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Antologia A Magia do Natal: 9x06

Conto de Marilene Feitosa da Silva
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Sinopse: No calor vibrante do Ceará, Camila reencontra seu caminho ao conhecer Helena, cuja doçura transforma o seu Natal. Entre praias e gestos de solidariedade, nasce um amor capaz de curar antigas feridas. A viagem urgente para Sobral revela reconciliações, perdão e coragem para assumir quem se é. No brilho do verão, elas descobrem a verdadeira magia.

9x06 - Um Amor Renascido
dMarilene Feitosa da Silva


O verão no Nordeste, especialmente no Ceará, tinha um jeito próprio de anunciar que o Natal estava chegando: não com neve ou frio, mas com sol, calor, praia e aquela brisa cheia de aromas de comidas típicas que aqueciam o coração mais do que qualquer lareira. Camila, professora de Educação Física e apaixonada por futebol, vivia em Fortaleza com sua irmã, Letícia, amante de vôlei, de gastronomia e de tudo que envolvesse celebração, brilho e belezas.

A poucos dias do Natal, Camila sentia a vida meio sem sorte. Seu relacionamento havia terminado, seus planos pareciam suspensos no ar e ela não sabia ao certo o que aguardar do futuro. Ela tentava se acalmar no balanço das ondas, sentindo a areia sob seus chinelos, enquanto observava turistas nos chalés decorados com árvores iluminadas e dourados enfeites que pareciam estrelas. Enquanto isso, Letícia preparava uma lista gigante de comidas e ceias para os festejos natalinos: queria planejar café da manhã, lanche, almoço, janta, sobremesas com chocolates… e ainda sonhava em não queimar nada.

— Esse ano eu vou arrasar! — Dizia, com toda a coragem de quem já havia incendiado um panetone três anos antes.

No dia 23, porém, algo inesperado aconteceu. Durante uma brincadeira beneficente na praia — uma partida mista de futebol e vôlei, realizada para doar brinquedos às crianças de uma ONG — Camila conheceu Helena, uma nutricionista sorridente, dona de gestos delicados e de uma sortuda tendência a derrubar tudo o que tocava.

Helena caiu duas vezes, derramou água em si mesma, perdeu o chinelo e ainda assim ria. Um riso franco, que lembrava encantos, coral e até anjos de presépio.

Camila ficou encantada.

À medida que o evento avançava, as duas conversaram sobre infância, famílias, amizades, esperanças, fraternidade e até sobre bebês — quando Helena contou que trabalhava com nutrição materno-infantil.

Camila, tímida, reparou no jeito doce com que Helena falava de bênçãos, bondades e das pequenas alegrias que encontram morada nos detalhes simples da vida.

Quando anoitece, o grupo acendeu uma fogueira — porque se não tem neve, tem fogo, e é isso que importa no Ceará. Sob o céu limpo, com a chuva ameaçando, mas não caindo, cantaram canções natalinas enquanto as luzes refletiam nos enfeites dourados.

Camila e Helena se aproximaram, compartilhando histórias, cantos, carinhos e tímidos aconchegos.

Mas a aventura verdadeira começou quando uma correnteza forte derrubou algumas caixas com brinquedos do projeto, levando-as para o mar.

Sem pensar duas vezes, Camila correu, mergulhou e nadou contra a força das correntes para resgatar as embalagens. Helena, desesperada, chamou ajuda, mas Camila era movida por uma coragem que desconhecia em si mesma.

Quando voltou à praia, exausta e coberta de areia, ouviu os aplausos das famílias, das garotas, das crianças, de todos os presentes.

— Você é maluca! — Disse Helena, chorando e rindo ao mesmo tempo.

— Só estava tentando salvar o Natal delas.

— E quase perdi o meu — Helena respondeu, abraçando-a com força, em meio a assinaturas improvisadas de quem prometia voltar todos os dias.

No dia 24, Letícia transformou a casa em um festival de folhas, enfeites, e arrependimentos gastronômicos. Montou uma ceia de dar inveja: saladas aromáticas, carnes suculentas, cuscuz colorido, sucos refrescantes — e o panetone… bom, o panetone não pegou fogo dessa vez. Milagre natalino.

