1x01 - O VELHO HOMEM
A cidade de Rock recepcionava um frio absoluto quando os garotos chegaram ali. Era um parque com uma das reservas naturais mais belas do Estado e com uma excelente vista para o lago.
No Sul do país, a cidade era pequena mas com um bom comércio, lucro o suficiente para não depender do governo corrupto e com poucos habitantes.
Mas que claro, tinha os seus problemas.
E os meninos se reuniam, naquela
manhã, para buscar
o Senhor Jesus. Eram muito fiéis e havia uma
colônia de cristãos naquela região.
E como com quase todos os novos convertidos, os mais novos eram apaixonados, dispostos a fazer qualquer
coisa pela obra.
— Está um frio na manhã
de hoje hein, Hélio — dizia
o camarada Vinícius, cortando o silêncio
daquele inverno e ajeitando a lenha no local onde montaria uma cabana.
— Sim, está até neblina,
que há um bom tempo eu não vejo, mas numa boa, eu adoro esse tempo.
Daquele parque era possível ver a cidade e as suas casas cobertas pela neblina. O gelo era intenso mas eles adoravam o frio. E aquele cenário dava um aspecto de filmes que se vê em fins de tarde, com pouca luz e um cenário demasiado intrigante.
— E aí, o que vamos fazer ? — interrompia ele o silêncio.
— Olha Marcos, acho que está um frio tremendo pra gente acampar.
— Eu não acho — Marcos
voltava-se e apanhava
alguma coisa no bolso de sua jaqueta, muito provável que um canivete.
— Bom, se vamos acampar
ou não é bom decidirmos logo, Brenner deve estar
congelando no carro.
O que era mas não era
verdade. O colega deles, policial, concedeu-lhes uma carona até ali,
e sim, estava congelando mas estava muito concentrado no seu trabalho.
O carro da polícia o acolhia enquanto estudava alguns casos que lhe
foram concedidos.
— Então está decidido,
nós vamos embora,
voltaremos talvez, na primavera.
Marcos lançou o olhar para o alto,
era muito provável que caísse uma boachuva.
O que foi um alívio para Brenner, que já pressentia que naquele frio eles não iriam
acampar, e voltava seus pensamentos ao inquérito de roubo que analisava.
Era uma cidade de poucos crimes,
mas os que apareciam, era dignos de ser
minuciosamente apurados.
Um vento porém forte bateu e balançou os papéis. O policial sentiu a
geada contra a face e, vendo que o vento se agravava, se tocou que estava há mais de vinte minutos
ali. “Esses caras precisam ir embora,” pensou.
Saiu do carro
e se encolheu, a jaqueta
não o protegia, e se manifestou aos rapazes, que estavam acima, no morro:
— Ei, já decidiram se vão ficar aí ou não? Eu preciso ir
embora!
— Eu preferia acampar
-interveio Marcos — mas o Vinícius
é uma mocinha e não quer ficar resfriado.
Brenner, levando
as mãos aos bolso, ria de lá de embaixo.
— Não tem essa, Vinícius. Tem que ter muita coragem para acampar nesse inverno — o amigo retrucava, talvez não gostando muito da brincadeira.
— Vocês que são maricas, nesse frio junto ao calor da oração o frio nem irá me incomodar. A frase fez Brenner se lembrar de quando era um cristão fervoroso, e do aquecimento ao corpo pela oração. O fogo do Espírito.
— Bom, hoje eu prefiro fazer uma fogueira lá em casa com a minha gata! — dizia o policial para descontraí-los.
Vinícius, virando,
gritava para zombar:
— Gata mulher ou animal, Brenner?
— Uma bela mulher Vinícius! Seu palhaço haha ! E se não quiser passar
frio nesse inverno, recomendo também que encontre a
sua!
E riam os demais meninos.
Era uma relação
de amizade que eles tinham
há muitos anos. Um vento forte batia mais uma vez.
