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Urban Legend - 1x03

Série de Jota Pê
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TEASER

FADE IN:


 


 

CENA 1. TELA PRETA.


 

Um texto em letras brancas vai surgindo como créditos de filmes.


 

VOZ MASCULINA

(V.O.) O programa que você está prestes a assistir é uma compilação das fitas de terapia do Dr. Ken Magid, um psicólogo especializado no tratamento de crianças que sofreram abusos sexuais. Crianças tão traumatizadas nos primeiros anos de vida que não conseguem criar laços afetivos com as pessoas em sua volta. São crianças incapazes de amar ou de receber amor, crianças sem consciência, que podem ferir e até matar sem remorso. Estas gravações revelam o efeito devastador do abuso em uma criança e também mostra que as vítimas podem ser ajudadas. É a história de uma menina de 7 anos e meio chamada Elizabeth.

Encerra-se o texto.

FADE IN:


 


 

CENA 2. QUARTO. INTERIOR. DIA.


 

Lizzie, bem mais jovem, sentada em uma poltrona de couro. Ela está serena e olha fixamente para alguém, não mostrado, em sua frente.


 

VOZ MASCULINA

(O.S.) As pessoas têm medo de você Lizzie?


 

                    LIZZIE

(balança a cabeça) Sim.

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) Quem tem medo de você?

                    LIZZIE

Johnny.


 

VOZ MASCULINA

(O.S.) Seu irmão. E por que seu irmão tem medo de você?

LIZZIE

Por que eu machuco muito ele.

VOZ MASCULINA

(O.S.) Ok. O que os seus pais fazem com a porta do seu quarto durante a noite?


 

LIZZIE

Trancam. Eles não querem que eu machuque o Johnny.

VOZ MASCULINA

(O.S.) Eles têm medo que você os machuque também?

                    LIZZIE

Acho que sim.

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) Você faria isso Lizzie?

                    LIZZIE

Sim.

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) Você consegue dizer o que faria com eles?

LIZZIE

Esfaquearia.


 

CORTA PARA outro take do mesmo ambiente. Lizzie está com outra roupa e o cabelo preso para trás.

VOZ MASCULINA

(O.S.) Você gosta de enfiar alfinetes nas pessoas?

                    LIZZIE

Sim.

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) Em quem você gosta de enfiar alfinetes?


 

                    LIZZIE

Meu irmão.


 

VOZ MASCULINA

(O.S.) O que você gostaria de fazer com seu irmão?

                    LIZZIE

Matá-lo.

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) Por que você quer que seu irmão morra?

LIZZIE

Por que eu fui tão machucada que não quero ficar perto das pessoas.

VOZ MASCULINA

(O.S.) Em quem mais você gostaria de enfiar alfinetes, Lizzie?

LIZZIE

Papai e mamãe.

VOZ MASCULINA

(O.S.) O que você gostaria que acontecesse com eles?

                    LIZZIE

Que morressem.

CORTA PARA outro take. Lizzie vestida diferente novamente.

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) Me fale sobre seu pai biológico. O que ele fazia com você?


 

LIZZIE

Ele tocava na minha vagina até sangrar. Machucava muito até sangrar. Ele não era muito legal comigo.


 

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) Quantos anos você tinha?

                    LIZZIE

(pensa) Um ou dois.

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) Como você se sente quando fala sobre isso?

                    LIZZIE

Com raiva.


 

CORTA PARA outro take. Lizzie, vestida de forma diferente mais uma vez, está segurando uma boneca.

VOZ MASCULINA

(O.S.) Seu irmão tem partes íntimas como você?
 

 

                 LIZZIE

                    Não.
 

                 VOZ MASCULINA

(O.S.) O que ele tem?

                    LIZZIE

Pênis e testículos.

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) O que você faz com as partes íntimas do seu irmão?

                    LIZZIE

Eu puxo o pênis dele e coloco meu dedo no seu ânus. Ele chora, mas eu não me importo. Eu gosto de ouvi-lo chorar.


 

VOZ MASCULINA

(O.S.) Me fale mais sobre isso.

LIZZIE

Ele pede para que eu pare, mas eu não paro. Não consigo parar.

VOZ MASCULINA

(O.S.) Você já tocou nas suas partes íntimas?

                    LIZZIE

Sim.

                    VOZ MASCULINA

(O.S.) Por quanto tempo?

LIZZIE

O tempo todo até me machucar. Precisei ir ao médico e isso foi muito ruim.

VOZ MASCULINA

(O.S.) O que quer dizer com “muito ruim”?


 

LIZZIE

Ele me disse que boas meninas não se tocavam.

VOZ MASCULINA

(O.S.) E qual a sua opinião sobre isso?


 

                    LIZZIE

Eu disse pra ele que não era uma boa menina.

                    CRUELLA

(V.O.) Chega.

TELA ESCURECE como uma TV sendo desligada.

FADE IN:


 


 

CENA 3. CHATEAU MARMONT. SALA DE CRUELLA. INTERIOR. DIA.


 

Cruella joga um controle remoto em sua mesa e levanta-se da cadeira. Letha na sua frente.

CRUELLA

Já assisti o suficiente para compreender que essa menina é claramente insana.

LETHA

Ela surtou quando chegou aqui. O doutor Hermann precisou medicá-la e a colocamos na solitária.

CRUELLA

Pelo visto é a hora da diretora dar as boas vindas.

LETHA

Tenha cuidado Cruella. Ela é perigosa. Você sabe o que aconteceu com os pais adotivos.

CRUELLA

Ela pode ser perigosa, mas eu sou Cruella, esqueceu? Eu definitivamente sei como lidar com crianças rebeldes.

Cruella sai. CLOSE em Letha.


 

CENA 4. CHATEAU MARMONT. SOLITÁRIA. INTERIOR. DIA.


 

A porta se abre. A luz ilumina Lizzie, jogada no chão feio um animal. Cruella entra.

                    CRUELLA

Bem-vinda ao seu novo lar, Elizabeth.

Lizzie ergue seus olhos e encara Cruella.

                    CRUELLA

Quer dizer, Lizzie, certo? (ri) Elizabeth é um nome tão feio. Faz parecer com que você tenha 80 anos. Não sei o que deu nos seus pais em colocarem esse nome em você. Graças a Deus você matou eles.

                    LIZZIE

(murmura) Eu não os matei.

                    CRUELLA

Matou sim.

                    LIZZIE

Como você tem tanta certeza?

CRUELLA

Querida, eu trabalho com tipos como você praticamente a minha vida inteira. Você pode tentar enganar todos aqueles policiais, menos eu.

Cruella se aproxima e se agacha na direção da menina.

CRUELLA (CONT’D)

Eu não te julgo, Lizzie. Seus pais mereceram. Eles nem gostavam de você. Só te adotaram por pena. E aquele irmão? John? Johnny? (põe a língua pra fora) Deus, como odeio bebês! Eles choram a noite inteira.