Camila convidou Helena para a celebração. Quando ela chegou, segurando uma caixa com chocolates artesanais, a sala inteira brilhou — e não foram só as luzes.

Os encantos, os risos, as companhias, os pequenos gestos de compaixão, a harmonia improvisada no coral de vizinhos desafinados… tudo fazia o Natal parecer ainda mais mágico.

Durante a ceia, Helena tocou a mão de Camila sob a mesa.

— Sabe, eu sempre achei o Natal bonito…, mas hoje ele tem outro sentido.

— Qual? — Camila perguntou, com o coração girando como estrela cadente.

— O sentido do encontro. Das esperanças. Dos recomeços.

— Das pessoas sortudas? — Camila riu.

— Das sortudas — Helena concordou, beijando-a pela primeira vez, sob o brilho da árvore iluminada.

No fim da noite, após a troca de abraços, presentes e desejos, enquanto as duas observavam o céu repleto de estrelas e silenciosos anjos imaginários, Camila sussurrou:

— Acho que, finalmente, entendi a magia do Natal.

— Qual delas? — Helena perguntou.

— A magia de Jesus, que une, transforma, acalenta… e cria encontros impossíveis até na beira da praia, no calor de dezembro.

E assim, entre risos, festejos, mãos dadas e uma chuva leve que começou a cair como bênção, elas caminharam pela areia quente, sabendo que aquele seria apenas o primeiro de muitos Natais juntas.

Porque algumas histórias começam no frio…, mas outras nascem no calor do Nordeste, com cheirinho de mar, encanto de verão e um amor que brilha mais do que qualquer estrela.

A manhã do dia 25 chegou com o aroma de café da manhã preparado por Letícia e o barulho alegre das crianças brincando na rua. Camila acordou com uma sensação de leveza, como se tudo enfim estivesse se encaixando. Helena havia dormido no quarto de hóspedes, tímida e sorridente, respeitando todos os espaços e ritmos como alguém que compreendia a delicadeza do início de um amor.

Mas aquele seria um dia marcado por uma reviravolta inesperada.

Durante o almoço, enquanto repartiam risos, memórias e alegrias, o celular de Helena vibrou. Ela empalideceu. Camila notou na hora.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, com o coração apertando.

Helena respirou fundo, procurando coragem onde não sabia se tinha.

— É meu pai… Ele sofreu um infarto hoje cedo.

A sala inteira ficou em silêncio. O brilho natalino pareceu se apagar por um instante. Helena olhou para Camila como quem teme destruir algo belo antes mesmo que floresça.

— Eu preciso viajar agora… para Sobral. — A voz dela tremia.

— Então eu vou com você — Camila respondeu sem hesitar.

Helena tentou protestar, mas Camila apenas pegou sua mão com firmeza. Era aquele tipo de gesto que dizia mais do que qualquer oração ou promessa. Era presença. Era amor em formação.

A estrada, a dor e o encontro com o passado.

A viagem foi longa, sob um céu que alternava entre sol e chuva, como se o próprio céu estivesse indeciso sobre qual emoção sentir.

Helena contou que sua relação com o pai era complicada. Ele nunca havia compreendido sua orientação sexual, nem os relacionamentos anteriores. A amava, mas entre eles havia um muro construído de silêncios antigos.

— Tenho medo do que vou encontrar — ela confessou.

— E eu tenho coragem o suficiente por nós duas — Camila sorriu.

Quando chegaram ao hospital, encontraram a família reunida. A mãe de Helena abraçou as duas. Já o pai estava consciente, mas frágil.

Ao entrar no quarto, Helena hesitou. Camila apertou sua mão.

— Pai… — Helena disse, com a voz embargada. — Eu vim.

Ele abriu os olhos devagar e, com dificuldade, sorriu.

— Minha… filha…

O silêncio seguinte era pesado, mas cheio de significados. Então, com um esforço que parecia arrancado da alma, ele disse:

— Eu vi sua entrevista… aquela da ONG. Vi você falando das mães… dos bebês… do amor. Você falava com verdade. Eu… eu me orgulho de você.

Helena chorou como há anos não chorava. Camila também.

O pai continuou:

— Se… se existe uma hora pra pedir perdão… é no Natal, não é? — Ele tentou rir.

— Pai, eu só queria que o senhor me visse.