— Bem, eu vou deixá-los pensar
por mais cinco minutos, preciso
resolver mais alguma coisa aqui no carro.
— Ok, vai lá cara, vamos
orar e creio que já estamos indo.
Brenner nada disse,
assentiu com a cabeça e voltou ao seus afazeres.
Eles foram caras de pau ao ter pego uma carona com ele para ir até o
parque. Enfim já que se reuniram ali, bastava analisar se era caso viável,
acampar, uns dois ou três dias, orando e lendo a bíblia,
afim de cumprir
algum propósito com Deus, e se aproximar mais d’Ele.
Brenner dissera que o carro
da polícia não era para essas coisas,
mas que quebraria esse galho
porque eles era amigos, se conheciam há muitos anos e ele estava de passagem
por ali, mas que na próxima eles iriam caminhar como que do Egito até Canaã a pé.
Eles riram e foram, Marcos deixou um riso sair no rosto quando se lembrou que acordara cedo, tivera ideia de reunir os amigos para ir ao parque, orar pelo seu propósito de passar um tempo na Irlanda, aprendendo um pouco sobre lá e apregoando o Evangelho do Senhor.
Ide e pregai o Evangelho em todas as nações.
Até que, numa movimentação que escutaram vinda dos matos,
interferindo nos risos altos de zombaria que faziam, viraram-se e viram uma
garota.
A princípio não dava para distinguir quem era, e sim que era uma loira
alta e com uma mochila de escola.
— Ah…Anne — logo reconheceu Vinícius.
Marcos já desejou com ela voltasse, não tinha uma boa
relação com ela, e se começassem a falar, é bem certo que iriam brigar.
Anne era uma garota cheia de opiniões políticas, ativista, feminista,
mas cheia de uma característica que Marcos
não se identificava muito: era ateia. Até em si o problema
não era esse, mas sim que ela zombava dos cristãos, perseguia-os, fazia
pouco caso.
Semana passada haviam
tido uma discussão excelente no colégio
devido ao casamento gay.
Ela dizia que os cristãos não passavam de homofóbicos e que deveriam
cuidar de suas vidas. Marcos tentava rebater, que não eram todos homofóbicos, e
que aliás nem homofobia era, de tratava de uma tradição judaica, mas ela não
aceitava, e nem entendia.
Suas manifestações também eram artes que criava, manifestando que Deus não existia e que era a maior invenção que o homem já criou.
“Criaram um Deus e hoje lançam sobre ele suas expectativas para fugir de seus problemas”, dizia.
Foi quando ela buscando uma planta para um trabalho que tinha de biologia, virou o rosto e viu-os ali.
Ficaram todos parados, perplexos, a vendo para o que ela iria fazer aquela fazer. Ela viu que o momento era dela.
— Olá cavalheiros, bom dia! O que fazem essa manhã?
Ela tinha um riso sarcástico no rosto, falava com ironia.
— Estamos reunidos aqui, é isso — manifestou-se Marcos.
— Ah sim,
reunidos? -andou dois passos — mas, visto que são cristãos, algo devem estar fazendo,
sim? Dois ou três de vocês se reúnem com algum propósito, não é isso mesmo? Onde
houver dois ou três em meu nome, eu estarei presente, como é a frase mesmo?
Viram que ela estava prestes a caçoá-los.
— Estamos buscando
a Deus, Anne.
Roger, quieto até então — o mais calado
mas o mais violento, já tivera algumas
confusões por ser briguento mas há um ano se convertera a um homem
cristão, e gostaria de ser mais pacífico — lançou
um olhar para a menina,
sabendo das suas intenções e o que diria,
e para a surpresa de Marcos e Vinícius, cerrou os pulsos.
Ela, não muito surpresa, respondeu:
— Ah sim, e Deus está aqui?
Calaram-se.
— Ai, como pude!
— continuava, deixava a bolsa no chão e iniciava o espetáculo — preciso correr, tenho sido uma trágica
pecadora!
