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TEASER
LEGENDA: BARCELONA, ESPANHA.
TROCA LEGENDA: NOITE DE INAUGURAÇÃO DO EMPIRE. FADE IN:

  1. EXT. NAVIO - CONVÉS - NOITE

    As ESTRELAS estão por todo o céu.
    A PONTE e a CHAMINÉ estão enfeitadas com luzes e decoração sortidas, remetentes à cultura espanhola.

    Um HOMEM, engravatado, por volta dos 40, anda de costas. Pouco bêbado, observa seu arredor e carrega uma garrafa de uísque. Ao fundo, com tema de jazz clássico, uma solene festa acontece. MULHERES e HOMENS - uns, da Marinha - bem trajados, conversam entre si, enquanto comem das bandejas, servidas por GARÇONS de traje padronizado e são fotografados pelos poucos FOTÓGRAFOS presentes.
    CORTE DESCONTÍNUO. Uma FILMADORA é ligada pelo Homem.
    CORTA NOVAMENTE. Com o objeto em mãos, ele filma o CAPITÃO, senhor de pele clara e de perfil inclemente, trajando uniforme de gala, conversando com os convidados.
    HOMEM
    (falando p/ o objeto)
    E esse é o capitão! Com seu quepe mal acabado, mas larga esperteza... Não vai dizer olá, capitão Búlgaro?

    BÚLGARO força um sorriso apático. Distancia-se dos convidados e caminha até o que filma, aproximando-se ao máximo possível de seu OUVIDO e ABAIXANDO a filmadora com as mãos, discretamente.

    BÚLGARO
    Não está sendo paga uma equipe pras filmagens à toa. Desligue isso e pare de se amostrar, feito uma criança, Orlando.
    ORLANDO
    Não é tão ruim recordar, meu capitão... Empire estará no mar, assim como nós, prontos para arriscar novas temporadas. Certo?!

    BÚLGARO
    Sem negócios, não temos ócio. O senhor Ril espera por você.
    (respira fundo)
    Faça seu trabalho e é o suficiente para colocarmos esse navio em cima de qualquer peixe.

    Búlgaro segue andando. Orlando acompanha seus passos e eleva a garrafa de uísque à boca.

    CORTA. Orlando aproxima-se de um HOMEM, por volta dos 50 anos, enquanto esse contempla a vista do mar, afastado dos outros convidados.

    ORLANDO
    (em Inglês, legendado)
    E os empresários diziam que de nada valia trabalhar no mar. Pescadores? Essa vida é, realmente,
    mágica. North River Steamboa, PS Comet, a propulsão a vapor, seguida do propulsor de hélice, turbina e, enfim, o motor a diesel marítimo.
    Evoluções de uma cidade andante e, melhor que isso, ao passo de uma aberração: no mar. A maior surpresa dos aliens seria, certamente, ver que dominamos tudo, senhor Ril.
    RIL
    (em Inglês, legendado) Empire é mais que isso. Conheço a raiz de meus investimentos, Sr.
    Orlando, e, certamente, não arriscaria se esse fosse mais um navio a surpreender... Qual foi, mesmo, o seu exemplo?

    ATENÇÃO: as falas entre Orlando e Ril permanecem, até o fim da CENA 01, em Inglês. Inserir legenda.

    ORLANDO
    (sorri) Os aliens!

    RIL
    Empire não seria um projeto revolucionário sem os investimentos de toda a Corporação. Creio que sabe disso, tão quanto o capitão Búlgaro. Mas a garantia de que teremos retornos há de ser maior do
    (MAIS)

    RIL (cont.)
    que qualquer número extravagante de passageiros. Nenhuma frota de cruzeiros marítimos, no mundo, consegue lucrar, em poucos anos, os muitos investimentos em cidades andandetes...sobre o mar.
    ORLANDO
    É o brinde, comendador. Como nunca antes, um projeto foi aprovado por todos os nossos consultores e adjacentes.
    RIL
    E sobre o que se trata?
    ORLANDO
    Sobre serviços extras, senhor. Serviços de atração em massa. Atração de qualquer um que queira um pouco mais de diversão, se é que me entende.
    RIL
    E o retorno?
    Orlando fita a imensidão das águas à vista.
    ORLANDO
    O retorno é suficiente para ir ao espaço e trazer um alien...
    (sorri)
    Um alien disposto a aplaudir, de pé, os nossos negócios.
    RIL
    É bom ouvir de sua boca a certeza de planos futuros... Eu confio em você e em seu parceiro. Mas uma condição que gostaria de deixar bem clara.

    ORLANDO
    Creio que não teremos problemas. De toda forma, qual é a condição?
    Ril encara Orlando, superior.

  2. INT. NAVIO - CORREDOR - NOITE

    Orlando e Búlgaro aflitos, meio ao corredor sem movimento.
    ORLANDO
    Eu não sei o que houve, Búlgaro, mas há algo muito errado nessa história!

    BÚLGARO
    Do que fala?
    ORLANDO
    (nervoso; suor)
    Da condição feita pelo comendador. Ele quer mais da metade dos lucros devidos a Corporação! Entende o que isso significa? Eu espero que sim.
    BÚLGARO
    Mas não é possível!
    ORLANDO
    Não acha possível? Então saia, vá até ele e pergunte, você mesmo, o que ele quer como troca pelo navio. Ou o senhor se esqueceu/
    BÚLGARO
    A propósito, modere seu tom! Ainda sou o comandante de toda essa negociação. E, não, eu não me esqueci, Orlando.
    ORLANDO
    Ótimo.
    (pausa)
    O Empire foi construído por nós, pela Companhia, com pessoas fantasias, nomes fantasias... O maior navio de viagens do mundo não pode esperar suas simples maratonas para lucrar e estagnar as dívidas para a construção. Precisamos quitar tudo ou o Empire vai se manter atracado, e vai afogar eu... Eu e você, juntos.
    BÚLGARO
    OK! Já chega! Eu não sou nem um pouco burro, Orlando. Contenha o Ril conosco. Temos que mantê-lo nessa enquanto negociamos com
    (MAIS)

    BÚLGARO (cont.)
    outros. Bilhões, milhões... Eu acho que você entende o que signifca isso para a companhia, não?
    Precisamos que os investidores não nos deixem na mão. Agora sorria, faça de conta que estamos prontos para vencer essa batalha e haja como um homem.
    (raivoso)
    É difícil para você, mas vale tentar. Eu tenho um discurso a fazer.

    Búlgaro olha a GARRAFA de uísque nas mãos de Orlando, pega-a e TACA-A no chão, com força. Búlgaro encara, sério, e SAI. Orlando, raivoso, CHUTA os cacos, no chão.
    ORLANDO
    Velho idiota!

  3. EXT. NAVIO - CONVÉS - NOITE

    PANORAMA dos convidados, aglomerados diante Búlgaro, imposto, numa espécie de PALANQUE improvisado.
    BÚLGARO
    Os romanos valorizaram, admiraram e recriaram muitas das realizações artísticas da cultura grega e, através da sua ação, divulgaram a herança grega por todo o mundo mediterrâneo e ocidental. É a hora mais esperada da noite, queridos convidados, amigos, investidores e, a cima de tudo, passageiros! O batizado do navio, com um legítimo champanhe. A relíquia de batismos é certamente, um brinde aos novos investimentos. Empire será o maior navio do mundo por causa de cada de um de vocês, senhores. Mais uma vez, agradeço a todos os convidados e presentes nessa festa. A minha herança para o mundo está entregue.

    APLAUSOS. Búlgaro força um sorriso, enquanto observa Orlando, com sua FILMADORA, ao fundo, filmando a festa.

    Um GARÇOM trás um champanhe e entrega às mãos de Búlgaro que, repentino, joga a garrafa contra a PROA.

    Um FESTEJO geral, imediato, inicia-se, para logo acabar: ZOOM -- a CÂMERA mostra-nos a garrafa, intacta.
    CÂMERA RETORNA a Búlgaro, com um olhar raivoso. CORTA PARA Orlando, que grava tudo.
    CORTA PARA POV DA FILMADORA DE ORLANDO - fecha em Búlgaro,
    furioso.

    ORLANDO (O.S.)
    Eu iria sugeri-lo agir como homem, capitão...

    BÚLGARO
    (entre os dentes; irritado) Não acha melhor parar a filmagem, Orlando? Apague! Vamos recomeçar nosso batismo/
    ORLANDO
    (corta-o; O.S.)
    Não ouvi direito. O senhor disse o quê?

    O capitão Búlgaro DESCE do palanque e VEM pra cima de Orlando.

    BÚLGARO
    Apague isso agora mesmo ou eu/
    No que Búlgaro ergue as mãos para um SOCO na lente da filmadora, somos levados ao...

    FADE OUT.
    O CORAÇÃO de uma pessoa bate em ritmo intenso.
    BÚLGARO (cont.)
    (aos risos; bêbado)
    Estou ansioso pelos dólares. Em breve, estarão conosco...

