Em uma sociedade tão desigual como a do Brasil, todo criminoso vem, veio ou virá da favela e as redes sociais ressoam estas ideias como verdades prontas. Tolos aqueles que acreditam! Os verdadeiros bandidos não advêm do núcleo mais humilde, o alicerce da pirâmide, a quem muitos estão submetidos, e de onde enfrentam o cruel jogo da vida. Os legítimos larápios, aqueles que se alimentam da roda dos ratos, encontram-se no topo, não na base.
Na lógica da inversão social, são os mais abastados que monopolizam o poder, ainda que à custa do sofrimento daqueles que passam horas nas filas dos postos de saúde, à espera de uma vaga para serem atendidos; que mandam seus filhos às escolas com escassos recursos; que tentam, como super-heróis destituídos de traje e capa, sustentarem suas famílias com as sobras que lhe são ofertadas por uma elite narcisista; que não reivindicam seus direitos, por desconhecimento ou falta de acesso às políticas públicas.
Sim, que há ladrões alçados do esgoto das favelas; ah, isso há, mas são poucos, porque a pobreza não determina o que cada um será, ela apenas é a condição porque grande parcela da população terá de superar para alcançar uma vida menos sofrível. O que determina o futuro de cada um é o caráter que receberá durante a formação, tanto é que Luizinho, mais conhecido como “patrão” entre a bandidagem, não veio da boca do lixo, das encostas dos morros, dos casebres das ruas esburacadas das comunidades mais machucadas; ele adveio de um bairro de classe média alta, de uma família que lhe deu de tudo, desde o acesso a hospitais que mais se assemelhavam a hotéis até escolas privadas em que a mensalidade era maior que a renda familiar de milhões de brasileiros.
Bastava um estalo de dedos para que o pai, um homem sisudo, de aparência má, saísse à procura daquilo que o saciaria. Viveu uma vida de luxo, com carro do ano, roupas e tênis de grife, viagens para todos os cantos do mundo, sempre regadas a muito luxo; frequentava as casas noturnas mais badaladas e com o dinheiro que ostentava, deitava- se com as mulheres que quisesse. E mesmo diante de tanto poder, enveredou-se para o caminho do crime, terminando como chefe de umas das principais facções criminosas do Brasil e do mundo.
Se é a pobreza que injeta criminosos à sociedade, como então explicar tal feito? Índole. Viveu num lar em que o respeito ao próximo era anedota nos jantares preparados pela mãe, uma senhora fútil, cujo prazer residia nas constantes visitas às lojas conceituadas dos shoppings mais caros da capital paulistana.
Desde muito jovem, Luizinho acompanhava o pai em sua jornada; o homem acordava cedo, abria sua loja de crédito no Centro Histórico de São Paulo, onde “esfaqueava” o bolso dos clientes que o procuravam. Mas há que esclarecer que tal ofício era de fachada; em seu interior, num cômodo escondido dos olhares intrometidos, havia computador, balança, um cofre na parede ocultado por uma cópia falsificada de o Abaporu¹, além de várias armas, de todos os calibres, em um armário de ferro. É nesse lugar inóspito a uma criança, que Luizinho aprendeu a negociar peças roubadas, a adulterar documentos e a aplicar todo tipo de golpe nos mais tolos. E na arte do crime, seu pai, o seu mentor, era um artista, reconhecido pelas principais lideranças do ramo.
Como que ofertando um doce a uma criança, o pai era capaz de escriturar a venda de uma casa que inexistia; passar-se por funcionário de uma operadora de telefonia e contemplar a vítima com um carro, que jamais seria entregue; simular um sequestro tendo o filho como coadjuvante na operação; enganar um idoso e dele roubar todas as senhas de acesso às contas e aos cartões… Os golpes eram cada vez mais sofisticados que impossibilitavam o rastreamento por parte das autoridades policiais.