Roger dava um passo à frente.
Tinha vontade de olhar nos olhos dela, perguntar o que
ela queria, para que ela se tocasse de vez que estava incomodando.
— Olha Anne, estamos
orando, queremos um pouco de privacidade, será que pode nos
dizer o que a traz aqui?
Ela demorou um minuto antes de retornar:
— Ah sim, querem
privacidade em um parque público? Bem, entenda que enquanto vocês procuram o Deus de vocês, há muitos que estão morrendo
de fome, sabiam disso?
Marcos e Vinícius
se entreolharam, hesitaram, e disseram:
— Sim, sim, sabemos.
— Ah , sim! Peça para
o Deus de vocês tirar a fome dessas crianças,
se ele é tão bom.
— Sim, sim, pediremos.
Ela os olhou.
— Mas será que ele irá ouvir?
— Como? — fechava o olhar Roger.
E, ah, sim, entenderam, uma garota logo cedo
querendo confusão no parque Armani.
Ela sorriu.
— Será que Ele os escutará rapazes
haha? Podem me confirmar se ele ouviu a oração? Roger sentia-se um pouco mais
irritado, enquanto Anne prosseguia dizendo outras palavras, um pouco impróprias
referente ao nome que proferiu.
— Ei, Anne, será que você pode parar? Ela continuou.
— Ei Anne?
Roger pediu pela segunda vez.
— Mas, por quê?- parecia não querer parar — O que irá acontecer? Vocês irão me bater? É isso o que fazem rapazes como vocês?
E ele pediu a terceira.
— E digo mais…
Prosseguia a menina com insultos a fé de Roger
que o tiraram de si. E dali em diante já não era mais ele, não mais o
Roger quieto, era “o velho homem.”
Saindo de seu lugar, raivoso, atravessou a distância tomado a fúria,
como nos tempos de gangue, mas ora como ousa tamanha ofensa falar assim do seu
Jesus, e por amor a ele, a vendo caçoando e os incomodando, a golpeou.
Um chute certeiro na coxa que a fez perder o equilíbrio, indo ao chão.
Ela tentou fugir, se debateu. Não esperava aquilo. Queria rir alto e
tinha um sorriso sarcástico no rosto. Seus cabelos encaracolados se espalharam
na grama.
Marcos e Vinícius
se ausentavam.
“Ah garota, eu demorei muito para sair das gangues, mas você está despertando o velho homem.”
Ela ficou incrédula. E pela primeira vez, com medo. Ele era um rapaz forte e poderia machucá-la.
Talvez não devesse ter dito aquelas palavras, quem sabe? Roger estava tão frio! O clima parecia um pouco mais tenso. E o rapaz, um pouco fora de si.
Ah sim, ouvira dizer que ele era um
rapaz de brigas anteriormente.
No mato, sentiu
o vento gélido
contra seu corpo, seu material
caíra, e temera.
O que ele faria agora, a estupraria?
— Roger, acalme-se, vamos deixar ela ir embora
— alertou Marcos, de longe, vendo que
seu amigo se descontrolava.
Foi essa frase que o fez pensar.
Ela lembrava antigas
garotas de gangue,
meninas vadias que quase lhe tiraram a vida, uma outra história.
Mesmo com o Espírito
fora de si, ele dizia:
— Não ouse falar assim do meu Jesus outra vez.
Ela o olhou. Aquele olhar
de menina que não temia nada dessa terra. O que Roger faria?
Esperando o que aconteceria, o desafiando, quase sem pensar, o disse:
— Estou cagando
e andando para o que você acredita
e — continuando com termos
ofensivos ao Pai, a ponto de Roger ver como ela era ousada.
Ele ficou bem a fundo em seu olhar. Respirou. Estava cheio de fúria. Sem pensar, pegou um pedaço de pau que estava ao seu lado, ergueu-o e a golpeou.
♦♦
O sangue esvaiu-se lentamente sobre a grama. Roger tinha os olhos arregalados e parecia espantado. Não queria ter feito tal, não tê-la matado. Verificou, meu Deus, ela ainda respirava?
Marcos e Vinícius se entreolharam, acreditavam que ele pudesse ter golpeado ao dela para assustá-la, mas não na cabeça, não golpeá-la de fato.
Até que viram que ele ficou paralisado. De costas, e ao longe, Marcos viu que ele tremia.
— Ei, cara, está tudo bem aí?
Ele abaixou a cabeça, ele não estava nada bem. Sentiu-se estranho consigo mesmo mais do que nunca. Viram que ele perdia a fraqueza do corpo e, sem forças, dizia:
— Ei, Marcos, venha ver um negócio aqui.
Sentia que seu coração batia um pouco mais
forte.
Marcos era o único seu tinha atitude.
O único que parecia mais racional.
Ele se aproximou e viu que a garota não se mexia. Estava provavelmente morta. Tremendo, pegou no ombro do amigo.
Ele estava pálido, e lacrimejava.
Vinícius preocupou-se, sabia que Brenner
ainda aguardava no carro, e que poderia aparecer, e mais assustador, agora
ele era um policial.
Brenner estava fazendo de tudo para honrar seu cargo, e aquele seria o
primeiro caso em flagrante. Afinal era pouco que assumia aquele cargo. Não
podia vacilar. E seria muito difícil fazer isso com amigos. E como.
Mas, por algum motivo,
Brenner ainda não subira. Seria um traço do destino?
Uau, que indecisão, nunca o
Parque Armani trouxe tanto medo. Inertes, viram Vinícius até onde podia averiguar
se o novo agente da cidade de Roque suspeitara de algo. Ah, ótimo, ele
estava concentrado, ainda averiguando algum inquérito.
Analisou, porém, nossa, que caso! Mas havia sido acidental, ele entenderia? Defenderia a Roger?
Deixou onde estava
e procurou ir até o autor da coisa,
que mal se expressava.
— E-eu — trêmulo, não conseguia exprimir
as palavras — eu não queria matá-la.
Podia ver o medo nos seus olhos. Muito medo.
— Não, não, mas é claro
que não — consolava Marcos.
Ele amava-o.
Era um amigo de infância, se conheciam há muito tempo,
faria de tudo para inocentá-lo.
— Ei, apressem-se — impunha
Vinícius, com firmeza,
e dizia — antes
que Brenner apareça. E sugeria que dessem um jeito no
corpo dela.
Marcos, perplexo, virou-se:
— Ei, Vinícius, nós faremos isso?
Ele parou. Havia uma gravidade
naquilo.
— Nós já vamos
responder por homicídio, e também por ocultação de cadáver?
Vinícius escutou. Parou um minuto.
— Veja o pulso dela, veja se ainda está viva. Vá que ainda não esteja
morta, podemos salvá-la.
— E o que diremos?
— Que ela nos provocou!
— A ponto de tentarmos matá-la?
Silenciaram-se uns instantes.
— Eei, rapazes, vamos embora!
Os três tremeram.
Aquela voz não era dali. Haviam pouco
tempo para decidir.
E pior, seria Brenner?
Entreolharam-se e viram que, caso fosse, não teriam vontade
de contá-lo a verdade.
Atrás deles porém somente o vazio do parque. Ainda havia uma oportunidade de se
livrar da garota.
Apressando-se, portanto, Vinícius
saltou e pegou-a
pelos pés, acenou para que Marcos
ajudasse a levá-la para o fundo.
Ficou em dúvida se estava realmente morta, não houveram como ver o pulso, o amigo agora da justiça apareceria a qualquer momento, furioso e querendo respostas, enquanto eles estariam como cúmplices! Era melhor dar um jeito nela — que não se mexia.
Um dia, quem sabe, contassem-no.
A justiça de Deus não falha, ele era muito ciente, um dia pagaria por aquilo. Assim como um dia o policial que analisava os inquéritos saberia a verdade.
É, nada fácil ser policial. Você não imagina o que os seus amigos fizeram, cara.
Foi quando Roger caiu em si e pensou
em criar um plano.
Só que Vinícius foi mais rápido. Pegou-a no colo e foi em direção ao
mato. As árvores balanceavam com seu caminhar. Era incrível como seu passo era
rápido. Notaram alguma movimentação enquanto ele sumia naquele verde. E ele não
demorou muito. Voltou, porém, afoito e preocupado. Livre da garota pelo menos.
— Ei, brothers!
A voz desta vez os assustou, os pegando em cheio. Estava
mais perto. E quando olharam para trás, ah, lá estava ele: com as mãos na cintura, pronto para erguer
o distintivo e se
preciso a arma, para intimidar, olhando extremamente desconfiado.
— Ei, rapazes, aconteceu algo de errado?
Pronunciou-se firmemente, o bastante para baixarem as cabeças. Era uma
voz autoritária, que percorria
todo aquele canto do Parque
Armani, dizendo bem o que fazia.
Dizia bem da autoridade que tinha.
Roger paralisou. Os dois parceiros pareciam mais naturais.
Ei, ei. O clima no parque não era mais o mesmo, mas alguém precisava pronunciar alguma coisa, sim?
— Não, não, Brenner — pronunciou Vinícius lentamente, com lábios trêmulos — nós só estamos…conversando. A propósito, o que te faz perguntar isso?
Ele não se convenceu. Subiu um pouco mais. Se aproximou. Cada passo congelava mais o coração de Roger, que pensou que não era mais um homem
violento. Via-o cada vez mais perto em seu uniforme. Sua bota era firme sob o terreno. E ele, ah, memorável, já tinha jeito de polícia, de delegado, de homem que veio para
resolver.
— Nada, contudo…
Ele avançou
mais uns passos.
— Acontece que Roger me parece muito pálido — mencionou.
Sim, claro, era impossível disfarçar. Porém não, não é possível
que você tenha visto isso, cara.
O suspeito virou-se. Brenner olhava a fundo em seus olhos. Sim, havia
algo errado, e muito errado. Mas o que teria acontecido? Eles só haviam subido
somente para orar, ora!
— Roger…
Com um olhar que já os assustava, mudou sua expressão. Não era mais o amigo de anos. Era o amigo policial, que fazia bem o seu trabalho.
O Parque Armani nunca lhe deu tanto medo.
— Roger, aconteceu alguma coisa? — contestou lentamente e com um aspecto
de durão. Os olhos do parceiro mostravam toda a sua história. O via desde os
tempos em que ele era um rapaz violento até passar pela sua conversão.
— Não, cara…não
há nada de errado por aqui — disse.
Sentiu o peso por não ter contado a verdade, e o policial manteve o
tenebroso olhar. Quase podia vê-lo erguendo as algemas.
Até que, de relance, viu uma bolsa de mulher atirada. E claro, estranhou.
— Ei, esperem. O que esta bolsa está fazendo
aqui?
Os olhos de Marcos arregalaram. E ignorando Roger,
o passo do policial foi de encontro ao objeto.
Marcos vendo,
prontamente, justificou:
— É sobre o que conversávamos, Brenner! Deve ser de alguma
menina do colégio.
O policial absorveu
nada disse. Se aproximou da bolsa e a apanhou,
analisando. As mãos negras pareciam firmes mesmo que o
frio os levassem a tremer.
Interessante. Parecia intrigado. E como não esperavam, num gesto
automático, o policial avançou mata adentro. Justamente na direção onde Vinícius deixou
a garota. Ah, céus, o que aconteceria? Calaram-se.
Se ele visse a garota estavam perdidos. Trocaram olhares e bastou observá-lo,
tensos.
Parecia um lobo atrás da presa. O amigo de tantos anos agora policial.
