
No
capítulo anterior, Carlito sofre como prisioneiro de Cuca; Drica e Belchior
sofrem frustração com a decisão de Imã e Táquio; Tiana visita Rui no hospital e
tem uma grande surpresa.
CAPÍTULO 18 - QUEM JULGA O QUE É MAL?
A
lembrança dos filhotes agarrados às pernas de Beron, o olhar de pavor dos
pequeninos, a dor, a covardia contra uma família indefesa, são pensamentos que
alimentam a persistência de Carlito. O peso que tem sobre os ombros o obrigam a
dobrar os joelhos, a dor se espalha por todo o corpo, além da pressão que
suporta, também agulhas ardentes penetram na pele, porém a pior agonia é a
incerteza de quando esse tormento irá acabar. Ou se é possível morrer nessa
realidade insana. Agora, porém, Carlito só pensa em uma coisa: sobreviver. O
rapaz está acostumado às dores, sua vida nunca foi um mar de rosas, na escola
sofreu as hostilidades dos mais descolados, em casa os vícios dos pais e as
dificuldades de uma vida desorganizada, em todos os sentidos. Carlito sobrevive,
apesar das probabilidades em contrário. “Essa
lagartixa não sabe do que sou capaz!” Com esse pensamento, o rapaz alimenta
a autopreservação. “Vencer agora, vingar
depois.” promete a si mesmo.
Imã
não fazia ideia da quantidade de criaturas que estava abrigada com ela. Mesmo
com a explicação do Táquio sobre a estrutura complexa, semelhante a de um
formigueiro, com diversas câmaras subterrâneas, seria impossível imaginar a
quantidade de famílias que desfilam em fila indiana à sua frente.
Apesar
de não serem humanos, é possível perceber que o clima entre eles é de medo e
angústia. Alguns filhotes estão desnutridos, murmuram sem forças, amarrados às
costas de suas mães, os idosos se valem de pequenos engenhos com rodas puxados
por jovens. A solidariedade entre eles é algo tocante. Ninguém levanta a
cabeça, nem ousam olhar para Imã. Talvez seja reverência, ou simplesmente, não
se importam com quem ela seja.
Táquio
age como um general na frente da fila, dando o exemplo e encorajando a marcha.
Drica e Belchior acompanham Imã.
—
Imã, você pensa em acompanhar essa turma até o próximo abrigo? — Drica também
se impressiona com a quantidade de criaturas.
—
Não, Drica, eu tô aqui pensando no que posso fazer e como.
Imã
tem razão, pois imagina que cada momento nesse mundo é um tormento para
Carlito. A falta de informações é ainda mais angustiante, além da incerteza da
segurança do amigo, o bem estar dele é outro ponto que precisa ser considerado,
não só pelas circunstâncias desse mundo, mas também do mundo real. Imã está com
a cabeça cheia de perguntas e nenhuma resposta.
Algumas
horas após a partida, um alarme soa no meio da marcha, as criaturas correm
desordenadamente. O céu, que já era cinzento e pouco acolhedor, fica ainda mais
escuro. O grito de pavor invade o ouvido de todos. “Os tukurás estão chegando!”
À
menção, do terrível exército da maga, é suficiente para semear o pânico em
todos. A correria deixa Imã e Drica desnorteadas, pois não sabem o que fazer.
Belchior é o mais descontrolado.
—
Eu sabia, sabia, não devia ter concordado em voltar para cá. Princesa Macar,
por piedade, me mande de volta para seu mundo, por favor!
O
rapaz prostrado de joelho com as mãos suplicantes surpreende Imã, ela não fazia
ideia do efeito que Cuca tinha sobre Belchior. A expressão de medo que ele traz
nos olhos é impressionante, como se fosse uma fobia. “Mas, o que tanto teme o senhor Belchior? Será que ele sofreu nas mãos
da Cuca tanto assim?” Imã se abaixa para suspender Belchior.
