata preta, enxuga os cabelos numa toalha branca. Há um pequeno micro system, ligado. O som ambiente toca

MÚSICA: O que é que eu faço pra tirar você da minha cabeça – Ivo Mozart

Ele joga a toalha na cama e encara o espelho, pensativo. Arruma os cabelos com a mão e vai em direção ao guarda-roupa. Tira de dentro dele uma mochila preta e abre uma gaveta, abaixo de uma das portas do móvel. Ele tira várias roupas de dentro e joga dentro da mochila. Abre outra gaveta e faz o mesmo. Corta para o

CORREDOR,

Fabiana sai de seu quarto e fica de frente para o quarto Uva. Ela hesita, mas se aproxima e se prepara para bater na porta. Desiste. Retira-se dali.

Fim da sonoplastia.

| CENA 05 | República Universitária Laços de Amizade. Sala. Interior.

Fabiana desce as escadas e vai em direção a cozinha, onde estão sentados Celina e José, fazendo a refeição.

CELINA: No fuiste a bailar como los outros hicieron? [Não foi dançar como os outros fizeram?]

JOSÉ (portunhol): Achamos que iba. Decidimos no esperá-la para el jantar.

FABIANA: Tudo bem. Não to mesmo com fome.

CELINA: Hablaste con el papa de tu chavito? [Você falou com o pai do seu garotinho?]

FABIANA: Não, Celina. E na boa, não quero que volte a falar do Luciano.

JOSÉ: No es bueno guardar en el corazón malos sentimientos, muchacha. [Não é bom guardar maus sentimentos no coração, garota.]

CELINA: Piensa en tu hijo, Fabiana. Él necesitará y echará de menos a un papá. [Pensa em teu filho, Fabiana. Ele precisará e sentirá falta de um pai.]

FABIANA: Hum... Não entendi muito bem o que disseram. Mas, quer saber de uma coisa? Vocês têm toda razão!

CELINA: ¿Verdad?

JOSÉ: Gracias a Dios ha percebido. [Graças a Deus você percebeu]

FABIANA: Meu filho vai mesmo precisar de um pai. E é por isso mesmo que to indo atrás de um... Na balada! Chega de ficar nessa fossa.

CELINA (nervosa): No, chica! No es así! [Não, menina! Não é assim!]

FABIANA: “Gracias a los dos” pelos conselhos. Mas, já chega de encarar o problema como um problema. É hora de procurar uma solução.

JOSÉ: Desde que no sea un aborto! [Desde que não seja um aborto!]

FABIANA: Não se preocupe, José. Aprendi a lição. Deixa eu ir me arrumar pra cair na nigth. Eu mereço!

Fabiana volta para o quarto, empolgada. Celina e José se entreolham.

CELINA: Lo siento por este niño que vendrá! [Sinto pena do menino que vem por aí!]

JOSÉ (sorrindo): No se olvide que estaremos aqui para ayudarla! [Não se esqueça que estaremos aqui para ajudá-la.]

| CENA 06 | Condomínio Almirante. Apartamento 209. Sala. Interior.

Celso está sentado no sofá, Jaqueline deitada em seu colo. Igor está em uma poltrona. Há uma pizza e uma garrafa grande de refrigerante na mesinha de centro.

IGOR: Ela foi hoje, no final da tarde. O Cláudio foi deixá-la no aeroporto depois que... (pausa)

CELSO: Depois que se despediram? Não me importo mais, cara. Na boa.

IGOR: Olha, Celso. Só queria te falar que eu não fiz por mal. E eu não tenho nada contra você. Mas aquele otário do Cláudio ta sempre me provocando e eu acabo aceitando as provocações dele.

JAQUELINE: É uma competição idiota que parece não ter fim.

Igor reprova Jaqueline com o olhar.

CELSO: No fundo sei bem como é. O Cláudio sempre conseguia me meter nas encrencas dele. E na maioria das vezes, eu levava a pior. Como vocês mesmo podem constatar. Mas eu abri os olhos. E tu ainda tem tempo pra isso, cara.

Igor assente com a cabeça.

IGOR: Vou dar uma saída. Preciso esfriar a cabeça.

Ele se levanta.

JAQUELINE: Vê se não demora, ta?

IGOR (estranhando): Quê que é? Tá preocupadinha comigo agora?

JAQUELINE (hesitante): É que...

CELSO: Pode falar, Jaque. Não tenha medo.

Jaqueline também se levanta e fica de frente para o irmão.

JAQUELINE: Não sei se você se deu conta, seu idiota. Mas, a partir de agora... Somos só você e eu.

Igor engole em seco, hesita, mas abraça a irmã. Celso sorri. Igor sai logo em seguida, sem dizer nada. Jaqueline encara Celso, limpando a lágrima que escorria.

CELSO: To orgulhoso de você, meu amor.

Ela força um sorriso, sentando-se ao lado dele.

JAQUELINE: Não ta sendo fácil.

CELSO: Agora eu queria falar outra coisa com você. Sobre o que ouviu hoje na fisio.

JAQUELINE: Não. Tudo bem. Não precisa falar nada, se não quiser.

CELSO: Mas eu quero. Quero te dar a certeza de que, apesar do respeito e admiração que tenho pelo doutor Humberto, eu não correspondo ao que ele sente. Devo muito a meu médico, mas o que ele quer não posso, e não vou dar.

JAQUELINE: Não precisa me dizer o que já sei, amor. Só fiquei chocada na hora, pela situação. Tipo, o fisioterapeuta do meu namorado, se declarando pro meu namorado! Foi bem constrangedor.

CELSO: Se você quiser, eu peço pra trocarem de médico. Acho até que o próprio Humberto vai preferir.

JAQUELINE: Não. Deixa como estar. Vai acabar prejudicando o processo e eu quero que você se recupere o quanto antes.

CELSO: Por quê? Tem vergonha de namorar um cadeirante?

