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Flor-de-Cera: Capítulo 21

Novela de Carlos Mota
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FLOR-DE-CERA - CAPÍTULO 21


– Deixe de cena, já discutimos sobre isso!

– Sim! Mas é uma bomba daquelas, nunca pensei que ele fosse capaz de tantas trapaças, de tantos golpes baixos. Ouça ao menos.

– Depois.

– Então me deixe falar com o doutor Tobias.

– Impossível! Ele já foi para casa. Agora me dê licença, preciso finalizar a edição de amanhã, porque as histórias serão lançadas ao vento: a oposição será acusada de ser a possível mandante do atentado ao vereador e o motorista Joaquim de possível amante da senhora dos Dumont.

– Homem, estas histórias não são nada perto do que tenho aqui e, mais, o caso de traição caiu por terra, o motorista acabou de...

– ...Morrer? O hospital me informou, por isso estou aqui, ainda revisando a reportagem.

– Morrer, não! Ele foi assassinado! Espere para ver!



George chega à prefeitura, saúda com um gesto a secretária, que está se preparando para ir embora, e entra no gabinete, onde encontra Tanaka um tanto sisudo.

– Você aqui? Como chegou? – pergunta o prefeito.

– Vim de táxi!

– A coisa não tá boa, meu filho! Tive de “molhar a mão” do seu Meia-Noite para que ele pudesse pôr fim naquele cretino do delegado, acredita?

– Mas você não o tinha nas mãos com a história do DVD? Não estou entendendo!

– Tinha, até ele descobrir que sua mulher...

– ... minha mulher o quê? – entrecorta-o o vereador, curioso.

– Meu filho, uma tragédia, aff, quase não me aguentei!

– Fale, Tanaka! Deixe de fricotes!

– A coisa é mesmo das brabas, deixe-me tomar primeiro uma garrafa de saquê. Ave! A goela anda seca, seca; também, com tanto problema, não é pra menos. E olhe, isso tudo não poderia estar acontecendo comigo, um homem tão religioso, que gosta de ajudar os po... digo, os ricos. Sniff! Como pode? Tanta gente para Deus castigar e me escolhe, logo eu, que sempre afanei os cofres públicos sem piedade e reparti tudo com os vereadores despudorados... Sniff! Que injustiça! – Olha para a adega e pergunta a si mesmo: – É impressão minha ou esta uma das últimas garrafinhas? Eita!

Toma tudo num só gole e solta um arroto.

– Credo! Vai ser porco lá na China, Tanaka! Agora me diga, o que tem Catharine a ver com isso? O que aquela víbora aprontou?

– Aquela desmilinguida não aprontou nada; quem aprontou foi a mãe dela, aquela mulherzinha sem eira nem beira.

– FRAN-CE-LI-NE? O que minha sogra tem a ver com tudo isso? Fale, está me deixando assustado!

– E é para ficar mesmo! É uma tragédia! Mas vou cortar o mal pela raiz, daqui a pouco o seu Meia-Noite passará fogo naquele delegado de fundo de quintal e tudo permanecerá enterrado, como sempre esteve.

– FALE !!! – exige o edil, irando-se!

– Calma, Beti! Ainda não recuperei o fôlego; porque se não sabe, foi um baque.

– FAAAAAALE!!!

– Tá, tá, tá... a sua mulherzinha, aquela que estamos há meses fazendo de tudo para que endoidasse, não é uma DUMONT.

George cai no sofá.

– Co-co-como assim? Ca-Catharine não é filha de Dilermando?

– Deeeeeer! Ainda não entendeu? O japonês aqui sou eu e quem não entende português é você? Deus que me livre!

– Pare de graça! Está falando sério?

– Claro! Por isso estou assim... Preciso de outra garrafa!

– Quem lhe disso isso?

– Paineiras ouviu tudo... Tudo!

– Tudo o quê?

– Tudo, ué! O dito-cujo ouviu Ernestina dizendo que o chifrudo do seu sogro não é o pai da mulher que Vila dos Princípios sempre acreditou ser o espelho da família mais cortejada do município.

