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Terra da Garoa: Capítulo 19

Novela de Édy Dutra
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TERRA DA GAROA - CAPÍTULO 19
 


CENAS DO CAPÍTULO ANTERIOR


LENARA
: - Foi a Raquel, não foi? Foi aquela vadia que colocou um monte de bobagem na sua cabeça! (se agarra em Henrique) Ela é uma falsa, ela ta querendo nos separar, meu amor! Não acredita nela, por favor!

HENRIQUE: - Lenara, a história não é bem assim. Tem mais coisa envolvida que você nem imagina.

LENARA (se afasta): - Como o quê, por exemplo?

HENRIQUE: - Como um filho.

LENARA (surpresa): - O quê?!

HENRIQUE: - A Raquel está grávida, esperando um filho meu. 

Lenara encara Henrique, incrédula.



CENA 01. HOTEL LUXO. QUARTO. INT. NOITE. 

Continuação do capítulo anterior. Henrique revela para Lenara que Raquel espera um filho seu. 

LENARA: - Eu não posso acreditar numa história dessas, Henrique. Me diz que é mentira isso.

HENRIQUE: - É verdade, Lenara. A Raquel está grávida. E eu sou o pai.

LENARA (grita): - Vaca! 

Num ataque de fúria, Raquel quebra os vasos expostos na bancada do quarto.

HENRIQUE: - Calma, Lenara!

LENARA: - Como você quer que eu tenha calma, com uma vagabunda dando o golpe da barriga no meu marido?!

HENRIQUE: - A Raquel não é nenhuma vagabunda, Lenara. É sua amiga.

LENARA: - Amiga da onça, aquela falsa!

HENRIQUE: - E não há golpe nenhum. A história aconteceu bem antes, lá em Portugal.

LENARA: - Ela voltou pra concluir o plano dela, será que você não percebe isso, Henrique?! Essa história de filho é puro golpe! Por que ela não disse nada pra você antes? Por que só agora, no dia do nosso casamento ela vem com essa história toda? É inveja, é pra acabar com a nossa felicidade, meu amor!

Lenara se aproxima de Henrique, para beijá-lo, mas ele se esquiva.

HENRIQUE: - Não dá, Lenara, não adianta...

Henrique vai até o armário, tira um travesseiro e um lençol.

LENARA: - Aonde você vai?!

HENRIQUE: - Eu vou deitar aqui na sala do lado.

LENARA: - Henrique, é a nossa noite de núpcias! A gente precisa dormir junto, fazer amor!

HENRIQUE: - Se eu deitar com você, vou estar te iludindo, enganando tanto você quanto eu. Eu não posso fazer isso.

Lenara se ajoelha diante de Henrique, agarra suas pernas.

LENARA: - Nunca, meu amor! Você não vai me iludir jamais! Eu amo você, Henrique! Não me deixa, por favor!

HENRIQUE (levanta Lenara): - Eu sei que é difícil. Está sendo difícil até pra mim. Eu não sei se realmente o que eu fiz foi correto.

LENARA: - Você está arrependido de ter se casado comigo?

Lenara encara Henrique, que desvia o olhar. Lenara puxa o rosto dele para diante do seu.

LENARA: - Eu vou te mostrar que o que você fez foi a escolha certa. O nosso amor vai superar tudo isso, Henrique. Você vai ver, meu querido.

Henrique se afasta, pega suas coisas e deixa Lenara sozinha no quarto. Lenara encara a porta do quarto se fechando, com expressão de choro. Após Henrique fechar a porta, ela muda de expressão, ficando séria, um tanto apreensiva, com raiva.

LENARA: - Merda! Era só o que me faltava eu perder o Henrique e toda grana pra Raquel!... Esse papinho de amor não vai colar por muito tempo. Nem eu tenho saco pra ficar empurrando essa história. Preciso agir rápido senão o Henrique se separa de mim e eu fico sem grana nenhuma.

Lenara fica pensativa.

CENA 02. APTO HUMBERTO. INT. NOITE.

Donato e Vilma sentados lado a lado no sofá da sala do apto de Humberto, que se aproxima dos dois, trazendo uma dose de uísque para cada um. Humberto senta-se numa poltrona, próximo dos dois.

VILMA: - Muito bonito o seu apartamento, Humberto. De muito bom gosto.

DONATO: - Herdou do pai.

VILMA: - Certamente do pai e não de você.

HUMBERTO: - Podem parar com essa conversa mole e vão abrindo o bico. De onde essa relação toda de vocês? Com Gurgel, com Maria Alice. Vamos, podem falar. Quem começa?

