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Flor-de-Cera: Capítulo 23

Novela de Carlos Mota
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FLOR-DE-CERA - CAPÍTULO 23


– E qual seria? – pergunta o político, desconfiado.

– Aceitaremos o seu candidato...

– Como assim, mulher? – interfere o velho. – Enlouqueceu?

– Acalme-se, Lúcio, ainda não terminei... – Volta-se para Alberto e dá o bote: – ... desde que a campanha seja toda custeada por você e por quem mais quiser assinar esta que será a sentença de morte de nosso partido.

– Mas temos o fundo partidário...

– Não será suficiente! E sabe disso! Retiro-lhe o cheque em branco! Se quiser ir à ruína, que vá sozinho.

– Mas... mas...

E os dois se vão, deixando Alberto e Ricardo atônitos.

– E agora, doutor Alberto? Sem eles, não há como manter a campanha.

Sentado a uma cadeira, o homem abaixa a cabeça, olha para o chão, enche os pulmões com gosto e nada responde. No íntimo, sente-se um derrotado. Uma pena!



Plenamente restabelecida, Ernestina coa o café em um filtro de pano, na grande cozinha da mansão. Alguma coisa a incomoda, por isso leva as mãos ao peito. É um sentimento estranho, de angústia, dor. Mas o que seria? Seus pensamentos são interrompidos pelo estouro de outro prato, que desaba da cristaleira, assustando-a. Meu Deus! O sinal se repetia! Mas o que de mal ainda restava acontecer àquela família já em ruínas? Neste instante, George adentra o lugar, com a face sisuda. Vendo a empregada, pergunta em meio ao mau humor:

– Cadê meu café, subalterna?

– Ninguém lhe ensinou ainda os bons modos, senhor Dumont? Preciso relembrá-lo de que o cumprimento matutino faz parte das regras de etiqueta de que tanto preza? Deve ser o braço quebrado que lhe causou tal esquecimento, não é? – ironiza. – É, não basta carregar o sobrenome mais imponente da cidade, é preciso classe, algo que parece lhe escassear há algum tempo.

– Criada dos infernos! Cale a boca! Não estou para brincadeiras! – Ao virar-se, encontra o prato estilhaçado, então, com a curiosidade ferina, indaga: – Como quebrou isso? Vou lhe descontar do salário... Assim como todos os outros que também quebrou! Nossa coleção se desfez por descuido seu!

– Do salário de fome que me paga? Coitada de mim! Vou ficar dois anos sem comer. Não está vendo que ele caiu sozinho, assim como os outros, como fez tanta questão de frisar? Como pode ser tão... tão...

– ... tão o quê, criada?

– Tão vil!

– Só não lhe dou uma sova porque este braço me impede, se não...

– Venha! Tem o outro! Já disse, não sou sua esposa, que apanha calada para preservar o nome da família; se me tocar, até o Fantástico baixará aqui, onde exporei sua verdadeira face. Não pense que esqueci... Tudo o que fez a dona Catharine terá volta, tenha certeza, senhor!

– Er-Er-ernestina – Moacir invade o local, aos gritinhos de medo, com o jornal em mãos.

– Pobres! Quem os aguenta! O cheiro é insuportável! – desdenha o vereador, falando consigo mesmo. – Vou para a sala de jantar. Termine logo meu café, tenho hora.

– O que foi, Moacir? – indaga, curiosa, a mulher.

– Veja... u Juaquim i a dona Catharini tão nu jornar...Óia a fotu delis!

– “SUPOSTO ROMANCE ENTRE A DAMA DOS DUMONT E SEU MOTORISTA TERMINA EM TRAGÉDIA!” – lê a mulher, que quase cai, não fosse a agilidade do jardineiro, que a segura. – MEUS DEUS, MOACIR! O QUE FIZERAM COM ESSES DOIS?

Abaixo do título, a junção de duas fotografias – Catharine chegando à delegacia de Vila Bonita e Joaquim sendo socorrido pelo doutor Rubens – induzia o leitor a imaginar que aquele caso fosse mesmo real, como arquitetaram os mandatários do principal veículo de imprensa do município.

