
9x01 - Um Natal de Verdade (Season Premiere)
de Jacqueline Quinhões da Luz
Maria, ou melhor Mary como insistia em ser chamada, adorava tudo que se relacionasse a outros países. Dizia que eles tinham mais valor do que os de seu país. Nutria dentro de si a vontade de ir para Nova York, principalmente na época do Natal.”Ahhhh, lá sim sabiam comemorar o Natal”, pensava Mary. Ficava vendo filmes que mostravam as celebrações e costumes e quando via a neve, suspirava e dizia:
— Isso sim é o Natal perfeito e completo! Um dia irei passar lá.
Os anos foram passando, Mary trabalhava muito e estudava. Aos poucos ia construindo uma sólida carreira e se tornando bem-sucedida. O sonho de ir para Nova York viver um Natal de verdade ficava cada vez mais próximo de se tornar realidade.
Sua mãe ouvia seus planos, torcia por eles, mas dentro de si ficava triste, pois percebia que sua filha não entendia nada sobre um Natal verdadeiro. Seus valores eram distorcidos.
Estavam próximos do Natal, e Mary dizia ser seu último Natal ali, no próximo estaria em Nova York e viveria como se deve viver.
Aquele ano Mary fez pouco caso de tudo, as pessoas já não aguentavam ficar perto dela e ouvi-la colocando defeitos em tudo e enaltecendo um Natal que apenas conhecia pela televisão, cinema, revistas. Quando chegava nos grupinhos, todos se distanciavam, mas Mary não ligava. “Gente pequena, não sabem de nada, quando virem minhas fotos morrerão de inveja isso sim!” Para provocá-la, muitos a chamavam de Maria mesmo e ela ficava contrariada. Sua mãe assistia a tudo muito triste, mas nada podia fazer.
E o ano seguinte passou rápido, Mary estava ansiosa por sua viagem que já estava preparada. Contava os dias para embarcar e ir viver o seu Natal de verdade.
O dia tão sonhado chegou e Mary foi rumo ao seu sonho. Chegando lá, ficou maravilhada com tudo que viu, era igualzinho ao que assistia em seus filmes. Seus olhos brilhavam. Nos primeiros dias, tudo era novidade, muito a conhecer, voltava tarde para o hotel e dormia. Postava fotos de tudo, para que vissem o quanto estava feliz.
Aos poucos, as decorações, luzes e tudo mais se tornaram comum aos seus olhos e outras cenas passaram a lhe chamar a atenção. Via nas ruas famílias passeando juntas, amigos confraternizando e isso de alguma forma mexeu com ela. Aquela noite ao voltar para casa sentiu falta de ter com quem conversar. Olhou as últimas fotos tiradas e viu que seu sorriso estava diferente. Em todas haviam belas paisagens e lugares incríveis, mas estava sozinha. Ligou para sua mãe, que notou a voz da filha diferente, mas ela disse estar apenas cansada, mas coração de mãe não se engana, sabia que algo estava acontecendo.
Mary teve uma noite agitada, sonhos conturbados. No dia seguinte, saiu cedo para passear e conhecer o que ainda faltava. Patinou no gelo, andou pelo parque e sentou-se num banco para pensar. O que estaria tirando o brilho de seus olhos? Estava onde sempre desejou estar, vivendo o Natal como sempre sonhou. Ficou observando um grupo animado que fazia um boneco de neve. Eram pai, mãe e filhos, pareciam estar se divertindo muito. Ficou tão entretida que nem viu quando sentou ao seu lado um senhor, que passou a observá-la.
— Época linda o Natal, não é mesmo?
A pergunta trouxe Mary de volta à realidade.
— Sim, as pessoas ficam mais felizes.
— Mas você não me parece tão feliz, quer falar sobre isso?
Mary estava ali, na companhia de um estranho, como falaria sobre seus sentimentos?
— Me desculpe, nem me apresentei. Sou Noel, um intrometido incorrigível.
— Como Papai Noel? — Disse Mary com um sorriso tímido.
— Sim, sim. Já estou acostumado com essa pergunta. Eu sempre a ouço. Mas o que está te deixando triste… Desculpe, como é mesmo seu nome?
— Mary…ou melhor, sou a Maria. Tenho pensado muito. Estar aqui sempre foi meu sonho encantado.
— Então você o realizou e isso deveria deixá-la muito feliz.
— E eu estava, até pouco tempo, mas a euforia parece ter passado. Fiquei vendo as pessoas reunidas, as famílias e algo estranho mudou dentro de mim.
— E você sabe o que é?
— Estou tentando entender, mas ainda não consigo. Lutei muito para estar aqui, me preparei tanto para viver um Natal de verdade.