DONATO: - Tudo o que eu tinha pra falar pra você, eu já falei, Humberto. O Gurgel, meu irmão, nunca suportou o fato de eu ter tido um filho com a Vilma e me mandou pra longe, depois de usar a minha grana pra construir a empresa. É essa a verdade.

VILMA: - Essa é a sua verdade, Donato. Aliás, meia verdade.

DONATO: - Vai dizer que eu estou mentindo, Vilma?!

VILMA: - Em partes sim... Se bem que eu não sei se você está mentindo ou se enganando nessa história toda. Porque a verdade mesmo não é bem essa.

HUMBERTO: - E qual é a verdade então, toda Vilma?

VILMA: - Gostei da sua ironia. Herdou de mim.

HUMBERTO: - Pode falar, por favor?

VILMA: - Claro, queridinho. Eu tive sim, um caso com o Donato.

DONATO: - Não falei?! Aonde ta a mentira?

VILMA: - Mas você, Humberto, não é filho dele. 

Donato se surpreende. Humberto também. 

DONATO (levanta-se do sofá): - Como é que é?!

HUMBERTO: - Explica isso direito, Vilma.

VILMA: - Você não é filho do Donato, Humberto. Você é filho legítimo do Gurgel. Sangue do sangue dele.

DONATO: - Mas isso é uma calúnia!

HUMBERTO: - Então... Eu sou herdeiro de toda fortuna também?!

VILMA: - Com todos os direitos do mundo!...  

Humberto se levanta, caminha pela sala, pensativo. 

HUMBERTO: - Então o dinheiro é meu! A empresa é minha de fato!

DONATO: - Você vai acreditar na mentira dessa velha, Humberto?

VILMA: - Cala a boca, Donato! Se ele tiver dúvidas, só fazer um DNA que prova que você não é o pai dele. Vocês são simplesmente tio e sobrinho.

DONATO: - E você sabia disso tudo e não disse nada?!

VILMA: - Quis ver o circo pegar fogo. Eu sabia que o Gurgel odiaria você pra sempre e que seria capaz de qualquer coisa pra tirar você do caminho. Tanto é que conseguiu, te mandando pra bem longe. E foi bom pra mim também, porque vocÊ era tão obsessivo, Donato!... Finalmente eu pude respirar. Tive alguns encontros com o Gurgel antes de rever você, lembra? Lá no porto de Santos.

DONATO: - Era uma vadia mesmo, legítima mulher da vida.

VILMA: - Mas eu sempre fui esperta, Donato. Isso você não pode negar. Eu sabia que o Gurgel teria um futuro muito mais promissor do que você. Tratei logo de fazer um filho nele, mas omiti, pra usar a verdade quando fosse necessária. Como agora.

HUMBERTO: - Tudo muito bem armado e com a ajuda dos patetas do Gurgel e da Maria Alice.

VILMA: - Muita coisa eu devo a ela, que mesmo sabendo da traição do seu pai, não deixou de amá-lo e ainda cuidou de você como filho. Ela é a sua mãe de verdade. Eu apenas coloquei no mundo.

DONATO: - Colocou no mundo e agora quer explorar o rapaz!

VILMA: - O mesmo que você, Donato!

HUMBERTO: - Já chega. Eu já descobri tudo o que queria. Vocês já podem ir.

DONATO: - Já?! Vai nos mandar embora assim?

VILMA: - Eu posso, pelo menos, pegar mais uma dose desse uísque? Faz anos que não bebo algo tão bom! 

Humberto acena com a cabeça e Vilma se afasta até a copa. Donato se aproxima de Humberto. 

DONATO: - Fica com o pé atrás com ela, Humberto. Eu sei do que eu to falando. Não vamos abandonar o nosso plano de pegar a minha parte na empresa e dividir. 

Vilma escuta a conversa, mas disfarça.

HUMBERTO: - Por hoje já chega, Donato.

DONATO: - Só não esquece do nosso trato. Você tem a gaar e bastante.

VILMA: - Estou pronta. Vamos?

DONATO: - Vá para o inferno!

Donato sai do apartamento.

VILMA: - Nossa, que raiva que ele ta de mim... Boa noite, Humberto. Foi um prazer conversar com você.

HUMBERTO: - Boa noite, Vilma. E obrigado pelas informações.

Vilma sai. Humberto fecha a porta do apto. Sorri, incrédulo.

HUMBERTO: - A grana é minha!

CENA 03. APTO RAQUEL. INT. NOITE.

Raquel conversa com Jaqueline.

JAQUELINE: - E ficou todo mundo sem entender o porquê de você não ter participado da cerimônia. Depois que eu fui atrás da Lenara e ela me disse o que aconteceu. Como ela teve coragem de bater em você? Você está grávida!

RAQUEL: - Ela não sabe. Pelo menos eu não falei.

