

FADE IN:
1. EXT./DUNAS/NOITE
Retomada.
Vista de cima: cavalo arrasta ANTHENOKEN desacordado pelas areias. Em direção
oposta, TUTANCAN sobe na carruagem com um cavalo a menos e retorna para o
sentido de Luxor.
TUTANCAN
(V.O.)
(arrependido)
Depois de algumas atitudes, não se
pode voltar atrás. Mesmo que dentro do coração exista uma dor lancinante!
Olha para
trás arrependido com lágrimas.
TUTANCAN
(sussurra)
Serei forte!
Close: enxuga as lágrimas com a costa da mão. FX: Carruagem parando.
2. EXT./FACHADA: CASA DE GRÃOS/NOITE
TUTANCAN desce apressado solta o cavalo e dá um tapa para ele sair trotando. Barulho de algo caindo o assusta; TUTANCAN se abaixa e sai furtiva e apressadamente sem notar que perde uma de suas pulseiras. Detalhe da pulseira caída. A CAM passeia pelo cenário vazio em clima de suspense até encontrar NEVERA apreensiva, escondida atrás de algumas sacas.
3. INT./DORMITÓRIO DA RAINHA/NOITE
ANTHIEPT se vira de lado leva a mão à boca e tosse sem acordar. Suspense. ZOOM IN revela manchas de sangue na mão.
4. INT./DORMITÓRIO DO PRÍNCIPE/DIA
ZAHRA dorme. SHENK se aproxima para averiguar. Faz gestos com a mão frente o seu rosto e certifica-se. Silenciosamente e com cuidado SAI.
5. EXT./FACHADA DO PALÁCIO/PÁTIO/NOITE
Guardas
dispersos. TUTANCAN sorrateiramente caminha às sombras para evitar de ser
visto. Takes descontínuos até ele conseguir ENTRAR sem ser notado. Depois,
caminha apressado pelo PÁTIO.
SHENK
(V.O.)
Posso saber
onde estavas?
6. INT./CORREDOR/NOITE
Abre com
TUTANCAN de frente com SHENK.
TUTANCAN
Não lhe
devo explicações, Shenk.
SHENK
O clima está um tanto insalubre
para passeios. É inverno. As noites estão mais frias; podes adoecer. (T) A não
ser que tenha os motivos “de sempre” para o passeio noturno.
TUTANCAN
(provoca)
Tens razão. O fogo me consome; deixe-me
seguir ao banho com meus rapazes. Como disseste, aqueles: os “de sempre”.
TUTANCAN
ameaça SAIR. SHENK o segura pelo braço.
SHENK
(controlando-se)
Sei que tramas alguma coisa. Seja o
que for, não deixes que eu descubra. Posso te amar, mais do que imaginas, porém,
posso ser reativo e de uma forma nada agradável, se ferir algum dos nossos.
TUTANCAN
puxa o braço fazendo com que SHENK fique bem perto.
TUTANCAN
(enfrenta)
Não é porque pensas que vais subir
ao trono pela manhã como o novo “nub” de Luxor que poderá me ameaçar.
SHENK
Ameaça? Qual? (T) Isso é um aviso!
TUTANCAN
Está para nascer o homem que me
fará tremer de medo. (T) Não mexa comigo, Shenk. Não sou o fraco que tu e todos
os outros pensam. Também sou reativo.
SHENK
Estou observando os teus passos...
SHENK o solta. TUTANCAN ajeita roupa e o encara com maus bofes. Segue pelo corredor sob o olhar atento de SHENK. STEAD-CAM com TUTANCAN. Pelo caminho, lágrimas escorrem. Ele acelera o passo.
7. INT./CASA DE BANHO/NOITE
TUTANCAN
tira a roupa. Caminha nu, pensativo. Pouco a pouco os serviçais se aproximam
dele. Ele se senta na beira da fonte e fica imóvel com o pensamento distante
enquanto o lavam.
INSERT: beijo de
TUTANCAN e MALIK.
Em detalhe,
revela-se uma lágrima escorrendo. Um rapaz belo e afeminado lava os ombros de
TUTANCAN por trás, se roça nele e o olha com desejo. Aos poucos, os demais
retiram as suas vestes e o lambem parte à parte do corpo com muita volúpia.
TUTANCAN parece desgostoso.
INSERT: Pancada
seca em ANTHENOKEN.
Cai em si.
TUTANCAN
(V.O.)
Quando se fere alguém injustamente,
o ferido é a ti mesmo. A dor da culpa, é mais cortante que qualquer lâmina.
Nessas condições, qualquer toque, até o mais desejado, torna-se incômodo. O que
resta é um nojo... De si mesmo.
Afasta os
rapazes com gestos.
TUTANCAN
(ordena/triste)
Deixem-me
só!
Os rapazes
saem. Ele mergulha na água e emerge aos prantos. Se esfrega com força e deixa
marcas no corpo. Tristeza desenhada por instrumental.
TUTANCAN
(para si)
Como se tira a culpa do corpo? (T) Talvez,
eu seja o fraco que todos veem.
Barriga
para cima; deixa o corpo afundar até encobrir o rosto. FX: água em movimento (som
amplificado) dá o tom de suspense.
INSERT: cena de MALIK caindo no rio (capítulo anterior).
8. INT./TENDA QUALQUER/NOITE
O efeito sonoro perpassa até MALIK acordar. Cabeça enrolada em tecido com marca de sangue. Região dos olhos inchada. MALIK abre os olhos assustado e tem a respiração acelerada. Abre o plano e revela alguns beduínos jovens com rostos desgastados, barbas desgrenhadas e magros. Vestem-se como os escravos da barragem. MALIK tenta sentar-se; desequilibra. BEDUÍNO#1 se aproxima e o deita; pede silêncio com o dedo. MALIK toca o rosto. Gemido sussurrado. O BEDUÍNO#1 lhe dá algo para beber apoiando a cabeça dele em seu braço. Ajeita um apoio de cabeça e acomoda MALIK. Uma lágrima escorre de MALIK.
9. INT./CORREDOR/REFEITÓRIO/DORMITÓRIO DA RAINHA/NOITE
NEVERA
passa sorrateira pelo CORREDOR com maços de Meimendro (planta egípcia
venenosa). Na sequência, detalhes minuciosos dela no REFEITÓRIO separando
as folhas e as mergulhando em água fervente no tacho do fogo à lenha. Coa a
infusão e coloca no jarro. DETALHE: NEVERA sorri -, está no DORMITÓRIO DA
RAINHA a colocar o jarro e taças sobre uma mesa. Aproxima de ANTHIEPT:
NEVERA
(sussurra)
Em breve
trilharás o mesmo caminho do Faraó.
NEVERA SAI. CAM busca o jarro em suspense.
10. INT./ORÁCULO/NOITE
OMAR
caminha em volta ao oráculo. Um estrondo amplificado (FX) é acompanhado de um
tremor. Assustado, aproxima-se do oráculo, se ajoelha e respira fundo.
OMAR
Uma tragédia se aproxima! Oráculo,
por Osíris, o sagrado, dê-me o dom da visão! Mostre-me o futuro. Em troca, dou-lhe
um sacrifício.
Abaixa-se
colocando a testa no chão. FX: Gritos e choros ecoam vindo da escuridão mais ao
fundo. Levanta-se assustado e olha horrorizado para o fogo.
OMAR
(Cont’d.) Mortos! Todos mortos! Não
pode ser! Amaldiçoada visão!
(O ator em
questão deve usar de sua capacidade para transmitir o medo e o horror do que a
descrição a seguir pede) O salão começa a tremer e OMAR tenta se apoiar nas
coisas. Sangue escorre pelas paredes indo em sua direção. Olha para as suas
mãos e as vê cheias de sangue. Tenta gritar e a voz não sai. Aos poucos está
repleto de sangue. Suas lágrimas são de sangue.
JUMP CUT:
OMAR levanta-se
suado e assustado. Calmaria revela que estava tendo um pesadelo. Temeroso, pega
folhas secas de uma saca, mistura com incensos num recipiente e mexe. Alimenta
as chamas do oráculo.
OMAR
(confuso)
Visão, premonição? Pesadelo?! (T) Sinto-me
tão pequeno diante de tudo!
Amargurado.
11. INT./DORMITÓRIO HERDEIROS/NOITE
TUTANCAN
ENTRA nu, adornado apenas das suas joias. Observa (POV) os serviçais com os
preparativos da posse. Denotação de loucura.
TUTANCAN
Se pudessem ver-me despido. Veriam
somente a minha beleza física ou, a escuridão que em mim habita?
Caminha passando
os dedos na parede.
TUTANCAN
(Cont’d) Minha alma está presa...
na escuridão. Não consigo sair disso que sou. Tudo o que toco, seca. Morre! O
meu amor machuca. Preciso cuspir isso para fora de mim de algum jeito.