– Se não é Dilermando o pai, então de quem ela é filha?

– Pasme! Daquele infeliz do doutor Rubens Arraia! – entorna mais uma vez. – Corneado dentro da própria casa, quem diria... Hum! Aquele Dilermando era mesmo um tapado, porque se fosse comi...

– ... Rubens?????? – grita o vereador, interrompendo-o. – Agora entendi tudo! – diz, juntando todas as peças do quebra-cabeça. – Por isso todos aqueles cuidados com Catharine! Miserável!

– Seja mais claro, meu filho!

– Acabei de ter um arranca-rabo daqueles com ele agora há pouco, lá no hospital. Ele me fez dezenas de ameaças. Hum! O bicho é perigoso!

– Isso eu já sabia! Basta olhar para aquela cara de Brás Cubas arrependido.

– Meu Deus! E agora, o que será de nós? E se o matarmos também? – George parece não ter a noção do que diz, tal a naturalidade.

– Cê tá louco? Daqui a pouco vão chamar Vila dos Princípios de Vila dos Mortos e nem tudo se ajeita desse modo. Primeiro, porque já mandei apagar aquele “boca de caçapa” do delegado, afinal, pelo que percebi, ele é a erva daninha mais perigosa e sorrateira do momento, aquela que nos quer ver à boca do lixo. Depois veremos o resto!

– Tanaka, não pode ser, Catharine é sim uma Dumont. Tenho certeza!

– E como vamos saber? Só se pedirmos um desses testes para a comprovação da paternidade; se a notícia cair na boca da imprensa, será o inferno de Dante¹. Imagine o povo te chamando de George Arraia? 

Os dois cospem no chão, desconjurando ao mesmo tempo.

– Não pode ser!

– É, mas aquela empregadazinha é fogo, se ela contou tudo ao Rubens, como disse Paineiras, a história deve mesmo ter algum fundamento.

– E agora, o que faremos? Tanto sacrifício para nada? Não chegamos tão longe para terminarmos na lama – irrita-se, dando um murro numa mesinha de canto.

– E eu sei lá! Se soubesse, não estaria aqui, diante de você, perdendo todo esse tempo. Aliás, preciso de outra garrafa...

ADELAAAAAAAAIDE! – grita pela funcionária ao perceber que o saquê tinha acabado.

– Ela já se foi!

– Como assim? Não são nem onze horas da noite. Que coisa! Pobre é tudo igual, quer trabalhar pouco e ganhar muito. Chega aqui às sete da manhã e se retira antes das onze da noite, como pode? Vou cortar-lhe o salário! Que funcionária relapsa! Aff! Deixe-a comigo! Agora me ajude a procurar algo para beber, meu estoque foi para o beleléu; pudera, é um entra e sai de gente nesta prefeitura, até parece uma sucursal do Poupatempo. Cruz credo! – faz o sinal da cruz. – Sai de reto!

– Procurar bebida? Tá louco, homem? Estou preocupado é com o nosso futuro, porque, caso essa história se confirme, a herança dos Dumont deixará de ser nossa!

– Achei... Graças a Deus! – diz o prefeito, agarrando-se com força a uma garrafa com metade de vinho do Porto. – E eu já não pensei nisso? Mas tenho esperança de que ao dar fim no delegadozinho, há de ganharmos tempo para evitar que esta bomba chegue aos jornalistas. Sabe, George, conseguimos levar esta história tão bem até aqui, portanto, permaneceremos com o plano original; o dinheiro daquela mulherzinha infeliz há de ser nosso. Tenho fé!

– Tudo jogado ao lixo. Tanto trabalho para nada! – lamenta-se.

– É, mas você foi um guerreiro, porque não é qualquer um que tem sua estirpe, sua força, e olhe que força, Hércules² perderia no primeiro round.

– E para quê? Para no final saímos com uma mão na frente outra atrás? Isso é injusto. INJUSTO! – diz, dominado pela cólera, aproximando-se da sacada, de onde avista uma estrela solitária a brilhar no céu rasgado por um cinza chumbo de causar medo. – De que adiantou?