JAQUELINE: - Meu Deus, minha amiga... Onde essa história foi parar! E agora, como é que fica você e o Henrique?

RAQUEL: - Não sei... Depois de tudo ele ainda se casou com ela, mas não sei o que será daqui pra frente. Agora eu preciso pensar no meu futuro e dessa criança que está vindo...

JAQUELINE: - Quanta coisa pra pensar...

RAQUEL: - Eu até já comecei. Vou abrir um restaurante.

JAQUELINE: - Sério?! Que maravilha! 

As duas se abraçam. 

JAQUELINE: - Eu desejo todo sucesso desse mundo pra você. Na vida profissional e pessoal também.

RAQUEL: - Obrigada, Jaque. Que bom ter você do meu lado. Mas eu também quero te ver feliz. Como ta o seu lance com o Daniel?

JAQUELINE: - Nem sei se existe ainda alguma coisa... Agora o Daniel é jogador famoso. E tem a chata da Bárbara na cola dele.

RAQUEL: - E você vai deixar ela ficar com ele assim, sem lutar pelo menos?

JAQUELINE: - Mas o que eu posso fazer, Raquel? Aquela mulher é furacão!

RAQUEL: - Pois mostra pro Daniel que ele não precisa de furacão. Que ele precisa de uma mulher serena, sensata, que dê apoio a ele, que o incentive e que o faça crescer, em todos os sentidos. (segura as mãos de Jaque) Você é uma mulher tão especial, Jaque. E eu sei que vocÊ gosta do Daniel. Vai atrás, luta. Tenta mais uma vez.

JAQUELINE: - Você acha?

RAQUEL: - Segue o seu coração. E pelo o que eu conheço, ele está louco para ir atrás do Daniel.

JAQUELINE: - Está mesmo! (risos)

RAQUEL: - Então vai! (risos) Sabe aonde ele deve estar agora?

JAQUELINE: - Não sei, mas vou tentar ir até a casa da mãe dele. Pelo menos ela deve me dizer aonde eu posso encontrá-lo.

RAQUEL: - Boa sorte amiga. Vou estar aqui torcendo muito! 

Jaqueline abraça Raquel, agradecida e sai do apartamento empolgada.

CENA 04. MOTEL. QUARTO. INT. NOITE.

Marcelo e Fernanda deitados lado a lado no quarto do motel. Ela com a cabeça sobre o peito dele. Ambos envoltos pelos lençóis.

MARCELO: - Eu precisava mesmo desse encontro com você. Muita tensão no corpo.

FERNANDA: - É, eu percebi... E agora, está mais relaxado?

MARCELO: - Estou. Com você eu me sinto no céu.

FERNANDA: - Falando assim até parece aqueles galãs dos filmes, se declarando... (risos)

MARCELO: - A única diferença é que eu não sou galã. 

Fernanda se surpreende, encara Marcelo. 

FERNANDA: - O que você quer dizer com isso?

MARCELO: - Você entendeu bem, Fernanda... Eu demorei pra perceber, mas agora eu vejo que estou completamente envolvido por você.

FERNANDA: - Marcelo, isso é loucura! A gente não tem a mínima chance de dar certo. Nós somos muito diferentes e (pausa)

MARCELO: - Você já está colocando um monte de empecilho sem nem ao menos tentar.

FERNANDA: - Eu sou uma garota de programa. Só isso já basta para que a gente não dê certo nunca! 

Fernanda se levanta, vai até o espelho. Marcelo vai atrás dela, a abraça por trás, beija seu pescoço, carinhoso. (sobe trilha “Além da Nova Ordem” – Júlio Serrano) 

MARCELO: - Se dá pelo menos o direito de tentar.

FERNANDA: - Eu não quero te magoar, Marcelo.

MARCELO: - Você não me magoa em nada. Agora, se o seu medo é se magoar, eu te prometo que eu não vou deixar que nada de ruim te aconteça e te faça sofrer.

FERNANDA: - Mas (pausa)

MARCELO (interrompe): - Eu prometo! 

Marcelo a beija. 

MARCELO: - Amanhã a gente se encontra de novo. Eu quero estar com você sempre. Sempre! Sempre! 

Marcelo beija Fernanda, apaixonado. Ela corresponde. Os dois voltam para cama, aos beijos. 

(fade in trilha “Além da Nova Ordem” – Júlio Serrano)

CENA 05. CASA ROSA. INT. NOITE.

(fade out trilha “Além da Nova Ordem” – Júlio Serrano)

Daniel conversa com Rosa.

DANIEL: - Foi tudo legal, mesmo, mãe?

ROSA: - Meu filho, você parecia um astro internacional!

DANIEL: - E gostou do estádio? Bonito né, mãe? Estádio de Copa do Mundo.

ROSA: - Foi a primeira vez que eu entrei lá dentro. Achei tudo lindo e grande!

DANIEL: - Foi a primeira vez de muitas, mãe! Agora você vai ir sempre lá pra me ver.

ROSA: - Amém!... Agora, Daniel, você já aprontou todas as coisas para a mudança?

DANIEL: - Já sim, mãe. O Carlos disse que está tudo certo, estão terminando a pintura do apartamento e que daqui a pouco tempo eu vou para a minha nova morada.

ROSA: - Que bom, meu filho!

DANIEL: - Seria melhor se você viesse junto comigo, dona Rosa.

ROSA: - Nós já falamos sobre isso, Daniel. Eu gosto daqui de Itaquera. Não quero sair do meu cantinho, da minha casinha, que também continua sendo sua, ouviu? 

De repente, alguém bate à porta.

DANIEL: - Está esperando alguém?

ROSA: - Não...

Rosa vai atender a porta. Ao abrir, Bárbara entra no local.

DANIEL: - Bárbara?

BÁRBARA: - Desculpa vir sem avisar. Mas é que eu precisa conversar com alguém. Que bom que você está aqui, Daniel.

ROSA: - Como se viesse sem saber que ele estive aqui.

BÁRBARA: - Juro que não foi intencional, dona Rosa. Eu estou passando por um momento difícil. Só quero alguém pra desabafar. Será que a gente pode conversar, Daniel?

DANIEL: - Claro.

ROSA: - Bom, eu vou lá pro meu quarto, aprontar as saias das baianas pro ensaio técnico da quadra. Qualquer coisa, só chamar. E comportem-se! 

Rosa sai, deixando Bárbara e Daniel a sós. 

DANIEL: - E então, o que é que ta pegando?

BÁRBARA: - Você anda tão atarefado com essa sua nova vida, que nem soube da notícia que ta correndo pelo bairro há dias.

DANIEL: - Não, não estou. O que aconteceu?

BÁRBARA: - Eu fui tirada do posto de rainha da bateria da Unidos da Zona Leste.

DANIEL: - Você?! Sério?! Mas por quê?

BÁRBARA: - A Aimée vai ser a nova rainha. Decisão do Jair, em troca do apoio do Leopardo.

DANIEL: - Leopardo? O traficante?

BÁRBARA: - Isso mesmo, Daniel. Ele comprou o posto de rainha pra Aimée. Poxa, ela era minha amiga e me deu essa rasteira. Você sabe o quanto eu amo ser rainha de bateria, amo aquela escola... Mas isso foi muito cruel pra mim. Eu fiquei sem chão. (chora) 

Daniel se aproxima, abraça Bárbara, que chora recostada sobre o peito de Daniel. 

DANIEL: - Calma, Bárbara... Com certeza até o carnaval você volta.

BÁRBARA: - Eu não sei, Daniel. Hoje teve uma baita de uma festa pra coroação dela. Nem eu tive uma festa tão grande assim... Eu não sei mais o que fazer. Me sinto tão sozinha. Tão desamparada.

DANIEL: - Olha só. Não precisa se sentir sozinha não, ta? Você pode contar comigo para o que precisar.

BÁRBARA: - Posso mesmo? De verdade?

DANIEL: - Claro, pode.

BÁRBARA: - Eu preciso agora de um beijo... 

Bárbara beija Daniel, que se surpreende com a atitude dela. Neste instante, Jaqueline entra na sala e flagra os dois. Daniel se afasta de Bárbara e vê Jaqueline. 

DANIEL: - Jaqueline?!

BÁRBARA (vira-se): - O que essa japonesa ta fazendo aqui?

JAQUELINE: - E eu vinha pra cá, cheia de esperança de te encontrar Daniel, e me declarar pra você. Tirar todo esse sentimento que eu tenho guardado aqui no peito... Mas pelo o que eu vejo aqui, você não está muito disposto.

BÁRBARA: - Você é muito sonsa mesmo, não é?

DANIEL: - Jaque, olha só, não teve nada aqui agora. Eu só estava dando uma força pra Bárbara, ela ta passando por um momento difícil.

JAQUELINE: - Eu vi a força que você está dando pra essa oferecida.

BÁRBARA: - Alto lá! Fala direito comigo senão eu já mostro pra você do que eu sou capaz!

JAQUELINE: - Ah, você é capaz de jogar ainda mais sujo do que joga, Bárbara?! Meu Deus, eu não me canso de me surpreender com você!

BÁRBARA: - Ah, mas você vai mesmo, Jaqueline! Vai mesmo! 

Bárbara parte para cima de Jaqueline, mas esta lhe acerta um tapa no rosto. Bárbara se apóia no sofá. 

