Na porta de casa, Odilon é abordado por duas vizinhas.
– Seu Odilon, meus pêsames pela perda do seu irmão. Lamento demais – diz uma delas, apertando-lhe a mão.
– Óia, seu Odilon, o que o senhor precisar, poder falar com a gente, tá? – diz a outra mulher, também lhe apertando a mão.
– Agradeço demais pelo apoio docêis. Eu só queria tomar um banho e descansar um pouco agora.
– Vai lá, fiô. Tenta dormir um pouco – diz uma delas.
Odilon destranca a fechadura, abre a porta e entra em casa. Passa pela sala, até chegar em seu quarto. Tereza está deitada na cama e abre um sorriso, logo que o vê. Ele pula na cama, lhe abraça e eles dão um longo beijo na boca. Depois ele acaricia o rosto dela, que pergunta a ele em seguida:
– Aconteceu muita coisa depois que eu fui embora?
– Uma besteirada sem tamanho. Uma lenga-lenga que eu pensei que não ia acabar nunca – diz Odilon, rindo.
– E o meu irmão? Já foi sorto? – pergunta Tereza.
– Eu falei co Ferreira; vai liberar ele ainda hoje.
– Eu tava tão preocupada dele ficar preso – diz Tereza, aliviada.
– Mas do jeito que nós dois combinamo não tinha erro. Ninguém ia sair perdendo. Viu como deu tudo certo o negócio bem planejadinho? – diz Odilon.
– Ah, mas eu fiquei apavorada, meu amor. Ainda mais que teve uma hora que ele tava me arcançando.
– Mas eu num disse procê que eu ia tá logo atrás docêis? Num tinha o que se apavorar – alega Odilon.
Odilon começa a rir.
– E quando eu gritei: “Óia a onça”? Hahaha. Deu vontade de rir. Dos meus tiro ele não ia escapar. E seu irmão, dormindo? Lógico que ele ia acordar assustado e bebum e achar que podia ser a suçuarana do seu Irineu. O cara bebum enxerga demais. Agora aquele fiadaputa do Jorge tá no lugar que merece.
Rindo, Odilon desce da cama, estica o braço por baixo dela e puxa uma espingarda.
– Deu tudo certo pra todo mundo. Até uma espingarda iguar a do seu irmão aquele merda tinha. Bom, azar o dele né? E sorte nossa. Coitado do Pedro, que agora vai viver o resto da vida achando que matou o Odílio, ou melhor, o Jorge.
Odilon dá um beijo no cano da espingarda, recoloca ela embaixo da cama e se deita novamente do lado de Tereza.
– Mas vai dizer que ocê num sentiu nem um pinguinho de medo? – questiona Tereza.
– Óia, Tetê. Eu acho que a gente nem tinha tempo. Quando eu percebi que o Jorge ia me matar, eu comecei a dar pinga pro seu irmão levar pro trabaio. Eu tava planejando arguma coisa quarqué por ali; não tinha ideia do que, mas tinha que decidir arguma coisa rápido. Ele ia dar um jeito de matar nós dois logo. Era ou ele ou nós. E o nosso plano foi em cima da hora, mas foi perfeito – explica Odilon.
– E agora, Odilon? O que nós vamo fazer?
– Agora a gente casa, ué. Vamo continuar com as loja e com a funerária; eu tava até pensando em colocar seu irmão pra trabalhar numa delas; o delegado Ferreira disse que parece que o seu Irineu não ia querer mais ele na fazenda. A funerária nós continua tomando conta. Só as rinha que eu não quero. Eu tenho pena dos bicho, é muita judiação. Vô devorvê aquela bosta pro seu Napoleão – explica Odilon.
– E de quem vai ser o próximo enterro? – pergunta Tereza, rindo.
– Óia, eu num queria mais fazer isso, mas se ocê gostô de participar de uma morte... Quem sabe aquela matraca da dona Branca, que vivia enchendo o saco dele. Ia ser até uma homenagem pra ele, que não suportava aquela véia. Mas depois dessa, não vamo fazer mais nenhuma não. Tá certo?
Tereza faz caras e bocas.
– Vou pensar no seu caso, senhor arrependidinho. Se você me ensinar a atirar... Quem saiba eu não me dê bem como uma assassina? – diz Tereza, rindo, de forma irônica.
– Não! Só a dona Branca e chega. Depois dela, mais ninguém.
– Tem umas sirigaitas que sempre ficaram oiando procê, que sempre me irritaram. Acho que era bom dar uma lição nelas.
– Cê não vai dar lição em ninguém, Tetê!
Odilon e Tereza lutam na cama, enquanto gargalham. Ele a empurra no colchão e se deita por cima dela. Se beijam, se abraçam, se acariciam e riem.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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