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A Deusa Bandida: Capítulo 07

Novela de Carlos Mota
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A DEUSA BANDIDA - CAPÍTULO 07

Matilde, que ao lado de Martim, tentava contato com a polícia, sente-se mal, desfalece e só não encontra o chão, porque ele a segura.

— Matilde, ei, acorde, o que há? Matilde… Volte, mulher! Volte!

— gélida e pálida como os mortos, ela não reage.

— O que está acontecendo aqui??? — pergunta Cleide, numa camisola com um furo que deixava parte da barriga à mostra, entrando na sala. — Crendiospai! — assusta-se, levando as mãos à boca. — O que o senhor fez com ela?

— E-EU? Eu não fiz nada! Não está vendo que ela desmaiou?

Pegue um copo d’água já! A mulher obedece.

— Matilde, Matilde… — insiste o homem, dando leves tapinhas em seu rosto. — Matilde…

— Você precisa ser rápida, minha querida amiga, minha neta corre sérios perigos! — pede Dona Beatriz, diante de um jardim adornado por flores e pássaros de todos os tamanhos e espécies, sob um feixe de luz, tendo ao fundo enormes montanhas cortadas pelas águas serenas de uma cachoeira.

— Onde estamos??? — assombra-se com a beleza do lugar. A matriarca dos Vaz não responde.

— E o que houve com a menina? — indaga a empregada.

— O que eu mais temia…

— E o que seria? Eu não entendo, não sou como a senhora, não tenho a sua bondade…

— Não diga tal coisa — entrecorta-a, sorrindo. — Sua bondade é tão extensa, que nas horas mais difíceis se agiganta, tornando-se uma proteção inquebrantável.

— O que uma simples empregada como eu poderia fazer? Ninguém me ouve… Sabe, tenho alertado insistentemente, mas… não sei… não acreditam!

— ACREDITARÃO!!! — interrompe-a, de ímpeto, dona Beatriz.

— Como??? Como senhora??? CO-MO?

— Diga a todos o que seu coração lhe soprar aos ouvidos, não tenha medo, eles ouvirão…

— Mas o que houve com a pequena? A senhora ainda não me respondeu.

A mulher dá um passo para trás, corre os olhos ao redor, enche os pulmões de ar e o solta bem devagar, como se temesse a resposta.

— Fale, senhora, por favor!!! — implora.

— Luara se perdeu em sua História e recuperá-la será um trabalho árduo, que exigirá muita coragem, muita dedicação e AMOR, que só você poderá ofertar… Aquela garota que tanto apreciávamos pela sensibilidade, simpatia e simplicidade, MORREU.

— Nossa me-me-nina mo-mo-morreu? — enche os olhos de lágrimas.

— Há várias formas de morrer; assim como há de se ressuscitar.

— Eu não entendo!

— Entenderá quando chegar a hora… — afasta-se, bem devagar, até não ser mais avistada.

— Senhora, não vá… SENHOOOOOOOOORA!!!!! — implora, enquanto recobra os sentidos. — Não vá!

— Matilde, ei, estou aqui… Ela está voltando, Cleide, veja! — anuncia o general, mais aliviado, ao perceber que ela recuperava a cor em meio a frases desconexas.

— Crendiospai!!! Acho que ela está com encosto! Veja o que está dizendo, ninguém entende nada, seu Martim. Sabe, lá em Ceilândia teve uma mulher que desmaiou como ela, todo mundo disse que tinha batido as botas, mas do nada a bicha acordou e passou a prever o futuro dos outros, como se fosse alguma feiticeira, até que um senhorzinho chegou bem perto, deu uma olhada bem fundo nos olhos dela, pôs a mão em sua cabeça, disse duas ou três palavras, e o bicho que tava nela desapareceu como fumaça. É, eu vi com estes olhos que a terra não há de comer, porque são lindos, não são?

— Cleide, por acaso você é parente da Leonor? — pergunta o homem, bastante irritado, ao ouvir a conversa amalucada da cozinheira.

— Não, senhor! Até queria, porque dona Leonor é minha “ídola”; o senhor acredita que…

— CHEEGA! Cale essa matraca e me ajude aqui, precisamos levá-la até o sofá.

— Senhor, não quero me envolver, mas não vai pegar bem vocês dois de pijama, no sofá… Vai que dona Leonor acorde, sabe como é, as duas já não se bicam, até o senhor explicar, o pau já terá comido. Aff! — faz o sinal de cruz. — Tenho até medo de imaginar.

— Meu Deus, abriram a porta do manicômio! — confidencia-se, enquanto pega Matilde no colo e a coloca no sofá.