Molha os
dedos na língua e desce a mão ao púbis. Simula mexer em seu falo. A sua
respiração fica ofegante. Encosta na parede e geme como garota enquanto se
masturba. Finaliza com gemidos espaçados (orgasmo). Leva a mão ao nariz e
cheira satisfeito. Nota algo diferente em seu braço.
TUTANCAN
(preocupado)
(Cont’d) A pulseira que vovó me
deu! (T) Aonde deixei?
Procura tateando as coisas. Nele preocupado. Suspense.
12. EXT./PÁTIO/NOITE
SHENK passa
a mão em alguns gatos. OMAR aparece por trás.
OMAR
Sem sono?!
Sem tirar o foco dos animais estabelece o
diálogo.
SHENK
Sim... Uma sensação... diferente na
noite de hoje! Nunca havia sentido isso. Não sei explicar ao certo. É algo que
aperta o peito!
OMAR
Compartilho da mesma percepção!
OMAR se abaixa e acaricia um dos gatos.
OMAR
(Cont’d.) São as mudanças. Elas
mexem conosco. Amanhã será o término de um ciclo conturbado para abrir a outro.
SHENK
(confessa)
Não menos conturbado. Percebo essa
mudança, porém não me vejo nela. É como se não a vivesse!
OMAR
baqueado, SHENK não percebe. Ele engole seco e se levanta. Suspense.
OMAR
(pesaroso)
Estais emocionalmente cansado. É só
isso. Vá dormir. (T) Mas durma com um olho aberto.
SHENK o olha temeroso.
OMAR
(tenta
disfarçar)
(Cont’d.) Forma de falar, Shenk.
Tudo está bem e ficará bem. Descanse.
OMAR SAI rápido. SHENK apreensivo. Foco no gato a brincar.
13. EXT./FOOTAGE: LUA NO DESERTO/NOITE
Instrumental. Lua numa posição no céu. Efeito passagem de tempo com a lua à outro lado. No horizonte, o céu ganha tom laranja.
14. INT./ACAMPAMENTO/DIA-AMANHECER
Instrumental
perpassa. Embora amanheça, a tomada deve captar primeiros sinais de luz, ainda
com predominância da penumbra a fim de colaborar com a confusão visual. Bando
dorme próximo a um oásis. Posições espaçadas de cada pessoa perto de seus
animais. Mistério. Um cavalo solto (somente patas) passa entre eles. Alguns se
levantam incrédulos. NEMEWÁ ainda sem atinar os fatos, se senta. O cavalo (agora
revelado) entra no rio. CAM o mostra com detalhes e acompanha a corda até
deparar-se com ANTHENOKEN machucado e repleto de areia. Está inerte. Todos
apreensivos. NEMEWÁ vai até ele e tem um baque. Ofegante, as lágrimas escorrem.
Ajoelha e ajeita ANTHENOKEN em seu colo. O abraça em choro. Começa a embala-lo
como se embala uma criança e lágrimas escorrem.
INSERT: VIDEOCLIPE
DE MOMENTOS DOS IRMÃOS
Uma criança
por volta de seus 08 anos tenta carregar a outra um pouco mais nova em seu
colo. É NEMEWÁ e ANTHENOKEN. ANOUNAK (jovem) abraça os dois e os afaga. Noutro
momento, correm pelo palácio se empurrando, aqui, já no entorno de seus 11 anos.
A criança que representa ANTHENOKEN deve ser mais fraca. Em dado momento ela
começa a tossir e se apoia num pilar. Preocupado, NEMEWÁ se aproxima. Na
sequência, na arena, em juventude, cada qual se digladia nos treinos com outros
jovens. ANTHENOKEN perde a boa e avança pra cima de um rapaz que o começa
empurrar e chutá-lo. ANOUNAK observa preocupado. NEMEWÁ o defende e bate no
outro rapaz, rolam no chão. Takes dos IRMÃOS abraçados e sorrindo em algumas
ocasiões pelo palácio. Para finalizar o clipe: solenidade consagra NEMEWÁ como General
e ANTHENOKEN sorri para ele e o aplaude satisfeito.
RETORNA À:
DESERTO:
NEMEWÁ, em
lágrimas, debruça sobre ANTHENOKEN.
NEMEWÁ
(tom baixo)
Por mim, isso não terminaria assim!
Apesar de tudo, eu lhe amo... irmão. Me vingarei de quem fez isso. É uma
questão de honra!
Fecha os olhos de ANTHENOKEN e chora sobre ele. Grito ecoa.
15. INT./DORMITÓRIO DA RAINHA/DIA
Ainda
tonta. ANTHIEPT vê tudo embaçado (POV). Levanta-se sem equilíbrio e quase cai.
Enche uma taça com o líquido da jarra. Vira em um gole só. Solta a taça.
Barulho de queda amplificado. Cambaleia e empurra todas as coisas da mesa ao
chão. Grande barulho. Serviçais se aproximam e ajudam-na a sentar. NEVERA se
aproxima com um pedaço de linho. ANTHIEPT em crise de tosse com sangue.
Criadagem assustada olha-se entre si. ANTHIEPT devolve o lenço à NEVERA que o esconde
em uma arca dourada.
OMAR (V.O.)
A cerimônia
pode esperar.
JUMP CUT:
ANTHIEPT
senta-se e o enfrenta OMAR com o olhar.
ANTHIEPT
Estou bem! Não terão a honra de me
verem partir antes de entronar o meu filho como o rei. Depois, aceito que o
destino e cumpra.
OMAR
Anthenoken não quer ser rei! Não
pode obriga-lo. (T) Respeite-o!
ANTHIEPT se levanta agilmente e se mostra mais
enérgica.
ANTHIEPT
Ele não tem que ser contra ao que o
destino lhe incumbiu. Se o pai deixou Luxor a ele, dele é o trono de Luxor!
OMAR
Um destino que a senhora manipulou.
ANTHIEPT
Pouco importa! É dele!
OMAR
(solene)
O destino teve outro caminho e bem
sabes da realidade.
(enfático)
Anounak teve outro filho. Seria
mais fácil se aceitasse tudo como deveria ser. Oposto a isso, procuras manter
tudo em seu querer e sob o vosso capricho; como/...
ANTHIEPT
...Nós?! Tens de superar o passado!
OMAR
Gostas de brincar com os sentimentos
das pessoas. Não mudaste nestes anos!
(lacrimeja)
No dia do atentado, disse-me que o
vosso filho era também o meu. Por um lapso de tempo o meu coração foi feliz.
Não por me remeter à nossa história e, sim, pela possibilidade de ter um filho
e uma continuidade de meu sangue. Não sabes o quanto essa sua jogada me doeu!
Pois, me obrigou a ver que vivo em solidão. (T) És uma pessoa má! Ruim!
ANTHIEPTH
Tolo! Esperançoso! No fundo sabias
que era impossível disso ter sido verdade um dia. (T) Meu asco à ti!
OMAR
Palavras duras não me ferem mais.
(desabafa)
Foi efêmero, rainha! Afinal, lembrei-me
que tudo vosso é frágil e imerso em mentiras. Não envenenaste Anounak por ser
traída; sim pelo medo de que vossa vida ruísse à sua origem. Teu medo era
perder o posto de rainha; ...não o amor. Não passas de uma cortesã adquirida.
Pobre de meu irmão, nunca foi amado!
Tapa. OMAR leva a mão à face. ANTHIEPT
lacrimeja.
ANTHIEPT
(espumando)
Jamais repita isso! Saiba que amei
ao seu irmão como jamais amei ninguém... Nem a ti. (T) Retire-se! Cuide para
que a cerimônia seja digna, à altura de meu filho. Ou pagarás com vossa cabeça
numa bandeja.
Embate de
olhar. OMAR caminha em volta de ANTHIEPT a cozinhando em seu ódio. Aproxima-se
dela quase em um beijo. Nela ofegante.
OMAR
(tom baixo)
Não a temo! O Oráculo revelou-me: seu
fim está próximo. Farei o funeral e a enterrarei de vez na História. Breve!
SAI apressado. ANTHIEPT, nervosa, pega outra taça de chá no jarro. Mãos trêmulas. Ela fecha as mãos no intuito de esconder. Toma mais um gole e faz careta olhando com estranheza para a taça. Suspense.
16. EXT./BEIRA DA BARRAGEM/DIA
Sol ameno
nas águas do NILO. Sentado a observar o sol, MALIK com o reflexos do rio no
rosto. Abaixa-se e olha no rio. Tira o turbante e um grande corte aparece.
MALIK
(triste)
Preciso
encontrar-te Anthenoken...
CAM sobrevoa o rio. FX: água caindo.
17. EXT./DESERTO/DIA
Beduínos e
NEMEWÁ, à margem do oásis, secam ANTHENOKEN. Enrolam pedaços de vestuários
nele. Depois, depositam o corpo ao colo de NEMEWÁ já em seu cavalo. NEMEWÁ deve
ter uma postura de respeito com o defunto. Montam em seus animais e partem para
Luxor. Panorâmica do bando pelo deserto com efeitos de mormaço. Não percebem
que são observados por outro grupo de pessoas à distância.
