Antologia O Mal que nos Habita: 1x07 - Brincadeirinha - WebTV - Compartilhar leitura está em nosso DNA

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Antologia O Mal que nos Habita: 1x07 - Brincadeirinha

Conto de Ricardo Stefoni
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Sinopse: Uma professora enfrenta duas alunas que cometem bullying com uma coleguinha, e ao chegar em casa descobre que as duas alunas invadiram sua casa e pretendem se vingar. Ou melhor, fazer uma brincadeirinha, de onde ela pode não sair com vida.


Brincadeirinha
de Ricardo Stefoni

 

Monalisa vê o sorriso de Nicole.

Ela muda seu trajeto e vai em direção ao trio de garotas, sem tirar os olhos da garota sorridente. É uma adolescente, seu corpo ainda é de menina, mas sua postura lembra uma femme fatal de thriller policial. Em especial, seu sorriso. E ela só tem olhos para ele, sentindo seus pelos se arrepiarem.

Só quando chega mais perto repara nas outras duas garotas, uma delas a menina de óculos que senta na primeira fileira nas aulas de química em que ela leciona e a outra uma colega que está sempre com Nicole, uma garota grande que poderia fazer papel de guerreira viking em algum seriado de época.

Vê a jovem de óculos assustada. Nicole e sua colega ficam paradas assim que percebem a presença da professora.

- Olá garotas. Está tudo bem aqui? – diz Monalisa.

- Olá professora! Claro que está. Estamos só conversando! – diz Nicole.

As outras duas garotas concordam. A garota grande com um sorriso sarcástico, a de óculos com um sorriso forçado. Monalisa reconhece aquela expressão. Mais do que isso, reconhece a expressão do sorriso de Nicole. Sente sua barriga gelar ao ter que encarar aquela garota. Lembra-se de quinze anos atrás, quando ela era a garota tímida tentando sobreviver a mais um dia de aula.

- Tem certeza que está tudo bem? – ela diz, colocando a mão no ombro da garota de óculos.

A garota a encara. Quase consegue ouvir as súplicas e o choro através daquelas lentes. Sente o ombro dela tremendo. Mesmo assim a resposta é rápida e direta:

- Sim, está tudo bem professora. Só estamos conversando.

Monalisa respira fundo. Olha para ela, em seguida encara as duas meninas que estão com ela. Nicole continua sorrindo, com seus olhos emitindo uma confiança que chega a machucar. A garota grande não sorri mais. Parece um animal acuado, preparando sua defesa. A professora se aproxima dela e diz:

- Vamos conversar, nós três. Vamos até a sala da diretora, sim?

A garota grande começa a gaguejar. Olha para a de óculos, olha para sua amiga. De repente não é mais uma viking, e sim uma criança grande desamparada. Mas não Nicole. Ela, sorrindo com ainda mais brilho, diz:

- Porque deveríamos? Está tudo bem. Não pode nos obrigar.

Ela não apresenta qualquer hesitação. Não parece ser uma garota de doze anos. Mesmo com seu corpo ainda em desenvolvimento, sua presença aterroriza. Até mesmo Monalisa se sente intimidada. A professora olha para a garota grande e diz:

- Você é a Olivia, né?

A garota confirma, com o rosto assustado. A professora continua:

- Nicole tem razão. Vocês não precisam me obedecer. Porém lembre-se que eu também não preciso aceitar suas súplicas quando vier me pedir nota no final do ano. E olhando sua última prova, você vai precisar.

Olivia arregala os olhos e segura os braços de Monalisa. Agarra a professora como se fosse uma amiguinha mais nova. E quase aos prantos diz:

- Por favor! Eu juro que não estava fazendo nada! Diga para ela!

A garota de óculos olha para a professora e, derramando uma lágrima, confirma com o rosto.

Monalisa retira as mãos de Olivia de seu ombro e diz:

- Então você não terá problemas em ir à diretoria e esvaziar seus bolsos. Porque o medo? Tenho certeza que não encontraremos nada neles, ou estou errada?

Olivia, cada vez mais assustada, pega um batom de dentro de seu bolso e entrega para a garota de óculos. Diz:

- Toma.

- E?

- E desculpa.

- Não para mim. Para ela!

Olivia olha para a garota e repete o pedido. A garota agradece, em um sussurro tão baixo que não sai som.

- Mas você é uma frouxa mesmo! – diz Nicole, dando um tapa em Olivia.