– E agora? – Olha para o prato espatifado e conclui: – Entendi tudo! Venha, Moacir, me ajude a levar este desjejum àquele ordinário – diz, deixando o jornal sobre uma mesinha, para que o vereador não pudesse, por enquanto, ter acesso à notícia que agora fervia às bocas miúdas do lugarejo. Mas o jardineiro, pensando ser um relapso dela, carrega-o junto à bandeja com pães, chá, sucos, requeijão e iogurtes naturais.

Assim que chegam à sala de jantar, não encontram o patrão, que está à varanda, apreciando com desvelo os montes circundantes, cujo verdume aguçado refletia os raios solares de uma manhã que se levantava preguiçosamente. Como diziam os mais antigos, ali era o local onde Gaya¹ repousava os finos mantos da Eternidade. Poderia ser uma lenda, mas não havia como discordar, a visão do lugar encantava, tirava o fôlego, elevava o pensamento à letargia; por fim, ao questionamento da própria existência.

Daquela varanda perfumada por lavandas e ametistas, com russélias pendentes, que atraíam beija-flores e borboletas, era possível avistar toda a cidade, que acordava aos poucos, depois de uma noite agitada e sangrenta, como já anunciavam os radialistas em seus programas matutinos.

Uma brisa iracunda atravessa o céu e encontra morada no espírito do homem, que visivelmente incomodado com alguma coisa, retorna a casa, onde encontra a mesa de vidro adornada por uma bela toalha de renda, com os talheres devidamente postos, como manda a tradição. Ao sentar-se, beberica uma boa xícara de chá de maçã com canela, degusta duas ou três iguarias e se volta à procura do jornal.

– Cadê o jornal que deixei aqui, Moacir? – pergunta a empregada, receosa, na cozinha, ao jardineiro.

– Ieu levei lá, pruque tinha de levá, num tinha? Seu Giorgi num passa um dia sem bisoiá as nutícias da cidadi.

– ERNESTIIIIIIIIIINA! – chama o edil, aos berros.

– Tentei evitar isso! – diz, amedrontada.

– O que foi? – pergunta, trêmula, encontrando George.

– Você viu isso? Estão dizendo que o matuto do motorista era amante de Catharine. Como pode? Isso é uma mentira!

– Mas de mentira o senhor entende, não é? – recupera o fôlego.

– Do que está falando, mulher? Está senil?

– Veja a matéria ao lado, o senhor acusou o partido rival de ter premeditado seu suposto assassinato, tratando “o matuto”, como se acostumou a chamar o pobre do Joaquim, por assassino ardiloso e voraz.

– E ele quase me matou, se eu não tivesse...

– Tivesse o quê, seu George? Sabe muito bem que não foi ele quem lhe causara tamanho estrago.

– Chama-me de mentiroso? Acha que eu fiz tudo isso? – dissimula. – Na certa conversou com aquele caipira do Moacir, ele jura ter me visto entrando naquele muquifo com uma arma em punhos. Hum! É demais!

– Não só ele viu...

– Co-como assim? – o homem gela.

– Em toda essa história o senhor só se esquecera de uma coisa...

– SEJA MAIS CLARA! – engole-a com os olhos.

– “Nenhum mentiroso tem uma memória suficientemente boa para ser um mentiroso de êxito”, como disse, certa vez, Abraham Lincoln².

– Sobre o que está falando? Que eu estou mentindo?

– Quem está dizendo isso é o senhor, não é mesmo?

Desconcertado pela resposta da mulher, George mostra toda sua fúria, ao se levantar e empurrar a mesa contra a parede. Mesmo horrorizada, Ernestina permanece firme, sem dar um passo para trás. Era um querubim, com todo seu brilho, diante de um ser das trevas, que ora se expõe, para desafiar os limites que separam a realidade da fantasia.

– E por que ressuscitar dos mortos figuras e frases como as de Lincoln? Você é uma praga, que eu deveria ter exterminado há muito tempo; sabe por que ainda não o fiz? Piedade de sua pobreza, de seu jeito peculiar de ser, afinal, tenta nos intimidar, sempre que pode, com frases feitas, de grandes autores da literatura ou da política mundial, porque, bem sabe, em sua mais íntima ignorância, ser incapaz de criar algo original, que seja seu. Unicamente SEU! De que lhe adiantou tanto estudo? Nunca conseguiu ultrapassar as fronteiras desta casa para ser alguém como nós, que tem criados como vocês aos pés, prontos para nos servirem. Quando me lembro de Catharine lhe ensinando a ler, gargalho até perder o fôlego; seus ensinamentos lhe serviram apenas para que decorasse frases de impacto e as usasse como armas verbais que causam tantas avarias quanto às de fogo, pelo menos é isso que imagina.