ZAHRA
(V.O.)
Não encontro Anthenoken.
18. INT./DROMITÓRIO RAINHA/CORREDOR/DIA
ANTHIEPT
sendo ornamentada pelas serviçais, entre elas, NEVERA (atenta em tudo). Vira-se
para trás onde está ZAHRA e SHENK (mais introspectivo). NOTA: todos com traje
especial festivo.
ANTHIEPT
(preocupada)
Os servos já
o procuraram?
ZAHRA
Sim. Por toda a parte. Não tiveram
a sorte de encontrá-lo. Nem ao escravo!
SHENK
Ele não vem.
Não quer isso...
ANTHIEPT e
ZAHRA o questionam com o olhar. NEVERA atenta.
SHENK
(Cont’d.) Ontem, o vi sereno como
nunca! O senti tão próximo em seu desabafo que senti como se eu o dissesse! (T)
Ele não virá. Eu sinto! Não será o próximo “nub”!
ANTHIEPT
(incrédula)
Como pode ser; essa desfeita!?
NEVERA
abaixa a cabeça e esconde a satisfação. ANTHIEPT sai de sua posição e segura
SHENK pelos braços.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Não temos tempo a perder!
Essas sentimentalidades e crises de consciência não podem ser maiores que o
reino em questão! Esteja preparado para subir ao trono, Shenk. Se vosso pai não
honrar Luxor, tu honrarás!
SHENK ameaça falar. Abaixa a cabeça procurando
palavras.
ANTHIEPT
(perspicaz)
Antes que diga algo, lembre-se que
o homem é escravo do que fala, meu neto. (T) Não vais desistir, vai?
PRESSIONADO,
Meneia a cabeça em negativa. TUTANCAN à porta.
TUTANCAN
(despeitado)
Chego tarde! Está tudo forjado e
manipulado!
ZAHRA
percebe o clima pesar e se adianta com sorriso forçado.
ZAHRA
Não se exaspere, meu filho, é só um
combinado acaso o seu p/
Ele estende
a mão para que ZAHRA se cale. SHENK funga irritado. Troca de olhares tensos
entre TUTANCAN e SHENK. ANTHIEPT dá alguns passos e entremeia a todos.
ANTHIEPT
Não tens o que justificar, Zahra. Tutancan
tem que ser forte e aceitar que o irmão é o próximo na linha de sucessão. Não
estamos com crianças entre nós.
ANTHIPET
aproxima-se de TUTANCAN segura em sua mão.
ANTHIEPT
(à
TUTANCAN)
(Cont’d.) Vamos! Olhe-me! A
rejeição é característica dos perdedores. Para tudo na vida existe um tempo.
Esse não é o seu tempo! (T) Seja cordial e evite os conflitos.
TUTANCAN
Prometeste! Quebraste a tua
promessa! Ias me tornar rei.
ANTHIEPT
Não o disse quando! E, Sim! Fiz o
que fiz para garantir a estabilidade de todos, e isso remete a ti também. (T)
Essa dinâmica faz parte do jogo de poder. Usamos uns aos outros para ganhar. E
só ganhar importa! (T) Achei que tivesse aprendido a lição. Tens muito a
aprender, meu neto!
Acaricia e
beija a mão de TUTANCAN que está em lágrimas. Nota a ausência de uma pulseira.
ANTHIEPT
(desconfiada)
O que fizeste da pulseira que lhe presentei?
TUTANCAN
(ignorante)
Não sei. Deve estar entre os meus
pertences. Vou encontrá-la.
TUTANCAN desvencilha rudemente das mãos da avós
e SAI pisando duro. ZAHRA preocupada. ANTHIEPT acaricia o ombro de ZAHRA.
ANTHIEPT
Fizemos tudo o que tinha que ser
feito. Agora é seguir...
(à NEVERA)
Assim que eu sair, tire este chá
daqui; o gosto está péssimo!
NEVERA
assente. ANTHIEPT ameaça sair acompanhada de ZAHRA e SHENK que fica alguns
passos atrás. NEVERA joga as coisas para chamar a atenção. Todos olham. NEVERA fixa o olhar em SHENK. ZOOM IN no
rosto de SHENK como quem compreende algo.
NEVERA
(se curva)
Perdão, meu amo. Foi um acidente,
peço que não me puna!
ANTHIEPT
(revira os
olhos)
Ele não a punirá; tens afazeres
maiores. Porém, tenhas mais cuidado!
Vão saindo. SHENK volta e ajuda a recolher.
ZAHRA
Venha, Shenk! Ela que ajeite o
desserviço que fez!
SHENK
Não. Eu a ajudarei. Já as alcanço.
ZAHRA e
ANTHIEPT SAEM. SHENK e NEVERA em conversa sussurrada.
SHENK
(Cont’d.) Queres me dizer algo?
NEVERA
Sei que devo manter segredos do que
ouço, senhor. Contudo, é muito grave! Temo pela vida do príncipe.
SHENK
baqueado. Tensão. Se levantam olho no olho. Ele faz gesto para que ela
continue.
NEVERA
(Cont’d.) Vosso irmão me fez levar
um recado para que houvesse um encontro na casa de grãos perto da barragem,
ontem à noite. (T) Creio que ele e o escravo... estejam tramando investir
contra o vosso pai.
SHENK não esconde a preocupação.
NEVERA
(falsa)
(Cont’d.) Sei que não devia expor
os fatos. Se quiser, senhor, me puna! Só não deixe que nada aconteça ao nosso príncipe
herdeiro.
SHENK
Essa troca está guardada e com minha
gratidão. Tomarei providências.
SHENK SAI
apressado. NEVERA, venenosa, sorri com satisfação.
CORREDOR:
ANTHIEPT e ZAHRA seguem, SHENK as alcança e seguem em silêncio. Vez ou outra, SHENK olha para trás procurando algo. Suspense.
19. EXT./PÁTIO/DIA
ANTHIEPT e
ZAHRA sobem cada qual em suas liteiras. SHENK avista do outro lado, cruzando
furtivamente, seu irmão TUTANCAN.
SHENK
(mente)
Não quero chegar ao evento nestas condições,
aparta o que acredito. Vou ao chão próximo aos servos. Creio que seja o perfil
ideal de um governante. Além do mais, ainda falta meu irmão.
ZAHRA
(apreensiva)
Seu irmão não está receptivo.
Ficarás mais vulnerável aqui sozinho. Evite o confronto; Faça o que lhe peço.
ANTHIEPT
(altiva)
Deixe-o, Zahra! É importante
acolher o irmão ressentido. Shenk é forte e sabe se defender. Está mais que na
hora do caçula entender quem manda.
(aos
servos)
Vamos! Vamos!
As liteiras são erguidas iniciam o trajeto. ZAHRA, preocupada, mantém o olhar fixo em SHENK e, ele, nela. Nele apreensivo. Tensão.
20. EXT./RUAS DA CIDADE/CERIMÔNIA/DIA
Movimentação de transeuntes
pelas ruas da cidade em direção ao evento. TUTANCAN esbarra numa senhora com
muitos tecidos. A puxa para um canto mais reservado e furtivo, oferece algumas
moedas em troca do tecido. Ela SAI e ele se ajeita tampando a sua roupa nobre e
encobre a cabeça. TUTANCAN SAI do quadro revelando SHENK parado bem mais
distante a observá-lo. Tensão.
CERIMÔNIA:
Tendas armadas para a
nobreza. Debaixo do sol, pessoas como cortesãos, comerciantes e a casta mais
baixa. OMAR em pé ao lado dos tronos observa a movimentação. Aos poucos a
multidão abre passagem para as liteiras reais que se aproximam. O cortejo segue
até se aproximar da escadaria principal em que abriga a tenda mais alta. OMAR
se aproxima e se curva para receber ANTHIEPT e ZAHRA. As conduz para os seus
lugares. Panorâmica dos rostos das pessoas ansiosas e em burburinho.
OMAR
(entredentes)
Não vejo Anthenoken, Shenk ou
Tutancan... Quem assumirá o trono?
ANTHIEPT
Chegam em breve! Eis que saberás!
ZAHRA, aflita procura o
rosto do filho na multidão.
OMAR
O anúncio tem que ser feito,
rainha, as pessoas estão há dias esperando pelo seu “nub”. Não podemos mais
conter o povo.
ANTHIEP se levanta com altivez
e caminha até a beira da escada.
ANTHIEPT
(em tomo
alto)
Cidadãos de Luxor. Eu, como a vossa
rainha, esposa fiel e única do Faraó Anounak II, lhes dirijo a palavra em
agradecimento.
O burburinho encerra.
ANTHIEPT
(Cont’d) Sim! Quero agradecer a
cada um que, aqui está, esperando em fé que o novo governante seja anunciado. E,
também, vos agradeço pela acolhida calorosa que deram à minha família no
período de luto e embalsamento de meu esposo. A presença cordial de cada
cidadão no cortejo de despedida em muito nos honrou. Sou verdadeiramente grata.