Luizinho não tardou a pegar o jeito e, ainda na adolescência, vendia motos com placa fria, falsificava cheques, clonava aplicativos; o rapaz era tão extraordinário que, durante um fim de semana prolongado, conseguiu implantar um “chupa-cabra” em um caixa eletrônico de um desses bancos importantes. Mas isso lhe custou a liberdade. Brincar com pobres é uma coisa; desafiar poderosos é outra. As câmeras o flagraram – como podia ter sido tão displicente, perguntava-se –, a polícia foi acionada; preso em flagrante, foi conduzido à penitenciária de Presidente Prudente, no oeste paulista, onde teve a honra de conhecer Marcão, o braço direito do Português, o grande líder da organização.
Sob os cuidados do criminoso, foi “promovido”, liderando assaltos a carros fortes e arrombamentos a cofres de bancos como o que o colocou no xilindró. Durante mais de quatro anos, Luizinho foi bombardeado com “novos ensinamentos” e, da cadeia, com apenas um celular, adorava, de tempos em tempos, por simples divertimento, retornar às raízes, quando reunia fortuna se passando por vítimas supostamente sequestradas, extorquindo das famílias enganadas o pouco que tinham; chegou ao absurdo de conduzir um jovem até o banco, dizendo que ele havia ganhado alguns milhões em um sorteio, bastando que digitasse algumas teclas no caixa eletrônico. O pobre, iludido, imaginava-se afortunado, quando, na verdade, a operação que realizava era a de uma transferência de suas economias para contas de laranjas. Para ele, isso era o êxtase. O sofrimento alheio era tratado com desdém.
Com medo de serem reconhecidos, os pais nunca o visitaram, mas isso não lhe causava qualquer sentimento; estava com o amigo Marcão e com a “nova família” que agora o abrigava. Quando deixou a cadeia, um táxi o aguardava. Levado ao aeroporto da cidade, voou para Campinas, de lá para Guarulhos. Batizado nas águas do crime, logo ganhou uma cadeira na mesa da chefia, de onde arquitetava os sequestros, os assaltos a bancos, as invasões às mansões, e, por incrível que pareça, os assassinatos de figuras encomendadas. E a cada passo dado, mais alto ele chegava. E o que fazia com o dinheiro? Comprava joias, casas, navios, ilhas, aeronaves… Luizinho era o iluminado entre os criminosos. E com ele ninguém se metia.
Em tempo recorde ocupou a cadeira de Marcão, morto em uma rebelião entre facções rivais nos campos de Prudente. O Português sempre o contatava e, sob sua orientação, Luizinho sequestrou o filho de um dos supermercadistas mais importantes do Rio de Janeiro; juntou provas, ameaçou e matou um dos políticos mais influentes de Santo André; auxiliou no roubo ao Banco Central, em Fortaleza, Ceará; aportou grandes quantias em casas de prostituição; apoiou e financiou o tráfico humano… Para ele, o céu era o limite. Indetectável aos olhos da polícia, recebeu o codinome de Camaleão… Que luxo!
Mas, na roda do tempo, tudo que brilha, um dia obscurece, e com ele não seria diferente. No assalto a um banco de Sousa, o inesperado. Um dos comparsas, apanhado pela polícia, delatou toda a quadrilha e ele só não voltou ao xilindró, porque Aurora, dominada por uma atração genuinamente fatal, o escondeu. Não tardou para que fossem para cama. Apenas isso! De resto, era apenas interesse, pelo menos da parte dela. Iludida com a vida de luxo que poderia ter ao lado do bandido, seguiu o seu rastro, abandonando todas as lembranças de uma vida miserável. Ele ganhava um amuleto; já ela, uma vida nova, regada a muitas mordomias, em que não precisasse mais fazer leituras de mãos, nem tirar cartas para tolos apaixonados, ainda que isso pudesse lhe trazer grandes sacrifícios no futuro, como perder a própria liberdade ou… a VIDA.