LIZZIE

Você não tem medo de mim?

CRUELLA

Claro que não. Você tem sorte por ser autêntica. Gosto de pessoas assim. Nunca deixe tirarem isso de você. Muitas vezes perdemos tempo demais tentando ser bonzinhos.

                    (MORE)

CRUELLA (CONT’D)

Cá pra nós, ser bonzinho é muito chato.


 

LIZZIE

Meus pais me disseram que eu não poderia ser amada por Deus.

CRUELLA

Deus... Você sabe que ele não existe, não é? É apenas uma criatura inventada para impedir as pessoas de serem quem realmente são e fazerem o que realmente sabem fazer. Você tem um dom natural, Lizzie.

Cruella alisa o rosto de Lizzie.

CRUELLA (CONT’D)

Eu acredito que este seja o início de uma grande amizade.

CLOSES DESCONTÍNUOS nas duas.


 

FIM DO TEASER ATO I


 

FADE OUT.


 

 



1x03 - PRIMEIRO VOCÊ SONHA, DEPOIS VOCÊ MORRE 

 

FADE IN:


 


 

CENA 5. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ALANA. INTERIOR. NOITE.


 

Alana sentada de pernas cruzadas no chão. Ela abre uma pasta preta que estava em sua frente e espalha uma porção de recortes de jornais no tapete. Com calma, Alana vai revirando os recortes e lendo seus conteúdos.

ALANA

(murmura) Deve estar em algum lugar...

Ela continua procurando até encontrar uma matéria. INSERT:

Na folha nas mãos dela. O título é o seguinte: "OUTRA CRIANÇA DESAPARECE DE FORMA INEXPLICÁVEL EM LONDRES." Abaixo, há uma

foto de uma bela menina ruiva.

VOLTA À CENA.


 

ALANA (CONT’D)

(lê) 4 de outubro de 1964.

Ela segue procurando nos outros papéis.


 

Começam a surgir na TELA várias matérias com os seguintes títulos: "MÃE AINDA PROCURA FILHO DESAPARECIDO", "MENINO QUE DESAPARECEU AFIRMAVA CONVERSAR COM UM ESTRANHO", "A POLÍCIA BUSCA O HOMEM ACUSADO DE RAPTAR MENINA EM CAMBRIDGE", "SUPOSTO MÉDIUM AFIRMA TER ENTRADO EM CONTATO COM ENTIDADE VISTA POR CRIANÇAS".

Alana continua lendo a última manchete.

ALANA (CONT’D)

(em voz alta) Kenny Gallagher, conhecido médium londrino, afirma saber sobre a identidade de entidade que aparentemente vem causando desaparecimentos pelo país.


 

INSERT:


 

Na última linha do texto: "PARA CONTATO, GALLAGHER DEIXA SEU NÚMERO: (TEXTO DESFOCADO)".


 

CENA 6. QUARTO DE HOTEL. INTERIOR. NOITE.


 

Ambiente simplório e escuro, com uma cama de solteiro, um armário, uma penteadeira amontoada de livros e um telefone. Uma MÃO MASCULINA atende o aparelho.

VOZ MASCULINA

(O.S.) Pois não?

ALANA

(V.O.) Boa noite. Poderia falar com o senhor Kenny Gallagher?

VOZ MASCULINA

(O.S.) É ele. Quem gostaria?


 

CÂMERA revela o rosto de KENNY (faixa dos 70, cabelos brancos, muitas rugas).


 

CENA 7. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ALANA. INTERIOR. NOITE.

Alana com o telefone no ouvido.


 

ALANA

Meu nome é Alana Maxwell. Sou psiquiatra de Los Angeles e estou na Inglaterra a serviço do governo. Desculpe ligar essa hora. Você ainda reside em Londres?


 

SOM de algo muito pesado batendo no chão. Alana se vira, curiosa.


 

CENA 8. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE LIZZIE. INTERIOR. NOITE.


 

Usando um vestido branco de voal, Lizzie dança alguma música e cantarola. Ela olha pelo espelho e vê Cruella parada na porta. Cruella aplaude e entra.

CRUELLA

Bravo! Por que parou? Eu estava adorando.


 

LIZZIE

(desconfiada) O que você está fazendo aqui?

CRUELLA

Acredito que fui atraída pelo seu indiscutível talento.


 

Cruella aproxima-se e nota os lábios de Lizzie pintados de vermelho.


 

CRUELLA (CONT’D)

É uma ótima cor. Combina com seu tom de pele.

                    LIZZIE

(sorri) Você acha?

                    CRUELLA

Oh, querida! Olhe bem pra você.


 

Cruella fica atrás de Lizzie e as duas se olham pelo espelho. Cruella alisa o rosto da menina.

CRUELLA (CONT’D)

Você é uma menina muito bonita. Talvez a mais bonita que já passou por aqui.


 

                    LIZZIE

Você fala sério?


 

CRUELLA

Lógico. Por que eu mentiria? Você é linda, Lizzie. Você tem algo que nenhuma outra tem. Você é real. Não tem medo de ser quem é. E essa é a maior qualidade que alguém pode ter.


 

                    LIZZIE

As outras crianças não pensam assim. Eles me odeiam.

Cruella se agacha e olha nos olhos da menina.

                    CRUELLA

E você se importa com a opinião deles? Eles são chatos.

                    LIZZIE

É que as vezes eu gostaria muito de ter um amigo.

                    CRUELLA

Não precisamos de amigos, meu anjo. Amigos são distrações.

                    LIZZIE

Posso te pedir uma coisa?

                    CRUELLA

Pode.

                    LIZZIE

Você me deixaria ainda mais bonita com as suas maquiagens?

                    CRUELLA

Não veria problema nisso.

Cruella se levanta e anda pelo ambiente.

                    LIZZIE

Você não está aqui de graça. Eu conheço você.

                    CRUELLA

Bom, percepção é outro ponto positivo em você. Eu posso te emprestar meu estojo de maquiagens, mas você precisa fazer algo especial.


 

                    LIZZIE

O que você quer?


 

CRUELLA

Não é algo difícil para uma menina... dotada de qualidades interessantes.


 

Cruella retira do bolso um pequeno frasco com um líquido esverdeado e entrega para ela. Lizzie pega o frasco e observa, curiosa.


 

                    LIZZIE

O que é isso?

                    CRUELLA

Você não vai gostar de saber.

                    LIZZIE

O que eu preciso fazer com isso?

Cruella encara Lizzie com um sorriso magnético.


 

CENA 9. CHATEAU MARMONT. SUÍTE DE CRUELLA. INTERIOR. NOITE.


