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Quando Ana Olhou para a Direita: Capítulo 10

Minissérie de João Paulo Coca
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QUANDO ANA OLHOU PARA A DIREITA - CAPÍTULO 10


O FIM DA LINHA
 

    Ana chegou em casa por volta das quatro da manhã, enviou um e-mail ao chefe e à assistente avisando que a operação havia sido um sucesso avisando que iria para o trabalho no período da tarde. Mesmo muito cansada, Ana dormiu cerca 3 horas naquela noite, e, pouco depois das 9h da manhã já estava entrando pela porta da delegacia.

            — Você não viria só na parte da tarde? — questionou Letícia enquanto Ana chegava à sua mesa.

            — Não dá pra dormir quando se tem a descrição de um suspeito e o número da placa de uma caminhonete preta! — respondeu Ana, colocando sua bolsa sobre a mesa.

            — Mentira?! Sério, Ana?

            — Muito sério. A operação foi demais! — disse Ana com um sorriso empolgado. — Correu tudo como planejei. Nosso informante barqueiro estava certo, a lancha Medusa era mesmo usada para o tráfico de mulheres.

            Ana contou para Letícia toda a operação detalhadamente e como conseguiu as informações sobre o novo suspeito. A empolgação de Ana também motivou Letícia, que pediu o número da placa para comparar com as informações que haviam chegado naquela manhã do Departamento de Trânsito. Conseguiram identificar os dois números finais da placa da caminhonete que elas investigavam no caso das jovens encontradas no galpão.

            — Os dois números finais são os mesmos da sua placa! — disse Letícia enquanto conferia o relatório em seu e-mail. — A chance de ser o mesmo veículo é gigante.

A informação da caminhonete era o principal elo de ligação entre os dois casos, por isso era importante confirmar tudo antes de apresentar a unificação dos casos para seu chefe. Ana pediu que Letícia rastreasse aquela placa e conseguisse o máximo de informações possíveis sobre o suspeito. Enquanto isso, ela voltaria às suas pesquisas sobre as rotas de tráfico por onde Felipe ‘Morfeu’ disse que levava as mulheres. 

            Era hora de juntar todas as informações que elas tinham, e ainda conseguiriam naquela manhã montar um novo caso para que o Delegado Belfort autorizasse uma ação de prisão do suspeito o quanto antes.

            Para montar o novo caso, Ana precisava colocar tudo o que sabia e que havia recolhido como provas nessas últimas semanas. Era de extrema importância que não deixasse pontas soltas que pudessem atrapalhar a aprovação da operação. Ela pegou as pastas dos casos, rascunhos, anotações, o mapa da região do galpão com a rota de câmeras e, claro, seu bloco de anotações, que estava recheado de novas pistas da noite anterior. Espalhou tudo em cima de sua mesa e começou a organizar.

            Ana pegou uma caneta e uma folha branca na impressora, riscou uma linha vertical no meio do papel e começou a desenhar uma linha do tempo em que os fatos haviam acontecido, tentando organizar e criar uma ordem cronológica das ações dos suspeitos.

            Após criar sua linha do tempo, mesmo que cheia de furos, ela precisava elaborar uma narrativa para essa história, interligando os dois casos, algo que fosse plausível e sustentado por suas pistas. Durante o resto da manhã, ela rascunhou algumas ideias, até que conseguiu desenvolver um argumento inicial para o caso. 

Ana chamou Letícia para que pudesse contar sua ideia e ouvir a opinião da amiga. A assistente deslizou sua cadeira até a mesa de Ana.

            — Pesquisei sobre o tal Pétros, mas não tem nada em sua ficha — comentou Letícia, entregando uma folha com os dados e a foto da carteira de motorista do suspeito. — A caminhonete também está limpa, apenas uma multa de trânsito por excesso de velocidade.   

            Ana pegou a folha com a foto de Pétros e esboçou um sorriso.

— É ele! Exatamente como Felipe o descreveu.

            — Obrigada, Letícia! Quero que veja minha ideia para que eu possa apresentar ao delegado esse novo caso.