    FADE IN:
    LEGENDA: RIO DE JANEIRO, TEMPOS ATUAIS.

  4. EXT. COSTA BRASILEIRA - DIA

    IMAGEM AÉREA de um NAVIO corpulento - mais de 300m de comprimento - cor branca, com sua logomarca no CASCO, em letras extensas: "EMPIRE - THE MOST OF THE WORLD",navegando pelo mar.

    VOZ FEMININA
    (arquejante; V.O.)
    Cada um de nós, quando pisou nesse navio, alimentava um sonho.

    FLASHS da estrutura externa do navio: a PROA, o BULBO, o CONVÉS.

    VOZ FEMININA (cont.) (V.O.)
    Viemos para fazer, do sonho das pessoas, os nossos sonhos. De início, seria por nosso suor: lavando, arrumando, comandando o maior navio do mundo...

  5. INT. CASA DE KÊNIA - NOITE

    A CÂMERA adentra uma CASA POBRE, de chão cimentado e paredes sem pinturas. ZOOM RÁPIDO.
    LEGENDA: BAHIA.
    TROCA LEGENDA: KÊNIA PEREIRA, 33 ANOS.
    À mesa principal, KÊNIA cabelos crespos e altos, está sentada, chorosa, segurando um PAPEL, junto de uma IDOSA negra, muito magra. Ambas de vestes humildes.

    VOZ FEMININA (V.O.)
    Tínhamos sonhos. Sonhos que pessoas desumanas destruíram. Fomos rastreados e levados como criminosos, esperando por julgamento.
    (pausa)
    Uma veio pela família empobrecida, outra por suas próprias ambições. Todos tivemos nossos próprios riscos e tentativas para estarmos aqui...

    No PAPEL de Kênia, está escrito em letras destacadas: "ORDEM DE DESPEJO".

  6. INT. BAR EM MADRID - NOITE

    Sentado na cadeira, de frente para o balcão de um BAR, Orlando bebe cerveja. CLOSE na bandeira ESPANHOLA, hasteada.
    LEGENDA: MADRID, ESPANHA.
    Ele repara uma JOVEM, servindo as mesas. TROCA LEGENDA: LIANNA GONZÁLEZ, 21 ANOS.
    VOZ FEMININA (V.O.)
    Mas, de todos, ninguém teve história diferente para contar. Fomos recrutados para uma batalha além de nossos próprios esforços. Uma batalha asquerosa, repleta de horrores.
    CORTA PARA O EXT/
    O BAR acaba de ter suas luzes desligadas. Lianna sai pela porta e caminha, quando é agarrada por Orlando, repentino. Ela assusta.

  7. INT. MANSÃO - SALA DE JANTAR - INDEFINIDO

    Um JOVEM, 25 anos, olhos verdes, magro, bem vestido, janta na formosa sala.
    LEGENDA: SÃO PAULO.
    CÂMERA explora, rapidamente, os OUTROS PRESENTES, até chegar a Orlando, sentado numa das primeiras cadeiras, encarando o jovem discretamente.
    TROCA LEGENDA: CAIO RODRIGUES, 30 ANOS.
    VOZ FEMININA (V.O.)
    Uns, certamente, vieram com motivos suspeitos.

    Orlando olha pra um HOMEM, na cadeira ao lado, e sussurra no ouvido dele.
    CLOSE em seus olhos, voltados a Caio, ameno.

  8. INT. EMPIRE - CABINE TRIPULAÇÃO - NOITE

    Caio, Kênia e Lianna e uma MULHER - alta, cabelo liso, pele clara - estão recuados, frente a Orlando, que ri de suas caras de espanto.

    Num SUPER CLOSE da MULHER, com a mão no rosto, olhando o perverso.
    LEGENDA: LÍVIA SANTANA, 30 ANOS.
    VOZ FEMININA
    (V.O)
    Quando acabaram as forças para lutar, vimos que nossas vidas viraram castelos... Castelos erguidos numa costa de ondas revoltas...

  9. INT. EMPIRE - CAMARIM - NOITE

    Kênia, Lívia e Lianna vestidas com sensuais LINGERIES, diante de um grande espelho. Encaram-se, assustadas.
    PLANO DETALHE das três, pegando uma nas mãos da outra.
    Caio revela-se atrás delas; abre a PORTA, que dá num CORREDOR e todos passam, cabisbaixos.
    VOZ FEMININA
    (V.O)
    E nosso sonho virou pesadelo...

  10. INT. EMPIRE - CORREDOR ESCURO - NOITE

    SLOW MOTION - os quatro seguem, enfileirados, pelo ambiente estreito, até que um FEIXE DE LUZ vem de uma PORTA SEMIABERTA.

    ÁUDIO abre para sons de palmas, ruídos de músicas e burburinhos distorcidos. A voz de Orlando é ouvida, embora confusa.

    VOZ FEMININA
    (V.O)
    Um pesadelo do qual não há como vencer... Tampouco, como acordar.

    No que a porta semiaberta é ESCANCARADA por Caio, uma LUZ BRANCA e FORTE invade nosso PV.
    FIM DO SLOW MOTION.

    (CONTINUA)


    FADE IN:

    FIM DO TEASER ATO I
    FADE TO BLACK.

  11. EXT. BORRACHARIA - TARDE

    Um HOMEM, 40 anos, macacão cinza e sujo de graxa, bate o capô de um carro.


    Tá pronto!
    HOMEM

    Ele rebate as mãos. ENTRA uma MULHER, alta, 48 anos, cabelos loiros, apressada.

    MULHER
    Mauro! Eu não acredito que você ainda tá aí... Não, eu não acredito sequer que você veio trabalhar justo hoje! Se nós perdermos essas passagens/

    MAURO
    Ei, ei, ei! Calma! Eu prometi esse carro pro seu Olegário. Cliente antigo não se pode deixar na mão, você sabe, Regina. E, sim, vim trabalhar justo hoje. É o dia da viagem... Eu não quero brigar com você. Esse dia tá representando tanta coisa pra gente...
    REGINA
    É. Mas eu acho que eu só vou anular toda essa preocupação, esse estresse, quando eu colocar os pés naquele barco.
    Olham-se por uns instantes.
    REGINA (cont.)
    Vê... Vê se não demora aí. Eu vou terminar as malas.
    MAURO
    OK.
    Regina SAI apressada dali; Mauro pega um jornal e limpa as mãos, sujas de graxa. Deixa o jornal cair.
    11.

    PLANO DETALHE NA MANCHETE - uma foto de Búlgaro, na proa do navio, estampa. CÂMERA ALTERNA no título: "MAIOR NAVIO DO MUNDO, CONSTRUÍDO POR BRASILEIRO, FAZ PRIMEIRA TEMPORADA NO BRASIL".

  12. INT. EMPIRE - CABINE LÍVIA - DIA

    As mãos de Lívia terminam de dar o último laço nos cadarços do sapato, branco. CÂMERA abre e a revela de pé, no meio de sua cabine, séria. Respira fundo. Vai a um espelho e respira mais uma vez; dá um TAPINHA na face.
    LÍVIA
    Mais uma temporada... Na sua terra, Lívia. Força!
    CLOSE dela.

  13. INT. EMPIRE- COZINHA - DIA

    PLANO GERAL da ampla cozinha reluzente, arejada, clara e movimentada. Diversos COZINHEIROS circulam por ali. Panelas no jogo, liquidificadores e centrifugas ligados. GARÇONS, também, presentes. O ritmo infernal do ambiente.

    CORTA para Kênia. Ela prova algo de um prato, ao lado de um COZINHEIRO, e sorri.

    COZINHEIRO
    E entón? Ao paladar brasileño?!
    Ela balança a cabeça, concorda.
    CORTA PARA as portas da cozinha, sendo abertas. Orlando entra, varrendo tudo com o olhar maligno.

    Kênia avista e, na mesma hora toma postura. O movimento na cozinha ameniza. Orlando ASSOVIA. Todos aproximam-se. Ele pega uma PANELA, num fogão próximo, e segura-a com força; amedronta. Abre caminho entre os funcionários, empurrando um garçom.

    ORLANDO
    (alto)
    Atenção, todos! O navio tá em terras brasileiras. Sol, calor, gente bonita e sorridente. O primeiro descuido que houver nessa cozinha ou no prato de um passageiro, eu frito os irresponsáveis em óleo quente! Eu fui claro o bastante?

    Todos os funcionários concordam. Orlando abre espaço; vai até Kênia. Ele lança um olhar pro cozinheiro, que sai de perto. Pega-a pelo braço.
    ORLANDO (cont.)
    O que você ainda tá fazendo daqui, Kênia? Em? Provando da comida da tua terra?
    (ri)
    Do jeito que você é trouxa, deve estar fantasiando histórias nessa sua cabeça.
    (tom baixo)
    Agora, anda, sai! Você já tem muito trabalho pra fazer.
    KÊNIA
    (respira fundo) Sim, senhor.

    Kênia sai. Orlando fica a olhar pra bunda dela, enquanto sai. Volta-se aos funcionários.
    ORLANDO
    Voltemos ao recinto. Sobre os pratos, quero que fique bem claro que devem estar sempre limpos e reluzentes. E, caso contrário, reclamações chegaram, vão ser vocês, os primeiros a serem culpados.

  14. EXT. PÍER MAUÁ - DIA

    No CÉU, os pássaros cantam; as ÁGUAS movimentam-se e a fila para entrar no EMPIRE só aumenta.

    Lívia recebe os passageiros com sorriso, cumprimentando a cada um, solenemente, às portas do EMPIRE. De repente, fascina-se e encara uma CABINE POLICIAL, ao longe, meio ao píer. CLOSE nela. Parece pensativa; seu olhar viaja; esquece os passageiros por alguns instantes, mas leva um susto quando Caio SURGE e põe as mãos em seu ombro. Ela vira-se, imediata.

    LÍVIA
    Você me assustou.
    CAIO
    Estava encarando o que não devia? Só assim, pra se assustar num lugar tão... Tão familiar.

    LÍVIA
    Você é um completo imbecil, mesmo, né? Que, que cê quer, em? Vai, fala...

    CAIO
    Eu, sinceramente, não entendo sua raiva de mim.
    LÍVIA
    Talvez seja porque, enquanto eu e muitas outras pessoas estamos sujeitas a tudo - e eu sei que você sabe do que estou falando - você é o braço direito daquele monstro.
    Caio encara-a.

    CAIO
    É uma questão de tática, Lívia. Eu achei um jeito de sair do esquema. E qual o problema nisso?
    LÍVIA
    Você não achou só um jeito de sair do esquema, você achou um jeito de se dar bem, como o Orlando. Você se tornou mais um, Caio, mais um dos lado dele. Eu sinto muito se você acha que não, mas é o que
    parece. Agora me dá licença, porque eu tenho que trabalhar.
    Ele vai saindo.

    CAIO
    (volta) Lívia...
    Encaram-se.

    CAIO (cont.)
    Eu espero que essa temporada seja transformadora para todos nós.
    LÍVIA
    As minhas esperanças nunca morrem, não se preocupa. Agora, você pode ir.

    Caio engole à seco e sai, reflexivo. Lívia volta ao trabalho, enquanto, simultaneamente, olha para a cabine policial.

  15. INT. CASA DE REGINA - DIA

    A mão de Regina fecha o zíper de uma mala preta. CLOSE dela.
    FLASHBACK PARA:

  16. INT. CASA DE REGINA - QUARTO DO CASAL - NOITE (MESES ANTES)

    Mauro e Regina são vistos por SOMBRAS, na parede. Discutem. Ambos exaltados.

    CORTA para os dois, frente a frente. RAIOS e TROVÕES lá fora.

    REGINA
    A verdade é que eu estou cansada, Mauro! Me desculpa, tá legal? Me perdoa, se eu não consigo ser boazinha o bastante pra me conformar com uma vida medíocre, mas eu não consigo ficar contando os centavos pra ver se sobrevivo até o fim do mês!
    MAURO
    Você não vê, que joga tudo pra cima de mim, como se o culpado por não satisfazer a droga da sua ambição fosse eu?! Não sou, Regina! Se você queria ser rica...
    REGINA
    (corta; grita)
    A questão nunca foi essa, Mauro! Mas, sim, de você ficar dia e noite enfurnado naquela droga de borracharia, pra ganhar esse mixaria, que não dá pra nada! Poxa, você tinha tantos planos... Fazer uns cursos, conseguir algo bom pra você...

    MAURO
    (corta)
    Eu amo o que eu faço, Regina! Se a questão é a minha ausência, eu te pergunto: você me quer em casa pra quê? Pra não fazer nada? Sim, porque, quando eu quis ter um filho, você sempre disse que não queria criança!

    Regina engole a seco e faz uma breve pausa, nitidamente irritada. Começa a andar pelo quarto. Vira-se de costas. Funga.

    REGINA
    Agora eu virei a vilã da história, né? Destruí teu sonho de ter um filhinho, da vida de comercial de margarina, na qual eu fico em casa, ralando pra lavar sua roupa suja de graxa e limpando fogão... Tudo, enquanto você se mata pra trazer o mínimo pra casa e me tratar como empregadinha submissa. Desculpa se é isso, então, mas eu nunca disse pra você que queria essa vida.
    Diferente de você, que sempre disse que faria algo pra sair desse caos que a gente se meteu. Mas, no fundo, você tá é satisfeito com essa vida medíocre de borracheiro!

    FIM DO FLASHBACK.

    DE VOLTA AO PRESENTE.
    Regina encara duas passagens para o EMPIRE, sobre sua mesa de cabeceira.

  17. EXT. TÁXI - DIA

    Do para-brisa do carro, vemos um trânsito intenso. O TAXISTA está inquieto. Mauro no carona. Atrás, Regina e uma SENHORA,
    60 e poucos anos e cabelos encachados.
    REGINA
    Não é possível. Até nesses momentos essa cidade desgraçada me atrapalha. Olha esse trânsito caótico! Eu não disse pra pegar a outra rota?
    SENHORA
    (segura as mãos de Regina) Para, Regina! Você tem que ficar calma, minha filha! Aonde já se viu? Até indo pro navio...
    MAURO
    Essa daí não adianta, dona Tonica. A senhora, como mãe, deveria estar acostumada.

    REGINA
    (sorri)
    Olha onde as coisas vão parar! Falam mal de mim na minha frente...
    TONICA
    (sorri)
    Tá pagando pelos seus pecados com essa ansiedade!
    MAURO
    (pisca pra ela)
    Vai dar certo. Já me imagino em cenas do tipo Titanic. Hum?!
    REGINA
    (ri)
    Não me faça passar vergonha, Mauro! Por favor!

    TAXISTA
    Olha, gente... Eu não queria ser estraga prazer, mas esse trânsito vai fazer vocês perderem a viagem. É certo!

    REGINA
    (assusta) O quê?

    TAXISTA
    Olha pra rua, dona. Não tem passagem. Tá tudo parado...
    REGINA
    E se formos pelo acostamento?
    MAURO
    Tá maluca, Regina?! Acostamento?
    REGINA
    E você tem uma solução melhor, Mauro?
    Tensão geral.

    TONICA
    Serginho, eu que mando! Está autorizado a passar pelo acostamento. Vamos, logo!

    TAXISTA
    Mas eu vou ser multado, dona Tonica...

    MAURO
    É melhor não, dona Tonica. A gente acha outro jeito.
    TONICA
    (objetiva)
    Eu paguei essa viagem. Eu quero que vocês voltem diferentes. Felizes.
    Com o casamento... enfim.... reconstruído. Eu assumo a responsabilidade. Passa pro acostamento, faz o que eu to mandando, menino! Vai!
    TAXISTA
    Tudo bem, então.
    O motorista dá a seta e mete o carro no acostamento. Regina sorri para a mãe.

    TONICA
    (emocionada)
    Vai dar tudo certo, minha filha...

  18. INT. EMPIRE - CABINE DE COMANDO - DIA

    POV DE UM BINÓCULO - as pessoas embarcam no EMPIRE. SAI DO POV.
    Vemos Búlgaro, observando tudo. Movimento atrás dele. Vários homens trabalham. Um HOMEM ALTO, de terno e gravata, aproxima-se.

    HOMEM
    Senhor, temos um problema.
    BÚLGARO
    (vira-se ao homem) Problema? O que houve? Pelo que sei, está tudo nos conformes.
    HOMEM
    Não, nada em relação ao EMPIRE, mas com um passageiro.


    Quem?
    BÚLGARO

    HOMEM
    O filho do governador. Tudo indica que ele estava a caminho, mas acabou sofrendo um pequeno acidente. Nada demais. Mas vai se atrasar. O governador/
    BÚLGARO
    (corta-o)
    Vida filantrópica para rico é um belo de um chute no saco.
    HOMEM
    Mas estamos aproveitando para a última checagem da maquinaria.
    BÚLGARO
    Eu não quero mais de quinze minutos em excesso, caso contrário, o governador que traga o filho dele de lancha, atrás do meu navio. Só não garanto a entrada...
    (pausa)
    Em todos os casos, mande chamar o Orlando. Quero definir as últimas coisas com ele.
    HOMEM
    Sim, senhor.
    O HOMEM sai. Búlgaro retorna com seu binóculo à vista.

  19. EXT. RUAS DO RJ - DIA

    CÂMERA AÉREA: o táxi em que Mauro e Regina estão corre pelas vias.

  20. EXT. PÍER MAUÁ - DIA

    A movimentação continua. CARROS e TÁXIS param no píer; PASSAGEIROS saem.

    CORTA PARA o acesso ao EMPIRE. Lívia e outros TRIPULANTES continuam a recepcionar os passageiros, que passam pelo tapete vermelho e sobem a rampa, entrando no navio. Sorriso nos rostos.

  21. INT. EMPIRE - CABINE DO COMANDANTE - DIA

    Búlgaro despeja uma bebida alcoólica em dois copos. Pega um e entrega o outro a Orlando, em sua frente, encarando a belíssima vista da cabine, direto pra mar.
    BÚLGARO
    (avalia a bebida)
    Essa é a Bon Secours Vieille Ale, cerveja artesanal produzida na Bélgica. Por US$ 1.200, você pode adquirir uma garrafa dessa... a cerveja mais cara do mundo.
    ORLANDO
    Nada contraditório, meu comandante. No maior navio do mundo, tomando a cerveja mais cara... É, realmente, uma ilha fantasiada de trabalho.
    BÚLGARO
    Creio que sabe porque o chamei. Estamos no Brasil. Onde nascemos, onde colocamos todos os projetos em pauta e tivemos os maiores trunfos.
    ORLANDO
    O maior navio; com um sistema único de diversão e aproveitamento: mulheres, a qualquer hora, a qualquer momento... Nenhuma paga, nenhuma por livre e espontânea vontade, nenhuma a pedir respeito ou dar incentivo. Eu, sinceramente, acho que fizemos o impossível nesse navio: um diferencial! Se acham que é exploração, eu prefiro explicar como... "uma mão lava a outra"...
    BÚLGARO
    (sorri)
    É, realmente, impactante. Mas as coisas têm que andar nos trilhos, você sabe...
    ORLANDO
    Se fala da segurança, tomei algumas precauções.
    BÚLGARO
    Então tome mais; tome todas as precauções possíveis, Orlando.
    Estamos no litoral brasileiro, com
    (MAIS)

    BÚLGARO (cont.)
    meninas brasileiros, que falam muito bem o idioma e podem, a qualquer momento, por qualquer corredor ou passageiro, detonar tudo o que levamos mais de cinco anos para construir...
    ORLANDO
    (ri)
    Não tem condições... Elas não fariam isso. Sabem que perdem mais... Que perdem quem mais amam, se abandonarem o esquema. E, além disso, logo, logo, vamos
    despistá-las. Atualizaremos nossos funcionários. Não acha bom?
    BÚLGARO
    Eu prefiro pensar no imediato. E, agora, o que eu menos quero é ver meu nome estampando capas policiais desses jornais fedorentos, desse país de merda!
    ORLANDO
    Eu garanto que essa será, se não a melhor, uma das melhores temporadas, das cinco, que o Empire já fez.

    BÚLGARO
    Ótimo. E, não só isso... Temos que convir que nossos lucros estão estagnados... Pensei em propostas para aumentar, mas nenhuma cabível. É importante pensarmos no relatório que vamos entregar à Corporação no fim da temporada.
    ORLANDO
    Estarei pensando sobre. Agora, se me dá licença, eu tenho que coordenar o fechamento do portão e a preparação para a saída.
    (mostra o copo de cerveja) À propósito, obrigado pela raridade!

    Orlando engole a bebida em uma golada só e coloca o copo em cima da mesa.

    BÚLGARO
    De nada. Pode ir. Acho que estamos bem resolvidos.
    (pausa; ergue o copo) Aos negócios!

  22. EXT. PÍER MAUÁ - DIA

    O táxi estacionado. Poucos passageiros entram. Mauro, Tonica e Regina apressados, tirando as malas junto do taxista.
    Quando tudo está pronto, Mauro paga o taxista e Tonica sorri para Regina, abraçando-a.
    REGINA
    Ai, mamãe, nem sei como agradecer pela passagem! Oh, quando eu mudar de emprego, a gente vai num desses lá pra Europa, juntas, viu?
    (sorri)
    Eu amo a senhora...
    TONICA
    (emoção)
    Ah, minha filha... Eu também te amo. Você sabe, bem, porque eu fiz isso, né? Só aproveita tudo. Eu soube que tem cada coisa gostosa aí dentro... E quero ver a relação sua e do Mauro às mil maravilhas quando voltarem do cruzeiro, em?!
    Combinado?

    REGINA
    (sorri/maliciosa)
    Deixa comigo, que a grana desse presente foi muito bem investida, mamãe!
    Elas riem, juntas. Abraçam-se de novo e dão-se um beijo.
    MAURO
    Vamos, Regina.
    REGINA
    Vamos.
    Regina pega suas malas; Mauro as dele. O taxista já está no carro. Tonica abana para ambos.
    TONICA
    (alto; sorri)
    Manda foto pela internet!

    Regina concorda e aproxima-se da ENTRADA do navio, onde Lívia está de pé, sorridente.
    LÍVIA
    As passagens, por favor...
    Mauro entrega as passagens. Lívia confere e sorri para eles.
    LÍVIA (cont.) (sorridente)
    Sejam bem vindos ao Empire, o maior navio do mundo... Em todos os sentidos! A equipe os deseja uma excelente viagem.

    Lívia sorridente; Regina e Mauro também. Esses, avançam e sobem à plataforma. O APITO DO NAVIO ecoa em alto e bom som. Regina dá um último adeus para Tonica e a CÂMERA ABRE para revelar a pequinês dos personagens em meio ao gigante EMPIRE.


    FADE IN:

    FIM DO ATO I ATO II
    FADE TO BLACK.

  23. INT. EMPIRE - BAR - FIM DE TARDE

    Os sapatos de Lívia estão rentes ao par de sapatos preto e social de Orlando.

    IMAGEM ABRE e revela-os. Ele aperta as mãos dela e a carrega pro interior do bar. Um HOMEM está sentado numa mesa próxima, fumando um charuto. Orlando aproxima-se.
    ORLANDO
    Senhor, essa é Lívia Silveira. Como prometido... Das nossas, uma das melhores.

    Lívia esboça um sorriso constrangido. Antes que responda, o homem encara com escárnio.
    HOMEM
    (traga o charuto; tem sotaque português)
    Unhas bem feitas, cabelos bem esticados. Branca. Como é o tratamento?

    ORLANDO
    Modéstia à parte... Como qualquer outra funcionária... Digno de um bom tarte de amêndoa Algarvia.
    HOMEM
    (ri) Gosto.
    ORLANDO
    (sorri)
    Ela estará hoje na House. Se o senhor quiser aparecer...
    HOMEM
    (pega no cabelo dela; ri) Eu vou estar lá.
    ORLANDO
    Vou levá-la de volta. (sussurra)
    Está se preparando para a estreia!
    O HOMEM faz uma cara festiva e Orlando sai, de mãos dadas com Lívia.

    À porta do bar, Orlando vê que o homem dispersou-se e aproxima sua boca do ouvido dela.
    ORLANDO (cont.)
    Some daqui.
    Lívia engole a seco e sai em disparada. CLOSE nos olhos de Orlando.

  24. INT. EMPIRE - CORREDOR - DIA

    Lívia anda, apressada.
    NOUTRO PONTO, estão Regina e Mauro, caminhando de mãos dadas. Lívia ENTRA e avista o casal, de costas. Para pra observar.

    LÍVIA (V.O.)
    Mais uma viagem, mais um cruzeiro, mais casais ingênuos e apaixonados. Mais crápulas sádicos e nojentos... E a mesma velha-nova impressão de sempre, de que algo dessa vez será diferente.
    (pausa)

    LÍVIA (cont.)
    Qual é Lívia, você sabe que não.
    Lívia enxuga as lágrimas, ignora a cena e cruza, entrando em OUTRO CORREDOR.

    HOMEM (O.S.)
    Lívia...
    Lívia vira-se e vê Caio.
    LÍVIA
    (ríspida)
    O que você quer de mim, Caio? Tá me perseguindo, agora?

    CORTE RÁPIDO -- Regina e Mauro distanciam-se. VOLTA em Lívia e Caio, encarando-se.
    CAIO
    Não. Mas eu odeio quando você me trata assim, Lívia.
    (pausa)
    Não vim à toa. É sobre hoje à noite. O Orlando...
    (constrangido; cabisbaixo) Ele me pediu pra checar...
    LÍVIA
    (corta)
    Se eu não to menstruada ou vou inventar outra desculpa pra não trabalhar hoje? Se for isso, diga pra ele que não. Agora, dá licença, que eu tenho mais o que fazer.
    Ela prossegue pelo corredor.

  25. INT. EMPIRE - CABINE DE REGINA E MAURO - FIM DE TARDE

    O lugar é arejado, com uma pequena sacada no canto. Sobre a cama, Regina abre sua mala, virando diversas roupas e esparramando-as. Mauro, ao seu lado, nitidamente nauseado, pendura suas roupas no armário. Ela passa a mão sobre o lençol da cama.

    REGINA
    (risonha)
    Olha, Mauro! Deus, que tecido é esse? É tudo... É tudo tão diferente... A impressão que dá é

    REGINA (cont.)
    que até o vaso sanitário desse navio é chique!

    Mauro ri, tentando descontrair. Ele vai à mesa de cabeceira e pega um analgésico. Bebe um copo de água e atira-se à cama. Regina puxa as roupas, debaixo das pernas do marido, e começa a guardá-las nas gavetas.
    MAURO
    Deita aqui, vem, Rê. Depois a gente arruma isso.
    REGINA
    Ah, não, deitar, não, Mauro!
    Ela vai até ele e começa a tentar puxá-lo.
    REGINA (cont.)
    Vai, vamos dar uma volta, ver o sol se pôr no meio do mar... Num piscar de olhos, essa viagem passa... E a gente vai ter aproveitado o quê? A cama?! Já, já, tamo atracando no Rio de novo.
    MAURO
    Regina, eu to muito enjoado. Se eu levantar, vai ser pra ir direto pro banheiro...
    (ri)
    Também, pra quem, no máximo, andou no pedalinho da lagoa, já era de se esperar, né? Mas vai você. Não se prende por mim. Eu te encontro mais tarde.

    REGINA
    Não... Já que você tá muito mal, eu fico.
    Mauro faz que não.

    MAURO
    Não. Isso passa rápido. Vai, que depois te encontro.
    REGINA
    (ri)
    Boa sorte pra me encontrar, então. Do jeito que esse navio é imenso, vai levar o resto da noite.
    Ela fecha as gavetas e pega seu cartão de identificação.

    REGINA (cont.)
    Qualquer coisa, liga pra recepção, que te levam na enfermaria, OK?
    Ele concorda, virando-se pro lado.

  26. EXT. EMPIRE - FIM DE TARDE

    O EMPIRE buzina, meio ao vasto oceano e o pôr do Sol.
    SÉRIE DE PLANOS - acompanhamos Regina, calma, andando pelo navio:
    1. passando numa "rua", de LOJAS diversas;
    2. vendo o CASSINO;
    3. comendo um lanche, num DECK.
    4. por fim, anda pela borda da PISCINA. As crianças, quando chegam do tobo água, acabam respingando água nela, fazendo-a rir.

  27. EXT. EMPIRE - PROA - FIM DE TARDE

    Regina, dependurada, sozinha, na ponta da proa, vendo golfinhos no mar, pulando da água, atrás do navio. Mexe na aliança, tirando e colocando no dedo. Venta ali. Ao lado dela, Orlando vem se aproximando, sorrateiro.
    ORLANDO
    Os golfinhos têm lá sua graça, mas o que uma dama tão linda faz aqui, os observando, sozinha?
    Regina para de encarar os golfinhos e fecha a cara.
    PLANO DETALHE na aliança, no dedo dela, que ela exibe a Orlando.

    REGINA
    (injuriada)
    Eu sou casada, se o senhor não percebeu.

    ORLANDO
    (ri)
    Mas não há nada de mal nisso. Nesse navio, tem entretenimento o bastante para todos.
    (sussurra)
    (MAIS)

    ORLANDO (cont.)
    Inclusive pra senhora.
    Ela dá um TAPA na cara de Orlando e sai, intempestiva, dali.
    ORLANDO (cont.)
    (põe a mão no rosto)
    Eu adoro as mais difíceis, heim?

  28. INT. EMPIRE - BAR - FIM DE TARDE

    Regina senta-se no balcão de um requintado bar, com uma decoração obscura, que contrasta com os vidros panorâmicos, que dão visão à proa. Ao lado de Regina, está um HOMEM, 30 e poucos anos, traços asiáticos, cabisbaixo.
    Um BARMAN aproxima-se de Regina.
    BARMAN
    O que deseja, senhora?
    REGINA
    (desinteressada) Qualquer coisa...
    (sussurra)
    Qualquer coisa que me faça esquecer o passado...
    BARMAN
    A senhora já provou Bloody Mary?
    REGINA
    Não... É bom?
    BARMAN
    Tomate e vodca. A senhora já saberá...

    PLANO DETALHE no copo de Bloody Mary de um HOMEM, ao lado de Regina, pela metade. Ele toma um gole.

    CORTE DESCONTÍNUO para um copo cheio da bebida, posto à frente de Regina pelo Barman. Ela pega e bebe. Instantes. Em sua reação, enojada. Bate o copo no balcão.
    REGINA
    Nossa, que troço horrível!
    O Barmen e o homem riem. Regina percebe o mico e ri junto. Encara o homem. O Barmen SAI.

    HOMEM
    Nem todos gostam de Bloody Mary, senhora.

    REGINA
    Senhora tá no céu... Meu nome é Regina.
    (ri; observa o copo dele) Você bem que podia ter me avisado que combinar tomate e vodca não é bom, em? Aliás... Seu nome?
    HOMEM
    Luciano. Luciano Kiang.
    Regina toma mais um gole da bebida e volta-se a ele.
    REGINA
    (ri)
    Acho que a primeira impressão me assustou um pouco. Não é tão ruim.
    (observa Luciano)
    Desculpe se me intrometo, mas você parecia bem... Abatido, até agora.Tá tudo bem?
    LUCIANO
    (bebe)
    Só minha vida, que é uma merda, mesmo. Pelo menos, diferente dos outros, eu não fico fazendo selfie, na proa, com sorrisinho falso no rosto, como se tudo pra mim fosse às mil maravilhas.
    INSERT - aliança de Regina, meio solta no dedo. VOLTA À CENA.
    LUCIANO (cont.)
    Mas, se me permite... A senhora andava meio absorta há alguns instantes. Problemas?
    REGINA
    (reflexiva) Quem não tem, né?
    FLASHBACK PARA:

  29. INT. CASA DE REGINA - QUARTO DO CASAL - NOITE (MESES ANTES) ATENÇÃO: continuação do flashback da cena 16.

    MAURO
    (fora de si; berra) Cala a boca, Regina!
    CLOSES ALTERNADOS. Uma lágrima desce dos olhos dela.
    REGINA
    Você nunca gritou comigo, Mauro...
    MAURO
    (corta)
    Eu achei que você havia se casado comigo porque me amava. Mas se fez isso esperando de mim uma vida que eu não posso te dar, então nós cometemos um engano. Nós nos casamos com as pessoas erradas.

    Regina tenta se aproximar de Mauro, mas, raivoso, ele se DESVENCILHA e SAI intempestivo do quarto. Regina eleva as mãos à cabeça e pega um COPO de vidro, sobre uma estante. ARREMESSA contra a parede. O copo se estilhaça em cacos.

    FIM DO FLASHBACK.

    DE VOLTA AO PRESENTE.
    Regina permanece reflexiva. Quando ela olha pro lado, para achar Luciano, vê uma MORENA, trajando roupas modernas, ao lado dele, conversando.

    CORTA PRA AMBOS. PLANO DETALHE na mão dela, apalpando suas coxas e subindo.

    MORENA
    Tá quente aqui, não? Existem lugares nesse Empire que são mais quentes ainda... Suponho que saiba.
    Luciano concorda.

    MORENA (cont.)
    Quem me mandou, sabe que você gosta. Lá de onde eu venho, a gente sabe muito bem como tratar os homens mais tímidos, que não gostam de falar tanto. Me visita mais tarde, heim? O que acha?


    Onde?
    LUCIANO

    A mulher ri e entrega um cartão a ele. Regina, muito desconfiada, olha, sorrateira, o cartão, que tem um logotipo: "HOUSE PINK - Seu lugar no EMPIRE".

    CORTA PRA LUCIANO, acompanhando a Morena sair do bar. Quando ele vira-se de lado, buscando por Regina, não a encontra.

  30. INT. EMPIRE - CABINE DE REGINA E MAURO -ANOITECER.

    Mauro e Regina conversando. Ele, deitado.
    REGINA
    Não, você tinha que ver, Mauro... Parece que ela brotou da terra. Eu olhei pro lado; quando dei por mim, ela tava praticamente se esfregando nele!
    (pausa)
    Sem ser preconceituosa, mas tinha todo o naipe de prostituta... Essa história de Pink House então...

    Mauro, ainda deitado na cama, dá um leve sorriso. Encafifada, Regina anda pelo quarto, disfarçando estar intrigada.

    MAURO
    (ri)
    Eu sempre soube que tinha algo de podre no meio dos ricaços... Deve ser uma conhecida, prestadora de serviços... Sei lá como chamam...
    (sorri)
    Mas quer ver que lá vem você com essas teorias justiceiras malucas?
    REGINA
    Nenhuma teoria, mas fiquei encafifada... Já imaginou se a gente tá no meio de um bordel flutuante e o capitão é um sádico, que explora as garotas?
    MAURO
    Não, você não existe mesmo, né? Dava pra atriz...
    (respira fundo)
    Mas, falando sério, você sabe bem o que eu acho dessas suas manias, né?