– Adiantou sim, meu amor! – diz Catharine à Alana, que chora, no tapete da sala, ao tentar desenhar a mãe, tendo como espectador George, o pai, a alguns metros.

– Eu não sei desenhar, mamãe! Queria tanto fazê a senhora com esse cabelo grandão.

– Meu amor, faça-me como quiser, porque o que fizer, será muito mais bela que eu. A mamãe ficará feliz do mesmo jeito!

– Não consigo!

A menina pula no colo da mulher e chora de causar dó.

– Calma, minha princesa, as coisas não são desse jeito, cada um tem um dom e o seu é o de ser tão bela com os sentimentos; que mãe não gostaria de tê-la como filha? Que mãe não gostaria de tocá-la assim como faço? Que mãe não desejaria receber tanto amor assim?

À espreita, George parecia inexistir; nele, os sentimentos não brotavam como as sementes em terras férteis; nem poderiam, porque seu âmago, carregado de arrogância e ambição, estava estacado às areias do deserto, não às terras virgens e belas da natureza. Os lampejos de um passado cruel, que ora se atreviam a atraí-lo, faziam-no sofrer demais, porque sua mãe, o maior amor de sua vida, permanecia dentro dele, fazendo morada em seu coração, ainda que não demonstrasse. Aliás, cenas como a de sua esposa com a filha o importunavam muito, porque, para ele, a vida só era cortês com os injustos. Desconcertado, recolheu-se à área externa da casa, onde permaneceu por longos minutos.

O sereno caía incessante e viçoso, adornando com seu manto os montes virgens que circundavam o casarão naquela bela noite de início de inverno. Uma estação em que não feneciam apenas as flores do jardim, mas as almas inquietantes e severas de homens nefastos como George.

Diferentemente do céu lindo vestido da noite, com lantejoulas negras, cerzidas pelas mãos dos querubins, como descreve a poetisa Andrea Rebello em “Mantas da Noite”, o homem não encontrava paz ou beleza em lugar algum. Por isso caminhou, chorou, sentiu de novo a dor de perder a mãe, a de nunca ter tido um pai, a de ter sido adotado, tratado com tanto desprezo e jogado ao vento pelo destino; e, quando mais precisava, sua mãe já não mais estava neste mundo.

De alguma forma, o homem que ali se encontrava guardava pureza, ainda que apenas uma pitada, pois outro, autoritário, ganancioso, sem caráter, destituído de qualquer beleza interior já estava em curso com a fúria de uma tempestade. E logo engoliria a tudo, sem qualquer remorso! Bastava achar o lugar certo para que seu estrago ganhasse outras proporções e novos aliados. E eles foram se achegando aos poucos, como ervas daninhas. E o primeiro, como que atraído pelos estragos que uma tormenta faz na vida das pessoas, foi Tanaka Santuku, o político que o induziria às piores agruras, em nome de um dinheiro que na infância lhe tirara a única a quem realmente amou em vida; em nome de um poder que o faria onisciente, senão, onipresente.

O vereador não entendia, possuía de tudo, da mulher mais linda e desejada à maior fortuna da região, mas não bastava, queria tudo o que a vista alcançasse. Não era mais o frágil e sofrido Jorge da Silva; talvez nunca o fora de verdade. No máximo, na certidão de nascimento. E a culpa era do mundo que o impediu de viver sobre a proteção da mãe, de receber o carinho de que qualquer criança necessitava, de ser amado como uma alma única – pelo menos era o que pensava. E talvez o fora, mas não se sentia assim, por mais que Neuza tivesse enfrentado o mundo por conta dele.

Era difícil de explicar, não sentia apego por ninguém, como se todos só existissem para servi-lo. Nem a mulher um dia amou. Seu casamento foi por conveniência, afinal, ela era dona do sobrenome mais prestigiado de Vila dos Princípios, aquele que o faria alcançar o topo dos negócios, o respeito dos maiorais, a reverência social. Por onde passasse, como um Dumont, todos fariam questão de cortejá-lo, pedir uma palavra de apreço, limpar seus sapatos. Ah, como isso o enobrecia! Era a maneira que encontrou para que pudesse se esquecer daquele casebre imundo, das famílias horrorosas com quem morou e tanto apanhou; da perda da mãe. Da MÃE que o céu lhe tirou sem piedade!