—
Você não precisa temer, nós vamos te proteger de qualquer mal.
—
Não, dela vocês não podem me proteger, foi por isso que o Conde E me tirou
daqui. Mas, eu cedi às emoções e acabei fazendo a única coisa que não podia
fazer. Ó, como estou arrependido e agora fico dependendo da senhora, Princesa
Macar, por favor, eu imploro, nos tire daqui.
—
Senhor Belchior, por favor, se controle. — Imã já estava ficando constrangida.
—
Nossa, nunca pensei que você fosse tão covarde. — Drica também fica incomodada.
—
Se as senhoras sofressem o que eu sofri nas mãos da maga, me dariam razão.
Imã
faz sinal para que Drica não contrarie Belchior. Ela olha para o céu e as
criaturas correndo alucinadas, buscando qualquer abrigo que pudessem
escondê-los.
—
Venha Drica e Senhor Belchior, vamos nos proteger também. É melhor que ninguém
saiba que estamos aqui.
Do
céu, alguns tukurás descem e pousam na área onde antes haviam criaturas
marchando. Os tukurás colocam orifícios no chão, como se fossem aspiradores de
pó, mas esses, certamente, são para captar algum cheiro, não demora muito e um
deles volta a levantar voo, os outros continuavam as investigações olfativas. A
cena era realmente incomum, insetos do tamanho de automóveis se movendo
livremente.
De
repente, Táquio surge, saltando de um esconderijo, ele atacou um deles,
cravando uma lança no dorso do tukur. O bicho já caiu inanimado no chão. Outros
perderam alguns segundos para entender o que estava acontecendo, dando uma
excelente oportunidade para Táquio derrubar mais dois.
Logo
em seguida, os que restavam, acionaram suas asas traseiras para acumular
potência e partir em voo, foram surpreendidos por uma rede de cipós e trapos
retorcidos, prendendo-os no chão. Táquio, depois que confirmou as três mortes,
se aproxima dos outros três prisioneiros caminhando lentamente. Um deles, mais
que rapidamente, lança um sinal para o céu. Uma voz chama por Táquio que, ao
ver o sinal, ataca com mais fúria, dilacerando a cabeça do tukur.
Assim,
que executa os outros dois, as famílias saem dos abrigos, se aproximando das
vítimas, também Imã e seus amigos aparecem.
—
Vô, o que são essas coisas?
—
Esses, Espoletinha, são os tukurás, como eu disse. Criaturas que praticamente
não raciocinam, mas seguem as ordens da Cuca ao pé da letra. E agora, mais do
que nunca, estamos expostos.
—
Você não matou todos eles? Ninguém vai saber que estamos aqui.
—
Não, Espoletinha, o primeiro tukur voou para avisar a maga e o restante do
exército. Temos que nos deslocar com mais rapidez agora.
Sem
tempo a perder, Gualbe aciona seus líderes para organizar a retirada, a
agilidade dos jovens é necessária para ajudar as famílias, tanto filhotes
quanto idosos e incapacitados.
Imã
e Drica se colocam à disposição para ajudar também, Táquio, dessa vez fica no
final da fila, ele quer ter certeza de não deixar ninguém para trás.
Após
alguns dias de caminhada, um ser alado pousa próximo a Táquio e segreda
informações. Depois de ouvir todo relato, a criatura volta a lançar voo, Imã é
solicitada para perto do avô.
—
Imã, as notícias não são boas.
—
O que é?
—
Há relatos de que no Reino Negro, tem uma criatura sofrendo horríveis torturas,
em princípios os gritos eram constantes, mas de uns tempos para cá, ficou tudo
silencioso. Embora no castelo da Cuca ainda exista a vigilância.
—
Não entendo, vô. O que isso tem a ver conosco?
—
Temo que o torturado seja o seu amigo.
—
Não pode ser, o Carlito não pode estar preso no Reino Negro.
—
Deve ser por isso que ninguém o vê andando por aí.