 

Em vários cortes, a CÂMERA mostra Cruella prendendo sua cinta-liga, colocando um elegante vestido preto, calçando sapatos de salto altíssimos, prendendo um colar de diamantes no pescoço, passando batom nude nos lábios e arrumando seus cabelos num rabo de cavalo. Ela vê seu visual no espelho e sorri.


 


 

                    CRUELLA

                    Linda.


 

                    REVERENDO FAIN

(V.O.) Você é uma ave rara, Cruella.


 

CENA 10. CHATEAU MARMONT. SALA. INTERIOR. NOITE.


 

Cruella e o Reverendo Fain jantam em torno de uma mesa redonda, onda há algumas panelas, bem como uma garrafa de vinho. O ambiente é iluminado pelas velas de candelabros sobre a mesa.


 

CRUELLA

Devo aceitar isto como crítica ou elogio?


 

REVERENDO FAIN

Elogio, é claro. Jamais criticaria alguém que comanda o Chateau com tamanha maestria.


 

CRUELLA

Bem, obrigada.


 

Reverendo Fain dá uma garfada na comida e limpa a boca com pano branco.


 

                    CRUELLA (CONT’D)

Vinho?


 

Cruella vai encher o copo de Fain, mas ele a impede.

REVERENDO FAIN

Não bebo mais desde que fiz os votos.


 

                    CRUELLA

Melhor pra mim.

Cruella enche seu copo.

                    REVERENDO FAIN

Está delicioso. Nunca havia conhecido esse seu lado. É mais uma das suas inúmeras qualidades.

CRUELLA

(ri) Você é o único que consegue me enxergar pelo que eu realmente sou. Quando me colocou no comando do orfanato, achei que sua confiança viesse de uma visão comum do poder de Deus e sua benevolência.

                    REVERENDO FAIN

E é.

                    CRUELLA

Reverendo, eu preciso saber como o senhor encontrou o Dr. Hermann. Ele não é um homem de Deus.

REVERENDO FAIN

A Igreja o aprovou. Foi enviado por pessoas capazes de avaliar a santidade dele.

CRUELLA

Diga o que quiser. Sua ave rara sabe identificar roedores.

Fain pega na mão de Cruella.


 

REVERENDO FAIN

Eu sei que vocês tem suas diferenças. É o que acontece quando duas personalidades tão parecidas se colidem.

CRUELLA

Eu não sou parecida com ele.

REVERENDO FAIN

Pelo bem deste orfanato, eu preciso que você e Hermann se respeitem.

Você não precisa gostar dele, mas não deixe o ódio tomar conta do seu coração.


 

CRUELLA

Será difícil Reverendo.

REVERENDO FAIN

Eu quero que essa instituição tenha tanto futuro e renome que quando eu for escolhido como o próximo Papa no Vaticano, você possa dar continuidade ao que eu construí há

50 anos.


 

CRUELLA

Está falando sério?

REVERENDO FAIN

Quero que você seja minha substituta, Cruella.

CRUELLA

Eu jamais negaria isso.


 

Quando Fain vai tentar falar, sua voz embarga. Ele tenta fixar seu olhar para Cruella, mas fica confuso, perde a noção do espaço.


 


 

                    REVERENDO FAIN

Cruella...


 

                    CRUELLA

Quer me dizer alguma coisa?

                  REVERENDO FAIN

Eu...


 

As mãos de Fain começam a tremer. Ele começa a suar frio. Cruella franze a testa.


 

CRUELLA

Está passando mal, Timothy? Quer que eu chame o dr. Hermann?

REVERENDO FAIN

(ofegante) Você nunca me chamou dessa forma...


 

Fain sente uma fisgada em deu peito e dá um lancinante grito de dor. Cruella sorri.

                    CRUELLA

Reverendo?

                    REVERENDO FAIN

(murmura) Algo está acontecendo comigo.


 

Cruella levanta-se e põe suas mãos nos ombros do homem, que começa a tossir e ficar vermelho.

CRUELLA

Você estava prestes a dizer que eu sou a melhor mulher do mundo, que não há ninguém como eu... (no ouvido) Duvido que você não tenha uma atração sexual forte por mim.

                    REVERENDO FAIN

(alto) Cale-se!

O Reverendo se levanta. Cruella se afasta, divertindo-se.

                    REVERENDO FAIN

Por que você está dizendo essas coisas? Eu/...


 

Ele engasga e, com os olhos petrificados, vê a comida em seu prato.


 

                    REVERENDO FAIN

(fraco) O que... você... fez?

                    CRUELLA

Eu? Timothy... Eu não fiz nada.


 

CENA 11. CHATEAU MARMONT. COZINHA. INTERIOR. NOITE.


 

Algumas panelas fervendo comida nas bocas acesas de um enorme fogareiro. Lizzie caminha pelo local, abre uma das janelas e joga o líquido esverdeado do pequeno frasco.


 

                    LIZZIE

Vai ficar delicioso!

Ela abre a outra panela e derrama mais um pouco do líquido.

                    LIZZIE (CONT’D)

Apenas um toque de... (ri) Amor! Muito amor!


 

Lizzie começa a gargalhar maleficamente. A CÂMERA vai dando um CLOSE no rosto dela e a IMAGEM vai se distorcendo.


 

CENA 12. CHATEAU MARMONT. SALA. INTERIOR. NOITE.


 

Continuação da cena 10. O Reverendo avança em Cruella. Ela agarra o pescoço dele e o pressiona contra a parede.

                    CRUELLA

Você nunca deveria ter permitido que Bernard entrasse nesse orfanato.


 

REVERENDO FAIN

(engasgado) Você... Me... Enganou...


 

CRUELLA

(grita) Calado!


 

Cruella se afasta e o Reverendo desaba no chão. Com os olhos arregalados, ele começa a se debater.

                    REVERENDO FAIN

(murmurando) Cruella...

                    CRUELLA

Não tenha medo, Timothy.

Ela se ajoelha e fala no pé do ouvido dele.

                    CRUELLA (CONT’D)

Deve ser uma sensação horrível saber que vai morrer... Sentir a sua energia vital se esvaindo a cada segundo. Mas logo logo você não vai sentir mais nada. Apenas pare de lutar, Timothy.

O Reverendo dá um gemido agoniado e seus olhos congelam.

                    CRUELLA (CONT’D)

Que tragédia. A melhor parte?


 

Cruella se levanta e, irônica, observa o corpo.

CRUELLA (CONT’D)

Esse orfanato agora é meu.


 

Ela caminha na direção da porta e sua expressão de vitória transforma-se rapidamente em completo desespero.

CRUELLA (CONT’D)

(grita) Socorro! Preciso de ajuda! Por favor!


 

E sai correndo do local. CÂMERA foca no rosto desfalecido do Reverendo.


 


 

FIM DO ATO I ATO II

FADE OUT.


 

FADE IN:


 


 

CENA 13. CHATEAU MARMONT. QUARTO DO DR. HERMANN. INTERIOR. NOITE.