Uma lágrima desce o rosto da serviçal, que prende os lábios aos dentes na intenção de segurar o choro.

– Fale, está com medo de mim? – inquire, cada vez mais próximo dela.

Escondido atrás de uma poltrona, Moacir teme entrar na sala; um soco do vereador o levaria para o buraco, por isso ora, na intenção de que o pior não aconteça.

– Não! Não tenho medo do senhor! Tinha sim, mas do analfabetismo! Como mesmo disse, enquanto não aprendi as letras, não pude conhecer o âmago dos mais ilustres pensadores de nossa História. Eu era cega, para não dizer MORTA. Sabe o que é andar pelos lugares e não conseguir ler uma placa, por mais simples que ela fosse? Sabe o que ter de perguntar a alguém para que lugar ia o ônibus, porque não conseguia juntar as letras, formar uma palavra, uma frase? Não sabe o que é isso! É a mesma coisa que se olhar no espelho e não ter imagem. A sensação é a de ser invisível! Mas depois que conheci as palavras, recuperei o reflexo que o tempo me havia roubado. E, diferentemente do que imagina, ilustre vereador, não uso frases de grandes personalidades para afrontá-lo; nem precisaria, porque homens como o senhor não se intimidam com verdades escritas, mas com mentiras veladas. 

O homem não compreende a articulação da mucama, por isso investe na ofensa, a mais baixa que um ser possa fazer a um semelhante.

– Entendo sua condição, mas não tem medo de ser engolida pelo tempo, deixada em qualquer canto da história, como alguém que não passou de um grão de areia, inútil na forma e na origem? Não tem mesmo de ser esquecida? Com o nome que carrega, quem se lembrará de você e dos seus daqui a cem anos? Pobre alma vazia, verme rastejante, ainda invisível – pelo menos para mim, que limpa nossos chãos e que lava nossas louças... Assim eu a vejo! Assim o mundo a vê! Nenhum estudo lhe dará a não ser mais piso para lavar ou roupa para desencardir.

– A arrogância vem antes da queda, anuncia o provérbio alemão.

– Queda? Eu? E desde quando um Dumont conhece a sarjeta de onde você veio?

– Um Dumont não, mas o senhor a conhecerá, se ainda não teve esse desprazer; basta que eu abra minha boca e diga aos quatro ventos que sua esposa nunca foi uma legítima DUMONT. Tudo não passou de uma fraude! Pelos menos assim pensarão seus eleitores.

– O QUE ESTÁ DIZENDO? – exige. “Ela sabe da tal história, mas como?”, pergunta a si mesmo, em meio a uma ira descomunal. – QUEM TE FALOU ISSO, EMPREGADAZINHA DOS INFERNOS? É MENTIRA!

– Mentira? Tem certeza? Assim como disse que Joaquim disparara contra o senhor?

O homem estaca, fita-a com ódio e se afasta, desacreditando da coragem da mulher.

– Como eu havia dito com aquela frase “decorada” de Lincoln – como frisou com todo o sarcasmo do mundo há pouco –, só se esqueceu de algo para que sua história ganhasse veracidade irreprimível.

Continua se afastando, alguma coisa o acovardava como se quisesse fugir dali.

– E... e o que seria?

– A câmera em frente ao quartinho!

– Vamos acabar com você, miserável! – revisitam-no as vozes zombeteiras, para o seu desespero. – Você queimará nas chamas do inferno! – gargalham como demônios.

O homem, fora de si, dá outro passo para trás.

– Não, de novo não... parem... parem... parem já!!! – corre a mão pela cabeça.

– U sinhô vai caí – grita Moacir, saindo detrás da poltrona, ao vê-lo a um passo da mesa revirada.

– Não posso fazer nada, meu querido! Seu destino está nas mãos das criaturas que fez questão de venerar esse tempo todo. Perdoe-me – a imagem de sua mãe se mescla a de vultos pretos disformes, que se achegam sem medo, assombrando-o, a ponto de ele perder o equilíbrio e cair em cima da mesa estilhaçada.