BÁRBARA: - Você me bateu! Ordinária!

JAQUELINE: - Nem pensa em chegar perto de mim, Bárbara! Senão você vai ver do que eu sou capaz!

DANIEL: - Já chega, meninas!

Rosa vem do quarto.

ROSA: - Mas que confusão é essa aqui na minha casa?!

JAQUELINE: - Desculpa, dona Rosa... Eu já deveria saber que não era pra ter vindo... Eu sou uma boba mesmo.

Jaqueline sai. Daniel vai atrás dela. Bárbara com a mão no rosto, esboça um sorriso debochado.

ROSA: - Posso saber o motivo da graça, Bárbara?

BÁRBARA: - Nada não, Rosa... Nada não...

ROSA: - Acho melhor você ir embora também. Já ta tarde.

BÁRBARA: - Só vou esperar o Daniel voltar e (pausa)

ROSA(firme): - Agora, Bárbara!

Bárbara encara Rosa, não diz nada, vai saindo.

CENA 06. RUA. EXT. NOITE.

Jaqueline entra no carro, bate a porta. Daniel se aproxima, bate na janela.

DANIEL: - Jaque, baixa o vidro. Vamos conversar.

JAQUELINE (chorando): - Não tem mais nada pra gente conversar, Daniel. Acho que você tem muito mais coisas pra falar com a Bárbara do que comigo.

Bárbara vai saindo da casa, fica parada no portão, olhando os dois.

JAQUELINE: - Pode ir. Ela está te esperando.

Jaqueline liga o carro e sai. Daniel fica a observar o carro partir. Bárbara se aproxima dele.

BÁRBARA: - Deixa ela ir. Ela viu que não faz parte dessa história que é só nossa.

DANIEL: - Deixa disso, Bárbara...

BÁRBARA: - Não acredito que você ta arrependido de não ter falado com aquela japonesa aguada, Daniel?

DANIEL: - Bárbara, faz um favor pra mim? Vai pra sua casa. Agora quem precisa de conforto, sou eu. Na minha cama e sozinho, pra pensar na minha vida.

Daniel sai. Bárbara fica pensativa.

Enquanto isso, Jaqueline para o carro numa outra rua, respira fundo, enxuga as lágrimas. Fica com a cabeça ao volante, pensativa, quando alguém bate à janela, fazendo Jaqueline se assustar. É Carlos do lado de fora. Jaqueline baixa o vidro.

CARLOS: - Jaqueline Namura?

JAQUELINE: - Carlos... Esposo da Dalva, não é?

CARLOS: - Sim, sou eu. O que você está fazendo aqui?

JAQUELINE: - Nem eu sei mais, Carlos...

CARLOS: - Bom, de qualquer forma, não dá pra você ficar aí dentro do carro à essa hora. Vem, vamos lá em casa. Assim você bebe uma água, procura se acalmar.

JAQUELINE: - Obrigada. E a Dalva, está em casa também?

CENA 07. CASA DALVA. COZINHA. INT. NOITE.

Carlos conversa com Jaqueline, sentados à mesa da cozinha.

JAQUELINE: - Nossa, eu não sabia disso! E como ela está?

CARLOS: - O estado de saúde da Dalva é grave. Os médicos estão fazendo de tudo...

JAQUELINE: - Uma pessoa tão talentosa, tão querida. A vida nos prega cada peça.

CARLOS: - Faz dias que eu não sei o que é dormir direito. Hoje que eu vou passar a noite em casa, porque eu estou dormindo direto no hospital.

JAQUELINE: - Carlos, se não for pedir muito, eu gostaria de ir amanhã no hospital visitar a Dalva. Eu achei ela tão fantástica, preciso dar meu apoio nessa hora tão difícil.

CARLOS: - Claro, será uma alegria pra ela ver você lá. Ela também gostou muito do seu trabalho. Com certeza ela vai gostar.

Jaqueline sorri, feliz.

CENA 08. APTO BARRETO. INT. NOITE.

Nuno chega em casa com a roupa rasgada e encontra Tarsila na sala a sua espera.

TARSILA: - Que história é essa de você sair no meio da festa, pra ir parar naquele fim de mundo e voltar nesse estado, Nuno?!

NUNO: - Calma mãe, não foi nada demais.

TARSILA: - Nada demais?! Nuno, você está com a roupa suja, com a camisa rasgadas... Andou metido em briga?!

NUNO: - Sim, eu briguei.

TARSILA: - Já chega! Não precisa dizer mais nada! Você está se metendo em confusão com aquela gente barra pesada... A partir de agora, eu te proíbo de ir para Itaquera, atrás daquela indecente, está ouvindo?

NUNO: - Eu não sou criança, mãe. Pode parar com essa história de proibir.