JAQUELINE: Que bobagem é essa agora?!

CELSO: Pode falar, Jaque. Eu sei que sou um atraso na sua vida.

JAQUELINE: Como você pode dizer uma coisa dessas depois de todo apoio que tem me dado com o que aconteceu?

CELSO: É como eu me sinto. Não é fácil lidar com essa situação! Eu tinha uma vida antes de sofrer esse acidente.

JAQUELINE: Como assim tinha uma vida? Você não ta morto.

CELSO: Mas to inválido, o que dá praticamente na mesma. Eu não posso te condenar a ficar comigo, Jaqueline. Você é bonita, forte. E merece alguém saudável pra que vocês possam... Possam... Desfrutar da vida que os jovens levam, com tudo que tem direito.

Ela contém o riso.

JAQUELINE: Você tá parecendo um velho querendo me aconselhar.

CELSO (sério): Não brinca comigo.

JAQUELINE: Do que você ta falando especificamente?

CELSO: Você sabe especificamente do que eu to falando. Nós jovens, pelo menos os que podem obviamente, queremos viver a vida ao máximo, sem limites. Conhecer os prazeres...

JAQUELINE: Entendi. Você ta falando de sexo.

CELSO: Claro que é. Você não sente vontade não?! Eu sei que sente. E eu não posso fazer nada a respeito. E é por isso que você tem que procurar alguém saudável.

JAQUELINE: Um cadeirante pode sim ter uma vida sexual ativa, mesmo que o parceiro tenha deficiência, ou não. Você só precisa aprender a reativar sua sexualidade que ficou adormecida com o trauma do acidente. São inúmeras as maneiras que existem de estímulo pra isso, meu amor. E no nosso caso acho que não vai precisar de muito esforço não.

Ela ri, saliente.

CELSO: Como sabe disso tudo?

JAQUELINE: Pesquisei na internet ué.

CELSO: Mas... (pausa)

JAQUELINE: Mas a gente não pode fazer nada ainda, até que você recupere sua autoconfiança.

MÚSICA: Em busca da fé – Chimarruts

CELSO (triste): Não sei se posso.

JAQUELINE: Eu tenho certeza que pode.

CELSO (sorrindo): Eu te amo.

JAQUELINE: Te amo mais.

Eles se beijam.

Fim da sonoplastia.

| CENA 07 | Bairro Santa Felícia. Casa de Carlos. Exterior.

O carro de Ronaldo estaciona na calçada da casa. Ele sai do carro e dá a volta para abrir a porta do lado do carona. Vanessa está tremendo de medo. Ele a arranca do carro com violência. Há alguns metros dali, um gol preto estaciona, na mesma calçada. Cláudio sai do carro, a espreita, de longe observa Ronaldo segurando o braço de Vanessa com força e a conduzindo para o interior na casa. Na sala Ronaldo joga Vanessa de qualquer jeito. Ela evita a queda se apoiando no sofá velho. Ele coloca a arma num balcão perto da entrada do banheiro.

VANESSA (geme a fala/chora): Me deixa ir. Eu imploro.

Ele se aproxima dela, excitado, cheirando-a no pescoço.

RONALDO: Tava morrendo de saudade desse teu cheiro, sabia?!

Vanessa chora, em pânico. Ele se estressa. Arregala os olhos, fora de si.

RONALDO (grita): Cala essa boca! Não tem motivo pra chorar, cachorra. Não vai querer que eu perca a paciência, vai?!

Ela engole o choro, com medo.

| CENA 08 | Bar Ponto de Encontro. Interior.

A movimentação continua intensa. Janaína, Melissa e outras duas garçonetes servem as mesas. Clientes chamam-nas toda hora. A pista de dança ainda animada. Valeska dança incansavelmente, segurando uma garrafa de energético nas mãos. No andar de baixo, Marcelo está sentado em uma mesa, sozinho. Ele observa o pai, sério, e nem percebe Fabiana se aproximando.

FABIANA: Um doce pelos seus pensamentos!

MARCELO: Fabi! Tá fazendo o que aqui, garota? Você ta grávida.

FABIANA (sentando-se): E daí?

MARCELO: Você tem se cuidar a partir de agora.

FABIANA: Ai, Marcelo. Deixa de ser careta, cara.

Janaína passa com uma bandeja pela mesa dos dois e para ali.

JANAÍNA: Fabi?!

FABIANA: Oi, Jana.

JANAÍNA: Você não devia estar aqui. Pode fazer mal pro bebê.

Fabiana revira os olhos. Melissa, que acabara de chegar.

MELISSA: Eu ouvi a palavra ‘bebê’?

FABIANA: Ouviu sim, Melissa. To grávida!

Melissa dá um grito, animada. Puxa Fabiana e abraça.

MELISSA: Parabéns, querida! Que nasça forte e saudável. E que seja um menininho porque quando eu e Chadinho tivermos nossa Brigite, eles serão namoradinhos, já pensou que fofo?! Mal posso esperar pra ser mãe.

FABIANA: Já eu não teria problema nenhum em esperar mais um pouquinho. Mas, já que aconteceu né!

MELISSA: Mas você não pode ficar nessa agitação toda, menina. Pode fazer mal hein!

Marcelo ri.

MARCELO: Pelo visto eu não sou o único careta por aqui.

FABIANA: Ai, vocês me cansam! Vou dançar um pouquinho. E você vem comigo, Marcelo.

MARCELO: Acho melhor...

Fabiana puxa Marcelo pelo braço sem lhe dar chance de resposta. Melissa e Janaína riem. Um homem chama uma delas. Melissa vai. Darlan ainda está no balcão, tomando umas. Chad não está lá. Janaína caminha em direção a cozinha, mas é abordada por Carlos que surge em sua direção. Ele segura o braço dela. Ela se solta.

CARLOS: Espera aí. Quero falar contigo.