Monalisa faz um sinal para a garota de óculos ir embora, mas esta hesita e encara Nicole, até que está faz um sinal para ela com a cabeça, lhe dando permissão para fugir. Monalisa olha para as duas e diz:

- Prestem atenção, as duas! Até vocês se formarem, eu estarei de olho em vocês. A cada menina que eu ver chorando em um canto no corredor, eu irei vir visitá-las! Serei o pesadelo de vocês, estão me ouvindo?

Olivia continua de cabeça baixa. Porém Nicole da um passo em sua direção, encarando-a de frente, segura seu braço e diz:

- Não professora querida. Eu serei seu pesadelo.

Monalisa trava. Mal consegue respirar. Nicole se aproxima mais e dá um beijo em seu rosto. Então a solta, dá uma gargalhada e diz:

- É brincadeirinha!

E vai embora. E quando se afasta Monalisa consegue respirar novamente.

****

Monalisa passa a chave na porta. É o momento em que se sente verdadeiramente segura.

Está em sua casa, sua fortaleza. Ali é o local apenas dela, onde as preocupações ficam para fora. Até que pisa em uma bonequinha que faz um barulho, e se lembra que há mais alguém naquele lar.

Logo seu cachorro aparece latindo e abanando o rabo.

- Boa tarde, Hulk! – ela diz.

            Seu pequeno companheiro faz sua festa particular, lambendo e latindo.

- Estava com saudades! Eu também! Eu vou tomar um banho quentinho e depois a gente janta!

Ela levanta e deixa sua bolsa em cima da bancada que divide a sala da cozinha. Olha seu celular e responde as mensagens relevantes. Vê uma mensagem de Renato lhe dando boa noite. Seu coração chega a palpitar. Ela respira, fecha as mensagens e deixa o aparelho ao lado da bolsa. Sobe as escadas rumo ao segundo andar, já sentindo a água quente lhe tirar o suor e o estresse do dia.

Vai até seu quarto, retira a roupa e abre o armário. Olha para o lado e vê Hulk a encarando, no último degrau. Ela sorri e diz:

- Qual pijama eu devo escolher? O rosa ou o branco?

O cachorro continua a encarando enquanto ela mostra os dois conjuntos. Ela pega o branco e coloca no armário.

- Hoje está mais fresco, vou usar o rosa. Fique vigiando para ninguém roubar meu pijaminha!

O cachorro late, ela solta uma gargalhada e entra no banheiro.

****

Monalisa sai do banho enrolada na toalha. Seca os cabelos, passa um creme hidratante e um desodorante.

Olha-se no espelho, ainda um pouco embaçado. Por um momento, através do vapor, vê a garotinha baixinha e magricela que todo dia tentava passar despercebida da escola. Os anos passaram. Seus cabelos ensebados hoje são longos e brilhantes, motivos de orgulho, e sua pele cheia de espinhas é lisa e hidratada.

Mas ela ainda está sozinha.

Sai do banheiro e vai até o quarto. Toma cuidado para ver se Hulk não está no caminho, não foram poucas vezes que pisou nele. Chega ao cômodo, joga a toalha em cima da cama e percebe que seu pijama não está lá.

- Hulk! Não acredito que fez isso de novo! – ela grita.

Ela abre o armário e pega o pijama branco. Coloca o shorts e a blusa. Diz mais uma vez:

- Onde você está seu sapeca?

Ela desce as escadas, esperando ouvir algum latido. Chama pelo companheiro mais uma vez, mas não tem resposta.

Chega ao térreo, procurando por todos os lados. Os brinquedos continuam espalhados, mas não há sinal de seu cachorro. Continua chamando por ele, já com um semblante preocupado.

E então vê o cachorro no quintal, do lado de fora da casa, pela porta de vidro da cozinha.

- Mas como você saiu? – ela diz, indo até a porta.

O cachorro abana o rabo, lambendo o vidro. Monalisa força a fechadura e não consegue abrir. Percebe que está trancada.

- Espere, vou abrir a porta da sala!

A professora vai até a frente da casa e percebe que a porta também está trancada. E a chave não está na fechadura, onde ela tinha certeza ter deixado.

Olha para a janela da sala. Percebe o cadeado travado entre as duas folhas de vidro. Olha mais uma vez para o cachorro do lado de fora, tentando entender como ele pode ter saído. Sente um frio enorme na barriga quando começa a pensar nas respostas do mistério.

Vai até a bancada. Olha para a sua bolsa em cima da bancada. Seu celular não está mais lá.

- O que está acontecendo aqui? – ela diz, se encolhendo e olhando para todos os lados.

E ouve duas risadas debochadas como resposta.

Duas risadas vindas do interior da casa.

- Quem está aí?

As risadas aumentam. Ela dá um passo para trás, olhando para a sala e para a cozinha. Olha para a escada, mas também não vê nada ali.