E com o tempo mostrou suas garras… Conquistou a confiança, o coração e os pensamentos do homem, impondo seus gostos e gastando como nunca; mas, como em qualquer negócio, as condições logo foram impostas. Para aceitá-la na família, o Português exigiu que ela liderasse um grupo de assaltantes a uma agência bancária de Piracaia, na região de Bragança Paulista, no interior paulista. Aceitou o desafio e foi um fracasso. Todo o grupo terminou morto, menos ela, que alertada pelos oráculos, conseguiu se esquivar, sem deixar vestígios. Irritado com o acontecido, o Português reuniu os membros em uma espécie de tribunal, cuja sentença exigia a sua cabeça como compensação pelos prejuízos acumulados. Só não terminou a sete palmos abaixo da terra, porque Luizinho, persuasivo como poucos, garantiu que devolveria o dinheiro todo em breve, quando sequestrasse a filha de um dos generais mais abastados da capital do país. Como garantia à operação, ofereceu a própria VIDA. E o custo de tudo isso será pago com as lágrimas e, se preciso, o sangue de Luara. E de sua família. E quem se colocar entre eles, certamente não viverá para ver o sol nascer de novo.
— RESPONDA, INFELIZ! — coloca o dedo no gatilho, para o espanto de Álvaro, que acuado, não consegue apresentar um argumento convincente. — FOI VOCÊ QUE QUASE PÔS TODO O PLANO A PERDER? VAMOS! RESPONDA, VAGABUNDO DOS INFERNOS!
Egídio tenta ajudá-lo, mas é impedido pelo patrão, que levanta uma das mãos, com a palma aberta, como sinal para que não interferisse.
— Não invente nada, Egídio, senão sobrará também para você
— adverte-o, o chefão. — Eu sei que este imbecil não tem muito juízo
— aponta o dedo indicador para Álvaro, que está lívido como os mortos —, mas a ponto de colocar em risco toda uma operação, construída ao longo de vários meses? Não! Isso não! Meu desejo é o de furar a cabeça dele com uma bala e ver todo seu sangue escorrendo pelo chão desta sala.
— Então terá de sufocar este desejo, meu querido — ordena a cigana, chegando ao local.
— E por qual motivo??? — exige o homem, extremamente violento. — Esse bandidinho de quinta não vale uma pataca, é doido de pedra, ainda não percebeu? O cara teve a proeza de aniquilar o filho de um diplomata, sabe-se lá o motivo, que poderá nos custar uma visitinha nada agradável da Polícia Federal. Responda, vagabundo, por que fez isso? — desfere-lhe um golpe com a arma. — RESPOONDA!!! A não ser que… — uma hipótese clareia suas dúvidas — … Você está caidinho por aquela piranha, não é, vagabundo?
O rapaz permanece mudo, soando como uma afronta a Luizinho, que fora de si, prepara-se para atirar; só não o faz porque Aurora, ligeira feito a serpente, o impede.
— O sangue de um inocente não acalmará seu coração…
— Como assim? — não entende.
— Ele não teve culpa…
— Mas…, mas Egídio disse que ele, do nada, desceu o cano no rapaz…
— Ele apenas se defendeu — dissimula a mulher, lendo a alma de Álvaro através de seus grandes e agitados olhos verdes. — Era ele ou o filhinho de papai.
— Não entendo! Explique-se!
— Por que esta mulher está mentindo??? O que será que ela quer com tudo isso??? — indaga-se Egídio, desconfiado, acompanhando-a com muito cuidado.
— O mauricinho quis assaltá-lo, só não conseguiu porque Álvaro o imobilizou; o cara era um nóia, estava cheio de pó e faria qualquer coisa para conseguir outra carreira.
— Mas dinheiro não é problema para aquela gente, bastava que ele retirasse do pai mais alguns tostões.
— E quem disse que não tentou? Mas o diplomata se opôs e acabou agredido. Só não deu parte à polícia por questões meramente sociais — roça as longas unhas sobre o braço enquanto narra a trama sem lastro. — Um influente partícipe da estrutura política de Brasília jamais compartilharia um fracasso doméstico com um dos seus, muito menos com a imprensa; seria um escândalo, a ponto de abalar a sua própria carreira. Mil vezes a mentira a um minuto de sinceridade.
Egídio mostrava-se perplexo com a desfaçatez da cigana, que às palavras imprimia uma tranquilidade demasiadamente calculada, refletindo uma verdade que inexistia.
— … E só não matou o moço aí — ela aponta o dedo para Álvaro —, porque ele foi rápido e o apagou.
— Seria melhor que este bandidinho fosse baleado ao invés do filho do diplomata… — brada o patrão.
— Não está raciocinando, meu querido. Com a capivara que tem este bobalhão, bastaria uma simples consulta para que a polícia percebesse que ele estava a mando de alguém, ou esqueceu-se de que ele passou meses atrás das grades por participar de um sequestro frustrado no sul do país? Certamente alguém iria querer saber o que ele fazia por estas bandas e, após juntar algumas peças, chegariam até nós. Melhor ter caído o filho do diplomata, um viciado inconsequente, que este inútil.
Confuso, Luizinho coça a cabeça.
— Não é isso mesmo, rapaz? — Aurora encontra os olhos de Álvaro com uma seriedade de causar arrepio e se compadece com seu desespero. — Responda!
— Si-sim, senhora! — confirma ele, bastante tenso, enquanto Egídio se mantém em silêncio.
— Foi isso mesmo que aconteceu? — pergunta o chefão ao outro comparsa.
Afastando-se bem devagar, a cigana move os dedos, como se manipulasse um fantoche, fazendo com que Egídio confirmasse a história.
— ENTÃO ISSO É VERDADE??? — grita o patrão, ainda descrente, vendo o reflexo da mulher nos olhos do criminoso. — VOCÊS QUEREM QUE EU ACREDITE QUE UM MAURICINHO… NÃO!!! NÃO!!! ISSO NÃO É POSSÍVEL!!!
— E por que tanta dúvida? — pergunta Aurora, sentando-se de perna cruzada em uma poltrona do sofá, enquanto arruma o lenço que prende os cabelos.
— E quem pode provar toda esta história? — reluta o homem.
— EU!!! — levanta-se ela, de ímpeto, para a surpresa dele. — Eu estive lá!!! Esqueceu-se de quem sou… — aponta-lhe a bola de cristal.
— … e do que sou capaz, meu querido???
O homem sente, há algo de errado com a cigana que, por algum motivo, parece ter perdido parte do brilho. Não sabia explicar, mas uma voz dentro dele implorava para que permanecesse em alerta; mas, diante das palavras dela, a quem confiou sua vida em Sousa, não lhe restava outra coisa, se não aceitar a narrativa tão mal costurada.
— Caiam fora daqui, preciso ficar a sós com meu amuleto. Vão Os dois se retiram rapidamente.
— Aurora…
— Sim, meu querido… — diz, com a cabeça baixa, enquanto se prepara para embaralhar as cartas.
— Você… você não está…
— … mentindo??? — completa, interrompendo-o. — E por que eu faria isso? Devo-lhe o ar que respiro ou se esqueceu que está nessa terrível situação por minha causa? — dissimula outra vez, tentando comover Luizinho. — Desafiei todos os meus limites para mostrar ao mundo e, principalmente a você, que eu era mais que uma ciganinha de Sousa, reduzida a um lugarejo imundo, mais conhecido como Rancho de Baixo, onde o esgoto corre a céu aberto e as casas de pau a pique dançam com o vento. Só não imaginaria que seria traída por minha própria soberba. Agora está aí, diante de mim, tomado pelo medo, porque se não restituir o prejuízo gigantesco que eu dei à família, não nos restará outro destino se não os afagos de Beng².
— Não tenho medo! Conseguiremos. Logo estaremos livres desta dívida e poderemos viver nossas vidas em paz, em algum canto deste planeta. Me perdoe! Sou um idiota!
— Não se preocupe, meu AMOR! — nem a Capitu de Machado de Assis dissimularia tão bem. — Sairemos dessa, eu prometo.
— E como está a garota? Corre algum risco?
— Sobreviverá! — resume-se.
— Agora retornemos ao plano, logo o Português desejará nos encontrar e deveremos estar com a grana em mãos…
Beija-a na testa e se dirige ao quarto, onde, sentado ao pé da cama, sussurra:
— Ela está mentindo, eu sei… Mas o que fazer se a amo tanto?
— coça a cabeça. — Vou dar linha à pipa para ver até onde vai.
Na sala, Aurora respira aliviada. Havia mentido como nunca, mas foi necessário, a vida de Álvaro corria perigo. Exausta, deixa o baralho de lado e se dirige à janela, de onde procura a lua em meio ao céu anuviado. Como não a encontra, volta-se para a paisagem. Ao rever Álvaro, um arrepio corre-lhe o corpo e todo o cansaço dá lugar a um vigor que a incendeia por dentro. O que estaria acontecendo?
— pergunta-se, como se não soubesse. Sua vontade é a de descer até ele, tocá-lo e dele reter um beijo… Não, isso seria traição. TRAIÇÃO? Como assim? Então o que as cartas anunciavam o tempo todo tratavam de seus sentimentos? Não pode ser! Não pode ser! — não aceitava o próprio destino.
Longe dali, Enrico lidera uma equipe nas buscas por detalhes que conectassem a boate ao acidente, se é que eles existiam mesmo.
Os guinchos, no meio da pista, preparavam-se para suspender os veículos, quando um dos policiais avista um fio de sangue, a alguns metros.
— Delegado, veja isso! — mostra-lhe a descoberta.
— Sangue? Aqui? Mas está um pouco distante do local do acidente… A não ser que… Será??? — trava uma longa batalha consigo mesmo. — Só pode! — abaixa-se, clareando o local com a lanterna do celular, onde encontra muitas pegadas. — Bingo!
— Está falando sozinho, senhor? — indaga o policial.
— Duarte, havia mais alguém nesses carros; veja, o filete começa onde eles colidiram e se estende até este local, onde há pegadas frescas, possivelmente de mais duas ou três pessoas… Mas onde estarão?
Continua a inspeção.
— Aqui está… — mostra-lhe o rastro do pneu. — Alguém os levou daqui.
— Será, delegado?
— Meu faro não é de se equivocar. Cadê o general? Preciso falar com ele.
— Se foi, sua esposa ligou, estava passando muito mal… Mas no que está pensando, doutor?
— A jovem que estava naquele carro não era a filha dele, certo?
— Exato!
— E este general possui muito dinheiro, Duarte?
— É um dos homens mais ricos da cidade, segundo dizem.
— E ele tem inimigos?
— Não sei… Por quê?
— Se eu não estiver enganado, pelo pouco que observei, o que aconteceu com a Hedonê foi premeditado…
— O assassinato?
— Talvez o sumiço da garota.
— E o que o sumiço dela tem a ver com a morte do filho do diplomata?
— Ainda não sei, talvez Nicholas a estivesse defendendo de alguém, quando terminou baleado…
— Será?
— Como explicar a falha na vistoria, o desligamento do sistema de filmagem e o desaparecimento do tal Solano?
— Tem sentido!
— E quem nos ajudará a decifrar este mistério será o próprio Solano… Cadê a ficha dele? Hum! Tem até uma foto. Pois vamos à Ceilândia, quero ver este rato de perto.
— Do que desconfia?
— De um possível sequestro.