Tosse sequencialmente com a mão na boca
manchando com sangue parte do vestuário. OMAR percebe e fixa o olhar
preocupado.
ANTHIEPT
(Cont’d) Os nossos dias não tem
sido fáceis sem o nosso “nub”.
(cai em si/lacrimeja)
Anounak nos faz muita falta e, os
dias parecem ser mais longos e vazios com a sua ausência...
OMAR lacrimeja. CAM passeia pelas pessoas.
ANTHIEPT
(Cont’d) Depois dos dias de
tristeza, quero afirma-los que Luxor voltará a sorrir. Hoje começamos a
cerimônia de forma diferente. Quero todos felizes.
(à OMAR)
Peço aval ao Sumo-Sacerdote, para
que as dançarinas e os músicos façam a vossa diversão antes de prosseguirmos
com a cerimônia! Em alguns instantes o eleito será revelado.
Abre os braços e se curva ao público. As pessoas ovacionam. ZAHRA preocupada. Suspense. ANTHIEPT se vira de costa para o público e tenta disfarçar o sangue na vestimenta. OMAR a fita com piedade. Ela respira fundo e desvia o olhar incomodada. Musica e animação na cerimônia.
21. INT./CASA DE GRÃOS/CERIMÔNIA/DIA
Suspense instrumental. Música
e vozes da cerimônia ao fundo. MALIK caminha pela fachada da casa. Alguns dos
beduínos seguem em direção a cidade. O grupo de MALIK o espera um pouco mais
adiante, como se o protegessem.
MALIK
(triste)
Deixem-me a sós por um instante.
Não sei quando terei outra oportunidade de voltar aqui.
Os Beduínos avançam um pouco
mais distante. MALIK passa a mão nos olhos limpando as lágrimas enquanto
observa o cenário. SFX: sobreposição de tela c beijos de ANTHENOKEN e MALIK.
Durante a caminhada pisa em algo. Abaixa e a recolhe a pulseira de ouro de TUTANCAN.
Suspense.
CERIMÔNIA:
Música festiva. ZAHRA se
curva para segredar com ANTHIEPT em discrição. Ao fundo pessoas dançam.
ZAHRA
(preocupada)
A demora
dos dois me causa estranheza.
ANTHIEPT
(disfarça a
preocupação)
Às vezes, estão conversando. Em
algum momento precisarão se acertar.
ZAHRA
Estou segurando meu ímpeto em
busca-los. (T) Meu coração está apertado!
ANTHIEPT
Digo o mesmo por Anthenoken. Ao
menos, sabes onde estão os vossos filhos.
(decepcionada/triste)
Não sei se o que me dói mais: o
trono ser negado, ou ele não estar presente e sem dar satisfação qualquer.
Encerram o contato visual e
observam o entorno. Suspense. OMAR com olhos de águia observa o panorama.
FACHADA CASA DE GRÃOS:
MALIK pensativo a observar a
pulseira. Repentinamente, o grupo de protetores surgem apressados dizendo
(V.O.): “esconda-se, esconda-se! Alguém À caminho”. Todos SAEM apressados. CAM
passeia pelo local vazio e passa pela carruagem usada na noite do crime. TUTANCAN,
disfarçado como cortesão destampa o rosto (close). Furtivamente e com receio,
faz verificação no entorno para certificar que está sozinho. Caminha até a
carruagem e a toca.
TUTANCAN
(lacrimeja/para
si)
Como faço para tirar essa culpa de
dentro de mim?
CAM passeia pelo cenário
levado por música dramática até focar num vulto mais adiante.
SHENK
Esse é o
cativeiro de nosso pai?
Suspense. TUTANCAN se vira
assustado com o flagra.
CERIMÔNIA:
ZAHRA ofegante leva a mão a
testa e deixa o corpo amolecer. OMAR percebe e vai até ela com uma taça tirada
da bandeja de um serviçal e a leva em sua boca. ANTHIEPT observa preocupada.
FACHADA DA CASA DE GRÃOS:
Retoma em TUTANCAN e SHENK.
Tensão.
SHENK
Anda! Ainda
não me respondeste!
TUTANCAN
(mente/agressivo)
Não sei o que dizes. Deixe-me em
paz!
SHENK
Qual a intenção por trás do
encontro entre o papai e o escravo; aqui?
SHENK, intimidador, avança
vagarosamente rumo à TUTANCAN.
TUTANCAN
(acuado/quase
choro)
Não se aproxime, Shenk! É melhor!
Não me obrigue a me tornar pior. O que sinto neste momento já o bastante para
me torturar!
SHENK
Quero saber da verdade, meu irmão!
(T) A última vez que vi meu pai foi antes de anoitecer. Antes dele receber o
convite para um encontro. Ele não dormiu conosco até agora não apareceu. O que
fizeste? Diga!
SHENK
continua avançando. TUTANCAN recua alguns passos e passa a mão nervosa e
repetidamente na cabeça quase que se permitindo desabar. Um comportamento
nervoso.
SHENK
(grita)
(Cont’d.) O
que fizeste?
TUTANCAN se agacha e chora
baixinho tampando os ouvidos com os punhos cerrados. Quase em posição fetal.
SHENK adota um tom opressor.
SHENK
(irado)
(Cont’d.) O que fizeste com o meu
pai? Sejas homem de assumir as suas atitudes. Não sejas um fraco!
(grita)
Diga! Diga! Não seja fraco!
TUTANCAN solta um grito
atormentado da alma em fúria ao mesmo tempo em que avança para cima de SHENK
com brutalidade o fazendo voar com tudo para cima da carruagem e bater a
cabeça. Uma adaga cai de SHENK ao lado da carroça. SLOW-MOTION: SHENK meio
abobado tenta se levantar. Pés de TUTANCAN e mãos no quadro a pegar a adaga.
TUTANCAN se levanta e olha para SHENK que se levanta atordoado. Tom de suspense
sobe entoado pelo instrumental.
CERIMÔNIA:
Ainda em SLOW: ZAHRA aos
braços de OMAR no chão. ANTHIEPT e os sacerdotes a abanam. CAM nas pessoas a
observar a cena com compaixão. No meio delas, NEVERA, apreensiva.
FACHADA DA CASA DE GRÃOS:
Retomada. TUTANCAN cheio de
ódio. Assume um tom doentio e tão opressor quanto SHENK.
TUTANCAN
Vieste com a intenção de me
eliminar. Eis a adaga que não o deixará mentir.
SHENK
Não era... pra isso! É para minha
defesa.
TUTANCAN
Um homem bom e sem más intenções
não carrega armas para a sua defesa, pois confia na sabedoria de suas palavras.
Eis que o via como um homem bom!
SHENK
Não foi a intenção. Está tirando o
foco do encontro. Onde está meu pai? Solte-o e voltemos para a cerimônia.
Deixe-o assumir o trono de Luxor.
TUTANCAN ameaça chorar.
Engole o choro e estufa o peito se fazendo de forte.
TUTANCAN
Ele não voltará mais. Se foi. Junto
de seu escravo branco.
SHENK
(se
recuperando)
Foi para onde?
TUTANCAN
Para a morada final... Estão
mortos!
SHENK
Mentes! Como podes saber?
TUTANCAN
(com asco)
Porque... foi eu quem o fez...
SHENK leva um tempo para a
entender. Assim que entende, muda a feição para ira. Se levanta.
SHENK
Assassino!
Instrumental/drama. SLOW-MOTION:
SHENK avança para cima de TUTANCAN que lhe crava a adaga no ombro e a tira.
SHENK sente dor e insiste em ir para cima de TUTANCAN que se desvencilha e dá
vários golpes à esmo. Luta corporal intensa. Alguns golpes acertam os braços de
SHENK e outros de raspão. Até que SHENK o abraça para conter os golpes e
arregala os olhos (CLOSE). TUTANCAN se afasta e solta a adaga com sangue. Feição
de horror e choro. SHENK Cai. TUTANCAN chora guturalmente. Os Beduínos aparecem
sob o comando de MALIK e avançam para cima de TUTANCAN o segurando. MALIK, com
uma tora de madeira acerta os joelhos de TUTANCAN que despenca, bate a cabeça e
desmaia. MALIK solta a tora e respira fundo. Beduínos se olham apreensivos.
Tensão.
CERIMÔNIA:
ZAHRA toma água sob cuidados
de OMAR. ANTHIEPT já não consegue mais esconder a preocupação. Burburinho das
pessoas.
FADE OUT.
22. EXT./ENTRADA DE LUXOR/DIA
Bando encerra a cavalgada. Ajudam
NEMEWÁ descer com corpo de ANTHENOKEN.
NEMEWÁ
Agradeço aos amigos. Os serei grato
enquanto viver. E, não esquecerei da liberdade prometida à vós. (T) Agora, sigo
o meu fardo sozinho.
Olha para ANTHENOKEN com lágrimas nos olhos. O coloca no ombro, ajeita e segue. PANORÂMICA: entrada de cidade marcada por um ar de simplicidade, animais frente as casas. Desleixo.