TARSILA: - Não me interessa, Nuno! Eu estou falando e acabou! Nem que pra isso eu te mande pra fora do país!

NUNO: - Nunca, mãe. Esquece essa história de ir pra fora do país. Meu lugar é aqui e a mulher da minha vida é a Aimée. E pode anotar aí. A gente ainda vai ficar junto.

Nuno sai.

TARSILA: - Só se for por cima do meu cadáver, Nuno!... (suspira) Nunca aquela suburbana na minha família. Nunca.

CENA 09. APTO HUMBERTO. INT. NOITE.

Humberto vai apagando a luz da sala, quando a campainha toca.

HUMBERTO: - Ninguém merece visita agora.

Humberto abre a porta. Vilma entra.

VILMA: - Sabia que você ainda estaria acordado.

HUMBERTO: - O que foi? Esqueceu alguma coisa?

VILMA: - Sim sim. Esqueci de ter uma conversinha um pouco mais séria com você.

HUMBERTO: - Mais algum segredo que você tem pra me contar sobre a minha vida?

VILMA: - Não. A nossa conversa se chama Donato.

HUMBERTO: - Não poderia ser uma conversa melhor?

VILMA: - Eu também queria que fosse, mas não é. E o assunto é sério. Eu não pude deixar de ouvir o Donato comentando com você sobre pedir a parte dele na empresa...

HUMBERTO: - Desde que ele voltou, só fala nisso...

VILMA: - Então, agora que você sabe de toda a verdade, que você é mesmo herdeiro da fortuna dos Queirós... Você não vai adiante nesse plano, vai?

HUMBERTO: - Não sei. Não pensei nisso ainda.

VILMA: - Pois então pense, Humberto. Agora você é dono de tudo. Não precisa mais ficar dando esmolinha ou se desgastando com Donato.

HUMBERTO: - Mas se eu não fizer isso, não dar a grana pra ele e mandar ele embora, eu não vou ter paz.

VILMA: - Humberto, querido, tem jeito muito mais prático de se livrar do Donato.

HUMBERTO: - Como?

VILMA: - Matando, oras.

(sobe trilha “Turtango Instrumental”) Humberto se impressiona com a frieza de Vilma. 

HUMBERTO: - Você está louca?!

VILMA: - Nunca estive tão sã em minha vida. Ah, Humberto, não precisa fazer essa cara de assustado porque eu sei que você também já deve ter pensado nisso. O Donato é um pé no saco, e eu e vocÊ sabemos que ele não vai sossegar só com o dinheiro que você vai dar. Ele vai querer mais e mais e mais. Porque o Donato é ganancioso! E quem é ganancioso, só para com a morte.

Humberto encara Vilma, pensativo.

VILMA: - Pensa bem, querido. Dividir sua grana com quem não merece, não deve ser a melhor coisa do mundo...

Vilma vai embora. Humberto fecha a porta, enigmático.

CENA 10. PASSAGEM DO TEMPO.

Imagens de São Paulo ao amanhecer. Mostra as rodovias da cidade, a Avenida Paulista, os arranha-céus. Mostra a região da zona leste. (fade out trilha “Turtango Instrumental”) 

CENA 11. CENTRO COMUNITÁRIO. INT. DIA.

Ulisses deixa Otávio na entrada do centro comunitário.

OTÁVIO: - Que bom que você veio me trazer.

ULISSES: - Foi o combinado, não foi?

OTÁVIO: - Foi... Mas é que ontem eu me senti sozinho em casa. Minha mãe nem ligou para saber como eu estava.

ULISSES: - A mamãe estava ocupada, filho.

OTÁVIO: - Ela ta sempre ocupada pra mim...

Otávio abraça Ulisses e sai. Ulisses observa o filho, pensativo. Ele vai saindo quando esbarra em Fernanda.

FERNANDA: - Ulisses...

ULISSES: - Quanto tempo eu não te vejo... Deve andar muito ocupada.

FERNANDA: - Isso foi um deboche seu? Saiba que não combina com você.

Fernanda vai entrando, Ulisses a segura pelo braço.

ULISSES: - Calma aí, Fernanda, desculpa... Eu não quis ofender, te chatear... Acontece que eu estou com saudades. Eu preciso te ver.

FERNANDA: - A gente não pode conversar aqui, Ulisses.

ULISSES: - Então vai pra minha casa hoje. Um jantar, eu e você.

FERNANDA: - Hoje?

ULISSES: - Por favor, Fernanda... Por nós.

Ulisses solta Fernanda, delicadamente. Ela vai entrando no centro comunitário, olha para trás, para ver Ulisses.

ULISSES: - Eu vou te esperar!