            Ana descreveu toda a história criada por ela para Letícia, que ouviu atentamente, questionou em alguns momentos, e, juntas, as duas ajustaram alguns detalhes antes de finalizarem a história. Durante a conversa, buscaram mais informações e dados sobre o tráfico de mulheres em São Paulo para complementar o argumento a ser apresentado.

            Mesmo faltando algumas peças desse quebra-cabeças, Ana já se sentia confiante em convocar uma reunião com a equipe para apresentar sua ideia sobre o caso. Ela pediu que Letícia agendasse com o delegado e os detetives uma reunião para 15h, o que lhes daria um bom tempo para digitalizar arquivos e montar uma apresentação mais organizada.

 

Quando Ana entrou na sala de conferências, o lugar estava quase cheio. Todos os detetives da delegacia estavam se acomodando nas cadeiras e conversando enquanto aguardavam. Letícia distribuiu algumas folhas com o relatório atualizado sobre os dois casos e se sentou em seu lugar habitual, próximo do computador que estava ligado ao projetor.

O Delegado Belfort também já estava na sala quando Ana se posicionou à frente de todos. O delegado terminou sua conversa, caminhou até Ana e, virando-se de costas para a equipe que ainda se sentava, disse em voz baixa:

— Precisamos que o caso daquelas meninas seja resolvido logo, já tenho cobranças superiores sobre isso.

Ana concordou com a cabeça e respondeu:

— Claro, chefe! Acredito que estamos no caminho certo para resolver os dois casos.

— Ótimo! Confio em você, Ana — concordou o delegado, caminhando em direção ao interruptor e apagando as luzes da sala.

Depois daquela pequena conversa com o chefe, Ana sentiu que a pressão era ainda maior para que sua apresentação fosse perfeita e convencesse a todos ali naquela sala. De qualquer forma, era sua chance de mostrar seu valor e que era capaz de derrubar aquele touro a unhas com um golpe certeiro.

— Boa tarde. Obrigada pela disposição do tempo de todos. Serei breve e direta — disse Ana, fazendo um gesto positivo para que Letícia iniciasse a apresentação no projetor.

— Como todos devem saber, não conseguimos provas suficientes para identificar algum suspeito no caso das jovens encontradas em um galpão abandoado. A partir disso, buscamos informações, falamos com informantes e criamos um novo caso paralelo: a possibilidade de uma rede de tráfico de pessoas que atua em São Paulo e região.

Enquanto Ana falava, Letícia realizava a mudança dos slides preparados por elas. Estavam perfeitamente alinhadas naquela apresentação.

— Ontem à noite, armei uma operação no Guarujá e consegui interrogar um suspeito que entregou parte da operação — disse ela, apontando para o slide que mostrava a foto de Felipe ‘Morfeus’ na lancha Medusa. — Esse homem era um dos responsáveis por transportar garotas do Guarujá para o Rio de Janeiro ou pelo caminho inverso, usando essa lancha. — O projetor mostrou o veículo. — No caso das jovens, investigávamos um veículo suspeito que conseguimos apenas dois números da placa, porém, na nossa ação no Guarujá, consegui o número da placa do responsável por levar as garotas até o ponto de encontro — completou Ana, mostrando o comparativo das placas no slide seguinte.

— Nossa principal suspeita é que esse homem, Petros Guerra, seja o elo de ligação entre os dois casos — disse ela, apontando para a foto do homem careca com um grosso cavanhaque no queixo e com a feição de poucos amigos. — Ele é o dono da caminhonete em questão e bate precisamente com a descrição que recebemos do suspeito. Acreditamos que ele seja o aliciador e transportador dessas mulheres, inclusive responsável pela morte das duas jovens — disse Ana, acenando para Letícia pausar a apresentação. — De acordo com nossa investigação, criamos uma suposição sobre a forma de a quadrilha atuar. Supostamente, eles encontram jovens da periferia ou trazem de outras cidades do país com promessas de vidas melhores, trabalhos lucrativos como modelos ou em locais glamurosos, como navios de cruzeiros. Esses navios podem ser um dos transportes utilizados para levarem as jovens para o exterior, já que eles ficam no Brasil apenas no verão e retornam para a Europa após o mês de março.

Ana percebeu que a equipe escutava atentamente sua narrativa para o caso.