— Um Natal de verdade? Mas o que é um Natal de verdade para você?
— O que se vive aqui, com neve, decorações maravilhosas, isso tudo faz um Natal verdadeiro.
— Maria, você está enganada. Um Natal de verdade não depende disso tudo que você falou. Natal não é um lugar que faz, mas as pessoas que o vivem, como vivem. São as tradições passadas de geração a geração. São sentimentos como a união, a partilha, amor. Natal é estar com quem amamos e poder demonstrar esse sentimento. É dividir esse momento com quem passou o ano todo conosco, segurando nossas barras, torcendo por nós, rindo ou chorando com a gente.
Nesse momento veio na cabeça de Mary a imagem de sua mãe. Viviam apenas as duas, desde que seu pai se foi. Não tinha irmãos. Sua mãe torcia muito por ela, estava sempre torcendo muito para que realizasse seus sonhos e ela tinha realizado, mas não estava se sentindo completa. Ficou envergonhada, tinha sido egoísta, não pensou em sua mãe, em como se sentiria em passar longe o Natal. Se tivesse aguardado um pouco mais, mais um ano a teria trazido junto. Mary chorou. Quando levantou a cabeça para falar com Noel, ele não estava mais ali. Olhou para os lados, porém não viu para onde tinha ido.
Voltou para o hotel. Como tinha distorcido tudo. Achava que o Natal estaria apenas em um lugar, agora sabia que o Natal estava em todos os lugares, desde que estejamos com as pessoas que amamos. Agora estava ali, sozinha, passaria aquele Natal sozinha num quarto de hotel e seu coração estaria lá com sua mãe. Resolveu que passaria dormindo, se preparou e deitou. Faltava pouco para meia-noite seu notebook deu um sinal. Estava recebendo uma chamada de vídeo. Pensou em não atender, não queria que a vissem ali de pijama, mas seu coração estava cheio de vontade de ver sua mãe e atendeu.
Não conteve suas lágrimas ao ver sua mãe, com seus tios, primos e amigos, todos felizes lhe desejando um Feliz Natal. Pediu desculpas por ter sido tão chata por tantos anos. Estava errada, não sabia, mas todos os Natais vividos ao lado deles tinham sido Natais verdadeiros, não precisava de mais nada, só de estar junto deles. Agora tinha aprendido uma grande lição.
Para sua surpresa, todos a ouviram atentamente e lhe mostraram uma faixa onde dizia:
“Você está fazendo muita falta aqui! Amamos você Maria! Feliz Natal!”
Família
Maria chorou muito, pensava que eles não a queriam por perto, pois era sempre tão desagradável com todos, nem se importou que a chamaram de Maria. Nesse momento aprendeu mais uma coisa. Quando gostamos das pessoas, não é por serem perfeitas. Amamos com seus defeitos também, afinal de perfeito mesmo só o Natal vivido ao lado deles.
No dia seguinte Maria saiu e foi até o parque, queria encontrar o Velhinho com quem tinha conversado e lá estava ele sentado no mesmo banco.
— O menina, como você passou a noite de Natal?
— Bom, achei que passaria sozinha, mas recebi uma ligação e acabei passando com todos que deixei lá no Brasil.
— E isso foi bom para você? Afinal veio para tão longe em busca do Natal verdadeiro.
— O senhor tinha razão. Não é o lugar, mas com quem estamos e como estamos nos sentindo que faz o Natal verdadeiro.
— Acho que você ganhou um presente especial esse ano, não é mesmo?
Mary levantou-se e deu um forte abraço naquele amigo que a tinha feito rever seus valores. Queria fazer uma selfie com seu único amigo feito naquela viagem, mas quando percebeu estava abraçando o ar, o velhinho novamente havia desaparecido. Um casal que passava, a olhava estranho, afinal ela estava abraçando o nada. No banco, tinha um cartãozinho que dizia:
“Foi um enorme prazer te conhecer Maria. Até a próxima!”
Noel
— Ahhh, a magia do Natal! — Maria sorriu sem graça.
Aquele dia, postou apenas a foto do cartão deixado por Noel, agora fazia questão de se apresentar como Maria. Ainda tinha dois dias para encerrar sua viagem e resolveu fazer compras e levar uma lembrancinha para sua família e amigos, não via hora de estar com eles e passarem a festa de Ano Novo todos juntos. Antes de partir, passou pelo parque e deixou no banco um cartãozinho em forma de coração onde dizia:
“Obrigada por tudo meu amigo Noel!”
Maria
Tema de abertura
Jingle Bell Rock
Intérprete
Glee
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO

Copyright © 2025 - WebTV
www.redewtv.com





Comentários:
0 comentários: