1x04 - Os Valiosos Feitiços do Azar
de Nunu
Sabe
quando a vida não está em seus conformes?
Margarida
se sentia assim, ela precisava se divertir com algo. Gari, como costumam chamá-la, é uma
feiticeira. Todo seu conhecimento sobre feitiços vem de sua avó, que também tem
nome de flor: Magnólia. Margarida, desde cedo,
mostrou-se interessada, principalmente em feitiços que envolviam telepatia,
controle do tempo e perda de memória. Se ela gostava tanto assim dessas
coisinhas malucas, por que não se divertir com as mesmas? Gari tentou, mas
queria algo novo. Estavam
começando as férias de julho,
e queria viajar para um lugar praiano que não estivesse frio e que fosse no
Nordeste. Fortaleza foi sua primeira e única opção. Fazia tempo que ela estava
se programando para ir economizando
para isso. É um pouco longe, pois ela mora em Alegrete, uma pequena cidade no
interior do Rio Grande do Sul. Porém, não podemos esquecer que estamos falando
de uma feiticeira.
Margarida
fez seu feitiço básico de teletransporte
e chegou de imediato em
seu tão esperado destino. Estava encantada com tudo que via. Mesmo tendo rápido
acesso para ir a
todos os lugares que quisesse, nunca tivera tempo suficiente para viajar tão
longe assim. Eram cinco horas da tarde, e, como qualquer turista, antes de ir à praia,
passou em algumas lojas - onde comprou uma ou outra roupa, nada demais. Ela
também comprou um bilhete de loteria, estavam fazendo propaganda e por que não
comprar, não é? Gari nunca foi de fazer feitiços que envolvessem ter o dinheiro em suas mãos.
Sempre teve noção de que ter uma vida comum, também é essencial para a
felicidade.
Margarida estava deslumbrada, tão deslumbrada que começou a ficar distraída. Chegou à praia com suas duas
sacolinhas e seu bilhete. Os deixou de canto e foi ao encontro do mar. Colocou
seus pés na água salgada e cristalina, estava se sentindo leve, era aquilo que
ela estava desejando há meses. Entretanto, Gari ainda se sentia sozinha. Ela
queria um acompanhante. Logo resolveu fazer um feitiço, para o qual Gari não
tinha tanta prática. A feiticeira o havia feito somente uma, no máximo, duas vezes. Então se
pôs a falar em voz alta a frase do tal feitiço.
—
A previsão de um beijo, uma dose de desejo — Ela teria de falar três vezes para
seu amado surgir do meio de não sabemos onde, mas ela falou seis!
Nove
da noite, Margarida estava no hospital, havia enfermeiros e enfermeiras ao seu
lado. Ela escutava a TV, o repórter comentando sobre uma mulher ter sido
encontrada desmaiada na praia. Era ela.
Margarida errou o feitiço, mas a queridinha não se lembrava. Na verdade, não lembrava de nada.
Pois é, o equívoco no feitiço a fez perder a memória. Gari se perguntava aonde estava, o que acontecera, e até mesmo quem era ela…
Fizeram
exames e ela estava bem, nada de grave ocorreu, somente a pressão arterial
havia caído. Então, por que ela perdeu a memória? Bom, é claro que os médicos e
enfermeiros não sabiam que sua paciente era uma feiticeira, e, agora, nem mesmo ela.
Uma
semana se passou e Margarida teve alta do hospital. Ela se recuperou bem,
lembrava de seus parentes,
e que viajou de férias. Só havia esquecido completamente que era uma
feiticeira. Seus pais não puderam ir até Fortaleza, por motivos óbvios, mas
mandaram uma quantia em dinheiro para ajudar a filha a voltar para casa.
Então,
Gari, que já estava
arrumando as malas para retornar à sua pequena cidade, encontrou e lembrou do
bilhete de loteria que havia comprado. Checou o dia que iriam anunciar o
vencedor, e:
—
É hoje!
Apressou-se
e ligou para seus pais dizendo que iria para casa na próxima semana:
—
Estou sentindo que vou ganhar. Mãe, eu sei que vou!
Ligou
a TV, colocou no canal indicado no bilhete e esperou. O apresentador começou a
citar os números.
—
6... 10...
Até
então, estavam
todos corretos e a ansiedade estava a corroendo.
—
...52 ...57. É isso, eu ganhei!! Eu ganhei!!
A
então nova milionária estava fazendo um alvoroço, berrando e correndo pelo
corredor do hotel. Estava tão animada que saiu abraçando todos que via pela
frente.
No
outro dia, pegou seu prêmio, 50 milhões de reais. Me pergunto, o que essa
feiticeira, que ainda não lembrara
que era uma, iria fazer com tanto
dinheiro?
Com
tanta a grana, conseguiu levar seus pais para Fortaleza. Conseguiu comprar
as roupinhas que havia gostado, um apartamento confortável para si e muito
mais. E, dentro desse
muito mais, comprou uma lancha, porque, segundo ela, queria se aventurar um
pouco. Sua mãe ficou meio receosa com a compra, mas seu pai gostou da ideia.
O
passeio de lancha teve que ficar para a outra semana, pois o tempo estava
chuvoso e eles não iriam arriscar. Durante esse período de tempo, sem perceber,
a nova milionária do pedaço realizou um feitiço. Se assustou, claro, pois não
lembrava que conseguia realizá-los.
(realizá-los)
Depois
de analisar a situação, relembrou quem realmente era, Margarida, uma amante de feitiçaria, que
poderia muito bem fazer um feitiço para que o clima mudasse. Dito e feito, lá
foi ela com sua lancha e seu feitiço. Fez o que tinha de ser feito, falou o que
tinha de ser dito. O clima mudou, o sol abriu. Sem nuvens de chuva no céu, Gari
saiu com sua lancha, sem seu pai, pois ele já havia desistido.
Estava tudo ocorrendo tranquilamente, até que
alguns estrondos puderam ser ouvidos. Eram trovões. Margarida estava muito
longe da praia, e não tinha como voltar a tempo. O feitiço não durou o tempo
que ela esperava. O mar começou a ficar agitado, as ondas começaram a crescer, e a lancha começou a
encher de água.
—
Mais um feitiço errado. — Disse Gari, em uma mistura de decepção e medo.
Ela
tentou realizar outro feitiço, porém não estava dando certo, estava nervosa
demais para isso. Não havia mais o que fazer e, então, a lancha naufragou. Novamente, lá estava
ela, em um hospital. Estava com sua memória intacta, mas com alguns roxos na pele. Seus pais estavam ao
seu lado, e mais outras pessoas que a feiticeira azarada não conhecia. Foi o pessoal da Marinha
que a socorreu nas margens de uma ilha. Eles perguntaram se ela tinha nadado
até lá, mas ela respondeu que não. Talvez a avó de Margarida a tenha levado, ou
até mesmo aquele tal amado que Gari desejava. Vai saber, se na verdade, os feitiços
deram certo.
CAL - Comissão de Autores Literários
Produção
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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