Agora muito atento, muito justo. Ao seu ver todo detalhe era importante, e
como.
Diante de si, as folhas se mexiam com o vento, a noite
vinha. Os rapazes ficavam preocupados.
Ele parou. O silêncio só no era total pelas árvores que balançavam. Virou o olhar à direita e à esquerda.
Aqueles segundos, sobretudo para Roger, pareceram uma eternidade.
Marcos por sua vez quis mais do que nunca de naquele instante estar com sua
namorada. Se sentia seguro quando estava ao seu lado.
Brenner virava o pescoço de um lado para o outro, atento
a cada detalhe. Nada errado, sim aparentemente, mas não nitidamente.
Sem saber mais o que iria acontecer, quando parou entre o matagal com
cenário assombroso de inverno, aliviou-se quando ouviu um telefone, e por
sorte, não era seu, era do policial, que tirou-o do grau de concentração que
estava.
O toque do celular tirou-o
daquela concentração, um rock clássico. Roger observou.
Virou-se, e atendendo, a ligação tirou-o
de todos os seus pensamentos.
Era seu superior. Um alívio junto a mais uma geada do vento gélido. Talvez
fosse mais viável mergulhar
no lago de tanto medo.
Do outro lado da linha,
diretamente ao novato
que erguia o olhar para o alto, se ouvia:
— Ei agente 51, onde você está? Preciso
que atenda uma ocorrência aqui.
Roger pensava
no que aconteceria. Seus amigos,
sabia, seriam no máximo partícipes. E ele, iria para as grades?
Afinal, teria ele realmente matado
a garota? Anne realmente merecia morrer?
Até que, de uma luz veio à mente do suspeito, e cortou o agente antes
que ele se pronunciasse quando este virou, ao já desligar o telefone, pois
estava prestes a dizer alguma coisa:
— Ei, Brenner…você não tem que se encontrar com sua namorada para a
apresentação dela hoje à noite, não é mesmo?
— Nossa cara, pelo amor de Deus, se eu perco
a apresentação de ballet dessa garota, é um mês de castigo, um mês sem sexo, eu
nao quero que isso aconteça.
— Ah sim! E você
nao quer que isso aconteça, não é? — intervinha Vinícius puxando o momento de
riso. Os demais meninos gargalham como nunca, aproveitando a oportunidade da distração e da fala que saiu, tirando ele de uma tensao paralela
a uma descoberta que se
realizada os deixariam perdidos para sempre.
Era tão bom ver um sorriso num dia como aquele. Obrigado
céus!
O clima havia ficado
muito menos tenso com a mudança de assunto, com o sorriso,
e perceberam que o policial já tirara a sua atenção e ele se voltara aos
afazeres.
Roger sentiu um alívio quando viu-os se afastando de onde estava a garota. E, além disso, sim, ele havia chego lá, era isso que mostrava o seu passo, ele alcançou o cargo que tanto sonhou e caminhava não só ao seu carro, mas junto aonde seu destino o chamava.
— Sim, sim! Bem lembrado! — passou por eles, um tom de voz já diferente- bem, vamos rapazes, creio que não irão acampar, certo? Depois me acertem esse carona haha, vamos embora.
Roger não sabia expressar como estava mais calmo. Viu que seus parceiros de anos o acenaram com um olhar e os seguiu.
Já o policial, desconfiado, virou-se de costas de onde
viera e sorriu-lhes, embora soubesse que, sim, havia algo muito, muito errado
naquele lugar.
♦♦
O frio naquela noite deixou parque, tão frequentado mesmo após às oito, completamente vazio.
Parecia que fora só mais uma dia normal na cidade de Rock. O comércio fechara no horário e a cidade ficaria mais tranquila naquela noite.
Um sábado
onde nem os namorados se encontrariam na praça. Somente
cães e os que trabalhavam à
noite seriam vistos.
E eram quase nove horas. O apartamento de Brenner estava
somente com a presença
dele e de seu terraço, tinha uma vista da cidade.