— O que se paaassa aqui??? — cobra Leonor, descendo as escadas, presenciando a cena, após ser atraída pelo barulho.

— Eu avisei, senhor… — afasta-se a mulher, escondendo-se atrás de uma coluna.

— Ela desmaiou, o que queria que eu fizesse? Que a deixasse no chão?

— Bem, eu não vi quando ela caiu, mas se o seu Martim disse, porque é verdade — comenta a cozinheira.

— E por que eu mentiria, sua… sua atrevida? — repreende-a, com os olhos em brasa. — É cada uma! Hum!

— Que deixasse!!! Meu sofá não foi feeeito para colocar qualquer baguuulho, principalmente desta laia. E se está desmaiando, é porque está doente, e antes que nos cobrem o tratamento, que a mande para a rua, de onde jamais deveria ter saído.

— VOCÊ PRECISA DE UM MÉDICO URGENTE! — conclui o marido.

— Médico? Dona Leonor é uma “flor”; melhor que ela não existe… Hum! Até existiria, se Deus resolvesse repetir a dose. Nossa, imagine só, seria o máximo ter “duas dona Leonor”… — interfere Cleide, para a ira do general, que a manda calar a boca, novamente.

— Não fale assim com a Cleeide, ela é minha fã…

— E não sou só eu, Ceilândia inteira. Sabe que pediram que eu a convidasse para participar do carnaval de lá? Querem a senhora como tema do desfile, no mais alto carro alegórico, para que todo mundo veja o quando é MA-RA-VI-LHO-SA!!!

— Verdaaade??? Num carro alegóóórico? — desvia-se do assunto.

— Sim, numa bela fantasia confeccionada lá nos barracos da favela… Eu até vi o desenho, a senhora iria parar nas capas das revistas como “a dama da pobretada”.

— Que horrooor!!! Pobretada??? — faz cara de nojo. — Não quero! De pobre, nem bom-dia eu aceito.

— Como pode dizer tal coisa, dona Leonor? Logo a senhora, a quem adoramos? — repreende a cozinheira, um pouco chateada.

— Me adoooram???

— Tem até gente dizendo que a senhora é a melhor influencer do Brasil…

— In-influencer, EU??? Veja, Melancia, tô com a moral, a ralé me ama — gaba-se. — Pena que é tudo pobre, e de pobre, aff, tenho até arrepio.

— Mas são os pobres que atraem a audiência, dona, ou como pensa que a Virginia Fonseca¹ chegou aos dez milhões de seguidores? Só de robozinho? Nunca! Primeiro passou a lábia nos mais pobres, e quando ganhou projeção, pescou os endinheirados, entendeu? Fale comigo, eu sei de tudo!

— Verdaaade, Cleeeide! Eu tô é comendo bola, menina! Pois eu adoro os pobres, ô gente boa…

— CALEM A BOOOOCA!!! — grita, Matilde, restabelecida, importunada com a conversa, enquanto Luara, em algum canto, precisava da ajuda deles.

— QUEM VOCÊ PENSA QUE É, VEERME??? — humilha-a

Leonor, com os olhos saltitando de fúria.

— Vixe! O bagulho ferveu! — Cleide cerra os dentes e estala os dedos ao mesmo tempo.

— A senhora me respeite, dona…

— E O QUE VAI FAZER SE EU…

— PAREM VOCÊS DUAS!!! DE NOVO NÃO!!! — Martim as

repreende, com grande agitação. — Luara ainda não voltou…

— … nem voltará!!! — completa a governanta.

— Ela matooou nossa filha, Martim, você ouviu? — afasta-se, com o corpo gemicando. — Ui, agora abrigamos uma assassina; o que vão dizer nossos amigos?

— Assassina??? — estranha a enxerida da cozinheira, comprando a ideia da patroa. — Para mim era encosto.

— Como pode dizer isso, Matilde? — cobra o homem, curioso.

— Eu sinto dentro de mim, alguma coisa aconteceu com a menina e é grave.

— Ah, faaaça-me o favor, nossa filhiiinha deve estar arrancando suor nas pistas daquela boate, ou… — dá um risinho malicioso, enquanto a face ruboresce — … na pior das hipóteses, praticando “pesados exercícios físicos” em alguns desses motéis frequentados por gente da nossa estirpe.

— Crendiospai! E eu achando que ela ainda fosse “moça”… Ui! — solta a cozinheira, sem conter o veneno, para a indignação do patrão, que ameaça despedi-la.

— Não fale assim com a Cleeide, ela é minha protegida nesta casa, ouviu, Melancia? – diz, abraçando-a.

