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Funerária Dois Irmãos: Capítulo 20

Novela de Marcelo Caronesi
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FUNERÁRIA DOIS IRMÃOS - CAPÍTULO 20




 

            Odílio e Odilon passaram todo o ano de 1957 e boa parte de 58 praticando todos os tipos de crimes de homicídios. Eles simularam acidentes e mortes naturais; seja manipulando venenos e insetos para matar pessoas idosas e doentes, ou preparando metodicamente e pragmaticamente desastres dos mais diversos tipos.

         Por ser mais covarde, na maioria dos crimes, as partes mais difíceis e arriscadas ficavam a cargo de Odílio, que era mais experiente. Como no caso do vereador Ernesto Fontes, que tinha duas famílias; uma em São Pedro da Cachoeira e outra em Guaratinguetá. Enquanto Odílio se deitou por baixo do veículo para manipular o cabo de freio, ao ponto do mesmo se soltar com a trepidação do veículo em movimento, Odilon ficou apenas observando se aparecia alguém. O fato é que o vereador voou com seu carro após uma curva na serra. O acidente foi fatal, causando grande comoção na cidade; e na família. Aliás, nas famílias.

         O que causou estranheza entre a população de São Pedro foi quando Simeão caiu da Ribanceira da Cruz. Ele, acostumado a andar por praticamente todas as trilhas das matas, a levar os turistas que visitavam a cidade para as cachoeiras, terminou se arrebentando no precipício, por onde era acostumado a passar. Seu corpo ficou todo retorcido e machucado, com múltiplas fraturas, após a queda de 80 metros. Do alto, Odílio conseguiu confirmar que ali terminou a vida do jovem Simeão.

         Enquanto as mortes ocorriam em São Pedro da Cachoeira, Odílio e Odilon ficavam responsáveis por todos os enterros ocorridos da cidade. Enfim, eles viam dinheiro de verdade entrando no caixa da agência funerária. Odilon estava feliz porque podia presentear Tereza com coisas que ele trazia de Taubaté ou de São José dos Campos: caixinhas de música, correntinhas com pingentes, chapéus e roupas. Por vezes, ainda descia a serra para, junto com Tereza e dona Creuza, passearem pelas cidades do Vale do Paraíba. Odílio aceitou o namoro do “irmão”, mas, vez ou outra, ainda encrencava com o romance; era do seu temperamento ser desse jeito. O que não mudava em Odílio era a sua capacidade de negociação e adaptação. Assim, ele diversificou os negócios; ao lado da agência funerária, Odílio abriu uma loja onde se vendia relógios, joias, caixas de música, rádios e aparelhos de TV. Todas as mercadorias eram de origem duvidosa, vindo escondidas dentro dos caixões encomendados diretamente de São Paulo.

         Odílio ainda firmou um pacto com o prefeito: a prefeitura comprava caixões para defuntos das famílias que não tinham condições de pagar por um enterro, por um preço mais alto, com algumas diferenças de preços nas notas fiscais emitidas pela casa funerária. Odílio ficava com 20% do valor excedente, enquanto o prefeito Eurico Prates dividia o restante com o secretário da receita da município.

         Aos poucos, Odílio foi se inserindo no mundo das apostas em rinhas de galos. Apesar de serem proibidas desde 1934 por decreto de Getúlio Vargas, entrando na edição do Código Penal em 1941 como contravenção penal, elas continuaram acontecendo em São Pedro da Cachoeira, agora muito devido a atuação de Odílio, que nessas alturas já tinha uma sólida amizade com o delegado Ferreira. O chefe policial sempre ameaçou fechar o local onde as rinhas aconteciam, mas Napoleão sempre recorreu a Odílio para negociar com o delegado. Lógico, Odílio sempre levava algum tipo de vantagem para proteger o negócio de Napoleão. E o delegado Ferreira conseguia algo a mais, além do seu salário.

         Apesar de já terem uma certa influência na cidade, os assassinatos ainda persistiam. E isso incomodava Odilon. “Por que não se candidata a vereador?”, já havia perguntado ele para Odílio algumas vezes. E ele já dissera diversas vezes que não pensava nisso no momento, que não tinha interesse em ocupar cargos políticos; segundo ele, políticos eram pessoas desonestas.