            — Quando não há transporte disponível, essas jovens são mantidas em cativeiros ou prostíbulos, até que se resolvam suas situações ou sejam mortas por algum problema durante o processo. O que pode ser o caso das jovens encontradas. Gostaríamos de uma autorização para prender Petros Guerra com as acusações de tráfico de mulheres e assassinato — disse ela, olhando diretamente para o delegado.

            Após alguns segundos de silêncio, enquanto o Delegado Belfort processava todas as informações, Ana se sentia angustiada por dentro, como se fosse explodir a qualquer momento.

            — Tudo bem! Você tem autorização para prendê-lo e interrogá-lo — concordou Belfort. — Quem tiver qualquer informação que possa contribuir com esses casos, reporte à Detetive Ana. Estão dispensados.

            Ana suspirou com extremo alívio ao ouvir o delegado concordar. Então ele se aproximou e completou sua fala, apenas para a detetive:

— Espero que esteja certa, Ana. Você sabe o problema que pode nos causar uma acusação errada dessa magnitude.

            A detetive não conseguiu nem responder com palavras, apenas acenou com a cabeça e começou a recolher seus materiais de apresentação dando sequência à sua ação para prender Petros e encerrar de uma vez por todas os casos que vinham lhe tirando o sono.

           

            Depois de conseguir a autorização para iniciar a operação, Ana preparou toda a papelada necessária para a prisão do suspeito. Ela precisava conseguir um mandado antes de entrar em ação, mas era impossível que fosse emitido ainda naquela tarde. Então preparou tudo que podia ser feito, organizou a ação junto às equipes que iriam até o local para fazer a prisão, conseguiu uma viatura e três policiais militares como apoio para a operação, e deixou tudo preparado para ser realizado assim que o mandado fosse expedido.

            — Pode ir pra casa, Letícia! — ordenou Ana. — Chegue mais cedo em casa e durma bem, porque amanhã será um dia daqueles! Eu espero fazer o mesmo.

            Após tudo encaminhado e preparado, Ana resolveu também ir pra casa descansar, pois ela sabia que precisava se preparar para uma das principais prisões da sua carreira. Nada poderia sair do planejado, ou ela criaria grandes problemas para a delegacia e para seu chefe.

            No caminho de casa, Ana comprou seu jantar, uma pizza de seis pedaços de calabresa e uma garrafa de refrigerante. Seu corpo implorava por um alimento bastante calórico e sem nenhuma responsabilidade saudável. Ao chegar em seu apartamento, colocou a pizza em cima da bancada da pia e o refrigerante na geladeira, encheu a vasilha de comida com a ração preferida de Perseu, enquanto ele demonstrava toda sua saudade pulando em suas pernas, já que Ana estava um pouco ausente de casa, ultimamente.

            Ana se agachou e abraçou seu Bulldog, retribuindo todo aquele carinho do companheiro de apartamento. Depois do afago, Perseu se satisfez e partiu em direção à ração recém-colocada. Ana deixou o amigo comendo em paz enquanto caminhou para seu quarto, abriu o guarda-roupas e escolheu seu pijama mais confortável. Ana tirou a roupa e arremessou direto para o cesto de roupa suja. Ao se olhar no espelho de lingerie, sua consciência pesou pelo seu jantar ultracalórico. Então, antes do banho, acabou optando por correr alguns minutos na esteira, nem se preocupando em vestir sua roupa de ginástica, que estava há dias fechada na gaveta debaixo.

            Enquanto corria, Ana só conseguia pensar em como iria interrogar o suspeito, suas perguntas e expressões corporais que o fariam confessar as atrocidades cometidas pela quadrilha. Cada pensamento deixava Ana mais tensa, o que aumentava sua adrenalina enquanto acelerava seus passos na corrida. Acelerou ao máximo a velocidade que seu corpo podia aguentar, até chegar quase ao ponto exaustão e diminuir a velocidade gradativamente, até que se tornasse uma simples caminhada e pudesse parar. Ana nunca havia suado tanto em cima da esteira, mas sabia que estava também mentalmente exaurida.

