3x12 - Desejo de Natal
de Lunaa D'Lins
O
natal para mim, era uma apenas uma festa para curtir junto com os amigos e o
crush. Nada mais na verdade. Eu e as meninas, estávamos organizando uma festa a
fantasia para os jovens, então seriamos só nós curtindo em uma casa abandonada
em um bairro perigoso de São Paulo sem nenhum adulto nos dando ordens ou algo
do gênero, e aproveitando a festa como deve ser.
Abro a
porta animada, a organização para a festa está sendo incrível e mal posso
contar a hora para estarmos lá curtindo, torço imensamente que o Kaio me
convide para ir com ele, só em pensar nisso sinto meu rosto queimar e meu
coração bater mais forte.
Saio
dos meus devaneios quando ouço a voz da minha mãe me chamando sem parar,
balanço a cabeça e logo me volto para ela.
—
Aurora, amor. Presta atenção no que a mamãe vai falar, está quase no dia do
natal, não se esqueça da nossa festa beneficente, vamos passar a noite junto
com as crianças do orfanato.
Aquela
frase caiu como um balde de água gelado em cima de mim, meu sorriso murchando
na hora, a encarei incrédula sem poder acreditar no que estava ouvindo.
— Não
pode estar falando sério. — retruquei sem me conter e essa apenas cruzou os
braços como se eu estivesse brincando com ela.
— Eu
planejei esse baile por horas, vai ser a melhor noite da minha vida, tenho
certeza que o meu crush vai me chamar para ser seu par e eu vou passar a noite
me divertindo. Não tem chance de ir para esse natal de ¨quinta¨. Não é dia de
ser caridosa, é o dia que eu vou me divertir. – Disse exagerada e irritada, eu
não podia aceitar o meu tão sonhado dia caindo aos meus pés, estava tudo
cronometrado, nada podia dar errado.
Mamãe
deu um suspiro e encarou o meu pai como se pedisse ajuda para lidar comigo. Ele
veio em minha direção e me colocou sentada no sofá ficando em minha frente.
—
Querida, sinto muito, mas o natal não é só festa e mais um monte de coisa, é
uma data especial.
— Que
seja. Mas deixem essa sua ideia maluca para outro dia, não no meu dia especial.
– Disse me levantando e caminhando até o segundo andar sem me importar se havia
sido grossa ou não, assim que dei o primeiro passo para os degraus, ouvi sua
voz novamente.
— Você
não vai a esse baile, aceite isso. Vai com a gente sentir o natal de verdade. É
uma data linda e tenho certeza que vai gostar, querida.
Senti
a raiva tomar conta de mim, eu só queria curtir, subi as escadas bufando,
irritada. Assim que cheguei no quarto gritei enfiando a cara no travesseiro.
— Eu
odeio a minha vida, odeio o natal, como queria que eles não ligassem para essa
data boba.
Depois
de falar, soquei a almofada mais um pouco e logo cai derrotada, o meu dia
perfeito, eu havia planejado tudo e agora só iria ficar a noite quieta em um
canto enquanto meus pais tagarelavam.
No dia
seguinte, levantei bufando, ainda não havia contado as meninas que tudo estava
arruinado, agora torcia silenciosamente para Kaio não me convidar, pois seria
ainda mais desastroso e humilhante receber o convite e não poder ir.
Desci
as escadas sem olhar para eles, e me joguei na cadeira pegando um pão e
colocando queijo e presunto dentro. Depois de comer um pouco, percebi que eles
estavam de bom humor, pois brincavam e falavam sem parar, uma esperança brotou.
Quem sabe eu conseguia convencê-los?
— Mãe,
Pai. Lembro o que falaram ontem, ainda assim, tem uma chance de vocês me deixarem ir
para o baile? – Perguntou com olhos brilhantes, e eles se encaram com um
sorrisinho no rosto, logo em seguida fazendo uma carranca séria, mas eu ainda ansiava
minha reposta.
— Não
querida.
— Qual
é!! — falei irritada e eles logo gargalharam alto me deixando confusa.
— Você
tinha que ver sua cara, amor. Foi muito engraçada.
Mamãe
falava enquanto ria sem parar e eu continuava olhando-os sem entender nada.
—
Claro que você pode ir amor, aliás, nós vamos em alguma festa também, é só um
dia qualquer mesmo.
Estranhei
sua reação, no entanto deixei de lado e corri os abraçando com força enquanto falava
sem parar: — Eu te amo. Eu te amo.
Logo
depois sai saltitante, o dia estava realmente incrível, terminamos o
planejamento do baile, o Kaio me convidou, e eu tentei ficar plena enquanto
queria gritar a plenos pulmões, feliz da vida. E logo sai da escola saltitante,
era a hora de escolher um vestido, assim que sai da loja, vi duas meninas
olhando os vestidos com enormes olhos e resolvi partilhar do meu dia feliz indo
até elas.
— Ei, vocês duas estudam na mesma escola que eu
né? Querem ir ao baile na noite de natal?
Elas
se assustaram com minha pergunta, porém logo um sorriso brotou em seus lábios.
— Claro
que queremos. Nunca fomos em uma festa.
— respondeu a menina mais baixa de pele clara e cabelos castanhos. Só
suas roupas que pareciam mais velhas, deixando-a meio sem graça enquanto eu a
observava.
— mas
porque está nos convidando? — questionou a moça mais alta de pele cor de oliva
e olhos lindos amendoados.