23. INT./CERIMÔNIA/NOITE
Tensão. Público abre caminho.
ZAHRA levanta ansiosa. ANTHIEPT, se mantem sentada e sua apreensão é notada no aperto
aos braços do trono. Os beduínos puxam uma carruagem com um prisioneiro de
rosto encoberto e um corpo embrulhado de branco e tinto em sangue. ZAHRA tenta
dizer algo, o choro a impede. Tragédia.
OMAR
(estranhando)
Controle-se, Anthiept. Pelo visto,
os escravos vieram comunicar algo.
MALIK puxa o
prisioneiro e sobe alguns degraus. No punho de MALIK a pulseira. Ajeita o
prisioneiro.
ZAHRA
É o servo branco! O corpo...?
Anthenoken?
ANTHIEPT
passa a mão na cabeça como autocontrole.
ANTHIEPT
Reconheço aquela pulseira!
ANTHIEPT se levanta no ímpeto. OMAR segura seu
punho.
OMAR
Sem precipitações. Ao menos agora!
OMAR faz um
gesto de cabeça para os guardas que se aproximem. MALIK se ajoelha
reverenciando a rainha. Tira a pulseira e estende para o alto. ANHIEPT e ZAHRA
ofegante.
MALIK
Vim denunciar um crime senhora. O
criminoso, é o proprietário desta pulseira.
ANTHIEPT
engole seco. ZAHRA a olha inquisitiva. MALIK retira o seu turbante e revela a
sua cicatriz na cabeça.
MALIK
Peço justiça, pois, além de mim, o
criminoso atacou... e matou a outra pessoa..., senhora!
MALIK retira
o pano de TUTANCAN. ANTHIEPT cai sentada. ZAHRA abaixa a cabeça e chora.
Burburinho do povo. OMAR horrorizado.
ANTHIEPT
(dura)
Tutancan,
fique diante de mim.
(à MALIK)
Aquele cadáver! É a vítima? Tens
como provar que foi herdeiro real?
MALIK acena
a cabeça aos seus para que subam com o corpo no tecido embebido por sangue.
ZAHRA, já desconfiada da tragédia se levante e cambaleia. Vai à TUTANCAN.
ZAHRA
O meu coração... já desconfiava de
tuas intenções, meu filho, como pode?!
TUTANCAN olha pra ANTHIEPT.
TUTANCAN
Aprendi com alguém que nesta vida, eu
tinha de tornar-me um sobrevivente... Só ataco para me defender. (T) Não tenho
mais nada a dizer.
ANTHIEPT
abaixa a cabeça contrariada. TUTANCAN abaixa a cabeça e oscila entre choro e
controle. Enquanto isso, beduínos põem SHENK ao chão com cuidado. Abrem o
tecido. ANTHIEPT leva a mão à boca na tentativa de conter os murmúrios do choro.
Música sobe. ZAHRA aos gritos cai sobre o filho e o abraça e beija enquanto os
guardas imobilizam o prisioneiro. TUTANCAN tenta relutar e olha para ANTHIEPT
como quem pede intervenção. Calada e de rabo de olhos ela nega a ajuda com a
cabeça e vira-se para ele. OMAR, desolado, aproxima de SHENK e toca a sua mão. Surpreso,
olha ZAHRA. Rapidamente, toca o coração de SHENK.
OMAR
(esperançoso)
Está vivo! Fraco, porém vivo! (T)
Precisa de cuidados! Ajudem-no! Ajudem! Levem-no para os cuidados.
Os
sacerdotes se mobilizam em resgatá-lo e o carregam para fora de cena. ZAHRA,
limpa as lágrimas e em sua face brota o ódio. Aproxima-se de TUTANCAN aprisionado
e o encara.
ZAHRA
Não tem maior vingança que esta: a
da providência divina. (T) Seu irmão vai sobreviver! Tenho fé! E isso, basta,
para sentir-me vingada. O verei aqui, neste trono, enquanto que a ti deverá recair
todos os castigos deste mundo e aqueles dos Deuses. Viverás à sombra do teu
maior pesadelo: não ser o centro das atenções;...nem o Faraó.
TUTANCAN
(ressentido)
Vossa atitude não me surpreende. Isso
só veio coroar o que sempre teve vontades de dizer. Sempre me odiou.
ZAHRA
Não tanto
quanto lhe odeio agora!
ZAHRA ameaça
sair. Quando ouve novo burburinho entre as pessoas e um novo espaço se abre
entre eles. NEVERA surge dentre as pessoas e adianta alguns passos tomada pelo
impulso.
NEVERA
Vejam, o general
voltou!
OMAR
(suspira)
Enfim, a
ordem se restabelecerá.
ANTHIEPT o
olha com desdém e enxuga as lágrimas. Panorâmica vista pela ótica do público:
NEMEWÁ, suado e cansado carrega ANTHENOKEN coberto da cintura para cima com um
pano branco em seus ombros. ANTHIEPT se levanta tentando falar sem conseguir,
já entendeu a situação. ZAHRA também. MALIK e os beduínos vão à NEMEWÁ e o
ajudam a colocar o corpo no chão. Contra-plongé: NEMEWÁ, com lágrimas aos olhos
olha para ANTHIEPT. Esta, desce a escadaria entre choros e gemidos de dor.
Quando chega aos pés da escada empurra os beduínos e abre o pano. Aos gritos de
“Meu filho, meu filho!” e um misto de choro alto e choro silencioso o coloca no
colo e o embala.
OMAR coloca
a mão no ombro de ZAHRA que tem lágrimas escorrendo num choro silencioso.
MALIK, em prantos encara TUTANCAN que tenta firmar o embate no olhar e abaixa a
cabeça a fim de deixar as lágrimas escorrerem. ANTHIEPT ajeita o corpo do filho
e toca as suas feridas. O público em volta a observar tudo.
NEMEWÁ
O que olham?! Terão a oportunidade
de se despedir do príncipe, no funeral. Afastem-se para a Rainha se despedir de
seu filho.
As pessoas
obedecem de forma ordeira e se afastam. Os olhos das pessoas são de
compadecimento.
ANTHIEPT
Um gesto nobre para um assassino. A
privacidade é a mínima honra que poderia me dar agora diante do corpo de meu
filho. (T) O meu único herdeiro está morto e o outro, se sobreviver, terá
condições de governar? Era o que desejavas?
NEMEWÁ
(lacrimeja)
Por mais diferenças e interesses em
conflitos, não fui o assassino de vosso filho. No fundo, eu o amava como irmão.
ANTHIEPT se
levanta e dá um tapa em NEMEWÁ. Que engole a humilhação calado.
ANTHIEPT
Usas da fragilidade do momento em
busca de legitimar a sua proximidade conosco. Não se atrevas! Não serás
reconhecido como tal! Trazer o corpo de meu filho no dia da entronação é um ato
criminoso e cruel.
MALIK se
adianta.
MALIK
Senhora, não foi o general o
assassino. Este machucado em minha cabeça foi da mesma arma que agrediste ao
vosso filho.
ANTHIEPT
Como podes defender um homem que
escravizou o teu povo?
MALIK
Mesmo que escravo, somos adeptos da
justiça e tememos o castigo divino. E, sem pormenores, tenho interesse que isso
se esclareça, pois também me causa sofrimento a passagem do príncipe. (T) Não
posso deixar que culpe a uma pessoa inocente diante de mim que sei quem o assassinou.
ANTHIEPT
Diga logo quem matou meu filho e
mando ceifar a vida do mesmo agora!
MALIK
O vosso neto! O mesmo que matou ao
irmão.
ANTHIEPT desmonta.
Confusa tenta falar e não consegue. Ela encara MALIK a fim de ter certeza.
MALIK
(Cont’d.) O vosso neto tentou me
matar quando o flagrei carregando o corpo do pai na casa de grãos.
ANTHIEPT
baqueada. Tomada por um misto de ira, mágoa e choro, respira fundo e sobe as
escadas calmamente com olhar a cozinhar TUTANCAN. ZAHRA de cabeça baixa e
envergonhada. OMAR ao seu lado. ANTHIEPT passa por eles e os encara. Fica
frente a frente com o neto.
ANTHIEPT
(aos
guardas)
Afastem-se!
Os guardas
se afastam. Ela dá um passo adiante e fica de rosto colado.
ANTHIEPT
(sussurra)
(Cont’d.)
Não aprendeste que não se deixa provas? Por mais que me doa, terei que
castiga-lo. (T) Perdoe-me.
Suspense.
Os olhos de TUTANCAN se enchem de lágrimas. ANTHIEPT caminha até OMAR.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Traga-me
a coroa!
ZAHRA a
olha com surpresa.
OMAR
Tens certeza que desejas continuar
com isso?
ANTHIEPT
(tom baixo)
Tens razão. O povo esperou demais
pelo “nub”. Sei reconhecer quando a batalha está perdida. Pegue a coroa.
Caminha
solene até o a beira da escada.
ANTHIEPT
(sincera)
(Cont’d.) Amado povo de Luxor...