Olhou-a brevemente, e quem sabe, mais adiante,
pensasse em se mudar para uma
grande cidade.
Por enquanto, ele gostava dali,
tinha uma vida razoável, uma namorada muito bonita,
nem muito nem pouco dinheiro, um apartamento só seu.
Era conhecido por todos e muitos diziam
que ele adquirira muita sabedoria nos últimos
dois anos.
Claro, sofrera, aconteceu um incidente em sua vida que o abalou muito,
mais até que em sua namorada, que fora a morte do
bebê que tiveram.
Devido a um problema de saúde,
já nascera morto.
Não teve a chance
de conhecê-lo, vê-lo crescer, ser um bom
pai.
Claro, era novo, vinte e dois anos, mas já maduro o suficiente para manter uma criança, tinha estrutura para ter família, mas o que ele menos entendeu, foi por que Deus ou o universo o tiraram dele.
“Talvez porque você seja novo, ou ainda tenha muitas coisas para aprender”, foi a resposta mais plausível.
Porém, embora não tivesse tido culpa, sentir-se culpado. Preparara-se emocionalmente e espiritualmente para
tê-lo, iria amá-lo e ensiná-lo a ser um bom rapaz, a respeitar as moças e, se
quisesse, assumir a carreira policial.
A sua relação com a polícia também
tivera a sua história. Deixara a faculdade de Direito e fora
para as ruas, quase que atendendo a um chamado. E teve as experiências das
ruas, a cidade de Rock era de poucos crimes mas ele prendeu um bandido, matou
em legítima defesa um assassino, atendeu algumas ocorrências e foi criando
gosto por aquilo.
Queria também migrar para delegado, o que o fez terminar a faculdade e conquistar o diploma, para não só ser delegado da cidade, mas líder do distrito.
O chefe de polícia mais novo da cidade de Rock, o simpático e amigável Brenner, namorado de Kathelyn Rodrigues e conhecido por todos, desde por ajudar em projetos sociais ou anteriormente ajudar a polícia a localizar alguns bandidos.
Tudo o que ele queria era a cidade de Rock pacífica, e visualizando mais habilidades como chefe policial do que como possível vereador, abraçou a ideia.
Era um menino abençoado, que se lembrava muito da história de José, que o Senhor era com ele, e que punha a mão em tudo o que ele fazia.
O que o abalou, porém, foi a perda da criança. Diziam que ele nunca se
esquecia, que por um tempo não queria ter relações com Kathelyn e, só quando
estava próximo de alcançar o cargo de delegado, se sentia mais feliz, o vinham
sorrindo e mais entusiasmado.
Mas ele estranhara, naquela noite, pela primeira vez em tantos anos, a atitude de Roger.
Ele estava muito estranho naquela tarde.
E como não tinha tempo para voltar no parque é poder averiguar, pensou
que alguém poderia verificar.
Foi até a janela, num breve segundo que tinha desfrutar um vinho, e ligou para Jefferson.
— Ei, Jefferson, como está?
— Opa, excelente Brenner,
o que manda?
Era bom ouvir a voz sempre
enérgica do amigo
policial, disposto a obedecê-lo e a fazer o melhor trabalho.
Talvez, porém, naquela
noite ele não gostasse tanto
do serviço.
— Graças a Deus tudo bem cara. É o seguinte, eu preciso que você vá até o parque Armani.
— Ah, sim…o que? —
percebeu um susto do outro lado da linha.
— Sim sim. Isso
mesmo. E se possível agora. Creio que algo esteja errado por lá. Jefferson ficou sem entender, o que poderia
haver de errado
no parque Armani,
ainda mais numa noite de frio como essa?
E aos poucos esclareceu, sim, inverno, poucas pessoas, muito fácil de haver um assassino à espreita.
— Sim, com certeza. Precisarei de reforços? Aconteceu alguma coisa?
Brenner respirou um instante. Gostava
de passar tudo com estratégia.