Ernestina tinha razão quando dizia que esse homem não amava ninguém, nem a própria filha. Por mais que visse Alana, pegasse-a no colo, e por ela fosse beijado, nada sentia, como se ela não carregasse seu sangue, sua genética, sua história. Nem sua morte o abalou! Porque amar Alana seria como se uma facada perfurasse seu peito e de lá retirasse a mãe que tanto divinizou. Por mais diferentes que fossem os tipos de amor, ele não conseguia discerni-los. E pensa que não sofria? E muito! Era como uma alma penada a vagar pelo tempo, sem destino, cor ou sentimento.

Consternado, volta-se para a casa, serve-se de uma pequena dose do mais puro vinho do Porto, senta-se na terceira poltrona do lado direito da sala de estar, onde ouve vasta coleção de música clássica. “Nocturne in E flat major, Op.9 nº 2.”, de Chopin, “Adagio in G Minor”, de Tomaso Albinoni, e, finalmente, “Ária na Corda Sol”, de Bach – a preferida de Catharine, o acalmavam, mas não o conectavam à vida, como se ele fosse um ser de outro mundo, lutando para sobreviver ao casamento de que não amava; ao amor de uma filha que não conseguia reconhecer. Isso o angustiava, a ponto de querer gritar, como se isso fosse mudar alguma coisa naquela alma atormentada. Meu Deus! Que sofrimento era aquele? – perguntavam-se os criados – os seres invisíveis, como ele mesmo gostava de dizer –, ao vê-lo decaído no próprio vazio. Era a sina dos descontentes, pensava George, ao constatar que nada o satisfazia.

Irrequieto, foi-se à biblioteca, olhou para cada estante e observou alguns livros, todos romances – reflexos da pureza de espírito da esposa. De Iracema a Senhora, de Dom Casmurro, O Cortiço, Riacho Doce a Teresa Batista Cansada de Guerra, nada o atraía. 

Sentou-se à cadeira, à frente de um quadro de Dilermando ainda jovem, abaixou a cabeça e se perdeu nos pensamentos. Se pudesse, reescreveria toda sua história; talvez começando do nada, seria um homem melhor... Homem melhor? Para quê? Para ser pisado como outrora, tratado como bicho, sem teto, sem ninguém? Não! Queria permanecer como era, porque só o dinheiro o faria rir da cara da desgraça, porque só o dinheiro o faria se sentir um DEUS. Que audácia!

Desnorteado, levanta-se, quando esbarra em um vaso, que se parte em muitos pedaços. Dentro dele havia uma chave minúscula. Era do cofre – logo se recorda; após analisá-la com a astúcia de uma serpente, toma uma decisão. Retira o quadro do patriarca da parede e o abre, na esperança de encontrar algo que acalmasse seu coração tão machucado. Remexe em muitos papéis – o cheiro de mofo o faz espirar por algumas vezes, até que se depara com um envelope pardo, bem cuidado.

Com ele em mãos, caminha até o sofá, abre-o com cuidado e dele retira um documento redigido com letras bem miúdas. Perde-se a lê-lo, quando dá um salto. Estava diante do testamento dos Dumont. Meu Deus! Era aquele amontado de papéis que balizava a herança da mulher com quem tanto dormiu e nunca sequer sentiu uma faísca de desejo.