- Por favor, quem está aí?

- Ela não quer brincar! – diz uma voz conhecida, vinda de trás do sofá.

Monalisa olha assustada e vê uma mulher com seu sorriso psicótico e seu olhar fulminante, segurando um celular e filmando-a.

Uma mulher não. Uma garota.

Ela engole seco. Seu coração acelera. A garota sai de trás do móvel e começa a caminhar a passos lentos em sua direção.

- O que foi professora? Achei que era valente.

- O que você faz aqui? Como entrou?

A garota começa a caminhar em sua direção. Monalisa sente o coração acelerado. O sorriso daquela garota congela sua alma. Nicole, ainda filmando, diz:

- Sabe professora, como você me ensinou bastante coisa, vou lhe retribuir.

Monalisa dá mais um passo para trás. Olha para os lados, apavorada. Nicole, a poucos passos dela, continua:

- Se um dia você se ver no meio de um incêndio, a primeira pergunta que deve fazer é como sair dali com vida e não como começou o fogo.

- Você é louca! – grita Monalisa.

Então sente uma mão forte lhe tapar a boca e seus pulsos são torcidos atrás das costas. Olivia ri enquanto a agarra. Nicole fica na sua frente e acaricia seus cabelos, dizendo:

- Você não deveria se preocupar em como entramos e sim se vai continuar viva quando a brincadeirinha acabar!

****

            Monalisa acompanha as duas garotas andando pela cozinha.

            Nicole está sentada na cadeira da bancada, se divertindo com seu celular. De vez em quando bate uma foto, dá uma risada e responde alguns áudios de assuntos variados. Olivia, por sua vez, coloca algumas maquiagens e equipamentos em cima da mesa. Hulk continua do lado de fora, observando a cena pelo vidro que separa a cozinha do interior da casa.

            - Acabei! Está tudo aqui! – diz Olivia.

            - Ah, finalmente! Vamos começar a brincadeirinha! – diz Nicole.

            Se pudesse falar, Monalisa perguntaria quais as intenções da garota. Mas no momento está com uma fita adesiva na boca, assim como nos pulsos e nos tornozelos, presos na cadeira. Só lhe resta acompanhar e a dar leves gemidos.

            Nicole leva seu celular até a professora e começa a filmar. Diz:

            - Aqui está a bela professora de química, a formosa Monalisa. Não é aquela que tem um sorriso enigmático, mas também será alvo de uma obra de arte. A Lili irá mostrar toda a sua destreza deixando a querida professora mais bonita ainda. Vamos lá Lili, mostre seu talento!

            A garota grande pega seu kit de maquiagens e começa a passar no rosto da professora. Monalisa solta um rosnado e vira o rosto. A garota começa a passar pó em todo seu rosto. Monalisa solta o urro mais alto que consegue pela mordaça, ainda insuficiente para que qualquer pessoa fora da casa ouça. Quando o pó em excesso se acumula ela solta um espirro, que faz Nicole cair na gargalhada.

            - É isso aí! Vamos embelezar a professora!

            Olivia gargalha e encara a face totalmente branca da professora. Pega um lápis e começa a desenhar em sua bochecha. Monalisa ameaça virar o rosto, mas tem seus cabelos agarrados, com força.

            Nicole se aproxima e diz, em um tom de voz perturbador:

            - Professora, eu acho que você não entendeu. Você vai brincar com a gente, quer queira ou não! Entenda, eu e a Lili aqui somos duas aranhas brincalhonas e você é a mosquinha que caiu na nossa teia!

            Olivia solta uma gargalhada e volta a riscar a bochecha da professora, que não tenta mais resistir. A garota desenha uma lágrima grande em cada bochecha e escreve “chorona” na testa. Então pega o batom e desenha um lábio enorme por cima da fita adesiva que tapa a boca de sua vítima, enquanto Nicole sorri e continua filmando.

            - Lili, você está ótima! Acho que vai ser maquiadora profissional quando se formar!

            Nicole desliga o celular, deixa em cima do balcão e caminha até a professora. Olivia dá um passo para trás e diz:

            - E você Niqui? Já pensou no que vai ser?

            - Ah sim minha amiga!

            Nicole pega uma tesoura enorme de cima da mesa e coloca em frente ao rosto de Monalisa, que arregala os olhos e solta mais um gemido. A garota começa a passar o instrumento bem de leve em seu rosto e começa a descer pelo pescoço, em direção aos seios. Faz um leve corte na blusa da professora e diz:

            - Meu sonho é ser cardiologista. Vamos ver se sei transplantar um coração?