JANAÍNA: Me deixa em paz. To trabalhando.

CARLOS: Se não vier comigo, faço um estrago!

JANAÍNA (impaciente): Faça o que quiser.

Janaína vai em direção a cozinha.

CARLOS: Eu avisei.

| CENA 09 | Bairro Santa Felícia. Casa de Carlos. Sala. Interior.

Ronaldo passa a mão pelo corpo de Vanessa. Começa a beijá-la no pescoço. Ela sente repulsa e treme. Ele enfia a mão por dentro da blusa dela. Ela geme, com nojo daquele toque.

RONALDO: Você vai gostar, cadela...

Ele começa a tirar a blusa dela. Alguém invade a casa, assustando Ronaldo.

CLÁUDIO: ‘Deixa ela’ em paz!

Ronaldo tenta correr para pegar a arma, mas Cláudio se joga em cima dele. Vanessa começa a se tocar, tentando se limpar. Ronaldo e Cláudio iniciam uma briga.

CLÁUDIO: Seu covarde!

Cláudio agarra a blusa de Ronaldo e lhe soca o rosto várias vezes. Ronaldo reage e devolve com outro soco. Vanessa está em choque, sem ação. Cláudio levanta Ronaldo pela blusa e o joga em cima da mesinha marrom, quebrando-a as pernas. Ronaldo se levanta e avança em Cláudio, que desvia. Cláudio pega Ronaldo por trás e lhe acerta mais um soco. Ronaldo sangra, limpa o queixo na blusa.

RONALDO: Desgraçado!

Ronaldo olha de relance para a arma que deixou no balcão e a pega, apontando para Cláudio que arregala os olhos. Eles estão ofegantes.

RONALDO: Quero ver bancar o valentão agora, moleque!

CLÁUDIO: Precisa de uma arma pra se defender, seu covarde?!

Ronaldo destrava a arma e sorri. Cláudio respira fundo, com medo.

VANESSA: Não... Pelo amor de Deus... Não faz isso! Pelo amor de Deus!

RONALDO: Quê que é gatinha?! Seu namoradinho atrapalhou nossa diversão. Se meteu aonde ao devia e agora vai pagar.

Ele se distrai e se aproxima dela.

RONALDO: Depois a gente continua de onde parou.

Cláudio avança em Ronaldo, que não tem tempo para agir. Os dois caem no chão, Ronaldo solta a arma que dispara, acertando uma parede. Eles voltam a brigar. Ronaldo joga Cláudio para trás e sai dali, fugindo pela porta. Cláudio se levanta, ofegante. Vanessa, aos prantos, corre para abraçá-lo.

VANESSA: Me tira daqui, por favor.

| CENA 10 | Bar Ponto de Encontro. Cozinha. Interior.

Bruna e uma assistente trabalham freneticamente pra darem conta dos muitos pedidos da noite. Chad está animado, cortando verduras.

CHAD: Você é um sucesso, Bruna. Já viu quanta gente tem aí fora? Ainda estamos colhendo os frutos do evento gastronômico.

BRUNA: Não necessariamente né, Chad. Até porque aquilo lá foi um desastre.

CHAD: Não foi nada. No fim das contas, deu tudo certo.

Janaína entra no local.

JANAÍNA: Pedido da mesa 7 já ta pronto, filha?

ASSISTENTE: Sim, aqui está.

CHAD: Aconteceu alguma coisa, Jana? Tá estranha.

JANAÍNA: Como se não bastasse à presença do Darlan aí fora. O Carlos não me deixa trabalhar em paz.

Bruna solta às panelas.

BRUNA: Ele ta aí?

JANAÍNA: Sim. Já até me ameaçou.

BRUNA: Você tem que fazer alguma coisa, Chad.

CHAD: Eu...

A fala dele é interrompida pelo som de um tiro, seguido de muita gritaria.

CHAD: Jesus, Maria, José! Que é isso?!

JANAÍNA: Carlos...

Eles correm para o interior do salão principal. Desesperados, os clientes correm tentando alcançar a porta principal e a saída de emergência. No andar de cima, Valeska, Fabiana e Marcelo descem as escadas tentando entender o que acontece. Carlos atira várias vezes para cima, deixando todo mundo desesperado. No andar de baixo, Melissa está assustada entre as mesas e cadeiras reviradas pelo local, que agora está quase vazio. Carlos aponta a arma para Darlan, que ergue as mãos, deixando claro que não pretende reagir.

MARCELO (receoso): Pai...

DARLAN (a Carlos): O que pensa que está fazendo?

CARLOS: Você vai ver.

Janaína, Bruna, Chad e assistente chegam ao salão. Ao perceber o que acontece, Chad põe a mão na boca. Carlos observa àquelas pessoas ainda presentes.

JANAÍNA: Não faz nenhuma besteira, Carlos. Por favor.

CARLOS (nervoso): Sai todo mundo daqui! Agora! O meu problema é com a Janaína e esse granfino.

BRUNA: Eu não vou te deixar aqui com esse maluco, mãe.

FABIANA: Não piora as coisas, Bruna.

JANAÍNA: Não discuta, Bruna. Saia daqui, por favor.

Chad leva Bruna, que vai a contragosto, se juntam ao grupo dos outros. A assistente vai junto. Melissa abraça Chad.

MARCELO: Eu também não posso ir...

Carlos grita e atira para o alto.

CARLOS (bravo): Eu quero todo mundo fora daqui! Estão surdos?

VALESKA: Vem, Marcelo!

Fabiana e Valeska puxam Marcelo pelo braço. O grupo caminha em direção a saída, restando apenas Janaína, Darlan e Carlos.

CARLOS: Chegou a hora de acertar as contas.

Close em Janaína, que encara Darlan. Carlos aponta a arma para Darlan. Janaína está tensa.

JANAÍNA: Fica calmo, Carlos... Não faz nenhuma besteira, por favor.