Essa é a primeira vez que não sei o que vos dizer com clareza. Porém, sei o que
sinto. E, sinto que não há mais nada que eu e...
Olha para TUTANCAN que abaixa a cabeça
envergonhado.
ANTHIEPT
(Cont’d.) ...os meus possamos fazer
por Luxor daqui para adiante. (T) Fomos fragilizados e desmoralizados. E...
(cai em si)
... a culpa é nossa. Só nossa! Devo
reparar o erro que eu mesma comecei.
Estica a mão para receber a pessoa.
ANTHIEPT
(Cont’d.) Nemewá, suba até aqui. És
justo que tenhas o teu desejado reconhecimento em público.
NEMEWÁ olha
para NEVERA entre o povo. Ela o incentiva com a cabeça. NEMEWÁ caminha até
ANTHIEPT. Olhos do público marejado. NEVERA limpa as lágrimas e abre um sorriso
de satisfação entre o povo. NEMEWÁ de frente com a ANTHIEPT. Ela segura a mão
dele, a beija em respeito e se curva.
ANTHIEPT
(tom baixo)
(Cont’d.) Estou derrotada, não
morta. Queira honrar a minha dignidade e de minha família. Reconheça esse gesto
como uma trégua. Faça o teu governo como quiser sem nos tirar o que nos é de
direito. Ao meu neto, TUTANCAN, tenha piedade. Não lhe dê o pior dos castigos,
embora mereça!
(à OMAR)
Espere que ZAHRA e eu saiamos!
Ainda temos a nossa dignidade. Depois, conduza como achar que deve. (T) Minha
próxima aparição se restringirá ao funeral de meu filho.
(à NEMEWÁ)
Que seja um reinado próspero!
Estende a mão para ZAHRA e olham do alto da
escadaria para o corpo de ANTHNOKEN. Passam por TUTANCAN de cabeça baixa.
ANTHIEPT volta à TUTANCAN.
ANTHIEPT
Tiraste o que me era mais precioso:
um filho! E, assim, perdes lhe era objeto de desejo: o trono. (T) No fundo me
enganei. Nunca foste o belo e forte. Sempre foste o feio e fraco! Como todos o
julgavam. Eles tinham razão. Fui cega! Cega de amor!
TUTANCAN cai de joelhos e chora. Os guardas o
levantam com truculência. ANTHIEPT e ZAHRA seguem.
JUMP CUT:
TRAVELLING pelo público e ambiente sem os
corpos e TUTANCAN. Aos poucos a CAM alcança NEMEWÁ no trono. OMAR com os braços
estendidos porta a coroa ao alto.
OMAR.
Sob o manto sagrado dos Deuses que
de ouro cobre o céu; sob a sabedoria de Osíris que habita em nossos corações e,
acima do conhecimento dos homens e; tão sublime para estar perto dos deuses,
eis aquele que, deste trono governará e protegerá Luxor e os filhos de tua
próspera Terra. (T) Quis o destino que, NEMEWÁ, filho primeiro, e legítimo, de
Anounak II e NERFIRI; nobre sangue da 17ª Dinastia dos Tirenses, fosse
reconhecido em público como o vosso soberano, será a presença divina na Terra.
À partir de hoje, Luxor tem um Faraó e, seu povo, por ele celebra e aclama O
ELEITO! Eis, Nemewá, que de agora em diante será dirigido como ANOUNAK III.
OMAR coloca
a coroa em NEMEWÁ e demais sacerdotes o entregam um cajado e um mangual. NEMEWÁ
os cruza sobre o peito como nas esfinges. CAM aproxima e o enquadra. O trono é
suspendido e levado para circular entre o povo. Suspense.
NEVERA
(V.O.)
A vingança ainda não está completa.
FADE OUT.
24. INT./REFEITÓRIO/DORMITÓRIO RAINHA/DIA
NEVERA com jarro de chá. NEMEWÁ
a segura com carinho.
NEMEWÁ
(pacífico)
Já conseguimos a justiça...
NEVERA
(lacrimeja)
Ela ainda está viva. Aonde está a
vossa mãe? É por Nerfiri!
NEMEWÁ baixa a cabeça.
NEVERA
(Cont’d.) Chama isso de justiça?
(T) Vou até o fim com isso. Daqui para frente, assumo tudo sozinha. Fique em
paz, “nub”.
“FLOR DA NOITE” (Nana
Caymmi). NEVERA SAI.
DORMITÓRIO:
Música se estende. NEVERA coloca o jarro sobre
a mesa – ZOOM IN. Choro silencioso, respira fundo com alívio.
NEVERA
(V.O.)
Doses volumosas são fatais. O sono
eterno é certo. Ah, se ela soubesse! Agora, Nerfiri terá seu devido descanso;
vingada!
25. INT./LEITO HERDEIROS/DIA
Música se estende. SHENK no
leito. ZAHRA leva a mão ao rosto do filho que respira com dificuldade. Deve
estar abatida, com olheira, descabelada. Pesada e triste num sofrimento de uma
mãe abnegada. Deve estar cercada por Sacerdotes.
ZAHRA
(sussurra)
Fica...
Fica comigo! Eu imploro.
ZAHRA em lágrimas, segura a mão e beija.
26. INT./SALÃO DE EMBALSAMENTO/NOITE
ANTHENOKEN sobre a pedra.
Abre com uma luz sobre OMAR (close). A música apenas fica instrumentada.
OMAR
(remorso/lábil)
Sinto-me culpado, meu sobrinho. (T)
Eu deveria ter pressentido! Ter evitado essa tragédia.
(horrorizado)
Não é a primeira vez que um filho
assassina ao próprio pai. Só que isso dói mais quando acontece debaixo de seu
nariz e... não se consegue fazer nada. (T) Me sinto pequeno! Daria qualquer
coisa para estar no seu lugar. Porém, sou impotente diante da vontade dos
Deuses.
(chora)
Lhe tinha como um filho. E, mesmo
assim, o trai buscando justiça.
Se debruça sobre a cabeça de
ANTHENOKEN e chora.
OMAR
(remorso/lábil)
Me perdoa! Perdoe-me esse velho
Sacerdote que não o soube amar.
Uma luz se acende atrás de OMAR. ANTHENOKEN (alma) coloca a mão com carinho no ombro de OMAR que abre sorriso terno. OMAR fecha os olhos e tomba a cabeça para trás para sentí-lo. Sobe a música. Lágrimas escorrem de ambos. TRAVELLING OUT.
27. EXT./TORRE/DIA
TUTANCAN em amarras como
prisioneiro. ANTHIEPT sentada sem contato visual a princípio. Uma oscilação de
mulher vulnerável e forte, desta vez, sua ira é sóbria.
ANTHIEPT
Qual o erro que cometi contigo?
(lágrimas)
Fui a única quem não lhe julgou. A
lei do silêncio sobre os teus desejos foi a maior prova de amor. De amor! Pois,
pra mim, nunca importou a quem molestava e como. A única coisa que eu queria
era te ver feliz. Ver teu sorriso e tua paz; sem o assombro ao qual as pessoas
más tentavam lhe impor. Tudo para que não sofreste com comentários jocosos. (T)
Isso não foi o suficiente, não?
Se levanta e vai até ele que evita olhá-la.
ANTHIEPT
(Cont’d) Nem o amor foi capaz de o
salvar. (T) Como pessoas iguais podem ser tão diferentes?! Tu, descobriu o amor
e não lutou com dignidade para isso. Teu pai, foi digno. A escolha dele não me
agradou, porém, o brio que ele teve em assumir o amor e a dignidade com a qual
ousou mantê-lo, é notável!
(choro)
E morreu por isso! Pelas mãos de
seu filho. Meu neto! Aquele que mais amei e devotei. (T) Seu problema é não ver
os limites. Está tão imerso em si que nada mais que esteja fora de ti pode ser
sentido ou ter vida própria.
(segura)
Seu pai... meu filho! O meu filho!
Tinha direito de ser feliz! E tiraste dele o momento mais feliz de sua vida!
(T) Isso me dói! (T) Olhe-me um instante e veja o que sobrou de mim.
Timidamente ele ergue a cabeça e encara.
ANTHIEPT
(Cont’d) Nem tudo está perdido. Eu
que nunca valorizei os sentimentos, da pior forma, estou descobrindo que isso
muda tudo. (t) Pena que só o aprendi através da dor. (T) Ainda lhe resta um
tempo para colocar compaixão e paz no teu coração, pois, no dia de seu
julgamento, estará na balança de Osíris... caso não lhe reste, ainda, muito
tempo.
TUTANTACAN
(lacrimeja)
O que será de mim?
ANTHIEPT
Não sei! (T) O que sei é que esta é
a nossa última conversa.
TUTANCAN
O que pretendes?
ANTHIEPT
Buscar o último ato de dignidade
que me resta. Independente do que venha pela frente, saiba que eu o amo, como
se fosse de meu ventre. (T) Isso não é um perdão. Pois roubaste o meu sonho e
arrancaste de mim parte de minha vida. Não tem como perdoar.