— SEQUESTRO? AQUI? — assusta-se o homem.
— Senhor… senhor… — aproxima-se outro oficial, desesperado… a imprensa está chegando, são dezenas de repórteres… o que faremos?
— Peça para que a divulguem o caso da garota…
— Mas doutor… e direi o quê?
— Simplesmente que ela desapareceu, e se alguém souber do paradeiro dela, que ligue para a delegacia. Por ora, sejamos prudentes.
— E sobre a morte do rapaz?
— Que está sob investigação.
Ao ouvir a conversa, um dos policiais se afasta e avisa o patrão. Na mansão dos Vaz, Leonor quebra os pratos, gritando pela filha:
— Filhiiiiiiiinha, cadê você, meu amor??? Cadê???
— Se acalme, dona Leonor, daqui a pouco ela estará aqui — pede Cleide, enquanto Matilde, com uma agenda às mãos, liga para os amigos mais íntimos de Luara; talvez a encontrasse, apesar de sua intuição a contrariar.
— Cadê o Melancia??? Quero ele aqui!!! — chora a mulher feito uma criança quando se perde a chupeta. — Cadê ele, Cleeide??? Cadê???
— Está chegando, senhora, tenha calma.
— Dona Leonor… — Matilde a chama, com o telefone em mãos, completamente atordoada. — Dona Leonor…
— Que foi, bruaca velha??? — quando a encontra, se desespera.
— O que aconteceu, mulher??? — pensamentos ruins lhe vêm à mente.
— Ah, não, não vai me dizer que… não… não… eu não aguentariiia!
— ATENDA! — pede a mulher, respirando com dificuldades.
— Siiim!!!
— Quem tá falando?
— E-Eu! — limita-se.
— EU QUEM?
— Leonor Moreira Vaz.
— Tô com sua filha, ela está em poder de minha quadrilha… — anuncia o bandido, numa voz de causar desespero, de um número privado —, … não tenho intenção de machucar ela, tem como a gente negociar essa situação aí dentro das tranquilidade???
— Que horrooor!!! Sequestraram a minha filhiiinha??? Ai meu Deus! Por favor, seu bandido, não faça nada com ela.
— Aqui é profissional; se não tiver negócio, o papo vai ser diferente, a gente já não garantimos a integridade dela, cê me entendeu?
— Aff!!! Minha filhiiinha sequestrada??? O que não dirão os nossos amigos???
— A gente queremos quarenta e cinco milhões até amanhã ou não será nada bacana a senhora receber uma parte da orelha dela… ou a senhora prefere receber o dedo primeiro???
— QUÊÊÊ??? Nós tamos falando de gente ou de porco???
Orelha, dedo, só faltou o rabinho… Aff! Isso é a morte!!!
— A doutora tá me tirando? Se tiver, a gente passamos o cano nela agora.
— Não!!! Não faça isso!!! Mas quarenta e cinco milhões??? Onde vou arranjar isso agora???
— Não é pra agora, senhora, é até amanhã, tá ligada?
— Que horrooor!!! Como vou falar disso em minhas lives???
Orelha, dedo… vão achar que tô falando de feijoada.
— Crendiospai! Levaram a garota, Matilde! Que mundo tão violento é esse em que vivemos??? — pergunta a fofoqueira, não segurando os nervos.
— Posso confiar na senhora, não vai envolver a polícia nem a família nesse corre???
— O que está acontecendo aqui? — exige Martim, ao entrar na sala e vê-las em pânico.
— Luara, infelizmente, foi sequestrada, senhor! — os olhos da governanta lacrimejam, para o desespero do homem, que leva a mão ao coração.
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1. Pintura a óleo da artista brasileira Tarsila do Amaral. É uma das principais obras do período antropofágico do movimento modernista no Brasil.
2. A incorporação do demônio ou da energia negativa.
com ilustrações de
Andrea Mota
trilha sonora
REALIZAÇÃO

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