DARLAN: Você pode se arrepender de... (pausa)

CARLOS (bravo/grita): Cala essa boca! Não mandei ninguém falar. Cala a boca! (pausa/respira) Eu te dei todas as chances de voltar pra mim... Mas nunca quis, não foi?! Ainda ta apaixonada por esse paspalho aí não é?! Nunca percebeu que apesar de tudo... (hesita) Eu sempre te quis de verdade?

JANAÍNA: Você não sabe o que diz. Quem gosta de verdade não faz o que você fazia comigo. Tem noção do que eu sofri em suas mãos? Você me humilhou da maneira mais sórdida possível, me agrediu de todas as formas. Isso que você sente não tem relação alguma com amor, é um sentimento obsessivo de posse.

CARLOS: Tu não sabe do que ta falando. Tudo que eu fiz foi tentar manter as coisas como eram antes desse cara aparecer. Mas eu vou resolver isso agora mesmo. Vou tirar ele do nosso caminho, pra sempre. E aí tu volta pra mim.

Carlos engatilha a arma e engole em seco. No reflexo, Darlan também retira uma arma escondida na parte detrás da calça e aponta para Janaína, que arregala os olhos, surpresa.

DARLAN (frio): Antes eu acabo com ela!

Carlos se surpreende, fica acuado. Janaína não entende.

JANAÍNA: O que está fazendo?

DARLAN: É um acerto de contas, não é?! Pois bem.

JANAÍNA: Não to entendendo...

DARLAN: O tempo todo era eu, Janaína.

JANAÍNA: Do que você ta falando?

DARLAN (frio): Dos atentados. Eu estava por trás de todas as tentativas contra a sua vida medíocre. Depois de toda a humilhação a qual você me submeteu eu não podia simplesmente deixar você ilesa, sem pagar por tudo que fez.

JANAÍNA (incrédula): O quê? Não pode ser... Não pode ser.

DARLAN: Acredite.

JANAÍNA: Mas você disse que me amava. E eu sei que era verdade. Eu sei que era! Me pediu em casamento, disse que nunca tinha sentido nada parecido quando estava comigo. E por várias vezes vinha aqui... Eu acreditava que fosse por mim. Mesmo depois do que aconteceu, eu sentia que você ainda gostava de mim.

DARLAN (sorri/debochado): Gostava. Até tomar conhecimento do quão baixo é o seu nível. Depois eu só passei a frequentar esse lugar pra ver o Marcelo e confesso, também pra estudar o momento oportuno. E parece que ele chegou.

JANAÍNA (chorando): Me recuso a acreditar...

DARLAN (cínico): Francamente, Janaína... Você acha mesmo que um homem de prestígio nacional como eu. Um dos melhores advogados desse país! Poderia ter qualquer tipo de relacionamento com uma mulher da sua categoria? (ri nervoso) As pessoas falariam... E certamente isso se refletiria consideravelmente em minha imagem pública. E eu não posso deixar isso acontecer.

JANAÍNA: Não! Não pode ser! Me nego a acreditar que isso que está me dizendo seja verdade. Eu via nos seus olhos o sentimento que havia entre nós dois. Não pode ter sido mentira esse tempo todo. Fala a verdade, Darlan... Por que tudo isso? Me diz a verdade.

DARLAN: A verdade é que você nunca deveria ter cruzado o meu caminho.

Ele engatilha a arma. Carlos grita com ódio e dispara três vezes contra Darlan, que solta a arma e cai no chão, jorrando sangue. Janaína grita, horrorizada. Policiais invadem o local, seguidos dos republicanos.

POLICIAL: Mãos ao alto. Você está preso.

Sem reagir, Carlos põe a arma no chão e é algemado por um policial. Ele olha Janaína pela última vez. Ela abaixa a cabeça, só chora. Bruna a abraça. Marcelo se aproxima do corpo do pai, incrédulo. Fabiana, Valeska, Melissa e Chad também estão presentes e sem entender nada. Marcelo encara Janaína com semblante de dúvida.

MARCELO: O que aconteceu?

JANAÍNA (chorando): Era ele o tempo todo... Seu pai... Ele era o mandante dos atentados.

Todos recebem a notícia com surpresa. Marcelo abraça Janaína.

| CENA 11 | República Universitária Laços de Amizade. Sala. Interior.

Todos reunidos no local, espalhados pelo sofá, poltronas e puffs. Janaína toma um copo de água. O clima está tenso.

BRUNA: Você tava certo sobre seu pai, Marcelo.

Ele afirma com a cabeça, sentido.

MARCELO: Mas... Lá no fundo eu queria acreditar que ele era diferente. Quando vi aquela arma apontada na direção dele, senti remorso por tudo que já discutimos. Agora, sinto alívio por sempre ter tido razão. E ao mesmo tempo, um vazio. É estranho.

VALESKA: Eu to chocada. Eu sabia que o Darlan tinha lá seu ar de mistério, mas, jamais cogitei a possibilidade dele ser o vilão da história.

FABIANA: Tá todo mundo abalado.

JANAÍNA (chorando): Eu não posso acreditar que ele me queria morta só pra manter uma droga de status social.

BRUNA: Não fica assim, mãe. Já passou. Ele não merece suas lágrimas.

Neste momento, Cláudio e Vanessa entram na casa. Ela visivelmente abalada.

VALESKA: Vanessa... Onde você andou, criatura?

Ela não responde.

CLÁUDIO: Longa história.

MARCELO: Tá tudo bem com vocês?!

CLÁUDIO: Agora ta. Mas e por aqui? Quê que ta pegando?

JANAÍNA: Nem sei como é que vai ser a partir de agora.

Celina e José surgem na sala. Ela senta-se ao lado de Janaína e segura suas mãos.