– NÃÃÃÃO!!! – grita – vendo-se diante de milhares de almas impuras, todas com foices às mãos -, para o desespero dos empregados, que não compreendem o que ali acontece.

– Seu George, ei, ei, tudo bem? – acode a mulher. – Pegue um pano molhado, ele está queimando em febre – ordena ao jardineiro. – Corra, homem!

– Me ajude, por favor, me ajude, eles querem me pegar! Por favor! – implora, agarrando-se com força à empregada, que tenta se libertar das mãos dele.

– Quem quer pegá-lo, seu George? Só nós estamos aqui – o homem parecia em transe –, o que há?

– Não sabemos o que aconteceu aqui, mas acabamos de encontrar dois corpos. Um é de um policial de Vila Bonita e o outro, pela prematura avaliação que fizemos, parece ser de um conhecido matador lá de São Paulo – anuncia um oficial à imprensa local.

– Aquele ali é o Zelão... – diz Pietro, surpreso, a si mesmo, ao se aproximar para fotografar o corpo. – Se eu não estiver enganado, ele foi um dos que tomou conta do motorista Joaquim. Tem coisa nessa história!

– Achamos que o policial tenha enfrentado o matador, que, à primeira vista, quisesse exterminar algum dos membros de nossa sociedade.

– Poderíamos falar com o delegado Paineiras Ken? – pergunta Pietro, virando-se para o porta-voz.

– Sinto muito, jornalista! O delegado foi visitar a filha, que adoeceu repentinamente, em uma cidade, no extremo oeste do Estado. Pediu que o mantivéssemos informado, e assim estamos fazendo; por ora, ele preferiu não se pronunciar, até porque, as investigações são preliminares e qualquer informação impertinente causaria ruído ao trabalho dos policiais responsáveis.

– E cadê o delegado substituto?

– E você pensa que está na França, onde tudo funciona, meu querido? Aqui é o Brasil, terra de Sérgio Cabral, Lula e Eduardo Cunha.

Todos riem do comentário infeliz.

O noticiarista desacredita da informação e se retira sem responder a provocação; seu “time profissional” o alerta de que as informações repassadas fazem parte de uma cadeia criminosa ainda maior, que envolva, se estiver correto, o policial, o assassino e também o delegado, que agora se esvai, com uma desculpa estapafúrdia.

– Alguma coisa não fecha em tudo isso... – comenta, consigo mesmo.

– Procure o centro de macumba – diz Tanaka à secretária. – A senhora só entra aqui para trazer notícia ruim. Deus que me livre! Sabe, quando chegar em casa, tome um banho de sal grosso com arnica, abre caminho e arruda, e, para dar alegria, ânimo e clareza mental, já junta um alecrim. Tá precisando, hein? Hum!

– Prefeito, quero apenas informá-lo de que encontraram um corpo...

– Antes o dele do que o meu.

– ...dois corpos – corrige-se.

– Pois é... COMO??? – arrepia-se, voltando toda a atenção à funcionária. – DOIS CORPOS? Hum! – disfarça. – Como assim? Como matam duas pessoas em minha cidade e ninguém faz nada? Estou re-vol-ta-do! E de quem são esses corpos? Do delegado e do...

– ... Delegado? Que delegado? Eu não disse isso!

– Delegado? Eu disse delegado? Aff! Deve ser o vinho do Porto de ontem. Não estou acostumado com bebidas tão fortes. Confundi alho com bugalho. Aliás, já buscou meu saquê?

– Está ao seu lado, prefeito! Não está vendo?

Descontrolado, Tanaka não consegue encontrar o engradado da bebida em cima da mesa, tendo de ser ajudado pela mulher. Depois de entornar duas garrafas de uma vez, repete a pergunta de há pouco:

– E de quem são esses corpos?

– São de um policial de Vila Bonita, um tal de José Silvestre, mais conhecido como Zelão, e Virgulino Ferreira da Silva Xavier, um matador da capital, mais conhecido como Meia-Noite.

– O seu Meia-Noite se chamava Virgulino? – zomba, Tanaka, agora relaxado pela bebida. – Lembra aquele cangaceiro...

– O senhor está se referindo a Virgulino Ferreira da Silva?

– Eita! Sabe até o nome do homem? Pois é das minhas! – gargalha.

– Não sou não! – repreende a mulher. – Mas estou fazendo faculdade de História, por isso, toda lenda ou mito que ilustre os quatro cantos de nosso país, faz parte de minha pesquisa para o TCC.