         Odilon se acostumou, mas ainda se sentia incomodado de, muitas vezes ter de ajudar Odílio a levar pessoas para “fazerem check in com São Pedro”. Ele não gostava de ter de se fazer amigo de alguém, para, tempos depois, chamar a pessoa para ir pescar e, lá, bem longe da cidade, na beira do rio, Odílio afogá-las. Odilon, além de não gostar de participar de assassinatos, achava muito arriscado esse tipo de crime, onde ele tinha de atrair pessoas. Temia ser descoberto. Mas ele não podia discordar de Odílio, porque sempre se iniciava uma nova briga entre eles.

         Odílio e Odilon passaram a ser pessoas respeitadas na cidade. Vistos como empresários bem sucedidos, eram convidados para festas, casamentos, batizados; enfim, eram admirados por todos. Odilon não fazia tanta questão disso tudo; para ele, bastava estar com Tereza. Estando com a sua “Tetê” e a família dela, ele se sentia feliz. Odílio se interessava e muito em estar no meio das pessoas importantes da cidade. Frequentando a nata da sociedade cachoeirense, era muito comum vê-lo participando de churrascos e outros tipos de festividades na fazenda de Irineu Magalhães.

         Com status de empresário rico, muitas moças demonstravam grande admiração por Odílio. O solteirão mais cobiçado da cidade se vestia muito bem. E realmente, quando aparava o cabelo e fazia a barba, a sua fisionomia era muito bonita. Com Odilon as coisas foram diferentes; com o passar do tempo foi ficando mais caipira e parecido com os naturais de São Pedro da Cachoeira, não cuidando da aparência e sendo muito descuidado com suas roupas. Vez ou outra Odílio tinha de comprar e escolher roupas para Odilon. O refinamento de Odílio, fazia com que mães brigassem entre si, para que suas filhas fossem escolhidas por ele. Todo evento social era a mesma coisa: como mulheres do tipo da dona Branca, que tentava de toda maneira empurrar a sua filha, Aurora, para os braços de Odílio.

         Ninguém desconfiava da dupla vida de Odílio. Claro, que no caso das rinhas, muitas pessoas sabiam de sua interferência, mas aí era pela questão do seu poderio financeiro, então as pessoas o respeitavam; mesmo porque muitas delas gostavam das rinhas. Sobre a criminalidade, não se passava nada pela cabeça das pessoas de São Pedro.

         Nem mesmo o fato de Odílio rejeitar as mulheres da cidade, despertava fofocas. Para todos, Odílio não se relacionava com nenhuma garota da cidade simplesmente porque nenhuma estava à sua altura, nem mesmo a bela Aurora. Fato é que Odílio sabia que, caso se relacionasse com alguma mulher, as chances de sua vida obscura ser descoberta, seriam muito maiores. Para ele, estava de bom tamanho frequentar as zonas de Santa Inês, Taubaté ou Caçapava. Por algum tempo, Odílio até bancou uma prostituta de São José dos Campos, que ele insistia em chamar de acompanhante, o que gerou brigas, quando em alguma discussão mais séria, Odilon a chamava de puta. Odílio deixou a sua “acompanhante” após descobrir que ela ainda saia com outros homens. Essa fora uma exigência que ele fizera, não deixando faltar-lhe nada; nem dinheiro, nem roupas, perfumes, joias, ou algo mais que ela quisesse, ela não deveria ter relações com nenhum outro homem. Sem nutrir sentimentos por absolutamente ninguém, Odílio não teve dificuldades em terminar o relacionamento com ela.

         As diferenças que Odílio e Odilon escolheram para suas vidas ainda traziam algumas discussões entre eles. Odílio queria determinar o modo de vida que Odilon deveria seguir. Havia tempos de paz, e havia tempos de brigas. Os atritos costumavam ser violentos muitas vezes. Porém, ninguém desconfiava. Pelo contrário, as pessoas admiravam a amizade, a união e o companheirismo que os dois “irmãos”, mesmo sendo o mais completo fingimento.

escrita por
Marcelo Caronesi

elenco
Odilon
Odílio
Tereza
delegado Ferreira
Onça-parda

tema
Canções de Assassinato 

intérprete
Confraria da Costa

direção
Carlos Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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