Era o documento que Catharine nunca fizera questão de ler, mas que ele, inspirado pelos gênios do mal, deliciava-se agora. E foi lá, provavelmente nas últimas páginas do calhamaço, que encontrou um dos maiores desatinos já cometidos pelo patriarca. Ao descobrir que a filha não era sua, Dilermando não pensou duas vezes e substituiu o testamento original por uma outra versão, um tanto condenável. Ao invés de prestigiar a menina que tanto o amou em vida, optou por castigá-la pela traição da mãe, ao redigir em letras quase ilegíveis, o que viria a ser a sua pena em vida. Possuído pela dor da traição, agiu como um juiz do tempo e sentenciou:

“... Toda minha herança será reservada a Catharine Dumont, que, na condição de única filha, deverá prezar pelas terras, empresas e toda a fortuna acumulada ao longo de uma vida; na sua ausência, independentemente de herdeiros posteriores, os bens e recursos ora mencionados serão destinados a um fundo social administrado pelo Estado; na sua incapacidade física e/ou mental, tudo deverá ser revertido ao nome de seu cônjuge, caso esteja, à época, firmado o casamento de que não pude assistir por falta de piedade do próprio destino...”

Havia encontrado o caminho às minas de ouro. Extasiado, guarda tudo, mordica os lábios com gosto e liga para o amigo Tanaka Santuku, já no segundo mandato à prefeitura do município. A saga do mal então tem início e o fim de Catharine seria apenas questão de tempo.

– George...?

– Hã?! – responde, ao retornar-se das lembranças.

– O que cê tem? Parece que morreu e esqueceram de enterrar?

– Nada! Nada! Temos que fazer alguma coisa, aquele dinheiro é nosso, se não por direito, mas por dever. Não lutamos em vão!

– Assim que se fala, meu filho! – gargalha o prefeito.

O celular toca.

– O seu dinheiro será entregue em frente àquele boteco que dá de encontro com o Rio Feio, à meia-noite em ponto. Vá logo, antes que me arrependa! – ordena o mandatário ao delegado pedófilo. – Não vejo a hora do seu Meia-Noite meter uma bala na cabeça daquele INFELIZ! Seria bem capaz de dar uma dose de saquê a toda pobretada desta terra; não, pobre nem sabe o que é saquê; melhor, daria uma dose de corote mesmo. Mais barato! Hum!

Paineiras repassa a informação a Zelão, que se dirige também para o local.

– Como posso trair meu patrão? – pergunta-se Adelaide, no ônibus, de volta para casa. – Ele é meio confuso das ideias, gosta de fazer brincadeiras comigo, mas daí a mandar matar alguém? Sei lá! O delegado com nome de planta pode estar exagerando, afinal, guarda um grande rancor de meu chefe. Logo daquele homem tão bom!

– Dona, o prefeito mandou matar o motorista da família Dumont e tudo para que o vereador conseguisse controlar a mulher... bem, não sei o porquê disso tudo, mas acredite, ele não pensou duas vezes para mandar fazer isso. Sou a maior prova de seu desequilíbrio!

– Como prova?

– EU MATEI O MOTORISTA!

– Sangue de Jesus tem poder! E por quê?

– Porque... porque ele mandou! Tem um DVD contra mim!

– E que DVD é esse? Posso saber?

– Bem... bem... eu gostava de fazer caridades às crianças bem pequeninhas... – tosse. – Mas isso não vem ao caso. Só quero lhe pedir algo.

– E o que seria? Tenho até medo de saber!

– Se eu desaparecer do nada, ligue para a polícia e diga o que acabei de lhe relatar; melhor, produza provas, este homem não merece misericórdia. Enquanto a senhora é exposta ao ridículo, com um salário de fome, os recursos da prefeitura são desviados para a família dele.

– Será?

– Acorde, moça! Esse sujeito é ruim.

– Mas ele só ajuda as pessoas, dia desses me pediu para que enviasse quinhentos mil à sogra dele, que mora no Japão, porque a mulher estava muito adoentada.

– Adoentada? – zomba. – E o que ela tinha?

– Dengue!

– No Japão??????? – gargalha sem parar. – Só se o mosquito atravessou o oceano de avião.

– Será?

– Olhe, se fosse o novo coronavírus, ainda vá lá, porque estamos vivendo uma pandemia, mas dengue, dona Adelaide? Pense, mulher!

– É... o senhor pode ter mesmo razão.

– Dona, não vai descer? Aqui é o ponto final! – pergunta o cobrador.

– Sim, claro! – responde, resgatando-se das lembranças. – Será que o prefeito teria essa coragem? – pergunta a si mesma.