— Eu vejo, filha. Agora vejo. E quem é essa moça boa… que não saiu do seu lado nem um minuto?

Helena sorriu, ainda emocionada.

— Pai… essa é Camila.

Ele estendeu a mão fraca, mas firme.

— Obrigado… por cuidar da minha menina.

Camila segurou a mão dele com carinho, respeitando o espaço de uma família em reconstrução.

A cura, o perdão e o novo começo.

Os dias seguintes foram uma mistura de medo e esperança. O pai de Helena passou por uma cirurgia e, aos poucos, foi melhorando. A família, antes dividida, começou a se reconectar como quem reconstrói uma ponte antiga.

E ali, entre corredores de hospital, cadeiras desconfortáveis e cafés ruins, Camila e Helena descobriram que a magia do Natal não acontece só nas festas, nos presentes ou nos risos fáceis.

Ela nasce também nos passos difíceis: perdão, coragem, vulnerabilidade.

Na manhã do dia 28, com o pai já estável, Helena e Camila sentaram-se num banco do jardim interno. A luz do sol refletia nas pequenas gotas de orvalho, como se cada uma fosse um pontinho dourado de esperança.

— Obrigada por ficar comigo — Helena disse, encostando a cabeça no ombro de Camila.

— Eu não tinha a menor intenção de ir embora.

— Isso tudo… fez eu sentir…

— Que a vida é frágil? Que o amor assusta? Que tudo pode mudar num instante? — Camila brincou, mas com ternura.

— Que você é meu lar — Helena murmurou.

Camila sorriu, sentindo o coração girar como um pião de festa junina.

— Isso é sério? — Ela perguntou, emocionada.

— Nunca falei tão sério na minha vida.

E ali, sob o céu quente do Nordeste, entre risos e lágrimas, elas selaram um começo.

Quando voltaram para Fortaleza, Letícia as recebeu com abraços, aconchegos, música alta e uma mesa completamente decorada — de novo — porque Letícia nunca perdia a chance de criar uma nova celebração.

A vida não havia ficado perfeita. O pai de Helena ainda teria uma longa recuperação. Camila ainda enfrentaria inseguranças. Helena ainda teria dias de medo.

Mas agora havia algo que nenhuma delas tinha antes:


Um amor que respeitava, acolhia, fortalecia.

Uma família que aprendia.

Uma verdade que não precisava mais ser escondida.

Na noite de Ano Novo, enquanto a praia lotada celebrava com fogos coloridos, Camila e Helena caminharam pela areia quente.

— Sabe, eu pensei que a magia do Natal fosse só um detalhe bonito — Helena disse.

— E, não é?

— É muito mais. É sobre cura. Sobre encontrar quem te vê. Sobre se permitir amar… e ser amada.

Camila segurou o rosto dela com carinho.

— Então que venham muitos Natais. Muitas ceias. Muitas praias. Muitos ventos quentes do Ceará.

— E muitas sortes — Helena completou.

— Não. — Camila sorriu. — Nós somos a nossa própria sorte.

E se beijaram, enquanto o mar batia nas pedras, o vento do verão soprava suave e o céu explodia em luzes que pareciam dizer:

O amor é para todos. Sempre foi. Sempre será.

Nos dias que se seguiram, Camila e Helena descobriram que o amor também pede coragem para lidar com as próprias sombras. Entre conversas longas à beira-mar, elas refletiam sobre como a vida é construída por ciclos — alguns que se repetem, outros que se rompem, e outros ainda que surgem inesperados, como uma estrela cadente riscando o céu do Ceará. Cada riso compartilhado, cada silêncio confortável e até cada medo confessado fortalecia o vínculo entre elas. Era como se o universo tivesse aguardado exatamente aquele momento para revelar que a magia natalina não vive apenas em dezembro, mas dentro das pessoas dispostas a enxergar beleza onde antes havia dor.

Certa tarde, enquanto caminhavam pela praia ainda úmida da chuva fina, Helena perguntou se era possível ser feliz mesmo carregando cicatrizes. Camila respondeu que talvez a felicidade não fosse um estado permanente, mas um conjunto de instantes luminosos que escolhemos guardar. E que o amor — especialmente o amor cheio de respeito, identidade e verdade, como o delas — não apagava as cicatrizes, mas lhes dava novo significado. Ali, caminhando com os pés na areia morna, elas perceberam que aceitar suas próprias vulnerabilidades era uma forma de liberdade que nenhuma delas havia conhecido antes.