Hermann dorme em sua cama. BATIDAS na porta.

                    CHARLOTTE

(V.O.) Doutor Hermann!

Ele se acorda no susto e olha para os lados, meio zonzo.

                    CHARLOTTE (CONT’D)

(V.O.) Nós precisamos de você! Abra a porta!


 

Hermann calça seus chinelos, desce da cama e abre a porta. Vê Charlotte.


 

                    HERMANN

(afoito) O que foi?

                    CHARLOTTE

É o Reverendo.

CLOSE em Hermann.


 

CENA 14. CHATEAU MARMONT. CONSULTÓRIO DO DR. HERMANN. INTERIOR. NOITE.


 

O Reverendo deitado na maca, desacordado, sendo monitorado. Hermann aproxima-se com o desfibrilador e Charlotte aumenta a potência do aparelho. Letha na porta, angustiada.

                    HERMANN

Agora.


 

Hermann aciona o aparelho no peito do Reverendo, mas os batimentos não voltam.

HERMANN (CONT’D)

Mais forte, outra vez.


 

Aciona novamente. Nenhum batimento. Hermann larga o aparelho e baixa a cabeça. Os olhos de Charlotte se enchem de lágrimas. Letha respira fundo e vai embora dali.


 

CENA 15. CHATEAU MARMONT. SUÍTE DE CRUELLA. INTERIOR. NOITE.


 

As portas são abertas por Letha. Cruella está sentada num sofá, simulando choro.

CRUELLA

(se levanta) E então?

LETHA

Você já pode começar a escolher o seu melhor vestido preto.

Cruella sorri e sai do ambiente.


 

CENA 16. CHATEAU MARMONT. SALA SECRETA. INTERIOR. NOITE.


 

Rosie e Griffin estão presos pelas mãos e pés em uma grade quadriculada suspensa na parede. Alexia sai das sombras e caminha ao redor deles, ameaçadora.

ALEXIA

Muito bem... Vejamos o que temos aqui. Duas crianças que se meteram onde não foram chamadas.

ROSIE

(se debate) Tira a gente daqui.

ALEXIA

(sorri) Rosie Tate. Eu já sabia que você era corajosa. Matar seu pai foi um ato de coragem.

                    (MORE)

ALEXIA (CONT’D)

Só não imaginava que tamanha bravura fizesse você perder sua própria vida.

                    ROSIE

O que você quer dizer com isso?

                    ALEXIA

Tão corajosa, mas tão estúpida...

                    ROSIE

(grita) Deixe a gente sair daqui!

                    ALEXIA

Vamos encarar a realidade. Vocês jamais vão sair daqui. Vocês descobriram um lugar que não deveria ser descoberto.

                    ROSIE

(grita) Você matou a Shelley!

                    ALEXIA

Não, eu não matei.

                    GRIFFIN

(alto) Então o que você fez com o corpo dela?

                    ALEXIA

Me livrei dele. É dessa forma que nos certificamos que problemas sejam solucionados aqui no Chateau.

                    GRIFFIN

Você não pode nos matar. Pessoas sentirão nossa falta e virão atrás de nós.


 

ROSIE

A psiquiatra. Alana. Ela se importa comigo e vai denunciar vocês para a polícia.


 

ALEXIA

Querida, ninguém se importa com vocês. Muito menos aquela psiquiatra. Aposto que ela mal pode esperar para condenar você e sua irmã para a cadeira elétrica.


 

Alexia vai até uma pequena mesa quadrada ao fundo do local e pega um facão. Ela retorna e passa a lâmina pelo corpo de Griffin.


 

GRIFFIN

(desesperado) O que você vai fazer com isso?


 

ALEXIA

Deixe-me pensar como vou matar você... (suspira) São tantas opções.


 

                    ROSIE

(grita) Não!

                    ALEXIA

Que tal a garganta?


 

Alexia coloca o facão no pescoço de Griffin, que respira ofegante.


 

ALEXIA (CONT’D)

Apenas um corte e você morre. Você vai sentir dor no início, mas vai passar.


 

GRIFFIN

(murmura) Você...


 

E uma gosma branca começa a sair da boca de Griffin. Os olhos dele se reviram e o menino começa a convulsionar. O facão na mão de Alexia voa na direção do chão e ela se afasta, surpresa.


 

ALEXIA

Quem está fazendo isso?


 

Rosie também começa a convulsionar e uma força misteriosa joga o corpo de Alexia contra a parede, deixando-o suspenso no ar.


 

ALEXIA (CONT’D)

(grita) Pare com isso!

VOZ MASCULINA

(V.O.) Qual é a sensação de sentir indefesa?


 

Inúmeras partículas escuras voam pelo ar e juntam-se, formando a silhueta do Slenderman. Alexia começa a gritar, em pânico. A entidade alonga seus braços e os enrola em torno do corpo dela. A força da criatura vai asfixiando Alexia, que fica com o rosto roxo. De repente, a criatura vira poeira e Alexia despenca no chão, inconsciente.


 

Rosie e Griffin são desprendidos de suas amarras e também caem no chão. Machucada, Rosie ergue o rosto e vê Alexia desacordada. Griffin se levanta e ajuda a menina.

                   GRIFFIN

Você está bem?

                    ROSIE

(mão na cabeça) O que aconteceu?

                   GRIFFIN

Não consigo me lembrar.

                    ROSIE

Precisamos fugir agora.


 

CENA 17. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.


 

Griffin salta de uma janela do primeiro andar e dá a mão para Rosie também sair. A janela se bate com força. As crianças saem correndo de mãos dadas pelo jardim até embrenharem-se na floresta. CÂMERA aproxima-se de uma das janelas e revela Alana vendo tudo pelo vidro.


 

CENA 18. CHATEAU MARMONT. CONSULTÓRIO DO DR. HERMANN. INTERIOR. NOITE.


 

Hermann cobre o corpo desfalecido do Reverendo com um pano branco. Charlotte guarda os utensílios do médico em seu armário. Cruella entra.

                    CRUELLA

Ele realmente está morto?

                    HERMANN

Você não parece tão surpresa.


 

Cruella encara Charlotte, que baixa a cabeça e sai dali. Quando a porta se fecha, Cruella aproxima-se do corpo.

                    CRUELLA

Qual foi a causa da morte?

                    HERMANN

Ataque cardíaco.

                    CRUELLA

Não sabia que o Reverendo possuía problemas no coração.


 

                    HERMANN

Ele não possuía. Sei disso porque era médico dele.

                    CRUELLA

Bom, ele já estava velho, não? Coisas assim acontecerem do nada é bastante normal.

                    HERMANN

Talvez seja.

                    CRUELLA

É uma grande perda. Concorda?

                    HERMANN

Pare ser patética Cruella. Não estamos sendo gravados aqui, muito menos observados por estranhos.