            Olivia cai na gargalhada, enquanto Monalisa respira ofegante. Começa a chorar e fecha os olhos no momento que Nicole corta toda sua blusa, transformando seu pijama em um trapo.

            - Eu ainda não aprendi anatomia, mas acho que o coração fica aqui, entre estes belos seios. Se eu fizer um corte fundo aqui eu acho o coração, não acho Lili?

            Olivia não responde. Apenas ri, desta vez mais contida. Nicole continua:

            - Ou será que é aqui no umbigo? Não sei, acho que eu devo cortar tudo logo, aí eu encontro né? O que acha Lili?

            - Niqui, eu acho que...

            - Vamos professora querida! Você não quer um coração novo? – grita Nicole, fazendo Olivia dar um pulo e Monalisa arregalar os olhos, desesperada.

            Então Nicole começa a gargalhar. Alguns segundos depois Olivia começa a gargalhar também. Monalisa respira mais aliviada, mas ainda apavorada.

            - Não se preocupe professora. Não vou cortar seu coração fora. Não quero ser cardiologista. Sabe o que eu quero ser? Uma cabeleireira!

            Nicole pega um cacho de sua professora e começa a alisar. E diz:

            - Seu cabelo é muito bonito. Muito mesmo, você deve cuidar muito dele. Mas eu vou te deixar mais bonita ainda! Veja só!

            E antes que Monalisa perceba, a garota corta o cacho fora. Olivia dá uma gargalhada um pouco assustada, mas Nicole eleva o tom. Monalisa geme mais alto e arregala os olhos enquanto vê seu cacho nas mãos da garota. Nicole o coloca na frente da professora, rindo em deboche.

            - Não está lindo? Ah, acho que preciso cortar mais, para igualar. O que acha Lili?

            - Niqui, não sei, será que...

            E antes que Olivia termine a garota enche sua mão com o cabelo da professora e começa a cortar, como um açougueiro depenando um frango. Ri enquanto Monalisa começa a chorar. Suas grimas caem junto com seus fios. Nicole cantarola uma melodia enquanto continua cortando. Vira-se para Olivia e diz:

            - Pega o espelho!

            Olivia, ainda assustada, obedece. Quando retorna, Nicole dá seu sorriso final e mostra para Monalisa o resultado.

            A professora vê seus cabelos destruídos, parecendo um calouro que acaba de receber um trote. Começa a chorar mais forte.

            - Ficou lindona! Não ficou Lili?

            Olivia não responde. Continua olhando, hesitante.

            - Lili?

            - Sim, ficou sim! Uma gata!

            - Eu diria mais que parece uma cadela! O que acha?

            Ela dá um tapa no rosto de Monalisa e gargalha alto. Olivia não tem reação. Nicole então lhe passa outra ordem:

            - Lili, acho que ela não quer brincar. Vamos ver se o Totó ali quer. Vai buscar aquele saco de pulgas.

            Olivia olha para o cachorro, que ainda observa a cena. Monalisa geme mais alto e tenta se libertar, se debate com toda a força, mas sem sucesso. E assiste a garota grande ir até a porta e pegar seu pequeno companheiro no colo.

            Ela respira forte. Tenta mais uma vez libertar os braços, mas não tem sucesso. Olivia chega até ela com Hulk no colo. Diz:

            - O que iremos fazer?

            - Nós brincaremos do jogo do xixi e do saco.

            - Nossa Niqui, você não vai colocar um saco na professora né? Não acha que está indo longe demais?

            - Claro que não farei isso com ela né? Ela não é uma pirralha chata do segundo ano. Não, vamos fazer isso com o Totó aqui.

            - O que?

            - Fica tranquila, ele vai sobreviver.

            - Niqui...

            Nicole para e encara sua amiga. Apesar de ter metade do seu tamanho, seu olhar parece de uma serpente contra um ratinho. Olivia paralisa. Nicole se vira para Monalisa e diz:

            - Vou contar a brincadeirinha. Eu quero que você mije. Entendeu? Quero ver uma rodela bonitinha no meio deste shortinhos branco tão fofo que você usa.

            Monalisa fica encarando, sem acreditar no que está vivendo. Olha para Olivia, mas esta não a encara de volta. Nicole pega um saco de lixo e vai até o cachorro. E diz:

            - A brincadeira é simples. Nosso Totó aqui vai ficar dentro do saco e vamos torcer para que o ar ali dentro dure. Enquanto isso você vai fazer xixi. Quando fizer eu solto o Totó. É simples, não é?