– Hum! Quanta cuuuultuura! E de que adianta? É feia como a peste! – escarnece. – Espere! – engole o riso de repente –, se apenas os corpos deles foram encontrados, onde está o do delegado? – pergunta-se.

– Olhe a foto deles... – a mulher lhe mostra a página do Jornal “Tributo ao Povo” na internet. – Não foi este homem que esteve aqui ontem, prefeito?

Tanaka arregala os olhos e dissimula:

– Quem? Este homem? – aponta propositadamente para a fotografia de Zelão. – Não! Não me lembro.

– Este – corrige-o a secretária, levando o dedo indicador dele à imagem do Meia-Noite.

– Quando? Hum! Não me lembro! Será? Talvez! Isso aqui até parece a rodoviária da Barra Funda, é um entra e sai que não dá nem tempo da gente marcar bem o rosto das pessoas – desconversa.

– Mas o senhor até achou graça do nome dele, acabou de perguntar “O seu Meia-Noite se chamava Virgulino?”.

– Eeeeeeu? Nunca! Eu apenas disse que... que... bem... que Meia-Noite era um nome ainda mais engraçado que Virgulino. Foi isso, não foi?

– É, o senhor deve ter mesmo razão – concorda a mulher, visivelmente desconfiada. – Vou voltar para minha mesa, tenho muita coisa para fazer.

– Espere! Sabe, Adelaide, mande uns três milhões para a Houba...

– TRÊS MILHÕES??? – estranha.

– Pois é, sniff, minha sogra piorou. Piorou muito! Nem me aguento, tenho vontade de chorar, chorar e chorar. Coitada da Houba, não conseguiu fazer muito com aquele pouco que lhe mandei.

– Foram quinhentos mil...

– Mas na conversão não sobra nada, ainda mais que o dólar disparou com o tal do novo coronavírus. Sniff! Ai como dói meu coração! Queria estar lá para ajudar em alguma coisa, mas as minhas obrigações diárias com os principienses me impedem. Como é duro ser prefeito. Sniff!

– Mas o que ela tem, prefeito?

– Doença de Chagas.

– Sangue de Jesus tem poder! Mas não era dengue?

– DENGUE? Ah é, verdade, dengue misturado com o novo coronavírus e doença de Chagas. Coitada! A véia tá só o pó! Sniff!.

– “... Enquanto a senhora é exposta ao ridículo, com um salário de fome, os recursos da prefeitura são desviados para a família dele”. – Relembra as palavras de Paineiras e dispara: – Seu Tanaka, tire-me aqui uma dúvida...

– Fale!

– No Japão há dengue?

– Dengue??? Sei lá!!! Hum!!! Quer dizer... vá perguntar para os especialistas, tá pensando o quê, sua... sua Barbie de favela?

– E eu mando qual dinheiro para lá? Ontem chegou a segunda parcela à construção do posto de saúde.

– Pois o mande tudo, depois eu reponho. E agora caia fora! Fora! Foooora! – bate duas ou três vezes na mesa de madeira maciça. – Esta mulher está me fazendo muitas perguntas... Hum! Não estou gostando! – pensa.

– Mentiroso! – esbraveja Adelaide. – Ele vai ver quem é Barbie de Favela.

Senta no computador, acessa o e-mail pessoal, onde encontra um arquivo enviado pelo delegado. Ao acessá-lo, leva um susto. Ele havia gravado toda a conversa ocorrida no dia anterior, no gabinete.

– Meu Deus! O delegado com nome de planta tinha razão, o prefeito não vale nada! E essa história de dona Catharine não ser uma Dumont? Vixe, a coisa vai pegar! E agora, o que farei? Isso pode acabar com a história da principal família de Vila dos Princípios. Pense, Adelaide, pense!

– Adelaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaide!!! – chama, soltando fogo pelas ventas.

– Sim, prefeito!

– Por que não me mostrou isso antes? – aponta para a capa do jornaleco. – Quem publicou isso?

– E eu sei lá! Nem tinha visto o jornal ainda!

– Mas é uma marmota, mesmo! Deixe-me ver... Pietro Ferrara! Só podia ser aquele jornalistazinho... Pois ele verá com quantos paus se faz um avião... ops, um carro, quer dizer, um barco. Aliás, doutor Tobias que se prepare também, porque se essa matéria foi publicada, teve a permissão dele. Hum, esse jornaleco e toda essa cambada já era, senão não me chamo Tanaka Santuku!