CELINA: Pero yo sé. Vas a levantar la cabeza y superarlo! Todos los problemas se fueron. Y esto digo a todos ustedes: ahora es el momento para ser feliz! [Mas eu sei. Você vai erguer a cabeça e superar. Todos os problemas acabaram. Agora é o momento de ser feliz.]

Eles se olham, esperançosos.

| CENA 12 | São Paulo. Exterior

MÚSICA: Caiu na Babilônia – Strike. A câmera sai pela janela da casa e mostra o céu azul escuro da noite paulista. Nasce um novo dia. Flashes variados de pontos turísticos da cidade. A correria diária da metrópole, trânsito caótico.

LEGENDA: Dias Depois

| CENA 13 | Dia. Jardim Botânico. Ext.

Em meio ao verde do jardim acontece a celebração de um casamento. No altar o padre benze a união de Melissa, com um vestido branco de calda longa e um sorriso de ponta a ponta, e Chad, de terno cinza com um cravo la lapela. O casal se beija. Os convidados sentados nas cadeiras organizadas em filas levantam-se e batem palmas para o casal. Os dois começam a caminhar pelo imenso tapete vermelho que finda na porta de entrada de um fusca branco, todo enfeitado.

Fim da sonoplastia.

| CENA 14 | Bar Ponto de Encontro. O local está repleto de gente. Devidamente decorado para uma festa de casamento. As mesas ocupadas pelos convidados. Chad, sem o terno, e Melissa, agora de vestido branco e curto colado, passeiam entre as pessoas recebendo os cumprimentos e felicitações. Igor e Jaqueline, conduzindo a cadeira de roda de Celso entram no local.

Som ambiente: Filosofia de Bar – Seu Jorge e Jovelina.

CELSO: Ótimo! Agora ‘ta’ todo mundo olhando o cadeirante entrar na festa. ‘Vamo’ embora daqui, Jaque.

JAQUELINE: Deixa de bobagem. Não tem ninguém olhando. Ta todo mundo se divertindo.

Chad e Melissa se aproximam.

CHAD: Olha só quem chegou. Sejam muito bem-vindos, garotos.

MELISSA: Finalmente decidiu sair da toca, coelho.

CELSO: Só porque é o casamento de vocês hein.

MELISSA: Fiquei lisonjeada agora.

JAQUELINE: A festa ta linda, gente!

IGOR (dando tapinhas no ombro de Chad): Se ferrou hein, amigo.

CHAD: Que é isso, meu caro Igor. Pelo contrário! Fiquem a vontade, beleza?!

O grupo se aproxima do ‘mesão’ dos republicanos. Janaína levanta-se para cumprimentá-los, Celina vestida com seu traje mexicano típico, e José, também.

JANAÍNA: Desejo sinceramente que sejam muito felizes, meus amigos.

MELISSA: Brigada, amiga.

Abraço triplo. Jaqueline cutuca Janaína

JAQUELINE: A gente pode falar um instante?

JANAÍNA: Claro, meninos.

Eles se afastam da turma.

CELINA: La boda está magnífica!

MELISSA: Boda seria casamento, né?!

CELINA: Sí, casamento!

MELISSA: Brigada, sua fofa! Adorei o modelito!

Eles trocam sorrisos e beijos no rosto.

JOSÉ: Felicidades!

CHAD: Muito obrigado, seu espanhol!

FABIANA: É mexicano, Chad.

CHAD: Dá na mesma.

Eles se abraçam, sorrindo.

BRUNA: Parabéns, Mê. Parabéns, chefinho!

MARCELO: Vê se agora toma jeito hein, Chad.

CHAD: Como assim gente? Falando desse jeito até parece que ando por aí “sem jeito”. Todo mundo aqui sabe que só tenho olhos pro meu doce de limão.

MELISSA: Acho bom mesmo.

CHAD: Mas claro que, pro meu tamborim!

Chad escapa dali rapidamente. Melissa revira os olhos.

FABIANA: Quê que deu nele?

MELISSA: Vejam vocês mesmo.

Ela aponta para o marido, correndo pro palco. Em outro ponto, Janaína, Jaqueline e Igor.

JANAÍNA: Vocês não têm que se desculpar por nada. Vocês não tinham consciência dos fatos. Qualquer um em seu lugar faria o mesmo.

JAQUELINE: Mesmo assim, te devemos isso.

JANAÍNA: Se é tão importante assim. Considerem-se desculpados.

IGOR: Tem mais uma coisa. Não que mereça, mas ela quer te ver por uma última vez.

JAQUELINE: É. Você não tem obrigação nenhuma de ir.

JANAÍNA: Tudo bem. Passo lá mais tarde. Agora, vamos ver o que o Chad ta aprontando.

Eles se aproximam do palco. Chad está lá, seu tamborim em mãos. Atrás dele ritmistas de escola de samba, com seus instrumentos e vestidos igualmente.

CHAD (pigarreia no microfone): Antes de qualquer coisa queria dizer que... Mê, te amo.

A galera grita. O casal troca coraçõezinhos com a mão.

CHAD: Bom. É com muito orgulho que anuncio aos presentes, nessa data tão especial da minha vida, pra animar nossa festa, a batucada D’Reponsa da Rosas de Ouro! Quero ver todo mundo caindo no nosso samba. ‘Simbora’ batucada!

Os ritmistas começam a tocar, Chad com o tamborim se posiciona em seu lugar. Os convidados começam a se aproximar do palco. Melissa sobe histérica no palco e começa a sambar sob os gritos das pessoas.

| CENA 15 | Aeroporto. Portão de embarque.

Muitas pessoas circulando apressadas pelo local. Valeska e Vanessa estão abraçadas. Cláudio observa as duas, braços cruzados, um pouco mais atrás.

VANESSA (emocionada): Vou sentir tanto sua falta.

VALESKA: Ai, para. Não quero e não VOU borrar minha maquiagem com água salgada.

VANESSA: Tem certeza que é isso que quer?