— Eu
quero dividir a minha felicidade, o dia está incrível, meus pais me deixaram ir
à festa que tanto queria, então quero que outros sintam a mesma felicidade que
estou sentindo.
Enquanto
falava, elas sorriram, concordando com a cabeça, antes que pudesse falar mais
alguma coisa, uma garotinha chegou até nós, olhando as duas com pena nos olhos.
— A
senhora Daisy está procurando por vocês.
Disse
e seus rostinhos murcharam e saíram correndo em outra direção, não sabia nem o porquê,
então eu as segui, parei assim que vi onde estávamos, era um orfanato, ele parecia
velho e acabado, algumas crianças estavam na rua oferecendo biscoitos, e a
nossa frente estava uma mulher mais velha e carrancuda. Seus olhos azuis
pareciam queimar de tanto ódio que tinha naquelas íris.
—
vocês duas, deviam estar fazendo biscoitos, precisam do dinheiro, se quiserem
ter o que comer.
Falou
ela grosseira, logo apontando para dentro e as duas entraram, cabisbaixas, sem
ao menor dizer nada. A menor se juntou as outras e a mulher estava pronta para
entrar na casa novamente quando eu a interrompi.
—
senhora, por favor, não brigue com elas. Eu só estava convidando-as para uma
festa.
Falei
e ela se virou em minha direção me encarando séria, e me analisando de cima a
baixo.
— elas
tem mais o que fazer, dê o fora. — praticamente me expulsou irritada. Me voltei
triste e dei de cara com a garotinha de antes, seus cachinhos emolduravam seu
rosto delicado, e seus enormes olhos avelãs. Sua pele negra parecia brilhar no
sol, e ela era linda, me olhando pensativa.
— Não
fique com raiva da senhora Daisy, ela é severa, mas nos ama muito. Faz de tudo
para manter o orfanato de pé, estamos vendendo biscoitos para conseguirmos
fundos, o último benfeitor desistiu de nós. Ela tem muita pressão para
conseguir manter todos aqui.
Enquanto
falava pequenas lágrimas queriam brotar em seus olhos e a culpa encheu o meu
peito que foi até difícil respirar, eu estava reclamando de não poder ir a
festa, enquanto crianças como essa estavam felizes mesmo tendo tão pouco e
passando por tantos problemas. A abracei pedindo desculpas sem parar, enquanto
saia dali desolada.
Foi
naquele momento que percebi o quanto eu era egoísta, só pensando em mim mesma,
quis chorar, gritar e me bater. Me sentei em um banco da praça, olhando as
flores ao redor e as crianças brincando enquanto lágrimas desciam quentes pelo
meu rosto.
— Tem
uma prata, moça?
Perguntou
uma voz, e tentei me recompor olhando para a pessoa desconhecida, era um jovem.
Um ou dois anos mais velhos que eu, sujo e com roupas rasgadas. Ele percebeu
minha análise e pareceu com vergonha. Rapidamente lembrei de suas palavras e
comecei a procurar nos bolsos mas percebi que não tinha nada para ajudá-lo.
—
Sinto muito, não tenho nenhum dinheiro aqui.
Falei
sinceramente, e ele concordou sentando no banco cansado logo me encarou de
novo.
— Você
está bem? Estava chorando.
Perguntou
e ri o fazendo me olhar surpresa e mal percebi que falava, desabafava com um
desconhecido.
—
Sabe? Eu sou horrível, eu queria tanto ir a uma festa e os meus pais queriam
ajudar os próximos, sentir o natal de verdade. Eu desejei apenas a minha felicidade,
o que eu achava que queria, porém eu daria qualquer coisa para ajudá-las, eu
juro. Será que eu ainda mereço perdão?
Terminei
enquanto mais lágrimas desciam pelo meu rosto, e ao contrário do que pensei,
ele não foi embora não querendo mais ouvir minhas besteiras, mas ficou ali e
puxou meu rosto em sua direção.
— Você
seria má se não visse seus erros, mas você viu e quer melhorar, isso te faz uma
pessoa boa. Nunca é tarde para queremos evoluir.
Disse
e me abraçou, apenas me aconcheguei mais querendo que a dor do meu peito,
passasse.
— só
mais um passo. Podem tirar a venda.
Falei
ainda segurando seus braços, estávamos onde devia ser desde o início, assim que
tiraram as vendas, ambos olhavam tudo surpresos, logo se viraram para mim.
—
Vocês estavam certos, natal não é uma festa qualquer, é sobre família, sobre
ajudar o próximo, sobre o nascimento de Jesus.
E assim ambos me abraçaram, e os abracei de volta com todo sentimento possível, e ali foi a melhor noite da minha vida. Não a que eu tinha sonhado tanto mas ainda melhor. Teve o coral, o teatro, e depois estávamos assando biscoitos e contando histórias de natal ao lado da árvore. Não era questão da festa, mas de estarmos juntos, unidos, como uma família, podíamos não ter o mesmo sangue, mas nossos corações partilhavam daquele momento de união e de agradecimento por mais um ano, e por mais pessoas nas nossas vidas. Adam, o garoto de dias atrás estava ao meu lado, ele agora fazia parte do orfanato, sendo voluntário, e tendo um teto e comida. Ver aqueles sorrisos não tinha preço, e eu tinha certeza tinha mais pessoas por ai precisando de ajuda assim como pessoas como eu, que precisava ver um outro lado e não apenas o seu próprio caminho.
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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Sinopse: O conto traz as angustias e preocupações de um homem com os gestos de bondade realizados somente no Natal. Então, escreve para Deus.
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