O encara serena enquanto ele sente peso das palavras. ANTHIEPT SAI. CAM busca o amargurado rosto de TUTANCAN.
28. INT./TENDA/NOITE
MALIK sentado sobre uma
arca. NEMEWÁ em pé. Abre com o aperto de mãos.
NEMEWÁ
Como o prometido! Além da gratidão
em ouro pelo resgate; isso é por ser um homem tão versátil para seguir com todo
o combinado. De agora em diante, o vosso povo está livre. Podes seguir o seu
caminho agora mesmo se o quiser.
MALIK
(falso/lacrimeja)
Queria esperar o funeral para me despedir;
se puder.
NEMEWÁ
Como
quiser.
Senta ao lado de MALIK.
NEMEWÁ
(Cont’d.) Esse sentimento
construído tão rápido por Anthenoken é um tanto diferente! Porém, posso
compreendê-lo apesar de tudo. Perder quem amamos no auge de planos para o
futuro dói; não apenas pela perda da pessoa e, sim, pelos sonhos que morrem
juntos. Tens o aval para ficarem até o funeral e depois devem seguir.
MALIK
Me conceda mais um pedido, “nub”.
Por todo esforço que o fiz.
NEMEWÁ assente com a cabeça.
MALIK
(Cont’d.) O rapaz merece a pena de
morte.
NEMEWÁ respira fundo e com
pesar.
NEMEWÁ
É meu sobrinho. E, sim; ele pagará
com a vida. A ordem deve ser válida para todos.
MALIK
Deixe que
eu seja o seu carrasco.
NEMEWÁ o olha com receio. MALIK coloca a pulseira de TUTANCAN em seu braço.
29. INT./LEITO HERDEIRO/TORRE/NOITE
ZAHRA aos gritos de
desespero debruça sobre SHENK. “FLOR DA NOITE” (Instrumental). OMAR aproxima do
defunto e fecha os seus olhos. Imersão no sofrimento de ZAHRA faz fusão com:
TORRE:
Música. TUTANCAN aos gritos
e choros de remorso. Se debate nas amarras. Bate a cabeça na parede até
sangrar. CAI.
TUTANCAN
(sofrido)
O que eu fiz? Meu irmão! Eu te amo!
Eu te amo! Nãoooo, não vá. Não me deixe. Eu sou o seu Tuta.
Ao chão quase que
desfalecido.
TUTANCAN
(Cont’d) Quem vai me defender? Eu
sou o seu Tutinha! Seu Tuta...
Close em seu choro. Sobe a música.
30. INT./DORMITÓRIO RAINHA/NOITE
Música se estende. ANTHIEPT
virando o chá com vontade. Vira mais outras taças. Faz careta e tem ânsia de
vômito. Se deita e tosse. Crise de tosse sequencial com gotículas de sangue.
JUMP CUT:
OMAR ENTA. Dá de frente com NEVERA.
NEVERA
Ela o
aguarda, Senhor.
NEVERA SAI. OMAR aproxima do
leito e senta ao seu lado. “Flor da Noite” (instrumental) desenha a cena.
ANTHIEPT
(lacrimejando)
Chegou a minha hora. Quero fazer a
passagem.
OMAR
(com
compaixão)
Não é assim... Ao menos, agora,
respeite a ordem natural das coisas.
ANTHIEPT
Naquela pequena arca, no móvel, tem
um amuleto. Pegue-o, por favor.
Crise de
tosse. Gotas de sangue voam. Compadecido, OMAR, se levanta e vai até a arca. Um
amuleto de pedra entalhado com escaravelho (em tamanho pouco menor que de um
punho fechado) e pedrinhas preciosas estão por cima de muitos lenços de linhos
manchados por sangue. Fica impressionado e triste. Se aproxima dela com as
pedrinhas e amuletos.
OMAR
(triste)
Compreendo os motivos. Só não
concebo e nem a vejo nisto. (T) Está certa disso?
ANTHIEPT
(chora)
Nunca fui uma mulher de dúvidas... Não
será agora... apesar do medo!
Omar lhe entrega as pedras preciosas e o
amuleto.
ANTHIEPT
(resignada/triste)
Não fui digna de compaixão. Sei das
marcas doloridas que fiz em tua vida; cultive o perdão por mim em vosso coração.
Lhe clamo: não me deixes sozinhas... até tudo acabar. Sabes o que fazer. Confio
em ti... Sempre confiei. Sempre soube o que fazer, e isso me contrariava porque
eu sabia que estavas sempre certo. Por isso sempre lhe evitei e o ataquei. Só
que, as diferenças e razões, nesta hora, são deixadas para trás. (T) Só faça...
Promete-me não me abandonar?
Até o fim?!
Delicadeza
na cena. Tocas de olhares medrosos. ANTHIEPT coloca as pedras preciosas nas
narinas. Pega o amuleto e admira o escaravelho talhado (POV). Coloca dentro da
boca e a mantem aberta. OMAR empurra o amuleto e ela força para engolir. OMAR
segura-lhe as mãos. Aos poucos vai se asfixiando. OMAR lacrimeja em choro
contido. ANTHIEPT se debate e OMAR mantem-se firme em segurar as mãos com a
tristeza no rosto (DETALHES). Música domina a cena até ela ficar sem forças.
Arregala os olhos. Ato final: Omar firma o amuleto na garganta com o indicador.
Fecha a boca, os olhos e cruza os braços da rainha sobre ela. Acaricia o seu
rosto enquanto limpa as próprias lágrimas.
OMAR
Como eu lhe
amei! (T) Tudo poderia ter sido diferente...
FLASHBACK:
EXT./DESERTO/DIA
Vento.
ANTIEPTH e OMAR (jovens) rodam na areia. Beijo roubado e correm pela areia.
Mais adiante, ANOUNAK (jovem).
FIM DO
FLASHBACK:
DORMITÓRIO
RAINHA:
OMAR se
debruça sobre ela.
OMAR
Foi como tinha de ser. Nasceste
para ser rainha e morreste como uma... Estava escrito!
Carinho.
31. EXT./PÁTIO/DIA/NOITE
Instrumental.
Takes descontínuos de filas de frequentadores do funeral. ANTHIEPT, ANTHENOKEN
e SHENK expostos em trajes reais. NEMEWÁ, triste em seu trono. Algumas pessoas
mais distantes, conversam, outras choram. Nemewá vai ao corpo de ANTHENOKEN e
coloca a sua mão sobre a do defunto. Deixa as lágrimas cair. Aproxima-se de
ANTHIEPT e a encara.
NEMEWÁ
Não vou lhe perdoar; nunca! Osíris
será justo; e, a senhora colherá dos campos que aqui plantou e, nada mais. É o
que desejo para todos: nada além do merecido.
Contorna o corpo de SHENK e para de frente com
ele.
NEMEWÁ
(Cont’d.) conforme lhe prometi...
Tira a
coroa de sua cabeça e ajusta na cabeça de SHENK. Deposita a mão sobre a mão do
defunto e se ajoelha em reverência.
NEMEWÁ
(Cont’d.) Serias um faraó melhor
que eu. Foste o único que não fugiu de me olhar nos olhos. Sempre corajoso! Era
quem me sucederia! Seu coração está livre de maldades. Que os deuses lhe sejam
graciosos!
Limpa as lágrimas e SAI.
MAIS ADIANTE:
NEVERA E MALIK.
NEVERA
(reflexiva)
Falta um ali. (T) A justiça não é
divina... Por isso, nos cabe fazê-la com as próprias mãos. Entendes?
MALIK
(misterioso)
Não há condição que dure para
sempre. Aquele que falta num momento chega!
Takes da visitação. Dia deve virar noite.
32. INT./ORÁCULO/NOITE
OMAR
alimenta o fogo com folhas e madeiras. Olha contemplativo para as chamas.
OMAR
Se de fato
tivesse a clarividência, eu poderia ter mudado tudo?
SETNIAK
surge das chamas.
SETNIAK
Nada adiantaria. Nos dão a visão,
não o poder de mudar as coisas.
OMAR
De que adianta o dom, meu amigo?
SETNIAK
Ele é o acolhimento, não a entrega.
Deves saber que ninguém deve bolir no destino de ninguém. As visões São formas
de preparar os caminhos e diminuir o sofrimento das pessoas. Nascer para este
mundo dói, Omar. A alma rasga nossos pulmões e fere o corpo para entrar. Cresce
apertada num corpo que muitas vezes não lhe cabe e, quando madura, pronta; sai
do corpo. Vem para o cosmos. (T) Quanto menos apego neste mundo, maior será a
evolução por aqui. (T) Estamos só de passagem. A vida daí, é uma lição. Aprenda
isso: somos ferramentas da evolução e nada mais. Com o tempo se acostumará não
fazer nada para evitar as coisas. O tempo o fará sofrer e enxergar o outro
lado. Vais entender a tua missão; no fim de tudo!
OMAR
Sempre sábio! (T) A tua falta aqui
é grande.