Liga para o celular de George e quem atende é Ernestina.

– Eita, liguei errado... – Confere o número e continua: – Não, você está no telefone errado. Onde está o vereador? Quê? Como assim? Tô indo para aí.

– Tanaka deve estar uma fera e o vereador nem se fala. O jornal fez jogo duplo, atingiu os dois partidos oponentes de uma só vez, apesar de que tenho grande simpatia pelo Doutor Alberto Médici – diz Rubens, lendo o “Tributo”. – Se tivesse um jeito de acabar logo com George e Tanaka, Catharine viveria... – respira fundo e abaixa a cabeça.

– ... melhor? – completa a frase Maria. – É isso que o senhor queria dizer?

Mais uma vez, ele prefere o silêncio.

– Doutor Rubens, pelo que percebo, o senhor não leu toda a carta de dona Franceline, não é? Pelo menos age assim!

Ele não entende as palavras da empregada.

– Percebeu que junto dela havia um anexo?

– Anexo?

– Sim! Uma documentação a mais.

Permanece mudo.

– Veja – devolve-lhe a carta.

– Não quero isso – esbraveja, afastando-a.

– É preciso, sei que dona Catharine tem pouco tempo de vida, por isso evita falar dela; agora tome coragem e veja o que o seu “grande amor” lhe enviou, além daquela revelação.

Rubens pega o envelope e dele retira todas as folhas. Passa pela página que já leu e se apega a uma outra, toda embolorada, com uma caligrafia muito malfeita, em cuja assinatura há o nome de Neuza da Silva.

– Cristo! Isso é o fim! Maria, pegue meu remédio da pressão, está tudo turvo, não estou conseguindo respirar. Vá, mulher!

Encerra com a música (Sob o Sol (spanish version: Bajo el Sol) - Marcus Viana e Adriana Mezzadri).

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1. Gaia é o espirito do planeta Terra, uma Grande Mãe que nos acolhe, que nutre e é a força elementar que dá sustento e possibilita a experiência neste mundo.

2. Foi um político norte-americano que serviu como o 16° presidente dos Estados Unidos, posto que ocupou de 4 de março de 1861 até seu assassinato em 15 de abril de 1865. Lincoln liderou o país de forma bem-sucedida durante sua maior crise interna, a Guerra Civil Americana, preservando a integridade territorial do país, abolindo a escravidão e fortalecendo o governo nacional.


autor
Carlos Mota

A novela "Flor-de-Cera" é remake de "Venusa Dumont - da memória à ressurreição" de Carlos Mota
 
elenco
Grazi Massafera como Catharine Dumont
Thiago Lacerda como George Dumont
Ricardo Pereira como Joaquim
Elisa Lucinda como Ernestina
Carlos Takeshi como Tanaka Santuku
Miwa Yanagizawa como Houba Santuku
Jesus Luz como Pietro Ferrara
Lucinha Lins como Franceline Legrand Dumont
Lima Duarte como Dilermando Dumont
Herson Capri como Doutor Rubens Arraia
Tonico Pereira como Moacir
Werner Schünemann como Paineiras Ken
Rosi Campos como Adelaide
Humberto Martins como Alberto Médici
Cauã Reymond como Ricardo
César Troncoso como Zé dos Cobres
Ilva Niño como Josefa
Selton Mello como Zelão
Matheus Nachtergaele como Meia-noite
Caio Blat como Delegado de Vila Bonita
Caio Castro como Leandro
Alexandre Borges como Doutor Jaime
Caroline Dallarosa como Carmem
Fernanda Nobre como Stela

participação especial
Stênio Garcia como Doutor Lúcio
Drica Moraes como Desirê
Marco Nanini como Chico Santinho

atores convidados
Ary Fontoura como Doutor Tobias
Alexandre Nero como Júlio Avanzo
Elizangêla como Maria

a criança
Valentina Silva como Alana

trilha sonora
Lágrimas da Mãe do Mundo - Sagrado Coração da Terra (abertura)
Sob o Sol (spanish version: Bajo el Sol) - Marcus Viana e Adriana Mezzadri


desenhos
Andrea Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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