            O banho pós-corrida foi o ponto de relaxamento daquele dia tenso. Enquanto a água quente escorria por seu corpo, Ana conseguiu se desligar por alguns minutos de todos os problemas que a envolviam ultimamente. Tanto no trabalho, como familiares. Após se secar e vestir seu pijama anteriormente escolhido, apreciou a pizza com refrigerante como se fosse um prêmio por seu cansaço.

            Enquanto assistia TV ao lado de Perseu, recebeu uma mensagem da juíza Glória Themis, responsável pela emissão do mandado solicitado por Ana. “Olá, Ana! Desculpe o horário, mas enviei o mandado para a delegacia agora há pouco. Tenha uma boa noite”.

            Ana ficou extremamente empolgada. Na mesma hora, enviou uma mensagem a um dos policiais que estariam na ação, mas aparentemente ele costumava se desconectar à noite. Então Ana fez o mesmo. Desligou seu telefone e foi dormir. A ação poderia esperar até a manhã seguinte.

           

            Com o despertador devidamente ajustado para 5h, Ana acordou cedo naquela sexta-feira, ansiosa por dar início à sua operação. Chegou à delegacia ao mesmo tempo em que o sol nascia por entre os prédios antigos do centro histórico de São Paulo.

Após caprichar na sua dose matinal de café, Ana foi até sua mesa para conferir o mandado enviado pela Juíza Glória na noite anterior, estando tudo em ordem. Ela começou a ação abrindo pedidos de busca do veículo do suspeito. Assim que a equipe envolvida na operação chegou à delegacia, cerca de meia-hora após a detetive, Ana já os espera ansiosa como uma criança que aguarda pela promessa de ser levada ao parque de diversões.

A viatura militar que dava apoio já chegara ao endereço do suspeito, mas a garagem da casa estava vazia. Enquanto aguardam a equipe de Ana chegar, os militares evitavam ficar próximos ao endereço e faziam uma ronda pelo quarteirão, procurando pelo veículo ou algo que pudesse ser suspeito. A equipe de Ana era composta por outros dois detetives de apoio, e iriam se encontrar com a viatura militar, que executaria o mandado de prisão. O caminho até o local levava menos de 15 minutos, e eles se encontraram com os policiais militares na rua paralela à casa do suspeito.

Ana estava atenta ao rádio da polícia, aguardando qualquer informação sobre o paradeiro do veículo enquanto as duas viaturas patrulhavam o bairro. Após quase uma hora de ansiedade, Ana recebeu uma ligação da viatura militar dizendo que o veículo acabava de passar por eles a duas quadras do endereço. Ana e sua equipe se posicionaram em uma esquina próxima ao endereço, aguardando a chegada do suspeito, enquanto a viatura militar acelerava contornando o quarteirão para surpreendê-lo de frente.

Ao se aproximar de casa, a Hilux preta parou com parte do veículo em cima da calçada para aguardar que o portão da garagem se abrisse completamente. Esses segundos foram cruciais para que os militares chegassem a tempo de interceptá-lo antes que entrasse em sua casa. Do lado oposto da rua, a equipe de Ana também avançava sua viatura para que pudesse obstruir qualquer tentativa de fuga do veículo.

Os dois policiais militares e os três detetives desceram do carro com suas armas empunhadas, apontadas diretamente para o suspeito. Ao perceber a ação e erguer suas mãos, lentamente abriu a porta da caminhonete e desceu com as mãos acima da cabeça.

— Petros Guerra de Castro? — questionou Ana, já com a certeza da resposta, sequer aguardando a resposta afirmativa do suspeito. — Você está preso!

Sem nenhuma resistência, para alívio de todos, o homem se ajoelhou e se colocou em posição para ser algemado, enquanto Ana deu um suspiro bem fundo e disse a ele a célebre frase:

— Você, Petros Guerra de Castro, tem o direito de permanecer calado e não é obrigado a criar provas que sejam usadas contra você no tribunal. Você tem direito a um advogado pago pelo Estado em caso de não poder arcar com um.

O homem estava completamente calmo e evitou qualquer movimento brusco, pois sabia que, pelo seu tamanho, causaria certo alvoroço naqueles policiais armados se tentasse alguma coisa. O policial militar pegou um dos braços do homem e o dobrou até as costas, colocou uma das algemas e voluntariamente o suspeito abaixou o outro braço para também ser algemado.