Fernanda esboça um sorriso e segue seu caminho. Ulisses fica a observá-la, suspirando.

CENA 13. HOTEL LUXO. QUARTO. INT. DIA.

Henrique acorda, deitado no sofá da sala do quarto de luxo. Ele olha o relógio, vê a hora. Levanta-se, abre a porta do quarto e percebe que Lenara não está mais lá.

HENRIQUE: - Lenara?

Ele chama, mas ninguém responde.

CENA 14. APTO RAQUEL. INT. DIA.

A campainha do apto de Raquel toca. Ela abre a porta e vê Lenara. As duas se encaram.

LENARA (entrando no apto): - A gente precisa conversar.

RAQUEL: - Bom dia pra você também, Lenara.

LENARA: - Bom dia uma ova!

RAQUEL: - Ei! Você está dentro da minha casa, pode ir baixando o seu tom de voz.

LENARA: - Eu estou é me segurando pra não baixar a mão na sua cara, Raquel. Como você pode ser tão baixa, tão calculista ao ponto de fazer isso com a sua própria amiga.

RAQUEL: - Posso saber do que eu estou sendo acusada agora?

LENARA: - De dar o golpe da barriga! O Henrique me falou que você disse pra ele que estava esperando um filho dele.

RAQUEL: - Ele falou pra você?

LENARA: - Falou, acreditando na sua mentira!

RAQUEL: - Não é mentira, Lenara. Tudo isso é verdade. Eu estou grávida do Henrique, sim!

LENARA: - Você acha mesmo que ele vai deixar de ficar comigo só por causa desse filho que você inventou? Nunca!

RAQUEL: - Se um dia ele não quiser mais ficar com você, vai ser porque ele não se sentirá mais feliz, Lenara. Pode ter certeza que eu não vou mover uma palha para afastar você e o Henrique.

LENARA: - É bom mesmo que você não tente nada. Nem mesmo com essa coisa que você está esperando aí na barriga.

RAQUEL: - Não fala assim do meu filho!

LENARA: - Essa criança não vai nem nascer... Já foi planejada pra trazer desgosto.

Raquel dá um tapa no rosto de Lenara.

RAQUEL: - Já chega, Lenara! Vai embora daqui! Agora!

LENARA: - Você não vai ser feliz, Raquel. Você não vai ter o Henrique, não vai!

Lenara vai embora. Raquel bate a porta, tenta se acalmar.

CENA 15. HOSPITAL. QUARTO DALVA. INT. DIA.

Jaqueline entra no quarto onde Dalva continua internada. Carlos já está no local. Jaqueline traz lindas flores, que Carlos coloca num vaso sobre a mesa. Jaqueline se aproxima da cama onde Dalva está deitada, dormindo, respirando com aparelhos.

CARLOS: - Ela está dormindo.

Jaqueline segura a mão de Dalva, carinhosa. De repente, Dalva abre os olhos e sorri ao ver Jaqueline.

DALVA (fraca): - Jaqueline...

JAQUELINE: - Oi minha amiga... Vim aqui te ver.

DALVA: - Que coisa boa abrir os olhos e ver você aqui...

Carlos se aproxima.

CARLOS: - Como você está, querida?

DALVA: - Me sentindo fraca... Mas ainda consigo sentir meu coração bater de alegria. Tão bom ver pessoas que a gente gosta à nossa volta. E onde está meu filho? Cadê o Cássio?

Jaqueline e Carlos trocam olhares.

CARLOS: - Está em casa, descansando.

Dalva respira fundo, suspira.

JAQUELINE: - Logo logo você vai sair dessa, Dalva. E vai estar expondo lindos quadros por aí. Quem sabe a gente não faz uma mostra juntas, que tal?

DALVA: - Seria maravilhoso... Você tem um talento único, incrível e que merece todo o reconhecimento do mundo... É tão bom quando a gente tem o mundo aos nossos pés... eu já tive isso tudo e fui muito feliz.

JAQUELINE; - Você ainda tem, Dalva. É consagrada!

DALVA: - Eu caí no ostracismo, Jaque... Me entreguei a um vício que agora está levando minha vida aos poucos. (tosse)

CARLOS: - Procure não se cansar, Dalva.

JAQUELINE: - É melhor você descansar mesmo.

DALVA (segura a mão de Jaqueline): - Não, fique! 

Dalva segura firme a mão de Jaqueline. As duas trocam olhares.

DALVA: - Jaque... (respira fundo) Me promete uma coisa.

JAQUELINE: - Dalva, você não precisa (pausa)

DALVA (interrompe): - Me promete, por favor...

JAQUELINE (emocionada): - Sim, prometo.

DALVA: - A minha família é o bem mais precioso que eu tenho nessa vida... Esteja sempre com eles. Eu sei que eles vão precisar de alguém.