    Regina ri e pula na cama. Sensualmente, põe suas pernas entre as pernas do marido e segura suas mãos.
    REGINA
    Não vamos falar disso agora, tá? (sussurra)
    Há coisas muito mais interessantes pra fazer.
    (sarcástica)
    A menos, é claro, que alguém aqui ainda esteja marejado...
    MAURO
    (ri) Não pra isso!

    Ele a puxa, forte, e eles se agarram, apaixonadamente. CORTA PARA a vista da sacada.
    ANOITECE.

  31. INT. EMPIRE - SALÃO CENTRAL - NOITE

    Mauro surge, descendo pela escadaria do salão. Vários passageiros passam diante dele. Para no último degrau. Um balcão de informações e vários cartazes da companhia de cruzeiros por ali. Um tanto apreensivo, ele olha para todos os lados; procura por algo com o olhar. Nitidamente, não encontra. Ao descer do último degrau, anda pelo salão, até dar de cara com Orlando. Mauro o aborda, amigável.
    MAURO
    Amigo, você viu minha esposa? Eu tava com ela e, quando dei por mim, ela.../

    ORLANDO
    (ríspido)
    Eu tenho cara de quem vai adivinhar em que buraco sua mulher se enfiou? Dá licença, que eu tenho mais o que fazer.
    Orlando segue em disparada. Mauro revela-se aturdido.

  32. EXT. EMPIRE - PROA - NOITE

    Regina encara o céu estrelado e o mar, pelo qual o navio navega. Ao fundo dela, luz, dança e música. Mauro aproxima-se por trás. Pigarreia. Ela pega nas mãos dele.


    Olham-se.
    MAURO
    Te procurei... Onde cê tava?
    REGINA
    Me deu um mau súbito. Tomei um analgésico e vim pra cá, pra proa, um pouco. Desculpe.
    (ri)
    Pelo visto, você não é o único marejado por aqui.
    MAURO
    Já vão servir o jantar. É de gala. (sorri)
    Mandaram convite pro quarto, dizendo para estar lá bem vestido. Vai ser com o capitão. Vamos?
    REGINA
    (segura-o) Antes/

    REGINA (cont.)
    Antes eu queria te dizer uma coisa, Mauro.


    Diz.

    Eu...
    MAURO

    REGINA
    (pensativa)
    Eu vou fazer de tudo para dar certo. Pra gente melhorar. Eu vou fazer de tudo pra essa viagem ser um recomeço. De tudo.
    Encaram-se.

  33. INT. EMPIRE - COZINHA - NOITE

    As portas abrem-se e Orlando adentra, de cara fechada e pose imponente. Um CHEFE de cozinha corre até Orlando.
    CHEFE DE COZINHA
    Boa noite, chefe. Os pratos estão quase prontos para serem servidos. Os do restaurante do quarto andar já foram entregues. É questão de minutos pro do terceiro sair. Está
    (MAIS)

    CHEFE DE COZINHA (cont.)
    tudo em perfeita ordem, aqui, na cozinha.

    ORLANDO
    Melhor assim.
    Orlando segue andando por entre os fogões e dezenas de funcionários da cozinha. O chefe vem atrás. É quanto Orlando avista, em cima de uma bandeja, um belo prato de carne enfeitado. Ele mete o dedo e põe na boca.
    ORLANDO (cont.)
    Nossa! Passou do ponto. Refaz esse prato.

    CHEFE DE COZINHA
    Mas, senhor...
    Orlando corta o chefe de cozinha quando joga o prato no chão, quebrando-o. Ele faz sinal para uma FAXINEIRA se aproximar. Mira o Chefe, ao seu lado.
    ORLANDO
    Manda a sua equipe refazer o prato. Agora!

    O chefe faz que sim, saindo da frente de Orlando. Quando Orlando vira-se, dá com Búlgaro à entrada.
    BÚLGARO
    Era com você mesmo, que eu queria falar, Orlando.
    ORLANDO
    (espanta)
    Capitão, o senhor aqui?! Vamos lá pra fora.

    BÚLGARO
    Eu não tenho nenhum problema em estar na cozinha do meu navio. O que tenho pra falar é imediato. Que você se habitue a ser tão cordial com os passageiros, quanto se esforça pra ser em minha frente. Ou teremos sérias conversas sobre isso. Fui claro?
    ORLANDO
    Sim.

    Búlgaro assente para Orlando, saindo rapidamente. Esse se enfurece, encarado muito discretamente por alguns funcionários. Volta-se a todos.
    ORLANDO (cont.)
    (grita)
    Tão olhando o quê? Voltem ao trabalho!

  34. INT. EMPIRE - RESTAURANTE 3º ANDAR - NOITE

    PANORAMA do ambiente, muito amplo, cheio de mesas. PASSAGEIROS - todas bem vestidos e elegantes - circulam pelo ambiente; ocupam mesas. Os GARÇONS, uniformizados e inexpressivos, também estão ali, com bandejas cheias de pratos refinados.

    Mauro e Regina entram no restaurante. Sentam-se numa das mesas.

    CORTA PARA Búlgaro, que sobe a um palco, no fundo do restaurante, com Orlando e COZINHEIROS ao lado.
    BÚLGARO
    Bem vindos ao primeiro jantar. (aplauso geral)
    Espero que apreciem a noite e a passagem no navio como um todo! Devido as fortes correntes marítimas vindas do Sul, temos uma ação violenta das águas contra o navio, mas tenho certeza que não deixarão a diversão de lado por causa disso.
    (risos)
    Para os que ainda não sabem, eu sou Búlgaro Damasceno, o capitão. Mais uma vez, os desejo um bom jantar e a companhia Seas, agora com seu navio, EMPIRE, agradece a preferência!
    Mais APLAUSOS.

  35. INT. EMPIRE - CORREDOR - NOITE

    Orlando segue, ágil, por um dos corredores, com Caio atrás dele.

    ORLANDO
    Tá quase na hora da conta começar a engordar... Elas tão prontas, já, Caio?

    CAIO
    Todas. Menos Kênia.
    Orlando olha-o, insatisfeito, e para frente à uma porta, ENTRANDO, junto com Caio.
    CORTA RÁPIDO PARA a SALA
    Orlando bate a porta. À frente deles, estão Lianna, Lívia, Kênia e outras três mulheres. Kênia chora, abraçada à Lívia. As outras encaram Orlando, amedrontadas. Ele se aproxima de Kênia, com um rosto ameaçador.
    ORLANDO
    O que foi, Kênia? Quem da família morreu, agora, pra você não trabalhar hoje? O cachorro, o pai, seu vovô?

    LÍVIA
    É a avó dela, Orlando. Descobriu um linfoma. Parece ser grave...
    ORLANDO
    Tadinha! Mas que dó da Kêniazinha...

    Ele se aproxima de Kênia, como se fosse abraça-la; afasta Lívia dela, mas, abruptamente, a puxa pelos cabelos e a agarra pelo pescoço, transtornado. Encara-a nos olhos.
    ORLANDO (cont.)
    (ameaçador)
    Você sabe que eu não dou a mínima pro seu draminha de família pobre retirante, cheia de gente doente. Você vai enxugar essas lágrimas e vai trabalhar direitinho hoje, ou eu juro, minha doce Kênia, que quando sua vovozinha morrer, você você já vai estar debaixo da terra, esperando por ela. Então, engole esse choro agora, porque mulher perto de mim só chora se tiver apanhado antes. Entendeu?

    Kênia concorda e, literalmente, engole o choro; tenta conter o soluço. Orlando a solta e afasta-se. Kênia vai até Lívia de novo. Caio, comovido, é encarado com asco pela última.
    Kênia contêm as lágrimas, enxugando o rosto.
    ORLANDO (cont.)
    (frio)
    Bem... Suponho, agora, que estamos todos prontos, não?
    (pausa)
    OK. Já que ninguém está em desacordo, estamos prontos. Lianna, você vem comigo. Tem um trabalhinho extra pra você.
    (pausa; para as outras)
    E quanto a vocês, estejam arrumadas, prontas pra entrar na House, em uma hora.

    Todas concordam. Lianna SAI da sala, junto de Orlando. Kênia cai no choro de novo, abraçando Lívia, sem ação. Caio aproxima-se delas, gentil.
    CAIO
    (Cabisbaixo) )
    Eu... Eu sinto muito, Kênia.
    Kênia faz que sim para Caio, amedrontada. Lívia, com ódio, levanta-se.

    LÍVIA
    Sai daqui! Você é nojento, que nem o Orlando, Caio. Você pensa que nós podemos nos dar bem, que podemos ser amigos, mas não, não podemos!
    Você não passa de um monstro, que agora pode substituir o Orlando a qualquer momento.
    (sussurra)
    Eu tenho tanto nojo de você, quanto eu tenho daquele crápula.
    Lívia sai, intempestiva, dali. Caio vai atrás dela no CORREDOR
    Lívia andando. Caio atrás dela, pega em sua mão, forçando-a a parar.