Após chegarem na delegacia, Ana pediu que deixassem o suspeito na sala de interrogatório, pois ela faria o registro da prisão e iria interrogá-lo assim que possível. Durante suas operações, Ana sempre deixava seu telefone no silencioso para evitar distrações. Ao conferir seu telefone, viu que perdeu duas chamadas vindas do telefone particular do Cabo Drummond, do Guarujá. Ela achou estranha aquela ligação, mas imediatamente retornou.

— Olá, Drummond! Me desculpe, estava em uma operação e perdi duas ligações.

— Olá, detetive. Tenho más notícias! — disse ele com um tom desanimador. — O rapaz que você interrogou essa semana, o tal de ‘Morfeu’. Então, ele foi encontrado morto essa manhã.

— Co... como assim? O que acon... teceu? — disse Ana, gaguejando e desacreditada com a informação. Era sua única testemunha e havia acabado de perdê-la.

— Não sabemos ao certo, mas, aparentemente, ele morreu asfixiado e depois foi jogado da piscina — comentou o cabo. — A empregada o encontrou boiando na água logo cedo, quando chegou até a casa na praia.

— Realmente, foi uma péssima notícia, mas obrigada pela informação, Drummond. Qualquer novidade, me avise, por favor, é um caso muito importante.

Ana desligou o telefone e percebeu que sua mão tremia um pouco devido à notícia, pois ela pretendia usar o recém-assassinado Felipe como testemunha no processo, mas agora não tinha mais sua principal carta na manga. Ela se sentou por alguns instantes, serviu um copo de água e o tomou com apenas um gole. Pegou a pasta onde continha as informações do caso e partiu em direção à sala de interrogatório, como se fosse arrancar a confissão à força de Petros.

— Bom dia, Senhor Petros Guerra ­— cumprimentou, colocando a pasta sobre a mesa.

— Bom dia, detetive.

— Por que você acha que está sendo preso?

— Não faço ideia, detetive.

— Certo, então vamos direto ao ponto — disse Ana se sentando em frente a Petros.

Por um segundo, Ana teve medo daquele homem, quase um gigante preso por algemas finas que, mesmo muito seguras, pareciam poder ser arrebentadas com facilidade sem o menor esforço.

— Você está sendo preso por chefiar uma quadrilha de tráfico de pessoas e pelo assassinato de duas jovens. Temos evidências e testemunhas que ligam você a esses crimes, então sua colaboração e confissão seriam muito benéficas pra você.

— Não! Você não tem! — disse Petros com uma expressão despreocupada. — Não tem, porque fiz nada disso.

— Temos fotos do seu veículo, entrando e saindo local do crime — mentiu Ana sobre as fotos para tentar coagi-lo.

— Então você pode apresentar as fotos em um tribunal. Não sei nada sobre isso.

Ana insistiu em acusá-lo para que pudesse pressioná-lo, mas Petros tinha a mesma frieza de um iceberg e não cedia em nada à detetive.

— Olha, Petros! Seria mais fácil você colaborar — disse Ana, levantando-se um pouco ansiosa. — Temos uma testemunha que liga você a esses crimes.

— Como já disse, você não tem — respondeu Petros, formando um leve sorriso irônico bem no meio daquele rosto sombrio e testa franzida.

— Como você pode ter tanta certe... ­— Ana parou imediatamente de falar e se afastou um pouco da mesa, dando as costas para Petros.

Ana percebeu naquele momento que o suspeito estava um passo à sua frente. Ele sabia da morte de Felipe ‘Morfeu’, ou ele mesmo o teria matado. Por isso não resistiu à prisão, ele sabia que seria preso.

— Onde você estava essa noite? — questionou Ana se virando para o interrogado.

— Estava trabalhando. Sou segurança em uma casa noturna.

— Mentira! Você foi ao Guarujá essa noite — acusou Ana.

— A senhorita está enganada, nunca fui ao Guarujá.

Ana começou a perder sua linha de raciocínio, seus pensamentos começaram a vagar rapidamente por vários fatos, tentando buscar alguma informação relevante, mas sempre era interrompida pelo mesmo pensamento. Se tivesse efetuado a operação na noite anterior, teria evitado a morte de Morfeu? Ela perdera sua única testemunha por não agir imediatamente?