—
Mas, se ele está sofrendo, por que será que não grita mais?
—
Temos duas formas de interpretar isso: a primeira é a de que ele escapou e a
segunda é que… bom, vamos pensar apenas nos fatos. — Táquio nunca amenizou as
más notícias para a neta, mas talvez uma suposição seja mais cruel do que a
própria realidade. Ele decide não completar o raciocínio.
—
E qual é o fato, vô?
—
Talvez ele esteja aguentando o tranco e sendo mais duro do que a própria Cuca
esperava.
—
Eu acredito em Carlito, sei que ele não vai ceder a qualquer mal que aquela
maga fizer contra ele.
—
Isso, Espoletinha, vamos manter o foco. Esse povo precisa que os levemos a um
lugar seguro. Temos que correr, certamente o tukur já passou as coordenadas
para onde estamos indo.
Imã
concorda e volta para suas atividades, informa a amiga da conversa que teve com
o avô e pergunta por Belchior.
Este,
voltou a forma de rouxinol, porém de estatura pequena e tenta se esconder em
qualquer vão, ou buraco, que encontra.
Imã
olha com pena para o amigo e o pânico que sente para não enfrentar a maga.
De
repente o ar é impregnado por um odor ácido, as últimas criaturas apertam o
passo, Táquio alerta para que todos se abriguem novamente. Não tiveram tempo
para se afastarem muito do local. O odor não é o caldo, tão temido, mas um
cheiro característico de insetos quando se sentem ameaçados ou querem confundir
a presa com sua presença.
Táquio,
apesar da força que pode rivalizar com um tukur, sabe que seria impossível
enfrentar todos ao mesmo tempo e, ainda por cima, proteger a população de
criaturas. Aliás, por causa de sua índole pacífica, nenhum deles possui
habilidades militares, o único artifício que dispõem é a tanatose, a
imobilidade para que seus predadores os considerem mortos.
Como
já era de se esperar, Cuca surge no alto, rodeado por tukurás.
—
O Conde E está entre vocês?
O
silêncio do vale é excruciante.
—
Preciso falar de novo? — a voz estridente da maga, fere todos os ouvidos.
—
Estou aqui, Cuca, o que você quer? — Táquio sai de seu esconderijo.
—
Ainda continua com vontade de proteger esses povos?
—
Um dia, você irá pagar por seus crimes.
—
E quem será o juiz para me julgar?
—
A justiça acontecerá de uma forma ou de outra, nunca o mal venceu e nunca
vencerá.
—
E quem julga o que é mal? Você?
—
Você me chamou, diga o que quer.
—
Não sabe o que quero? — Cuca sorri maliciosamente.
—
Você sabe que não tenho como te ajudar. Não tenho mais nenhuma ciranda comigo
e, mesmo se tivesse, não a ajudaria de forma alguma.
—
Você está falando dessa ciranda? — Cuca levanta a mão com o pequeno objeto
brilhante.
Táquio
fica estático olhando para o portal, mas disfarça e logo se tranquiliza, porque
pensa que a maga não sabe usar.
—
Como conseguiu isso? Ainda assim, você não tem como usá-la.
—
Você está certo disso?
—
Não me interessa.
—
Vamos fazer uma troca?
—
Não há nada aqui que valha trocar por uma ciranda.
—
E quem disse que é a ciranda que eu quero trocar?
—
O que você quer, afinal?
—
Vocês estão com meu rouxinol?
—
Não, não estamos com ele.
—
Então, contra o que meus tukurás lutaram antes do tempo ficar maluco?
—
Não me interessa, não queremos nada de você e não temos nada pra te dar.
—
E se eu tiver uma coisa que vocês talvez queiram?
—
Eu duvido que tenha.
Cuca faz um sinal, atrás dela surgem dois tukurás unidos por uma corda, trazendo pendurado entre eles, um corpo retalhado e ferido, um corpo humano desfalecido.

M. P . Cândido
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Carlos Mota
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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