            Monalisa arregala mais os olhos e nega com a cabeça, desesperada. Nicole gargalha e pega o cachorro, colocando-o dentro do saco. Olivia assiste passiva, quase atordoada. Nicole gira o saco e amarra, garantindo que não fique nenhuma entrada de ar. E segura o saco, gargalhando enquanto o cachorro começa a latir e a se debater.

            - Vamos professora querida! Quero ver uma rodela aí no meio das pernas!

            Olivia fica parada. Olha assustada para a cena. Nicole gargalha e continua segurando forte o saco. Não para de gritar:

            - Vamos! Xixi! É só fazer xixi!

            - Professora, por favor, faça xixi! – implora Olivia.

            Nicole continua segurando forte o saco. Monalisa chora, as lágrimas jorram em seu colo. Olivia vai até ela e coloca a mão em seu ombro, como se para dar apoio moral. Os segundos passam, mas a única coisa que sai da mulher são as lágrimas. Nicole diz:

            - Sabe professora, problemas para mijar é uma coisa séria. Talvez você deva procurar um médico. Um urologista. Pode te dar uma infecção, e falam que a dor é grande.

            Monalisa não escuta. Continua de cabeça baixa, chorando. Olivia chora junto, dizendo:

            - Vamos professora! Por favor!

            Nicole gargalha. Durante alguns segundos aquela cozinha vira a sala de um hospício. Nicole gritando e berrando, Monalisa e Olivia chorando. Até que após mais alguns segundos Olivia grita:

            - Ela fez! Veja Niqui, ela fez xixi!

            - Fez?

            - Sim! Veja!

            Nicole joga o saco no chão e caminha até a professora. Olha para a cadeira, vê a enorme poça de urina e gargalha. Pega seu celular e bate uma foto, dizendo:

            - Viu só? Não é divertido?

            - Niqui! Niqui! – grita Olivia, com o cachorro no colo.

            - O que foi?

            - Ele morreu!

            Nicole observa a amiga com o cachorrinho nos braços, em prantos, acariciando. Ele não apresenta qualquer reação. Ela encara Nicole desesperada, e vê a amiga dar com os ombros e dizer:

            - Então acho que você perdeu esta rodada, querida professora. Vá ao urologista ver isso.

            - Niqui! Chega! Fomos longe demais!

            - O que você quer dizer?

            - Isso não é mais brincadeira! Você está louca! Para mim acabou!

            Dizendo isso ela vai até a professora e começa a remover a fita de seu pulso. Nicole caminha até o seu lado e diz:

            - Tem razão, acho que isso deixou de ser brincadeira.

            - Desculpe professora, eu não...

            E antes que Olivia possa terminar a frase recebe uma tesourada no pescoço. Remove o objeto e leva as mãos até a ferida, tentando parar o jato de sangue que espirra na professora. Nicole diz:

            - Eu já estava cansada de você mesmo! Ter que aguentar este seu cheiro de fritura todo dia! Fique aí, junto com este cachorro sarnento, como o saco de banha que você é! Agora eu vou terminar o serviço e amanhã a internet vai contar como uma aluna gorda e fedida invadiu a casa da bela professorinha de química para satisfazer suas vontades lésbicas nojentas e as duas se mataram! Tão triste!

            Olivia aos poucos perde a cor. Junto com o sangue deixa escorrer duas lágrimas. Nicole cospe em cima de seu corpo, se vira para a professora e diz:

            - Agora vamos acabar com isso!

            - Com certeza, sua louca! – diz Monalisa, de pé.

            Nicole é pega de surpresa e deixa cair a tesoura. Logo as duas estão no chão, se batendo. Rolam pelo chão, batendo nas cadeiras e nos móveis. Monalisa tenta agarrar o pescoço da garota, mas esta se mostra mais forte do que ela esperava e após rolarem mais uma vez Nicole acaba sentada em cima da professora, segurando seus braços. Encosta seu rosto no de Monalisa, solta uma risada e lhe dá uma lambida.

            - Para você não sentir saudades do seu Totó!

            - Sua desgraçada!

            Nicole solta os braços da professora e começa a enchê-la de tapas. Monalisa tenta defender o rosto enquanto a garota gargalha. De repente ouve um barulho conhecido. Seu celular tocando, dentro do bolso da garota. Nicole para os tapas, tentando identificar de onde vem o som, mas antes que possa reagir Monalisa pega a tesoura e enfia na garganta de sua aluna.

            Levanta e deixa a garota agonizando. Pega seu celular e atende.

            É Renato.

            E enquanto ouve o rapaz, ela respira, solta o ar e diz, surpreendendo até mesmo seu interlocutor:

            - Sim, aceito. Só vou tomar um banho e te encontro lá. Beijos!

Conto escrito por
Ricardo Stefoni

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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