VALESKA: Eu preciso. Conhecer gente nova e desapegar daquilo que me prende é minha necessidade agora. Eu preciso viver o que a vida tem pra me oferecer e principalmente, aprender alguma coisa com tudo isso.

VANESSA: Não se deu conta, mas você já amadureceu bastante.

Elas sorriem, emocionadas.

VALESKA: E você vai ficar bem?

VANESSA: Vou.

VALESKA: Me desculpa de novo por ter te metido naquela enrascada. Se não fosse por mim você não teria conhecido aquele cretino. Me sinto culpada.

VANESSA: Não esquenta. Já passou. Além do mais eu já fiz o que tinha que fazer e ele já ta pagando por isso.

Uma voz anuncia o voo de Valeska.

VALESKA: Tenho que ir. Se cuida, queridinha.

VANESSA: Vê se não some, hein! Fique online todos os dias.

Eles se olham com ternura, se abraçam. Valeska encara Cláudio, que sorri, cínico.

VALESKA: Ah! E por favor... Não caia na lábia daquele galanteador barato só porque ele deu uma de super-herói, ok?!

VANESSA (rindo): Pode deixar.

VALESKA: Bye.

MÚSICA: Exagerado – MC Naldo

Câmera lenta. Valeska gira, esnobe, e começa a caminhar em direção ao embarque, como se desfilasse numa passarela.

Fim da sonoplastia.

MÚSICA: Maré – Nx Zero

Vanessa se aproxima de Cláudio.

CLÁUDIO: Aposto que antes de ir ela te disse pra não me dá bola.

VANESSA: Aham.

CLÁUDIO: E você vai obedecer, como sempre?

VANESSA: Quê que você acha?

Eles param de andar.

CLÁUDIO: Acho que...

Ela o beija com fervor.

Fim da sonoplastia.

| CENA 16 | Bar Ponto de Encontro. Interior. 

A festa continua animada. Na mesa dos republicanos, ouve-se o bip de um celular. Celso retira seu aparelho do bolso e lê uma mensagem.

JAQUELINE: O que foi? Quem é?

Tenso, Celso mostra a mensagem a Jaqueline, que lê mentalmente. Encara Celso.

JAQUELINE: Você vai?

CELSO: E você também.

Jaqueline se levanta.

IGOR: Vão pra onde?

JAQUELINE: Resolver uma coisinha. Fica frio.

Igor da de ombros e toma um gole do refrigerante. Em outro ponto, Janaína se aproxima do balcão central onde estão Chad e Melissa, tomando champagne.

JANAÍNA: Vim me despedir, casal.

MELISSA: Mas já, Jana? Tá cedo.

CHAD: Não pra quem vai trabalhar amanhã, não é?!

MELISSA: Ai, mô.

JANAÍNA: Mas ele ta certo, Melissa. E não se preocupem que enquanto vocês estiverem em lua de mel, eu e Bruna tomaremos de conta disso aqui como se fosse nosso estabelecimento. A Bruna inclusive está encantada com possibilidade.

CHAD: Mas disso eu não tenho dúvida. É o sonho dela meio que se realizando né.

MELISSA: Tá. Mas hoje não é dia pra falar de negócios. Fernando de Noronha, aí vamos nós!

Eles riem. Close na entrada do bar. Vanessa e Cláudio chegam. Um garçom passa e Cláudio pega duas taças de champagne, oferecendo uma a ela. Os dois vão para a pista de dança. Bruna, Marcelo e Fabiana conversam. Igor observa.

BRUNA: Quem diria hein. Vanessa e Cláudio, juntos!

FABIANA: Fato.

BRUNA: Tudo que a coitada passou, se calando esse tempo todo. Imagino como deve ter sido difícil pra ela. E se não fosse o Cláudio...

FABIANA: Ainda assim acho esse casal meio nada a ver. Os dois viviam se estranhando, gente!

MARCELO: Mas é como dizem por aí. Briga demais acaba em romance.

IGOR: Pena que não deve durar muito tempo.

Igor se levanta e vai em direção a pista. Fabiana, Bruna e Marcelo se olham, desentendidos.

MARCELO: Vai começar tudo de novo.

Eles riem.

FABIANA (rindo): Voltando ao assunto. Essa regra de “muito desentendimento desencadear um romance” não se aplicou a mim.

BRUNA: Ai, amiga. Você vai ver como o Luciano vai reconsiderar e voltar pra você.

FABIANA: Mas enquanto isso não acontece - e não vai acontecer - vou me divertindo por aí.

Fabiana pisca o olho para um cara alto, forte, loiro, que se aproxima.

CARA: Tá a fim de dançar, gata?

FABIANA: Claro, man.

Ele oferece a mão a ela, que se levanta. Ambos saem. Marcelo olha Bruna.

MARCELO: Acho melhor você parar de insistir nessa história. Luciano e Fabiana não têm volta.

Bruna faz careta. Ele lhe dá um selinho.

BRUNA: Te amo.

MARCELO: Te amo.

| CENA 17 | República Universitária Laços de Amizade. Quarto. Interior.

MÚSICA: O que é que eu faço pra tirar você da minha cabeça – Ivo Mozart. Luciano põe uma mochila nas costas e sai do local. Para no corredor e ao fechar a porta, observa a plaquinha que diz “Quarto Uva”, com o desenho de um cacho de uvas. Ele esboça um sorriso. CORTA PARA SALA.

Luciano desce as escadas, mochila preta nas costas. Tem um papel branco, dobrado, em mãos. Nostálgico, ele olha o local vazio, analisando todos os espaços, olhos marejados. Caminha até a cozinha, passa a mão na mesa e sorri de leve. Vai até a geladeira abrindo-a, tira de dentro uma maçã. Volta para a sala e na mesinha de centro coloca o papel que segura. Aproxima-se da porta e dá uma última olhada no lugar, saindo logo em seguida.

Fim da sonoplastia.

| CENA 18 | Presídio. Int.