— Senhor, senhor, deixe-as de lado, vamos tentar contato com a polícia… — pede Matilde.

— Você tem razão! Mas é complicado, esta casa está virando depósito de doidos…

— … para abrigar você e sua queriiida serviçal!!! — rebate a esposa, com um profundo sarcasmo.

Martim acata os conselhos de Matilde e as ignora. Liga para a polícia e, dessa vez, quem quase vai ao chão é ele.

— Atiraram em alguém na Hedonê. Meu Deus! Não é onde Luara está?

Pela primeira vez, Leonor percebe a seriedade do caso e, como por milagre, retoma a sanidade.

— Minha filhiiinha, Martim… CA-CA-CADÊ ELA? Se eu a perder também, não aguentarei!

— Bem que eu avisei para que ela não fosse; nunca vi ir a uma boate depois de sair do enterro da própria avó! — cutuca, Cleide, roendo as unhas.

— Pois foi aquela velha maldita que a castigou… Que os vermes a devorem com gosto!!! Mulher do cãããõ! — ira-se, com o juízo oscilando entre a realidade e o desatino.

— Não fale assim de minha mãe, sua desequilibrada!!! — o homem a ameaça com uns bons tapas, mas é contido pela governanta, que tenta acalmá-lo. — Você tem razão, Matilde, não posso perder tempo com estas bobagens agora, pelo que o delegado me disse, ainda não sabem quem é o atirador, muito menos a vítima. Pode ser qualquer um que estava lá, e por que seria Luara? Vamos manter o pensamento positivo. Ligue para o celular dela, nessa loucura toda, até me esqueci disso.

— Sinto muito senhor, estou tentando desde a hora em que acordei, e nada.

Um arrepio, com a força de um relâmpago, corre a espinha do homem, que se cala diante da confusão de pensamentos.

— Meu Deus! Não deve ser nada! — tenta se enganar. — Eu vou até lá! Fiquem aqui e, assim que receberem qualquer informação, me avisem.

— Não quer que o Eufrásio o leve? — sugere a governanta.

— Difícil, hein? Estão ouvindo este motor arriado? Escutem!

— levanta o dedo indicador. — É o ronco dele! — diz a fofoqueira, limpando com a camisola o veneno que lhe escorria dos cantos da boca.

— Mais fácil Jesus voltar à Terra que este homem se levantar da cama. Aff! Empregado é tudo igual, um bando de folgados sem eira nem beira, que só gosta de viver da exploração dos patrões, né, não, dona Leonor? Matilde e Martim entreolham-se, indignados com o comentário.

Longe dali, Egídio chega à rodovia, onde para, ao avistar o acidente.

— QUE PORRA É ESSA? — reconhece o veículo. — Não pode ser! Preciso avisar o chefe.

Ao ligar, ao invés do patrão, fala com Aurora, que aparentando uma tranquilidade de arrepiar, o orienta de como agir. Ele deveria ser rápido, pois a polícia, agora concentrada nas dependências da Hedonê, não tardaria a chegar. A rodovia estava quase deserta e aqueles que lá passavam, não paravam, com medo de assaltos, limitando-se à comunicação do ocorrido às autoridades.

A imagem era desoladora… Conforme se aproximava, Egídio - ainda que acostumado a todo tipo de tragédia - se impressionava. O céu negro, sem lua, ecoava os gritos de prazer da Noite, cujas garras, mais afiadas que o garfo de Hades², garantiram-lhe uma caça proveitosa e suculenta. Nem Hedonê, com o poder do prazer letal, alcançaria tal êxito.

O veículo abatido teve a lateral esmagada; o motorista, um jovem de vinte e poucos anos, e sua acompanhante, aparentemente um pouco mais nova, morreram na hora; já o dos sequestradores apresentava frente parcialmente danificada, para-brisa quebrado, lataria e portas amassadas e retorcidas e para-choque arrancado. O rastro da morte estava por todo lugar.

Bem próximo, Egídio ouve um gemido, abaixa-se, quando encontra Álvaro, que está todo ensanguentado, com a garota aos seus braços.

— Ei, cara, cê tá vivo??? Ei, sou eu…

— Tire a gente daqui! — pede o comparsa.

— Gente? Que gente? Estão todos mortos! — diz, com os olhos nos brutamontes.

— Nem todos! A garota e eu estamos vivos… tire a gente daqui antes que a polícia chegue.

E assim ele faz, puxando-os por uma abertura no porta-malas.

— Porra, ela está sangrando… — constata, assim que eles deixam o carro. — O que vamos fazer?

— Eu… eu não sei… — responde Álvaro, cambaleando. — Mas você precisa tirar a gente daqui já!