Você não está dando a mínima para a morte do Reverendo.

                    CRUELLA

Não aja como se você se importasse.

                    HERMANN

Eu me importo. Ele era meu amigo. Timothy foi a primeira boa pessoa que encontrei quando cheguei de Munique.


 

CRUELLA

Devo chorar com tamanha demonstração de carinho?

HERMANN

Eu acho muito estranho ele ter morrido ao mesmo tempo que jantava com você.


 

CRUELLA

O que está tentando insinuar?

HERMANN

Que talvez o coração dele tenha ganhado um pouco de impulso para parar de funcionar. Além disso, Fain tem marcas no pescoço, que indicam tentativa de estrangulamento.

CRUELLA

Ele pressionou a própria garganta enquanto tinha o ataque.


 

HERMANN

Eu não sei o que você fez, mas isso não vai ficar assim.

Cruella sorri e caminha pelo local.

CRUELLA

Vamos supor que eu matei o Reverendo. O que você pode fazer? Nada. Você é nada, Bernard.

HERMANN

Não me subestime, Cruella.

CRUELLA

Você é nada e continuará como um nada. E é melhor começar a mudar o pensamento. Serão novos tempos aqui no Chateau. A partir de agora, não tem mais Reverendo para te proteger. Quando eu tomar o controle total dessa instituição, vou fazer você voltar de carroça para a Alemanha.

Cruella o encara e sai. CLOSE em Hermann.


 

CENA 19. CABANA NA FLORESTA. EXTERIOR. NOITE. PLANO GERAL.


 

CENA 20. CABANA NA FLORESTA. INTERIOR. NOITE.


 

Griffin empurra um pequeno armário contra a porta. Rosie sentada no chão, de cabeça baixa.

GRIFFIN

(espia pela janela) Acho que ninguém nos viu fugir. Estamos seguros aqui.

ROSIE

Tem certeza que ninguém sabe desse lugar?


 

GRIFFIN

(senta ao lado dela) Não tenho.

ROSIE

(olha pra ele) O que a gente faz agora? Não podemos voltar pro Chateau e muito menos fugir.


 

GRIFFIN

Eu não sei. Nós estamos encrencados, Rosie. Muito encrencados.

ROSIE

Ainda não consigo esquecer o que vi naquele lugar. Eles matam crianças, Griffin! Que tipo de gente eles são? Assassinos? Canibais?

GRIFFIN

Talvez as duas coisas.

ROSIE

Shelley era uma menina tão boa. Percebi isso logo nos primeiros minutos que conversei com ela. Ela não merecia morrer.

GRIFFIN

O Lachlan deve estar se sentindo muito sozinho.

                     ROSIE

E quanto a minha irmã?

Rosie se levanta e vai até a janela.

                    ROSIE (CONT’D)

Ela ainda pode estar lá dentro. Ou pior. Ela pode estar... (pausa) Não quero nem pensar nessa hipótese.

GRIFFIN

Se tivéssemos um telefone, poderíamos ligar pra polícia.

                     ROSIE

Nós não temos nada!

                    GRIFFIN

Ei! Espera!


 

Griffin corre até um dos armários e vai revirando algumas coisas. Rosie curiosa.

                    ROSIE

O que é?

                   GRIFFIN

Nós podemos usar isso.


 

Griffin pega uma maleta de couro, joga no chão e abre. Lá dentro está um rádio comunicador.

ROSIE

Oh meu Deus, podemos tentar contactar alguém que viva por perto. Ele funciona?

GRIFFIN

Eu não sei. Está guardado a tanto tempo.


 

Griffin tenta ligar o aparelho, mas sem sucesso. Quando vai retirá-lo da maleta, ele se desmonta em suas mãos.

GRIFFIN (CONT’D)

Eu acho que não vamos poder usar isso.


 

                     ROSIE

(se levanta) Ótimo.

                    GRIFFIN

Posso tentar arrumar.

                    VOZ FEMININA

(V.O.) Socorro!

Rosie se alerta e volta para a janela.

                    ROSIE

Ouviu isso?

                    GRIFFIN

O quê?
 

           ROSIE

Escuta.   
 

                    VOZ FEMININA

(V.O.) Por favor! Socorro!

                     ROSIE

É a Lily!

                    GRIFFIN

Como pode ter tanta certeza?

ROSIE

Eu conheço a voz da minha irmã. Ela deve estar perdida na floresta.

Esqueça essa velharia, vamos atrás dela.


 

                    GRIFFIN

Tem certeza?

                    ROSIE

Me ajude a tirar essa tralha aqui.


 

Rosie e Griffin retiram o armário da porta. Rosie abre e sai correndo. Griffin respira fundo e vai atrás dela.


 

CENA 21. FLORESTA. EXTERIOR. NOITE.


 

Rosie corre através da árvores, afoita, em completo desespero. Griffin vem logo atrás dela, mais devagar, tentando acompanhá-la. Rosie para, alerta. Griffin ofegante.

                   GRIFFIN

(respira fundo) Rosie...

                    ROSIE

Shhh...


 

GRITOS novamente. Rosie muda a direção e volta a correr. Griffin arregala os olhos e vai atrás da menina. Em determinado momento, uma sombra surge de alguns arbustos e fica no caminho das crianças. Griffin e Rosie arregalam os olhos. É Alana.


 

ALANA

O que vocês estão fazendo aqui fora?

CLOSES DESCONTÍNUOS entre eles.


 

FIM DO ATO II 

ATO III


 

FADE OUT.


 

FADE IN:


 


 

CENA 22. CHATEAU MARMONT. SALA SECRETA. INTERIOR. NOITE.


 

A porta de ferro se abre e Cruella entra. Ela vê Alexia desmaiada no chão e corre até ela.

                    CRUELLA

Alexia!

Cruella se ajoelha e sacode a cabeça da mulher.


 

CRUELLA (CONT’D)

Fala comigo! O que fizeram com você? (alto) Alexia!

CLOSE no rosto desacordado de Alexia.


 

CENA 23. FLORESTA. EXTERIOR. NOITE.


 

Continuação imediata da cena 21. Alana enfrentando Rosie e Griffin.


 

ALANA

Vocês estão fugindo, é isso? Não posso deixar isso acontecer. Vocês precisam voltar comigo agora.

ROSIE

(se afasta) Não podemos voltar para o orfanato.

GRIFFIN

Por favor. Eles vão nos matar.

ALANA

Do que vocês estão falando? Vocês vão voltar comigo sim! Não posso ser conivente com essa fuga!

ROSIE

Não estamos fugindo!

ALANA

Eu não sou estúpida, Rosie. Sei exatamente o que está havendo aqui.

ROSIE

Estamos procurando minha irmã. Lily está desaparecida.

ALANA

(curiosa) O quê?