Um portão de metal sujo é aberto e Carlos, algemado, vestido com uniforme de presidiário escoltado por dois policiais caminham pelo corredor. Close na expressão fria de Carlos, enquanto os outros detentos hostilizam sua entrada no local. Um dos policiais chega a uma cela e abre o portão. O outro tira as algemas de Carlos. Há quatro indivíduos dividindo o ambiente. Três deles jogam baralho e o outro está isolado num canto, cabeça baixa.

POLICIAL: Aí, rapaziada. Mais uma mocinha pra vocês darem um trato.

O policial empurra Carlos para dentro da sala. O outro a tranca com cadeado. Os três detentos fortes, uniformizados, barbudos e tatuados se levantam e encaram Carlos.

DETENTO (coçando o queixo): Carne nova no pedaço. Tava mesmo precisando. A mocinha aqui não dá mais pro gasto.

Ele aponta para um quarto detento enquanto os três riem. O quarto detento levanta o rosto. Carlos se surpreende ao perceber que é Jorge.

JORGE: Bem-vindo ao inferno.

| CENA 19 | Hospital Regional. Ala da fisioterapia. Consultório. Interior.

Dr. Humberto está sentado em sua cadeira reclinável. Celso e Jaqueline de frente para ele, com a mesa separando-os.

DR. HUMBERTO: Que bom que vieram.

CELSO: O que você tem pra nos dizer?

DR. HUMBERTO (hesitante): Bem, eu... Eu só... Bom. Eu queria antes de tudo me desculpar novamente com vocês. Principalmente com você Jaque. Entendo o quão constrangedor foi pra você tudo, da maneira como se deu.

JAQUELINE: Tudo bem, doutor. Entendo. Não se pode mandar no sentimento.

DR. HUMBERTO: É. Não se pode. E é exatamente por isso que, visando o melhor pra todos nós, decidi largar o caso do Celso. Minha ética profissional está acima de tudo, e eu entendo que não seria sensato continuar o tratamento do jeito que está. Não posso.

CELSO: Mas, doutor. Preciso da sua ajuda.

DR. HUMBERTO: O que podia fazer eu já fiz. Você reage bem aos exercícios. Além disso, vou indicar um médico da minha confiança com o qual não haverá problemas. Mas, eu não posso continuar.

JAQUELINE (irritada): Você não ta pensando em todos nós. Só em você. Trocar de médico agora seria uma perca de tempo tremenda. Novos exercícios, a adaptação com o novo médico, tudo isso só vai tornar a recuperação do Celso mais lenta. Você só ta pensando em você. 

DR. HUMBERTO (calmo): Não, Jaque. Estou pensando em vocês dois. O processo de recuperação do Celso acontece no tempo em que tem que acontecer, cada paciente reage à sua maneira. A troca de profissionais não necessariamente vai ocasionar um atraso na recuperação dele. Cogito até a possibilidade de isso somar a favor do Celso. Não queiram ensinar Medicina a quem dedicou uma vida inteira a isso.

Silêncio.

DR. HUMBERTO: Você não diz nada, Celso?

CELSO (hesitante): Acho que... Você sabe o que é melhor pra mim. (pausa) Obrigado por isso. (sorrindo) Você merece ser feliz, cara.

DR. HUMBERTO (sorrindo): Obrigado, cara.

| CENA 20 | Hospital. Quarto. Interior.

Isabel está deitada numa cama, com aparência de doente. Janaína entra e coloca uma cadeira próxima a cama, sentando-se em seguida.

ISABEL: De verdade. Não achei que você viesse.

JANAÍNA: Os meninos disseram que você queria me ver. E pra quê?

ISABEL: Você já deve imaginar. Você é um ser evoluído, Janaína. Mesmo com todas as coisas horríveis que fiz contra você, desde quando te envolvi na morte do Ernesto até agora... Você não foi capaz de alimentar o sentimento de ódio por mim, por mais que eu merecesse.

JANAÍNA: Eu não desejo o mal pra ninguém.

ISABEL: A vida toda eu tentei esconder um segredo por medo de perder o amor e o carinho dos meus filhos, não me importando o que tivesse, ou quem tivesse de tirar do caminho pra isso. Nossa amizade foi por água abaixo graças a mim, não me dei conta, mas isso era a única coisa boa que eu tinha, além de meus filhos. E no fim das contas, o que eu temia aconteceu. Sem filhos, sem amiga. Sozinha. Foi uma vida sem sentido, Janaína.

JANAÍNA: Mas você está tendo a chance de recomeçar. Ainda pode reconquistar o amor da Jaqueline e do Igor.

ISABEL: Não. Não posso. E não vou fazer nada para mudar isso, porque no fundo eu sei que não mereço. Não sou digna.

JANAÍNA: Toda mãe é digna de um filho, Isabel. Não diga isso.

ISABEL: Depois de tantas barbaridades que cometi contra você, eu não posso ser feliz. Não tenho esse direito. Eu só queria te pedir perdão. Por favor.

JANAÍNA: Eu te perdoo.

Entre lágrimas, Isabel sorri.

ISABEL (soluça): Ah minha amiga...

JANAÍNA: Como vai ser depois que você sair daqui?

ISABEL: Não sei. Não quero voltar pr’aquela casa e perceber que meus filhos não estarão lá. Nem sei se quero voltar.

JANAÍNA: Não se esqueça de que a vida está te dando uma nova oportunidade, apesar de tudo. Cabe você aproveitá-la, ou não. E se quer um último conselho de amiga: aproveite.

Isabel assente com a cabeça.

| CENA 21 | São Paulo. Exterior.

MÚSICA: Senhor do Tempo – Charlie Brown Jr. O dia vai passando na grande São Paulo. Cai à noite.

| CENA 22 | Bar Ponto de Encontro. Exterior.