    LÍVIA (cont.) (Exaltada; lágrimas)
    Para! Me deixa em paz! Me deixa em paz, por favor! Será que você não
    (MAIS)

    LÍVIA (cont.) entende? Para de fingir que se
    importa com todas nós, porque você não se importa!
    CAIO
    Não é minha culpa!
    (olha para os lados, apreensivo)
    Eu não sou culpado se eu já não sou obrigado a fazer os mesmos serviços que vocês fazem...
    LÍVIA
    Ótimo. Meus parabéns. Já eu, não sou obrigada a falar com você, a olhar pra você. OK? Espero que tenha entendido, de uma vez por todas.

    CAIO
    Lívia. Eu sou apaixonado por você.
    LÍVIA
    (baqueada) O quê?

    CAIO
    Eu disse que eu gosto de você; que eu to apaixonado por você, Lívia.
    LÍVIA
    Você, literalmente, não bate bem. Tchau.

    Lívia se desvencilha de Caio e sai, intempestiva, pelo corredor.

    CÂMERA segue-a. Regina ENTRA no corredor. Ambas esbarram-se acidentalmente.

    LÍVIA (cont.) (lágrimas)
    Desculpa.
    Caio dá as costas, voltando ao escritório. Regina observa Lívia indo embora.
    REGINA
    (p/ Lívia)
    Ei, menina? Menina, você tá chorando?

    Mas Lívia entra por algum corredor adjacente e desaparece.

  36. INT. EMPIRE - CASSINO - NOITE

    TAKES do cassino, movimentado. Muitas pessoas jogam fichas, apostam em máquinas e comemoram. O local tem uma decoração extravagante. De repente, ENTRA Orlando, de braços dados com Lianna, vestida numa roupa sensual, preta. Ele aproxima-se de alguém, a qual não vemos, e ergue uma taça de champanhe com a outra mão, sorrindo. Lianna, apreensiva.

  37. INT. EMPIRE - CABINE DE REGINA E MAURO - BANHEIRO - NOITE

    O vapor da água sobe, embaçando o vidro do box.
    CORTA PARA Regina, dos ombros para cima, tomando banho, com a cabeça de fora d’água.

    REGINA (V.O.)
    Às vezes, bate aquela impressão de que sempre tem algo errado... Algo que não se encaixa direito. Talvez seja só minha imaginação. Ou talvez eu, de fato, esteja certa.
    PLANO DETALHE na mão dela, fechando o chuveiro. CORTE DESCONTÍNUo para o
    QUARTO
    Regina, já vestida, dentro de um belo vestido vermelho, no joelho, vê Mauro, deitado na cama.
    REGINA (cont.)
    Você tem certeza que vai mesmo ficar aí à noite toda? Vou dar uma volta pelo navio, ver a movimentação, o cassino... As boates!
    (passa as mãos na perna dele) Tem certeza que não vem?
    MAURO
    Não, logo mais eu levanto. Volta logo, tá?

    Ela faz que sim, aproxima-se do marido e beija sua boca, sorrindo para ele.

    REGINA
    Se eu não voltar, você vem me buscar!
    Regina pisca pra ele e SAI.

  38. INT. EMPIRE - CASSINO - NOITE

    Abre em um casal. A MULHER, por volta dos 25, é morena. O HOMEM é loiro, alto. Eles conversam e bebem.
    CORTA PARA Lianna e Orlando, encarando-os de longe.
    ORLANDO
    (baixo)
    Aqueles dois ali... O Rodrigo e a Mirela, são filho e nora do deputado do Rio. Eles tão interessado em... Em novas experiências, se é que você me entende. E, acima de tudo, estão interessados em você. É claro que eu disse que você também tá interessada.

    PLANO DETALHE - Orlando põe uma chave, discretamente, no bolso de Lianna.
    CLOSE dela, a encarar o cafetão.
    ORLANDO (cont.)
    A cabine é a 311. Sobe. Eles te encontram lá.

    Lianna, receosa, retira as mãos dos braços de Orlando e sai andando. Orlando pisca para Rodrigo e Mirela e também SAI.

  39. INT. EMPIRE - CABINE - NOITE

    Pétalas de rosas no chão, garrafas de champanhe e vinho em todas as estantes.

    CÂMERA TRAVELLING percorre toda a cabine luxuosa, à meia-luz, com vista para o mar, até encontrar Lianna,
    recostada, apenas de calcinha e sutiã na cama. Ela retira um cordão do pescoço, agarra com todas as forças, engole a seco e beija-o.

    LIANNA
    (trêmula)
    Una vez más, quedarse conmigo, mi Dios!

    CORTA RÁPIDO PARA a porta, abrindo. Rodrigo e Mirela entram, de mãos dadas. Lianna coloca o terço sobre a mesa de cabeceira e encara-os.


    FADE IN:

    FIM DO ATO II ATO III
    FADE TO BLACK.

  40. INT. EMPIRE - CABINE - NOITE

    Abre em Lianna, cuidadosa, em trajes da tripulação, diante da cama, onde Rodrigo e Mirela dormem, cobertos por um lençol. Ela abotoa os últimos botões.
    LIANNA
    (sussurra; respira fundo) Es ahora o nunca!

    Sorrateiramente, ela corre até uma estante, pegando um CELULAR. Ela puxa, lentamente, o lençol do casal. CÂMERA não revela. ZOOM na tela do celular mostra a câmera fotográfica abrindo-se. Um FLASH ilumina entre as pernas de Rodrigo.
    Ouve-se o som da foto ser batida. Subitamente, Mirela DESPERTA e encara Lianna e o celular. CLOSE em Mirela.
    MIRELA
    (sonolenta)
    O que é que você tá fazendo, garota?
    Lianna assusta.

  41. INT. EMPIRE - CORREDOR - NOITE

    Lianna corre, com o celular em mãos, desesperada. Agilmente, ela abre uma porta com os dizeres "ESCADARIA DE INCÊNDIO" e ENTRA, fechando a porta.

    CORTA RÁPIDO PARA Mirela, cabelos volumosos, surgindo à entrada do corredor, atordoada. Ela olha para um lado e para o outro; vê apenas alguns passageiros passando. SAI, atônita.

  42. INT. EMPIRE - CABINE DE ORLANDO - NOITE

    Orlando encara-se no espelho, satisfeito, ajeitando a gravata. Inesperadamente, a porta abre-se e Mirela ENTRA, batendo a porta.

    ORLANDO
    (feliz) Mirela!

    MIRELA
    (nervosa)
    Cala a boca, Orlando! Você me pôs em uma furada! Eu e o Rodrigo!
    A piranha da sua prostituta, ela deve ter posto algo naquela bebida, porque quando eu acordei, peguei ela no flagra, fotografando o Rodrigo! Fotografando o Rodrigo pelado! Você tem noção do escândalo que vai ser pro deputado, se ela expuser que a gente fez um programa com uma puta, num cruzeiro? Em?!
    ORLANDO
    (pasmo) Como é que é?
    CLOSE em Orlando, pávido.

  43. INT. EMPIRE - CABINE DE LIANNA - NOITE

    Lianna, atormentada, fecha um COFRE, encaixado na parede. Ela pega um quadro, sobre a cama, e encaixa, tapando o cofre. Assusta, de repente, quando Orlando ENTRA no quarto, furioso. CLOSES ALTERNADOS. Ela recua, amedrontada.
    LIANNA
    Orlando/
    Ele a corta, dando um TAPA na cara dela.
    ORLANDO
    Cadê as fotos? Eu vou perguntar só uma vez, Lianna!!!
    LIANNA
    (chora)
    Yo não queria fazer isso, Orlando... És que mi mãe irá perder a casa pela hipotequía...

    Ele agarra seus cabelos, joga-a contra a parede e começa a estrangulá-la.

    ORLANDO
    Se a sua cara ficar tão roxa que você não possa mais trabalhar pra mim, é aí que você volta pra Espanha, pra morar debaixo da ponte, pra dar pra qualquer vagabundo que a ofereça um prato de comida! E, pra ficar ainda melhor, vai viver sem sua mamãe, que eu vou ter o prazer de mandar matar. O que acha? Heim?
    (baixo; ameaçador)
    Onde é que tá o celular, vadia?
    Orlando a puxa bruscamente pelo cabelo. Ela aponta para o quadro, na parede. Ele a empurra sobre a cama, pega o quadro e joga no chão, abrindo o cofre. PEGA O CELULAR;
    ORLANDO (cont.)
    Você é uma idiota, mesmo! Agora passa uma maquiagem na cara, que logo o show começa. E é bom que você não tente nada parecido de novo ou eu te jogo direto no mar.