– Catharine, minha querida! Volte logo – pede Rubens, acariciando-lhe o rosto.

– Doutor – chama Stela.

– O senhor tinha razão, Joaquim não faleceu devido a complicações; foi por sufocamento, confirmou o Instituto Médico Legal. Temos de avisar a polícia, houve um assassinato aqui!

– Que polícia, Stela? Estão todos corrompidos. De Princípios, como denominamos nossa cidade, não há mais nenhum.

– Joaquim... Joaquim ... – chama Catharine, numa voz quase inaudível. – Onde você está?

– Acalme-se, querida! – diz o médico, virando-se depois para a residente: – Ela está voltando! Com a redução da medicação, logo recobrará a consciência.

– E sobre aquela entrevista, espera algo?

Rubens não responde, abaixa a cabeça, limpa uma lágrima, depois se retira, sem dizer nada.

– Coitado deste homem – confidencia-se Stela, apiedada. – Parece que carrega o mundo nas costas. Meia-noite! – olha para o relógio. – Tudo isso, já?

Tiros são ouvidos a distância.

– Eita! Cadê a champanha? – pergunta o prefeito. – Meia-noite em ponto e o seu Meia-Noite, pelo que ouvimos, despachou aquele gota para o inferno. Uhu! O Meia-Noite é nosso, aha, uhu! – a rolha bate no teto e a espuma escorre pelas roupas do nobre representante do povo.

O celular toca.

– Quem está falan... QUEM? NÃO PODE SER! – berra Tanaka, para o estranhamento do edil, que se achega. – Ai, Jesus! Vou desmaiar! Me segure! Ai! Ai!..

E cai.

Encerra com a música: (
Adagio - Hauser)

_________________________

1. O Inferno é a primeira parte da “Divina Comédia” de Dante Alighieri, sendo as outras duas o Purgatório e o Paraíso. Está dividido em trinta e quatro cantos (uma divisão de longas poesias), possuindo um canto a mais que as outras duas partes, que serve de introdução ao poema. Na obra, o inferno é descrito com nove círculos de sofrimento localizados dentro da Terra. Foi escrito no início do século XIV.

2. Hércules é um herói da mitologia greco-romana, um semideus, filho de  Zeus com a mortal Alcmena. Ele é conhecido por uma força incomum e pelas doze atividades que fez para se redimir de ter matado sua mulher e seus filhos em um ato de loucura causado pela deusa Hera.



autor
Carlos Mota

A novela "Flor-de-Cera" é remake de "Venusa Dumont - da memória à ressurreição" de Carlos Mota
 
elenco
Grazi Massafera como Catharine Dumont
Thiago Lacerda como George Dumont
Ricardo Pereira como Joaquim
Elisa Lucinda como Ernestina
Carlos Takeshi como Tanaka Santuku
Miwa Yanagizawa como Houba Santuku
Jesus Luz como Pietro Ferrara
Lucinha Lins como Franceline Legrand Dumont
Lima Duarte como Dilermando Dumont
Herson Capri como Doutor Rubens Arraia
Tonico Pereira como Moacir
Werner Schünemann como Paineiras Ken
Rosi Campos como Adelaide
Humberto Martins como Alberto Médici
Cauã Reymond como Ricardo
César Troncoso como Zé dos Cobres
Ilva Niño como Josefa
Selton Mello como Zelão
Matheus Nachtergaele como Meia-noite
Caio Blat como Delegado de Vila Bonita
Caio Castro como Leandro
Alexandre Borges como Doutor Jaime
Caroline Dallarosa como Carmem
Fernanda Nobre como Stela

participação especial
Stênio Garcia como Doutor Lúcio
Drica Moraes como Desirê
Marco Nanini como Chico Santinho

atores convidados
Ary Fontoura como Doutor Tobias
Alexandre Nero como Júlio Avanzo
Elizangêla como Maria

a criança
Valentina Silva como Alana

trilha sonora
Lágrimas da Mãe do Mundo - Sagrado Coração da Terra (abertura)
Adagio - Hauser


desenhos
Andrea Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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