CARLOS: - Dalva, querida...

DALVA: - E a minha obra, o meu legado artístico, eu deixo para você também, Jaque... Eu sei que através das suas mãos, a minha arte ainda terá o sopro de vida que agora eu estou sentindo falta.

Dalva respira fundo, puxando ar. Jaqueline tenta conter as lágrimas. Dalva estende a outra mão a Carlos, que a segura.

DALVA: - Meu amor... Obrigado por ter sido este homem maravilhoso que foi, durante todos esses anos. Eu te amo. Muito.

CARLOS (emocionado): - Eu também te amo, Dalva. Muito.

DALVA: - Digam ao Cássio, que a mamãe, de onde estiver, vai estar olhando pra ele. Paula, Carol, Santiago... Todos vocês estarão para sempre no meu coração. Eu amo vocês...

Dalva respira fundo, suspira. Lentamente, seus olhos vão baixando até se fecharem. As máquinas apitam, sinalizando o fim do batimento cardíaco. Silêncio no quarto. Jaqueline e Carlos deixam as lágrimas rolarem. Carlos se abraça ao corpo de Dalva, chorando, calado, ao lado de Jaqueline.

CENA 16. EMPRESA QUEIROZ. SALA PRESIDÊNCIA. INT. DIA.

Henrique está em sua mesa quando Humberto entra na sala, acompanhado por Donato e Vilma.

HENRIQUE: - Humberto? Chegando de comitiva?

HUMBERTO: - Eu sei que você deve ter tido uma noite maravilhosa após o casamento, mas agora chegou a hora da gente falar sobre algo que é realmente importante. A nossa empresa.

HENRIQUE: - Muito bem! Gostei de ver você falando, nossa empresa!... (olha Vilma) Eu não a conheço...

VILMA: - Realmente não conhece. Mas em breve vai ouvir falar e muito de mim. Prazer, sou Vilma.

HENRIQUE: - Sua secretária, Humberto?

DONATO: - Uma oportunista na verdade.

HUMBERTO: - Sim, a Vilma é uma espécie de assessora e será muito útil a partir de agora.

HENRIQUE: - E então, o que é que você veio tratar comigo?

HUMBERTO: - Eu vim aqui reaver a parte pertencente ao meu pai, Donato. Nós vamos vender a nossa parte na empresa para abrir um novo negócio.

HENRIQUE: - Como é que é?!

HUMBERTO: - O Donato tem direito a metade da empresa. E é isso que nós vamos buscar.

HENRIQUE: - Mas essa divisão agora vai ser terrível para a empresa!

DONATO: - Se virem! Eu quero o meu dinheiro que o seu pai roubou!

HUMBERTO: - É o fim da linha, Henrique. Nós vamos decidir isso aqui e agora!

Henrique sente-se pressionado. Humberto troca olhares com Vilma e encara Henrique, poderoso.


novela de
Édy Dutra
 
elenco
Juliana Alves como Raquel
Guilherme Winter como Henrique
Christine Fernandes como Lenara
Júlio Rocha como Humberto
 
Daniele Suzuki como Jaqueline
Jonathan Haagensen como Daniel
Cláudio Lins como Ulisses
Rodrigo Hilbert como Robson
Cinara Leal como Bárbara
Carlos Casagrande como Claude
Diego Cristo como Joaquim
 
Erika Januza como Aimée
Liliana Castro como Fernanda
Léo Rosa como Marcelo
Aline Dias como Stefany
Cecília Dassi como Carol
Luiz Otávio Fernandes como Nuno
Renata Castro Barbosa como Salete
Bernardo Mesquita como Cássio
Jonatas Faro como Igor
Odilon Wagner como Carlos
 
Rodrigo dos Santos como Barreto
Patrícia Werneck como Monique
Karina Bacchi como Keylla Mara
Nando Cunha como Candinho
Sérgio Guindane como Leopardo
Letícia Colin como Rita
Luiz Felipe Mello como Otávio
Maria Pinna como Lisa
 
atrizes convidadas
Carolina Ferraz como Paula
Regina Braga como Maria Alice
Aída Leiner como Tarsíla
Tânia Alves como Zuleica
Zezé Motta como Rosa

atores convidados
Zé Carlos Machado como Donato
Aílton Graça como Macedão
Nuno Leal Maia como Jair
Jean Pierre Noher como Santiago
 
Malu Galli como Dalva
Sônia Braga como Vilma
Reginaldo Faria como Gurgel

trilha sonora
 Além da Nova Ordem – Julio Serrano
 Turtango Instrumental

produção
 Bruno Olsen
 Diogo de Castro
 Israel Lima


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


 
REALIZAÇÃO



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