Egídio remove a garota até seu carro, deixando um fio de sangue no asfalto; é acompanhado por Álvaro, que tenta manter-se em pé. Minutos depois eles partem. Durante o trajeto, cruzam com uma viatura do Resgate, que avança em alta velocidade, com a sirene rompendo o silêncio.

Na boate, o general é saudado pelos policiais presentes e se dirige ao local do crime. Lá chegando, sente um misto de alívio e desespero, ao reconhecer o corpo da vítima.

— Meu Deus! — exclama.

— O senhor o conhece? — achega-se o delegado, de boa aparência, no auge da idade, com o corpo bem definido e os braços longos e fortes.

— Boa noite, delegado! — cumprimenta-o, ao identificar o distintivo. — Sim! O nome dele é Nicholas; é filho de um diplomata conhecido de minha família.

— Deixe-me apresentar, estou há pouco tempo na cidade… Sou o delegado Enrico, Enrico Mancini, e o senhor, quem é? Pelo que vi, quase todos da delegacia o conhecem.

— Eu sou Martim Sampaio Vaz, general da reserva; prazer em conhecê-lo — aperta-lhe a mão. — Conheço bem esses policiais, estivemos juntos em diversas ocasiões, principalmente naquelas em que a inteligência e a força foram necessárias para se manter a ordem.

— O que o traz aqui, senhor? — interroga o delegado.

— Minha filha estava aqui…

— E onde ela está agora?

Do mesmo lugar em que Sofia estava há pouco, Martim corre os olhos pela casa noturna, que está toda destruída. No ímpeto da fuga, os frequentadores derrubaram as mesas, quebraram taças, copos e garrafas, rasgaram cortinas, arrebentaram vidros e portas… O prazer então ofertado por Hedonê converteu-se em aflição, angústia e… MORTE!

— Onde está sua filha, general? — insiste.

— Estou à procura dela!

— Ela não voltou para a casa? Tentou contato com ela?

— Diversas vezes… ninguém atende!

— Delegado, veja o que encontramos — diz um dos policiais, após levantar o corpo do rapaz —, é uma bolsa…

— Ei, esta bolsa é de minha filha… Não pode ser! Ela está mesmo em perigo — Martim relembra-se das palavras de Matilde.

— Do que o senhor está falando? — estranha Enrico.

— Cadê as imagens das câmeras??? — pede o general, elevando o tom de voz.

— Com todo respeito, o senhor não fará o meu trabalho, a autoridade aqui sou eu.

— Delegado, precisamos das imagens, minha filha corre risco — tenta se explicar.

— Como assim?

Alguns minutos depois…

— Ela e o tal de Nicholas eram namorados?

— Não que eu saiba…

— Por que a bolsa dela estaria onde foi encontrado o corpo dele?

Coincidência?

— Eles devem ter se encontrado, talvez Sofia saiba nos explicar melhor.

— E quem é Sofia?

— Amiga de Luara, minha filha. Vou tentar falar com ela… Só um instante!

O tempo corre…

— Sofia está em choque, só chora, disseram os pais dela.

— Estranho! Com certeza sabe de algo!

— Acho que não, Sofia não se mete com coisa errada, certamente nem bebe…

— E alguém entraria aqui do nada e dispararia contra este rapaz por qual motivo? Veja a perfuração, é precisa, típica de um atirador.

— O senhor está achando que…

— Eu não acho nada! Aguardemos as investigações, mas que há caroço nesse angu, ah, isso há.

— Delegado, não há qualquer imagem — responde um dos funcionários, completamente descrente, após checar os equipamentos a pedido da autoridade.

— Como assim? — volta-se para o rapaz. — Você não tem um DVR ou algo do tipo?

— Temos, mas estava tudo desligado…

— Eu não disse, delegado, coisas estranhas estão acontecendo aqui.

— E estão mesmo! — concorda. — Inspeção que não detecta

arma de fogo, sistema de monitoramento desligado… Cadê todos os funcionários??? — berra. — Quero todos aqui, agora!!!

Em minutos, doze pessoas se juntam.

— Estão todos aqui? — pergunta um dos policiais.

— Falta um! — responde um dos seguranças, correndo os olhos pelos companheiros.

— E quem está faltando? — inquire Enrico, com os olhos dominados pela curiosidade.

— Solano!

— E o que ele fazia aqui?

— Era um bico, na falta de alguém, ele dava suporte.

— E qual era a função dele nesta noite?

— Recepcionar os clientes e revistá-los. O general e o delegado entreolham-se.

— E onde mora este sujeito?