Ambas começaram a questionar quantas vezes haviam diminuído sua própria luz para caber em expectativas que nunca foram suas. Quantas vezes se culparam por simplesmente serem quem eram. E quantas pessoas, ao redor do mundo, ainda precisavam de um abraço seguro, de um espaço acolhedor, de uma chance de existir sem medo. Helena, emocionada, comentou que talvez o maior presente do Natal não fosse o perdão que recebeu do pai, mas o perdão que aprendeu a dar a si mesma. Camila concordou: a verdadeira magia estava na coragem de se permitir viver plenamente — amar, errar, recomeçar — sabendo que cada passo imperfeito construía um caminho ainda mais autêntico.

Na noite em que o ano finalmente chegou ao fim, com fogos refletindo no mar e risadas ecoando pela orla iluminada, Camila e Helena se abraçaram com a tranquilidade de quem compreendeu uma verdade simples e profunda: o amor, quando é verdadeiro, não pede permissão. Ele chega, transforma e permanece. E enquanto observavam as ondas que vinham e iam, elas se perguntaram quantas vidas seriam diferentes se cada pessoa tivesse a chance de ser vista e respeitada em sua essência. A resposta não veio em palavras, mas no silêncio cheio de significado — um silêncio que dizia que o mundo poderia ser mais gentil, mais bonito e mais humano, se cada um carregasse consigo um pouco da mesma coragem que elas encontraram naquele Natal.

Às vezes, a vida parece empurrar a gente para direções que não entendemos no momento. Mas a verdade é que cada dificuldade, cada espera, cada silêncio e cada susto carrega algo que pode nos transformar profundamente. A dor não vem para destruir — embora doa —, mas para revelar forças que nunca imaginamos ter. Quando algo inesperado acontece, como o que aconteceu com Helena e seu pai, somos convidados a olhar para dentro e perguntar: o que eu preciso mudar em mim para viver melhor? Essa é uma pergunta poderosa, porque nos lembra que o crescimento começa no momento em que aceitamos nos ouvir.

É importante lembrar que você não precisa acertar sempre. Não precisa ser forte o tempo todo. A vida não é uma linha reta, mas um conjunto de curvas, retornos, pausas e acelerações. Se há uma coisa que o Natal e a jornada de Camila e Helena nos ensinam, é a importância da vulnerabilidade. Permita-se sentir. Permita-se pedir ajuda. Permita-se respirar quando o mundo parecer grande demais. Não é fraqueza — é humanidade. E a humanidade é, justamente, o que nos permite criar conexões profundas e verdadeiras.

Muitas pessoas carregam dúvidas sobre quem são e sobre o que merecem viver. Questionam seu próprio valor, seus sonhos, sua identidade, como se fosse preciso pedir permissão para ser feliz. Mas você não precisa da aprovação do mundo inteiro para existir. Você precisa de algo muito mais simples e mais poderoso: honestidade consigo mesmo. Quando você se olha com respeito, quando aceita suas próprias diferenças e reconhece sua história, você cria um espaço interno onde o amor — de qualquer forma, para qualquer pessoa — pode entrar e florescer.

Por fim, lembre-se de que o amor não é um prêmio para quem nunca errou. O amor é presença, encontro, construção e, muitas vezes, cura. Seja gentil consigo. Celebre seus avanços. Perdoe seus tropeços. E se um dia o medo apertar, lembre-se do que Helena e Camila descobriram: a magia existe, sim — e ela se manifesta quando você escolhe continuar, mesmo cansado; quando você escolhe acreditar, mesmo machucado; quando você escolhe amar, mesmo depois de ter sofrido. Cada dia é uma chance de recomeçar. E recomeçar é, talvez, o maior gesto de amor que alguém pode oferecer a si mesmo.

Conto escrito por
Marilene Feitosa da Silva

Tema de abertura
Jingle Bell Rock

Intérprete
Glee

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima Gisela Lopes Peçanha Paulo Mendes Guerreiro Filho Rossidê Rodrigues Machado Telma Marya

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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