ROSIE

Não sei direito o que aconteceu. Eu acordei e vi que ela tinha sumido no quarto, por isso pedi ajuda ao Griffin para procurá-la.

ALANA

Se isso é verdade, por que não me chamou? Eu te ajudaria.


 

ROSIE

Você não entende!

GRIFFIN

As coisas não são tão simples assim. Você não viu o que nós vimos.


 

ALANA

(confusa) O que estão dizendo?

ROSIE

Nós achamos que Alexia poderia ter algo a ver com o sumiço de Lily, por isso a seguimos no Chateau e foi através de um túnel subterrâneo que encontramos um ambiente que não conhecíamos, uma espécie de fábrica.


 

GRIFFIN

É! Uma fábrica! Eles matam pessoas lá! Como nos filmes de terror!

ROSIE

Nós encontramos o corpo da Shelley lá. Ela não fugiu. Ela foi morta e de alguma forma eles usam uma máquina arrepiante para se livrar do corpo.


 

ALANA

Esperem, calma! Isso tudo está me soando fantasioso demais.

ROSIE

Não li sobre isso num livro de suspense, Alana. Nós estamos falando a verdade!

GRIFFIN

E aquela moça, Alexia, nos prendeu numa sala e iria nos matar, pois descobrimos seu lugar secreto, mas conseguimos fugir.

ROSIE

É por isso que não podemos voltar para o orfanato. Ela vai nos matar, você me entendeu?


 

ALANA

Eu sei que há algo de estranho nesse lugar, mas não tão fantasioso quanto isso que vocês me contaram.

ROSIE

Nós ouvimos os gritos da minha irmã. Ela está perdida na floresta ou até mesmo sendo levada por alguém. Eu preciso procurá-la.

ALANA

Calma! Fica calma! Eu posso ajudar vocês.


 

ROSIE

Não confio em você. Na primeira oportunidade, você vai nos entregar para todos eles.

ALANA

Eu não vou fazer isso, ok? Se essa história é verdade, proponho um acordo. Eu ajudo vocês a procurar a Lily e assim que encontrarmos, vamos até a polícia esclarecer todos esses fatos. O que acham?


 

Griffin olha para Rosie e concorda com a cabeça. Rosie respira fundo.


 

ROSIE

Tudo bem! Pode ser.

ALANA

Ótimo. Em qual direção vieram os gritos de Lily?

ROSIE

(aponta) Para aqueles lados, perto da clareira.

ALANA

Bem, vamos lá. Fiquem de olhos abertos. Atentos! Não sabemos o que se esconde por aqui.

Rosie concorda e sai junto de Griffin. Alana os segue.


 

CENA 24. CHATEAU MARMONT. SUÍTE DE CRUELLA. INTERIOR. NOITE.


 

Alexia deitada de camisola na cama. Cruella ao lado dela, dando-lhe um copo d'água.


 

                    CRUELLA

Beba. Vai te fazer bem.

                    ALEXIA

(dá um gole) Obrigada.

Alexia entrega o copo e Cruella coloca no criado-mudo.

                    CRUELLA

Me diga o que aconteceu.

                    ALEXIA

Eu... Eu não sei. Foi como um pesadelo. Eu tinha as duas crianças, só que de repente algo me prendeu contra a parede. Havia uma criatura, Cruella. Algo como eu nunca havia visto antes. Achei que ela fosse me matar.

                    CRUELLA

Essa história está muito confusa. Você deve ter tido algum tipo de colapso.


 

ALEXIA

Não. Eu estava consciente. Tenho certeza disso. O que eu vi foi real.


 

                    CRUELLA

Claro que foi. (beija a cabeça dela) Agora está tudo bem.

                    ALEXIA

Mas as crianças fugiram. Você não teme que elas contem o que viram pra alguém?

                    CRUELLA

Não.

Cruella se levanta.

                    CRUELLA (CONT’D)

Ninguém acreditaria. Além do mais, duvido que aqueles dois passem pela floresta. Com sorte, já estão mortos.


 

ALEXIA

E o que você vai dizer para a psiquiatra? Ela veio aqui pelas irmãs Tate.


 

CRUELLA

Vou dizer que elas fugiram. Pronto. Se ela não quiser acreditar, o problema é dela.

ALEXIA

Não tenho tanta certeza que Lily Tate fugiu. Ela desapareceu.

Suspeito que tenha a ver com o Dr. Hermann.


 

CRUELLA

Esse verme. Doutorzinho maldito. Ele não perde por esperar. Nós vamos controlar tudo, meu amor. Sem o Reverendo, serei eu quem ditará as regras do jogo por aqui.

ALEXIA

Alguém poderá suspeitar da morte de Timothy?


 

                    CRUELLA

Claro que não. O veneno era natural, decorrente de uma mistura feita com algumas flores que Letha plantou no jardim. Para todos os casos, ele teve um ataque natural.

                    ALEXIA

Você sabe que eles irão abrir o testamento do Reverendo.

                    CRUELLA

Eu sei e conto com isso. Ele deixou a propriedade para mim, é claro. Já havia me prometido. E quando eu assumir o controle, vou ter o prazer de mandar aquele alemão insuportável para o olho da rua.

                    ALEXIA

Eu acredito em você.

Cruella aproxima-se da janela e o vidro reflete sua imagem.

                    CRUELLA

Há uma tempestade chegando, Alexia. Eu estou trazendo ela.

CLOSE em Cruella.


 

CENA 25. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE CHARLOTTE. INTERIOR. NOITE.


 

Ambiente simples, com apenas um armário, uma cama de solteiro e uma cruz de madeira na parede. Charlotte dorme placidamente, com parte das pernas fora da coberta.


 

A porta se abre lentamente. Hermann entra, pé por pé, e observa o sono da jovem de longe. Ele se aproxima da cama e tenta encostar nas pernas de Charlotte, mas ela se acorda.

                    CHARLOTTE

(confusa) Doutor?

Hermann paralisa. Charlotte se cobre, envergonhada.

                    CHARLOTTE (CONT’D)

O que você está fazendo aqui?

                    HERMANN

Vim ver se você estava precisando de alguma coisa. Me desculpe, não tinha a intenção de acordar.

CHARLOTTE

Oh doutor Hermann. Você não precisa se desculpar. É tão generoso em se preocupar comigo. De fato, ando dormindo muito mal graças aos últimos acontecimentos.

HERMANN

Você sabe que posso te ajudar no que precisar para melhorar o sono.

CHARLOTTE

(sorri) Você e suas poções milagrosas.

Hermann senta-se no pé da cama.

HERMANN

Charlotte, eu sinto que preciso te agradecer.


 


 

                    CHARLOTTE

Por quê?


 

                    HERMANN

Você sabe que existe uma campanha muito forte, liderada por Cruella e Letha, contra mim neste orfanato.