Fim de festa. Os convidados estão do lado de fora do bar, observando Chad e Melissa entrarem num fusca branco, todo enfeitado. Eles jogam arroz no casal que se beija, é a maior festa. Bruna e Marcelo se despedem dos dois, depois Fabiana, Vanessa e Cláudio. Chad abre a porta do fusca branco para Melissa que entra. Ela sorri, feliz. Ele da à volta e antes de entrar no lado do motorista acena para as pessoas que ficam. O carro se vai com as latinhas arrastando no chão.

| CENA 23 | República Universitária Laços de Amizade. Interior. Sala de estar. O local está vazio, ouvem-se vozes agitadas se aproximando. A porta é aberta por ela entram Bruna, Marcelo, Fabiana, Celso, Vanessa e Cláudio, cansados da farra. Bruna senta-se no sofá tirando os sapatos.

VANESSA (sentando-se no sofá): Isso é o que eu chamo de festa de arromba. To morta.

CLÁUDIO (sentando-se ao lado de Vanessa): Mas a nossa festinha particular ainda nem começou!

VANESSA: Vai sonhando, vai...! Aposto que a Celina ta no corredor pronta pra fazer a ronda!

Eles riem.

CELSO: Também to cansadaço!

CLÁUDIO (irônico): É. Ficar sentado 24 horas por dia nessa cadeira deve mesmo ser cansativo.

CELSO (bravo): Escuta aqui... (pausa)

MARCELO: Oh não comecem, galera. Sem briga beleza?!

Bruna percebe o papel na mesa.

BRUNA: Quê que é isso aqui?! (vendo a dedicatória) É pra você, Fabi.

Fabiana pega o papel das mãos da amiga e lê mentalmente.

MARCELO: O que é?

VANESSA: Fala, garota. To curiosa.

FABIANA (escondendo a tristeza): Ele foi embora.

MARCELO: O quê? Deixa eu ver isso.

Todos olham Marcelo, que confirma com a cabeça.

CELSO: Covarde.

Bruna abraça Fabiana.

BRUNA: Mas você não está só, amiga.

FABIANA: Eu sei.

Marcelo senta-se no braço do sofá verde-limão. Todos, de algum modo, se aconchegam no meio da sala.

MARCELO: É... Parece que nada vai ser como antes.

Silêncio. Bruna ri, fraco.

BRUNA: Lembram do dia em que cheguei aqui?! Não fosse pela Celina, não sei o que seria de mim hoje.

VANESSA: Se lembro! A Val tascou um beijo no Marcelo, deixando a Celina maluca! Naquele dia você ganhou uma grande inimiga (ri).

MARCELO: Ela percebeu desde o começo que eu e a Bruna nos apaixonamos. Apesar de tudo, vou sentir falta das maluquices dela.

CLÁUDIO: Eu não.

VANESSA: Cláudio! Tá falando da minha irmã na minha frente! Ela podia ser inconsequente, mas era a alegria dessa casa.

FABIANA: Apesar de tudo eu achei a gente nunca ia se separar.

CELSO: É. Mas o grupo se desfez. Muita coisa mudou. Amizades terminaram.

FABIANA: Romances também.

CLÁUDIO: Mas em compensação, outros começaram né.

Ele dá um selinho em Vanessa.

MARCELO: Faz parte pessoal. A vida é isso. Mudança constante.

BRUNA: Mas mesmo com todas essas mudanças, de alguma forma, sempre estaremos ligados. Perto ou longe, brigando ou sorrindo, se amando ou não.

CLÁUDIO: Chega dessa melação toda. Partiu cama!

VANESSA: Me espera...!

Eles sobem as escadas.

FABIANA: Precisa de ajuda, Celso?

CELSO (sorrindo): Sempre.

FABIANA: Boa noite, casal.

Fabiana conduz a cadeira de Celso, deixando Bruna e Marcelo a sós.

MÚSICA: Algo mudou – Liah

BRUNA: Percebeu que em meio a todas essas mudanças, a única coisa que não mudou foi... (pausa)

MARCELO: O nosso sentimento.

Ela o olha, e afirma com cabeça, emocionada.

MARCELO: Isso porque existe um laço mais forte que a amizade. O laço de amor verdadeiro que une duas pessoas... Pra sempre.

BRUNA: Pra sempre.

Marcelo acaricia o rosto de Bruna. Eles se beijam.

 
     

 

     

autor
Diogo de Castro

elenco
Karla Tenório como Bruna
Daniel Ávila como Marcelo
Thaís Pacholek como Valeska
Letícia Colin como Vanessa
Andreia Horta como Fabiana Simões
Eduardo Pelizzari como Luciano
Alexandre Slaviero como Cláudio
Velson D’Souza como Celso
Cláudia Alencar como Janaína
Rosamaria Murtinho como Celina
Lucinha Lins como Isabel
Kleber Toledo como Igor
Giordanna Forte como Jaqueline
Chico Diaz como Carlos
Zé Carlos Machado como Darlan
Fábio Lado como Chad
Veridiana Toledo como Melissa
Osmar Prado como José
Claudio Lins como Dr. Humberto
Tania Casttello como Suzana
Jorge Pontual como Ronaldo


trilha sonora
Caiu na Babilônia - Strike
Minha vida é você – Hevo84
Senhor do tempo - Charlie Brown Jr
É preciso – Jota Quest
Exagerado – MC Naldo
O que é que eu faço pra tirar você da minha cabeça?
Em busca da fé – Chimarruts
Quase um segundo – Luiza Possi
Maré – NX Zero
Tantinho – Carlinhos Brown
Filosofia de bar – Jovelina e Seu Jorge
Flor do meu jardim – Faluja
Semente – Armandinho
Algo mudou - Liah
El mariachi loco
Cancion del mariachi – Los locos
Paso doble – Agustin Lara
O que é que eu faço pra tirar você da minha cabeça – Ivo Mozart

produção

Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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Proibida a cópia ou a reprodução

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