— Em Ceilândia. O endereço dele está no cadastro, lá no escritório — responde o gerente.

— Pois, pegue, vamos atrás dele; se foge, é porque esconde algo.

— Senhor… senhor… — aproxima-se um oficial, bastante agitado, pondo-lhe a par do acidente.

— O QUÊ??? TRÊS MORTOS E A POUCOS QUILÔMETROS DA BOATE??? COMO ASSIM???

— Mortos??? Senhor, pode ser minha filha, não pode???

— Há uma jovem mulher envolvida, disseram os paramédicos. Martim segura o choro.

Longe dali, Aurora conduz Álvaro, que está com a garota no colo, sangrando, até um quartinho, na parte térrea da construção, no lado oposto à entrada, onde há um enorme quintal sendo preparado para tornar-se um jardim. Descem alguns degraus até chegarem a uma porta de ferro, que está trancada por um cadeado. Ao entrarem, acendem a luz, que revela um lugar imundo, com forte cheiro de mofo, paredes sem reboco e uma janela de madeira com grades de ferro, além de uma cama de casal ao centro, com muitas cordas nas laterais.

— Ela vai ficar aqui??? — aterroriza-se Álvaro. A cigana dá um risinho e não responde.

— Está… está muito sujo… Ela continua sangrando, poderá pegar uma infecção…

— Coloque-a na cama! — determina. — Agora saia daqui!

— Mas…, mas… — sente pena de Luara.

— Mas…, mas…, mas o quê??? Está com pena da riquinha???

— questiona, demonstrando uma certa irritação. — Pensa que não sei o que você sentiu perto dela, bandido? Queria era se deitar com ela, não é? — engrossa a voz, amedrontando o rapaz, que se cala. — Pois isso JAMAIS acontecerá! Pelo menos enquanto eu estiver viva. Agora saia daqui! Saaaaia! Antes que eu o entregue ao patrão!!! — os olhos dela o engolem.

A sós com Luara, a cigana rasga uma parte do vestido dela à procura da origem do sangramento; e, com as mãos em cima, enche o pulmão de ar, cerra os olhos, desamarra os nós da espiritualidade, indo ao encontro dos antepassados, a quem pede socorro: 

“Clamo aos Ciganos da cura, que conhecem todos os segredos dos elementos, que existem na natureza.

Liberem a energia das ervas, que curam, regeneram, purificam e cicatrizam.

Liberem a energia dos cristais, que transmutam, renovam e energizam.

Liberem a energia das flores, que perfumam, acalmam, acolhem e acariciam.

E que com a força do punhal cigano, todo mal, toda energia enfermiça, seja cortada e cauterizada para não mais voltar.

Pelo poder das chagas de Kristesko³ e pelo amor vibrante de Sara Kali, que a saúde desta garota seja restabelecida a partir deste momento.

Que assim seja, assim se faça e assim está acontecendo. Amém!” 

Repete a oração até Luara relaxar a musculatura. Aos poucos o ferimento começa, misteriosamente, a se estancar.

No andar de cima, o patrão cobra uma resposta de Álvaro:

— Então foi você que quase pôs todo o plano a perder? Em nossa família, falhas são pagas com sangue e o seu é o que mais desejo agora — aponta-lhe uma arma. 

_____________

1. Virginia Pimenta da Fonseca Serrão Costa é uma influenciadora, apresentadora, YouTuber, empresária e dançarina brasilo-estadunidense, conhecida por ser uma das personalidades brasileiras mais seguidas no Instagram e TikTok.

2. Hades era uma divindade dos mitos e da religiosidade dos gregos na Antiguidade. Ele era conhecido como o deus do submundo, o local para onde as almas das pessoas iam após a morte. Sua função era impedir que a alma dos mortos retornasse para o mundo dos vivos.

3. Para os ciganos, Jesus Cristo é Kristi, Kristesko, o filho de Deus (Devla).

4. Sara Kali foi seguidora de Jesus junto com Maria Salomé, Maria Jacobina e Maria Madalena. Sua história e seus relatos nunca foram escritos. Os ciganos não os escrevem, apenas passam-nos de pais para filhos, de geração para geração. É considerada popularmente a padroeira dos povos ciganos.

5. Oração aos ciganos de cura adaptada.

autor
Carlos Mota

com ilustrações de
Andrea Mota
 
elenco
Luara
Álvaro
Aurora
Diana
Martim Vaz
Leonor Moreira Vaz
Beatriz Vaz
Matilde
Cleide
Eufrásio
Sofia
Luizinho como Patrão e Camaleão
Egídio
Enrico
Português

trilha sonora
Immortal - Thomas Bergensen
 
produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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