Mesmo assim, você sempre está do meu lado.


 

CHARLOTTE

Eu não me importo com o que dizem de você. Confio em você. Sei que é bom.


 

                    HERMANN

Você, como sempre, me ajuda muito. Mais cedo, quando tive aquele colapso, se não fosse seu auxílio, acho que teria morrido.

                    CHARLOTTE

Não foi nada.

Hermann pega na mão de Charlotte, que fica corada.

                    HERMANN

Queria fazer algo por você.

                    CHARLOTTE

(tensa) Você já faz doutor.


 

E Hermann vai aproximando seus lábios dos lábios da jovem. Ela hipnotizada.


 

                    CHARLOTTE (CONT’D)

(murmura) Doutor...

                    HERMANN

(sussurra) Não fala nada.


 

O médico beija Charlotte delicadamente. Ele passa as mãos pela perna dela até chegar em sua região genital e, assustada, ela o afasta.

                    CHARLOTTE

Não!

                    HERMANN

Não seja durona!


 

Hermann insiste e agarra Charlotte, que tenta se desvencilhar dele.


 

CHARLOTTE

(nervosa) Me solta doutor!

HERMANN

(começa a rir) Vem cá, vem. Para com isso. Sei que você sempre teve vontade.


 

                    CHARLOTTE

(começa a chorar) Por favor!


 

Hermann monta nela e começa a arrancar sua roupa. Charlotte começa a gritar, mas ele tampa sua boca com uma das mãos.

HERMANN

(murmura) Eu vou te dar um remédio que vai te fazer dormir direitinho, Charlotte.


 

Ele abre as calças e, abruptamente, penetra em Charlotte. Charlotte chora ainda mais. Hermann faz movimentos bruscos e geme, enquanto a cabeceira da cama bate na parede.


 

CORTA PARA a cruz na parede. Em OFF, ouvem-se os gemidos de desespero da menina.


 

CENA 26. FLORESTA. INTERIOR. NOITE.

Rosie, Griffin e Alana estão caminhando entre as árvores.

GRIFFIN

Eu tô dizendo que a gente já passou por aqui. Nós estamos andando em círculos.


 

                     ROSIE

Não podemos parar.

                     ALANA

Esperem.

Os três param. Alana apoia-se no tronco de uma árvore.

                    ALANA (CONT’D)

Estamos perdendo tempo andando de um lado pro outro. Essa floresta é enorme. Em pouco tempo, vamos nos perder.


 

ROSIE

(olha para os lados) O que acha que devemos fazer?

GRIFFIN

Vamos nos separar.

ALANA

Não! Aí será apenas mais um perdido. (aponta) Vamos naquela direção.


 

ROSIE

Eu não vou sair daqui sem a minha irmã.


 

                     ALANA

Vai amanhecer em algumas horas. Se até lá não encontrarmos a Lily, eu vou nas autoridades.

Rosie concorda e sai caminhando. Os outros dois a seguem.

                     ROSIE

(grita) Lily! Onde você está?

                     ALANA

(grita) Lily!


 

Uma sombra passa pelas costas de Griffin. Ele se vira, assustado.


 

                    GRIFFIN

Lily?

Silêncio absoluto.


 

                    GRIFFIN (CONT’D)

Meninas, eu acho que vi alguma coisa.


 

Griffin percebe que Rosie e Alana não estão mais ali e arregala os olhos.


 

                    GRIFFIN (CONT’D)

Meninas?


 

Algo se mexe dentro de alguns arbustos. Griffin enche os olhos de lágrimas e sai correndo na direção contrária.


 

CORTA PARA outra parte da floresta. Enquanto Rosie toma frente, Alana olha para trás e percebe a ausência de Griffin.

                    ALANA

Rosie. Onde está o Griffin?

                    ROSIE

(olha para trás) Ele estava bem atrás de nós.

                    ALANA

Só faltava essa!

                    ROSIE

(grita) Griffin!


 

Rosie se desespera e retorna correndo. Alana respira fundo e vai atrás dela.


 

CORTA PARA Rosie correndo muito rápido entre as árvores. Ela para, ofegante, e olha para todos os lados, mas se vê sozinha.


 

ALANA

(V.O.) Rosie!


 

CORTA PARA outro ponto do local. Alana sai do meio de alguns arbustos.


 

                    ALANA (CONT’D)

(grita) Rosie! Griffin!

A psiquiatra põe as mãos na cintura, preocupada.

                    ALANA (CONT’D)

Merda. Era tudo que não precisava acontecer.


 

Quando vai seguir caminhando, Alana tropeça em uma pedra e acaba caindo por uma ribanceira. Ela rola entre as folhas e cai nas margens de um rio.


 

Machucada, Alana ergue sua cabeça e, ainda zonza, vê, do outro lado da água, Lily ao longe, de mãos dadas com o Slenderman.


 

ALANA (CONT’D)

(murmura) Lily?


 

Com dificuldade, Alana se levanta e avança em direção ao rio, desesperada.


 

ALANA (CONT’D)

Lily! (grita) Lily!


 

Lily vira o rosto, assustada. Alana para no meio da água, nervosa. Lentamente, o corpo do Slenderman se contorce para trás e Alana leva um choque ao ver a cabeça sem rosto e cheia de veias.


 

ALANA (CONT’D)

Oh meu Deus...


 

O Slenderman se estica na direção de Alana, que, ao dar dois passos para trás, tropeça e cai na água. Ela vai se arrastando na direção da margem, mas as mãos da criatura enrolam-se em seus pés.

ALANA (CONT’D)

(grita) Socorro! Alguém me ajuda!


 

Slenderman ergue o corpo de Alana, enquanto um buraco negro se abre em sua cabeça.


 

Uma aterrorizante língua cheia de espinhos sai de lá de dentro e encosta no rosto da psiquiatra, que fecha os olhos, em completo desespero.

LILY

(O.S.) Ela não!


 

CÂMERA revela Lily logo atrás da criatura, encarando-a. O Slenderman se desintegra no mesmo instante e partículas de seu corpo espalham-se pelo ar. Alana desaba na água. Lily corre até ela.


 

LILY (CONT’D)

Alana! Você está bem?

ALANA

(fraca) Lily... (pega na mão dela) Você está salva.

LILY

Sim, eu estou. Você consegue se mexer?


 

ALANA

Eu acho que sim.


 

Lily ajuda Alana a sentar-se. Alana dá um sorriso nervoso e as duas se abraçam.


 

                    LILY

Você o viu.

      ALANA

O que acabou de acontecer aqui?

                    LILY

Ainda não acabou. Ele precisa levar alguém esta noite.

Alana e Lily trocam olhares amedrontados.


 

FIM DO ATO III 

ATO FINAL


 

FADE OUT.


 

FADE IN:


 


 

CENA 27. FLORESTA. EXTERIOR. NOITE.