As respostas frias de Petros foram deixando Ana tão nervosa que começou a proferir acusações de forma agressiva.

— Você chefia uma quadrilha de tráfico de mulheres! Você matou aquelas duas jovens.

A tensão subiu ainda mais, quando Ana, extremamente exaltada, deu um tapa na mesa, derrubando o copo d’água descartável que estava em cima.

— Você matou o Felipe essa noite! E eu vou provar isso! — gritou Ana.

Petros continuou frio diante das acusações de Ana, com muita calma, ele respondeu:

— Bem, detetive, acho que agora quero a minha ligação. Esse tipo de acusação sem provas a essa hora da manhã vai deixar meu advogado muito feliz.

Ao escutar o grito de Ana, Letícia entrou na sala logo acompanhada pelo delegado Belfort.

— O que está acontecendo detetive? — perguntou o chefe com uma expressão nada amigável.

Antes que Ana pudesse responder, Petros disse:

— A detetive está meio nervosa, acho que ela deveria descansar um pouco e me deixar fazer a minha ligação.

— É claro! Você pode fazer sua ligação — autorizou o delegado. — Letícia, peça a dois detetives que venham acompanhar o suspeito a fazer sua ligação!

—Ana, me acompanhe por favor. — finalizou o delegado, saindo da sala de interrogatório.

Ana estava meio aérea e sem entender o que a fez perder a calma naquele momento tão importante. Como aquele suspeito podia ter mexido tanto com sua cabeça sem dizer praticamente nada? Mil coisas passavam pela cabeça de Ana sobre o que aconteceria a partir daquele momento. Ela sabia que tinha jogado toda sua operação pelo ralo ao acusar Petros sem sua prova cabal, sua testemunha.

Letícia voltou para a sala com os detetives. Trouxe também um copo de água para Ana, que teve dificuldade em equilibrá-lo, já que sua mão tremia muito. Quando o suspeito saiu da sala, Ana se sentou, respirou fundo, deu um gole em sua água e foi até a sala do seu chefe com a certeza do fracasso.

— Feche a porta! ­— ordenou o Belfort. — O que foi isso, Ana? Você passou dos limites completamente — dizia o delegado, passando a mão pela cabeça.

— Desculpa, chefe. Eu sei que perdi o contro...

— Não quero desculpas, Ana! — interrompeu Belfort. — Quero provas das acusações que fez. Se não tiver, o advogado vai tirar ele daqui e enfiar um processo na delegacia, que provavelmente vai custar muito caro pra gente.

O delegado sentava e se levantava de sua cadeira enquanto falava.

— Eu te avisei sobre isso, Ana! Eu te avisei.

— Eu tinha provas. Eu tinha a testemunha! — disse Ana, tentando se justificar. — Mas recebi uma ligação com o policial do Guarujá e minha testemunha foi achada morta, boiando na piscina da casa dele nessa manhã.

Com aquela notícia, o delegado se sentou na cadeira com tanta força, que parecia ter desmoronado.

— Co... como assim? Morto?

— O Cabo Drummond me disse que ele foi asfixiado e jogado na piscina — explicou ela. — Tenho certeza que foi o Petros. Por isso a frieza dele. Ela sabia que eu não tinha nada.

Esfregando a testa como se tentasse acelerar algum pensamento, o delegado não respondeu por alguns segundos. Após aquela pausa angustiante para Ana, ele disse:

— Estamos ferrados, Ana. Você tem uma hora para tentar encontrar alguma prova concreta ou eu vou autorizar a liberação do suspeito e tentar amenizar nosso processo.

Ao tentar argumentar, o delegado fez apenas um sinal de silêncio e pediu que ela se retirasse da sala. Ana seguiu a ordem e deixou a sala do chefe sem saber o que faria para conseguir alguma prova em tão pouco tempo.

Ana chamou Letícia e pediu que a ajudasse a encontrar qualquer prova. Enquanto as duas reviravam papéis e arquivos, procurando evidências em meio a tantas incógnitas sobre o caso, Ana contou sobre o que aconteceu com sua testemunha e percebeu que não tinha nada concreto para manter o suspeito preso. Foi até a sala do chefe, disse que desistia do caso, que podia liberar o suspeito e passar seu caso para outro detetive.