— Veja bem, Jefferson. Haviam
alguns garotos lá hoje à tarde, me pareceu estranho
o comportamento que tinham, e pareciam esconder alguma coisa.
— Hm, sim, e que garotos?
— Bem, Jefferson — pensou em preservar a identidade dos amigos — não
vem ao caso agora, certo? São uns conhecidos. Mas vasculhe perto da
vista do lago.
— Pode deixar Brenner,
amanhã cedo eu…
— Não, eu preciso
que você vá lá agora.
E percebeu que o subordinado não gostou.
— Ah, está bem, vou me direcionar para lá e já
te passo informação.
— Perfeito.
♦♦
Eles foram cada um para suas casas.
Roger um pouco perturbado, Marcos e Vinícius
preocupados.
Em seu quarto, naquela noite Roger não conseguia orar. Não sabia da sua cabeça o rosto da manhã.
Dizem que quando matamos alguém, sonhamos com a sua face, será isso verdade? Ele se lembrava de brigas terríveis que tivera antes de converter-se, mas nenhuma a ponto de matar.
A mais terrível fora num bar, antes de conhecer a Deus, um sujeito forte o provocava. Pediu para parar, como fez com
a menina, mas a resposta fora que ele revidou quebrando uma garrafa de cerveja.
— Ei, vem então rapaz, se você é tão valentão.
E ele foi, disposto
a sujar a jaqueta de sangue, rasgar partes de sua calça,
trocar facadas e muito soco.
O sujeito, alto, gordo, bravo,
saiu gritando para cima dele, por sorte
de Roger saber
uns golpes de defesa, e jogá-lo contra a mesma.
Brigavam por causa
de um comentário de um jogo de futebol que acontecia.
O bar se agitou,
gritavam apoiando a briga, a morte o sangue em um canto não muito pacífico em Rock.
No começo ele apanhou,
mas assim que encontrou uma entrada para socar, deu tantos
socos na cabeça do indivíduo que ele veio a desmaiar.
Todos perplexos, calados e se perguntando se o oponente
teria morrido, foram surpreendidos com a polícia que
entrava querendo saber o que acontecia.
Não tiveram
muito tempo para explicar. Levaram
Roger e o sujeito forte até a delegacia
onde, informado pelo legista que mais um pouco, ele teria morrido.
Roger saiu um pouco espantado com sua fúria e, viu que quando
não se continha, já estava
feito.
♦♦
Roger tentou dormir. Isso é, se conseguisse. Não, ele não podia voltar ao passado. Hábitos como sair no soco com alguém era algo de lá trás, ele era agora um novo homem, não devia sair no soco com amigos ou matá-los.
Ou, mais profundo do que isso, ele teria que amar os inimigos.
Não podia pensar no que daria quando encontrassem o corpo da menina, o
que faria, se mudaria de cidade, se ligasse para Brenner.
Não, talvez
ligar não fosse
uma boa ideia.
Se assustou, se assustou
consigo, se assustou
com as suas mãos.
E após muito pensar e não chegar a lugar
nenhum, via que o sono vinha às pálpebras, é que talvez o amanhã tivesse alguma
solução.
Deitado, com medo,
confuso, não esperaria o que estaria diante
de seus olhos. O corpo queria dormir mas a mente estava
intensa, o sangue fervendo.
Virou-se, por fim, amanhã resolveria.
Foi quando, sem esperar que acontecesse, e ficou mais assustado, como uma garota, um fantasma, não era possível, sim, era Anne, semimorta, não sabia dizer, mas havia alguém o olhando, não em corpo físico, mas numa miragem deformada, e essa pessoa era Anne, quando ele teve consigo que a assassinou.
Breno Roque
Elenco Brenner Roger Kathelyn Anne Vinícius
Tema Prelude and Action Intérprete Kevin MacLeod
Criação e edição da abertura
Daniel Montagner
Carlos Mota
Bruno Olsen
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO

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