    Orlando SAI e bate a porta. Lianna passa as mãos no rosto, roxo, enquanto chora muito.

  44. INT. EMPIRE - CORREDOR - NOITE

    Regina andando.
    PLANO DETALHE - ela segura seu anel nas mãos.
    VOLTA nela, que escuta vozes pesadas, vindas de um corredor, mais à frente. Ela anda, lentamente, até a parede, onde para e presta atenção nas vozes.
    LIANNA
    (O.S; desesperada)
    Aquele monstro me batéu, Lívia! Olha como está mi rosto, mi diz, mi diz como vou pra House Pink assim?! Dios mio!

    LÍVIA (O.S.)
    Meu Deus, Lia... Quando isso vai acabar?

    CLOSE em Regina, desconfiada. Ela estica o rosto, para ver quem está falando.

    POV DE REGINA - vê Lívia conversando com Lianna, no canto do corredor. O rosto da segunda, manchado pelos socos.
    LÍVIA (cont.)
    Às vezes, me dá vontade de chutar o balde e contar pra todo mundo o que o crápula do Orlando faz conosco!
    LIANNA
    (com a voz embargada)
    No. Así, no!!! Nos no podemos! As nossas famílias... Usted sabe...
    FIM DO PONTO DE VISTA.
    CLOSE de Regina, perplexa.
    EFEITO SLOW MOTION - seu anel escorrega por entre os dedos. Cai, batendo no chão. O SOM ecoa pelo corredor.
    CÂMERA reage num CLOSE de Lívia.
    Ela vira-se e vê Regina, a observando, atrás da parede. Ambas, perplexas. Troca de olhares. No ímpeto, Regina sai correndo dali.
    FIM DO SLOW MOTION.

    LÍVIA
    (para Lianna)
    Ela ouviu tudo, Lia! Tudo!
    CLOSE em Lívia, que abaixa, pega o anel de Regina e sai correndo atrás dela.

  45. INT. EMPIRE - SALÃO PRINCIPAL - NOITE

    Regina, correndo, desce as escadas. Esbarra num homem, mas segue. Corre pelo salão, sem rumo, desnorteada. Atrás dela, surge Lívia, nas escadas, com seu anel em mãos.
    LÍVIA
    (alto)
    Ei, moça! Moça! O seu anel!
    CORTA PARA Regina. A mesma entra num CORREDOR

    Corre por ele; passa por um FUNCIONÁRIO, com uma bandeja, que quase vai ao chão. Ela, ágil, segue, olhando sempre para trás, até que entra por uma porta, que dá acesso a várias
    ESCADAS
    Desce por elas. São várias. Quando olha pra cima, vê que Lívia desce um lance a cima do seu. Barulhos de música e voz masculina surgem, abafados.

    CORTE DESCONTÍNUO. Regina chega ao fim da escada. Não há saída, a não ser uma porta grande, de onde vem o som alto.
    CÂMERA ALTERNA em Lívia, desesperada, descendo as escadas.
    Quando Regina olha lá de baixo, vê que Lívia desce o último lance de escadas; que se aproxima cada vez mais. Regina, então, toma coragem e aproxima-se da porta grande,
    abrindo-a. Uma LUZ FORTE, COLORIDA, invade a tela.

  46. INT. EMPIRE - HOUSE PINK - NOITE

    PLANO GERAL do ambiente grande, fechado, iluminado por luzes coloridas, cheio de HOMENS, fascinados por MULHERES apenas de biquínis vermelhos, expostas, dançando em mini palcos, distribuídos pelo local. A atmosfera é de
    sensualidade. Orlando, em cima de um palco principal, ao microfone, salda os presentes. Ele vai até Kênia, de pé, e pega na mão dela, exibindo-a.
    CORTA PARA UM CLOSE de Regina, à entrada, perplexa.
    REGINA
    (pasma; sussurra) Meu Deus... O que é isso?
    VOLTA em Orlando.

    ORLANDO
    Os lances para a primeira oferta do cruzeiro EMPIRE estão abertos! 500 dólares. Quem dá 500 dólares?

    CLOSE em Kênia, ofegante. ENTRA o SOM de um CORAÇÃO PALPITANDO.

    POV DELA - ela vê os homens, olhando-a com desejo, sedentos. A maioria dos homens, ali, erguem as placas; ela não consegue parar de olhar, porém, para um SENHOR de mais de 65 anos, calvo, gordo.
    FIM DO POV.

    ORLANDO (cont.)
    (comemora)
    Ora, ora... Mas já que a noite começou disputadíssima, vamos para os lances mais altos? Eu quero mil e cem dólares nesta bela dama...
    (aponta Kênia)
    Olhem para esses olhos, esses seios fartos, o corpo escultural... Ela merece mil e cem dólares, não, senhores? É a primeira noite...

    O SENHOR é o primeiro a levantar a placa. Outros CINCO HOMENS, próximos a ele, também levantam, mas hesitantes.

    ALTERNA COM Regina, que continua completamente sem ação, na entrada da casa. Ouvem-se passos se aproximando, do lado de fora. No instante em que ela olha pra trás...
    CORTA pro Senhor, ao lado dos outros homens.
    SENHOR
    (pros homens; aponta Kênia) Aquela ali, já é minha de outros carnavais. Escutem, senhores, que tal a gentileza de pararem de ofertá-la pra esse primeiro encontro? Eu faço questão dela!
    Todos assentem positivamente.
    CLOSE em Kênia, se desesperando. Ofega. Olha para todos no salão.

    ORLANDO
    Se seis cavalheiros dão mil e cem, vamos para mil e trezentos, que tal?!

    O Senhor dá uma olhada aos outros, intimidador. Vê que ninguém ergueu a placa e dá um sorriso. Esse, começa a erguer a placa, vitorioso.
    ORLANDO (cont.)
    Dole uma...
    A porta de entrada à House Pink, então, abre. Lívia entra.
    ORLANDO (cont.)
    Dole duas...
    Regina está correndo, sem rumo, totalmente pasmada.

    ORLANDO (cont.)
    Dole três...
    Lívia, de pé, à porta, vê Regina, correndo entre as mesas. Lívia segue-a, então.
    ORLANDO (cont.)
    (sorri)
    Sem mais, a noite com a nossa moça é do número quatro! Parabéns!

    O Senhor levanta-se, sobre leves aplausos dos presentes, e vai encaminhando-se até o palco para levar Kênia, mas, subitamente, Kênia SAI CORRENDO e entra por uma porta, à direita do palco. CLOSE em Orlando, totalmente sem ação. Um enorme burburinho começa. O Senhor revela-se confuso.
    Orlando sai correndo e também entra pela porta.
    CORTA PARA Regina, que anda, aturdida, por ali. Olha pra trás e não vê mais Lívia. Ela, então, corre, sorrateiramente, e entra por uma segunda porta, sem ser vista.

  47. INT. EMPIRE - HOUSE PINK - CORREDOR - NOITE

    Kênia chorando, estatelada, no fim do corredor. Orlando, brutalmente, a passos largos, a alcança e a joga no chão, segurando-a pelo pescoço.
    ORLANDO
    (grita; enfurecido)
    O que deu na sua cabeça, sua maluca? Aquele velho fez a melhor das ofertas!
    KÊNIA
    (berra; chora)
    Eu sei quem ele é e eu não vou pra cama com ele! Ele é nojento, Orlando! Ele me estuprou, quando eu era uma criança! Eu morro, eu pulo daquela proa, mas pra cama com aquele verme maldito e asqueroso, eu não vou!!!
    Orlando a encara, sem ação.
    CORTA RÁPIDO PARA uma porta no corredor, que é aberta. Regina aponta na frecha e passa a ouvir a conversa entre Orlando e Kênia.
    CORTA pros dois. Ele pega no cabelo dela.

    ORLANDO
    (lentamente) Você vai, sim!
    KÊNIA
    (berra; chora) Eu não vou, não!

    Orlando SOCA a cara dela com toda sua força, a derrubando brutalmente no chão.

    ORLANDO
    (berra; explode)
    Você vai, sim!!! Sabe por quê? Porque você é minha puta e sou eu que to mandando!!!

    CORTA PRA REGINA, perplexa. Nesse instante alguém a puxa para dentro e fecha a porta.

  48. INT. EMPIRE - HOUSE PINK - SALA- NOITE

A sala é um camarim. Lívia tranca a porta e larga Regina, que vira-se, encarando-a, assustada.
LÍVIA
(indicador à boca; pede silêncio; sussurra)
Você não pode falar nada. Nada. Por favor.

REGINA
(atônita; sussurra) Meu Deus...
LÍVIA
(sussurra)
Pois é. É isso. É isso que nos prende aqui.
(pausa)
Agora você tem que ficar quieta, por que se alguém deles descobrir que você não concorda com essa sujeira, você já era.
CORTES DESCONTÍNUOS entre ambas.

FIM DO EPISÓDIO

FADE TO BLACK.
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