— Você pode ir liberá-lo então — disse o delegado. — Às vezes, isso diminui a sede de sangue do advogado.

Mesmo não querendo nem olhar para Petros, Ana foi até uma pequena sala onde ele conversava com seu recém-chegado advogado. Antes mesmo de Ana falar sobre a liberação, o advogado esbraveja vários artigos da constituição que iria usar para processar a Polícia Civil.

— Gostaria de dizer que o senhor está liberado — disse Ana com a voz tão baixa, que mal se pôde ouvir.

— Como é? Ele já pode ir? — perguntou o advogado.

— Isso. Ele pode ir.

Petros pediu que o advogado se abaixasse para que pudesse cochichar alguma coisa em seu ouvido.

— Meu cliente quer um pedido de desculpas e não fará nenhuma queixa — disse o advogado, mesmo a contragosto.

Ana ficou sem entender a reação de Petros. Paralisada por alguns segundos, ela tentou adivinhar por que ele faria aquilo, mas logo pensou que não fariam diferença os motivos dele, e sim que a delegacia não fosse afetada com um processo por sua culpa.

— Eu sinto muito pelo terrível engano que cometemos — declarou Ana. — Esperamos que possa nos perdoar.

— Satisfeito? — perguntou o advogado ao seu cliente.

— Claro! Agora, vamos embora — disse Petros se levantando e estendo os braços para que Ana pudesse remover as algemas de seus punhos.

Então, Ana viu seu principal suspeito escapar pelos seus dedos e sair pela porta da frente da delegacia, com um pedido de desculpas dela dentro do bolso. Ela sentia que o sentido da sua carreira tinha acabo naquele momento.

A detetive ficou extremamente decepciona pelo seu fracasso. Após duas semanas montando um caso, perdendo noites de sono, procurando uma narrativa, viajando, interrogando e criando uma história que fizesse sentido, tornava-se tudo em vão.

Ana voltou até sua mesa e ficou sentada ali mexendo em alguns papéis, completamente aérea ao que acontecia em seu entorno. Ouvia apenas vozes ao fundo se movimentando por todos os lados, enquanto seu mundo era apenas um vazio sem sentido. Ana concordava, acenando a cabeça sem fazer ideia das palavras de Letícia, que tentava animá-la de alguma forma.

O delegado se aproximou da mesa, percebeu a situação de Ana e disse para Letícia acompanhar a detetive até em casa e garantir que ela descansasse durante o fim de semana. Então Letícia pegou as chaves do carro de Ana e dirigiu até o seu prédio, acompanhando-a até o apartamento.

Ana logo se deitou no sofá, sem se preocupar em tirar os sapatos ou trocar sua roupa. Ela mal falava com Letícia, que foi até o quarto e pegou um dos cobertores na cama de Ana, cobrindo a amiga, que se aconchegou rapidamente. Letícia procurou algum remédio que pudesse dar a Ana para ajudá-la a dormir, e encontrou um relaxante muscular que faria o papel de calmante naquele momento.

Após Ana tomar o remédio, Letícia ainda ficou por alguns minutos sentada no sofá observando a amiga pegar no sono. Depois disso, ela deixou um bilhete para Ana dizendo para descansar durante o fim de semana e que estava disponível a qualquer momento que ela precisasse de uma amiga. Ela saiu silenciosamente para não acordar Ana ou Perseu, que também pegou no sono ao lado da dona. 

Encerra com a música: (I'm Shipping Up to Boston - Dropkick Murphys).


autor
João Paulo Coca

elenco
Giovanna Antonelli como Ana Torosídis
Sheron Menezzes como Letícia
Cauã Reymond como Felipe Morfeu
Otávio Muller como Antero Torosídis
Antônio Fagundes como Konstantinos
Alexandre Borges como Georgios
Miguel Falabella como Dimitri
Carmo Dalla Vecchia como Andreas Torosídis
Larissa Manoela como Helena Torosídis

trilha sonora
I'm Shipping Up to Boston - Dropkick Murphys

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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