SETNIAK
Deste lado também me era necessário!
Aqui, continuo instrumento como fui aí. (T) Só que em evolução mais aflorada. Logo, me encontro com
o pai maior deste templo. Preciso seguir; e... evoluir.
SETNIAK
volta para as chamas. OMAR respira aliviado.
OMAR
Que assim
seja!
Volta a alimentar o oráculo.
33. EXT./PÁTIO DO PALÁCIO/RUAS DA CIDADE/ENTRADA DA CIDADE/NOITE
“FLOR DA NOITE”
(Instrumental). Soldados empurram TUTANCAN pelo PÁTIO. Caminha de cabeça
erguida e solene. Ao fundo, no trono, NEMEWÁ; NEVERA ao lado. No trajeto,
MALIK. TUTANCAN para em frente a ele e o fita. MALIK o encara. Toca de olhares.
Guarda dá um solavanco em TUTANCAN que retoma a caminhada.
RUAS DA CIDADE:
Música se estende. TUTANCAN
passa por entre a multidão que grita e esbraveja em condenação de seus atos.
Pessoas atiram frutas contra ele e os guardas tentam estabelecer a ordem.
TUTANCAN olha pra uma mulher maltrapilha, com um cesto de galinhas em seus
braços, confuso, parece a reconhecer. Ela abaixa a cabeça e se tampa. Ele para
um segundo porque entende que é a mãe (ZAHRA) esta mulher que lhe vira as
costas. Ela esconde o choro caminhando lentamente entre a multidão. ZOOM IN no
rosto desolado e abandonado de TUTANCAN.
ENTRADA DA CIDADE:
Carruagens e bigas param na
entrada da cidade. Soldados à pé acompanham TUTANCAN. Quando param, MALIK desce
de uma biga e caminha até o jovem.
MALIK
Sabes o que vem depois disso...
TUTANCAN
Sou homem!
Aceito o meu destino.
MALIK
Me ameaçaste tanto em findar-me
dessa forma! O fizeste com seu pai; o crime era pra mim; eu sei! O que falhou?
TUTANCAN
Nada falhou. Foi pra ele, era dele!
O meu desafeto teve destino certo. (T) A ti, só tenho amor. Um amor cuja a
perdição me trouxe até aqui. (T) o teu mal, foi entrar naquela casa na hora
errada. Viste a mais do que deveria. Não tinha mais o que fazer a não ser
eliminar a ti também. Creio que falhei na força. Me contive, por amor...
MALIK
(lacrimeja)
Não vais me
pedir perdão; pelo o que fez a mim e ao seu pai?
TUTANCAN
Não! (T) Não mentirei e nem trairei
aos meus sentimentos. Ainda o amo e o desejo. Aceitei a morte de meu pai e
estou bem com isso. O arrependimento, só carrego pela morte de meu irmão.
(lacrimeja)
Vamos acabar logo com isso. Sei que
nos encontraremos em algum dia.
MALIK
(lacrimeja)
Quem sabe... um dia... eu possa lhe
perdoar. No momento, cumpro o que me cabe!
Instrumental. MALIK pega as
cordas das mãos do guarda e amarra apertado os punhos de TUTANCAN. O empurra de
joelhos e olha para o céu de braços abertos como alguém em prece.
MALIK
(V.O.)
A vida escolhe... os escolhidos!
Uma jornada que começa na fé. Na fé de que tudo dará certo e de que um dia
seremos felizes.
Aproxima do cavalo e olha
para TUTANCAN de joelho e com o medo estampado em sua face. Ergue o braço para
bater no lombo do cavalo e hesita.
MALIK
(V.O.)
(Cont’d.) O
que é a felicidade afinal? Um momento efêmero? Uma tentativa de ser feliz a
qualquer custo, mesmo que isso um dia se torne alvo de um algoz?
Repentinamente bate no lombo do cavalo e grita um “EIA”. Cavalo arranca arrastando TUTANCAN pelas pedras e areia machucando o corpo dele. Em MALIK lacrimejando.
34. INT./TEMPLO DE OSÍRIS/DIA
Instrumental. Pessoas comem
e bebem festivamente. Num momento, OMAR com um cajado ao lado se levanta e
todos param. Caminha até NEMEWÁ e NEVERA que estão próximos numa mesa. Os
aproxima ainda mais como uma benção em cerimônia de casamento.
MALIK
(V.O.)
(Cont’d.) O
que se pode dizer é que a felicidade escolhe quem a merece. E, cabe as pessoas
aceitarem isso... Seja num gesto de devoção e fidelidade por toda uma vida,
ou...
NEMEWÁ
coloca a coroa na cabeça de NEVERA. Aplausos. NEVERA e NEMEWÁ se abraçam e dão
um selinho. OMAR SAI tateando cajado pelo chão do templo e se afasta das
pessoas.
MALIK
(V.O.)
(Cont’d.) ...escolher a solidão do sacerdócio e abrir mão de regalias...
35. EXT./RUAS DA CIDADE/DIA
Feira.
ZAHRA vende galinhas para outras pessoas.
MALIK
(V.O.)
(Cont’d.) ...Até mesmo, abdicar de
sua posição para fugir das feridas do passado. O que pode-se dizer da
felicidade com toda a certeza é que realmente ela acolhe quem a escolhe...
36. EXT./DESERTO/NOITE
Areia
voando. Cavaleiros Hicsos reunidos.
MALIK (V.O.)
(Cont’d.) ...E, geralmente, são aqueles
que não desistem de encontrá-la um dia.
Instrumental. O bando de cavaleiros partem pelo deserto. Vários takes e planos diferentes do trajeto.
37. EXT./INT./RUAS DA CIDADE/SALÃO DO TRONO/NOITE/DIA
Música
perpassa. Casas incendiadas. Pessoas correm pelas ruas. Cavaleiros Hicsos tocam
fogo nas casas e perseguem pessoas.
SALÃO DO
TRONO:
Instrumental.
Hicsos entram no salão em grande quantidade e digladiam com guardas. Um deles
se destaca em luta com NEMEWÁ que perdendo, deixa a coroa rolar ao chão e a
olha com desespero. NEVERA, sempre solícita, em espanto, pega a coroa e é
imobilizada por um oponente com uma adaga. NEVERA e NEMEWÁ são colocados de
joelhos. Um Hicso ergue uma grande espada. FX: Corte.
FADE OUT.
MALIK
(V.O.)
(Cont’d.) ...Às vezes, a felicidade
chega em meio barulhos e tormentas.
FADE IN.
ENTRADA DA CIDADE:
TRAVELLING.
Cabeça de NEVERA e NEMEWÁ em estacas colocadas em riste. Takes da devastação.
Em meio aos corpos esparramados de ZAHRA, como uma feirante. Adiante, OMAR com
o cajado, morto e ensanguentado.
SALÃO DO TRONO:
Arca pesada cai e abre-se deixando muita moedas
e tesouros se esparramarem. MALIK estende a mão ao HICSO#1.
MALIK
(Cont’d.) Foi uma satisfação fazer
negócio com os inimigos. Que seja selado, finalmente o acordo de paz.
Detalhes
das mãos dadas. Os Hicsos pegam a arca e SAEM. “FLOR DA NOITE” Instrumental.
JUMP CUT:
CAM
acompanha pernas com cicatrizes a andar pelo salão sujo de sangue e corpos
caídos, até que a pessoa suba ao trono. Sem revelar ainda, TRAVELLING OUT abre
aos poucos a cena.
MALIK
(V.O.)
(Cont’d.) ...A felicidade requer
sacrifícios e cortes na própria carne. E ela sempre vem, para quem não desiste
dela...
CAM Sobe
pelo tronco do entronado e vai enquadrando até revelar TUTANCAN a se auto
coroar com sorrisos e lágrimas.
MALIK
(V.O.)
(Cont’d.) ...Por culpa ou bênção do
destino, O ELEITO é aquele que luta e sobrevive diante os desafios que a vida
lhe impõe.
MALIK se
curva e beija a mão de TUTANCAN que o pega pelo queixo e o encara com um
sorriso terno.
TUTANCAN
Cada cicatriz dessa farsa
recompensou por este momento. O momento em que te faria o primeiro homem de
Luxor. E, assim, será!
MALIK
Na despedida, disse-lhe que nos
veríamos novamente. Segui com o nosso plano, meu... amor! Eu jamais lhe
abandonei e nem lhe abandonaria. Eu te amo desde o dia em que lhe vi.
TUTANCAN puxa o seu rosto e lhe dá um beijo na
boca. “MAKTUB” (Marcus Viana). ZOOM IN.
FADE OUT.
JOÃO SANE MALAGUTTI
Elenco ANNANOUK ANTHIEPT ANTHENOKEN NEMEWÁ NERFIRI NEVERA ZAHRA TUTANCAN SHENK SETNIAK OMAR MALIK
Tema MAKTUB Intérprete MARCOS VIANA
Direção
ANDERSON SILVA
BRUNO OLSEN
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO

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