 

Rosie sentada no pé de uma figueira, de cabeça baixa, chorando e tremendo de frio.


 

LILY

(O.S.) Rosie?


 

A menina ergue seus olhos e vê a irmã junto de Alana. Imediatamente, uma corre na direção da outra e elas se dão um caloroso abraço.


 

ROSIE

Lily. Graças a Deus você está bem. Eu fiquei com tanto medo de te perder.


 

                      LILY

Eu achei que nunca mais fosse te ver novamente, irmã.

Rosie vê Alana, que está visivelmente emocionada.

                     ROSIE

Você a encontrou.

                      LILY

Alana me salvou.

                     ALANA

Ele estava levando ela, Rosie. Eu o vi.
 


                      ROSIE

Ele quem?          
 

                     LILY

O Slenderman.

ALANA

Ele não é uma lenda. Ele é real. Eu duvidava no início, mas agora sei que é real. Ele sequestrou Molly e também levaria Lily.

LILY

Ele ainda vai levar alguém. É a regra. Ele não pode ir embora sem alguém.


 

                    ROSIE

O que nós vamos fazer agora?

E três se olham, sem saber o que dizer.


 

CENA 28. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE CHARLOTTE. INTERIOR. NOITE.


 

Charlotte está sentada no chão, apática, com as pernas abertas e o sangue escorrendo pelo carpete.

LETHA

(V.O.) Charlotte?


 

A ouvir a voz de Letha, a jovem começa a chorar, mas não tem forças para gritar. A porta se abre.

LETHA (CONT’D)

O que aconteceu/...


 

Letha vê o estado de Charlotte e põe as duas mãos na boca. Rapidamente, vai até ela e segura em sua mão.

LETHA (CONT’D)

Oh meu Deus... Charlotte, quem fez isso com você?

                    CHARLOTTE

(murmura) Do.. Do...

                     LETHA

O quê?


 

Charlotte agoniza. Letha vê que uma de suas mãos está suja de sangue.


 

                    CHARLOTTE

(murmura) Her...mann...

                    LETHA

Hermann?

 

                    CHARLOTTE

Hermann!


 

E a jovem desmaia. Letha começa a bater na cara dela, em desespero.


 

LETHA

Charlotte! Fala comigo! Fala comigo!

Letha dá um berro lancinante e se agarra na jovem.

LETHA (CONT’D)

(grita) Não! Ela não! (começa a chorar) Charlotte!

CLOSE no rosto desfalecido da moça.


 

CENA 29. FLORESTA. EXTERIOR. NOITE.

Griffin caminha sozinho, aparentemente sem destino.

                    ROSIE

(V.O./ao longe) Griffin!

                    GRIFFIN

(se vira) Rosie?


 

Ele corre mais para frente, em uma área mais aberta, sem grandes árvores.


 

GRIFFIN (CONT’D)

(grita) Eu estou aqui! Você consegue me ouvir?

ROSIE

(V.O./ao longe) Siga minha voz!


 

De repente, uma forte luz vinda do céu ilumina Griffin. A força dela é tão grande que ofusca seus olhos.


 

Imediatamente, Griffin começa a flutuar na direção do céu, enquanto se debate e grita. O corpo de Griffin se quebra no meio e a luz desaparece do nada, levando-o dali.

INSERT:

No chão, há um pedaço rasgado de uma camiseta vermelha.

                   ROSIE (CONT’D)

(O.S.) Griffin?

                     LILY

(O.S.) Vejam.

VOLTA À CENA.


 

Alana, Rosie e Lily chegam até o local e veem a roupa rasgada no chão.


 


 

                   ROSIE

É dele.


 

                   ALANA

Tem certeza?

LILY

O Slenderman faz sua escolha.


 

Alana olha para o céu, amedrontada, e encara a iluminada lua cheia.


 

CENA 30. CHATEAU MARMONT. TÚNEL. INTERIOR. NOITE.


 

Com seus olhos vermelhos, Letha empurra um carrinho de madeira através dos trilhos de ferro, carregando o corpo de Charlotte. Ela chega até a porta de ferro, abre com força e empurra o carro lá para dentro.


 

CENA 31. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE LIZZIE. INTERIOR. NOITE.


 

Cruella abre a porta e entra carregando um copo de leite. Lizzie está sentada na janela, olhando o jardim.

                    CRUELLA

Perdeu o sono?

                    LIZZIE

(sorri) Você voltou.

                    CRUELLA

Eu vim te trazer um delicioso copo de leite quentinho. Beba. Vai fazer bem.


 

                    LIZZIE

Obrigada, diretora.

Lizzie pega o copo e dá um discreto gole.

                    CRUELLA

Sabe Lizzie, o que você fez hoje... Deus... Foi tão corajoso.

Definitivamente você é melhor que Rosie Tate.

                    LIZZIE

Eu sou?

                    CRUELLA

Claro que é. Foi divertido, não foi?


 

                    LIZZIE

Muito divertido!

                    CRUELLA

Então. (pausa) Não esqueci do nosso acordo. Amanhã vou te dar suas novas maquiagens.

                    LIZZIE

Eu estou tão ansiosa!


 

CRUELLA

Sei que está, mas beba seu leite. Vai ficar frio.


 

Lizzie concorda e dá um bom gole na bebida. Segundos depois, sente-se tonta.


 

                    LIZZIE

(mão na cabeça) Por que estou me sentindo estranha?

Ela deixa o copo cair e se quebrar no chão.

                    CRUELLA

Não tenho ideia.

                    LIZZIE

(murmura) Eu...


 

Lizzie vai caminhar, mas acaba caindo no chão. Antes de perder completamente os sentidos, do seu P.V., vê Cruella aproximando-se dela.


 

                    CRUELLA

Primeiro você dorme, querida, depois você morre.

E a visão de Lizzie vai se distorcendo até se apagar de vez.

FADE IN:


 

CENA 32. CHATEAU MARMONT. PAVILHÃO. INTERIOR. NOITE.


 

Lizzie abre seus olhos. Mesmo não conseguindo identificar o lugar onde está, percebe que está de cabeça para baixo.

                    LIZZIE

(grita) Socorro! Me tirem daqui!


 

INSERT:

Uma mão feminina aciona uma alavanca. O painel de controle se acende.

Uma esteira começa a girar. VOLTA À CENA.

Lizzie está presa pelos pés em uma estrutura de metal que se movimenta até a boca de um enorme caldeirão. A menina se debate, mas não consegue se soltar.


 

LIZZIE (CONT’D)

(começa a chorar) Não faça isso comigo! Eu não quero morrer! Por favor!


 

O corpo dela é solto e despenca para dentro do caldeirão. Em OFF, o SOM das lâminas retalhando a carne e os ossos.


 

CORTA PARA os restos mortais da menina escorrendo pelo moedor de carne.