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Antologia Sempre ao Meu Lado: 1x12 - O Céu é o Limite

Conto de Oliveira Caruso
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Sinopse: Ícaro é um solteirão de quarenta anos vendedor de produtos para outros nerds, o qual, misteriosamente do nada se envolve em aventuras com um unicórnio que lembra um antigo alazão que ele tinha na cidade natal e que lhe dá saudades ainda hoje, anos depois de morto.


O Céu é o Limite
de Oliveira Caruso

   

Ícaro é um sujeito tido por muitos como lunático. Obcecado pelo céu, nada raro é pego olhando para ele como que a perscrutá-lo em toda a imensidão do espaço sideral. Seja de dia ou de noite, é comum surpreender o cidadão em suas evasões mentais, como quem namora a lua ou o sol. Se por um lado não adianta lhe dizerem a crendice popular de que apontar a lua causará verruga no dedo indicador, por outro ele precisou desde cedo começar a usar óculos de sol com grau, devido a problemas na visão ocasionados por sua obsessão. Ademais, como sempre, ainda lhe dói lembrar a morte de Pégaso, seu tão querido alazão, com o qual cresceu na cidade serrana de Petrópolis (RJ).   

Agora já contando quarenta outonos (a estação que mais aprecia), o petropolitano tem uma lojinha virtual de produtos ligados à aviação, aves, super-heróis e seres mitológicos alados em Balneário Camboriú (SC). Não faltam no local alpiste e demais alimentos relativos, canecas, livros, brinquedos, camisas, chaveiros, tapetes e diversos outros acessórios. Uma vez que o vendedor é solteirão, consegue manter o estoque em dois dos três quartos do apartamento herdado dos seus pais num arranha-céus de setenta e sete andares. Ícaro dorme no quarto que sobra, o qual também é o escritório, ou no sofá-cama da sala, de frente para a televisão de 65 polegadas na qual constantemente reprisa películas como Top Gun, que tem Tom Cruise como protagonista, a impagável comédia derivada Top Gang, com Charlie Sheen, além de tudo relacionado com as franquias Star Wars e Jornada nas Estrelas.

Outra grande paixão do petropolitano são os livros que abordam os temas aludidos, sendo as fábulas em que aparecem unicórnios várias daquelas obras escritas que mais o agradam. Isso ao ponto de ele ao menos uma vez por semana visitar um haras situado na cidade vizinha Camboriú, imóvel situado a aproximados quarenta quilômetros da residência onde mora; ao chegar ao local, Ícaro retira do carro um largo bloco para desenho apoiado numa prancheta, os diversos lápis pretos e coloridos, além das hidrocores variadas. Costuma deixar o haras com ao menos um desenho de um dos belíssimos equinos ornado docemente com asas de unicórnio, como Ventania, do desenho animado She-Ra, uma forma de matar as saudades de Pégaso. E, de tanto já ter desenhado as crias do haras e ter deixado lá mesmo diversas das obras a pedido do proprietário do local, já tem passe livre no local há mais de um ano, tendo chegado ao ponto de ganhar uma exposição permanente que é bastante frequentada pelos amantes de tais animais. Todavia, obviamente todos os visitantes e funcionários, durante a pandemia, precisam utilizar a máscara para proteger a si e ao próximo. 

Pois bem. Após uma semana de boas vendas on-line, o homem dorme tranquilamente no sofá-cama com seu edredom adquirido numa viagem a Hollywood, roupa de cama que tem estampado um baita helicóptero Trovão Azul, máquina de um antigo seriado de televisão. Todavia, não é sem espanto que, aos poucos, o cidadão fluminense capta um som deveras peculiar, o que o faz se espreguiçar e bocejar bastante antes de esfregar os crespos cabelos castanhos e os olhos verdejantes da serra: um relinchar! Mas como assim? O apartamento fica no sexagésimo-terceiro andar! Logo, ele se põe a cogitar, ainda sonolento. Estará o animal na rua, dentro de algum claustrofóbico caminhão de carga? Terá algum condômino adquirido um equino e trazido ao próprio apartamento? Se sim, como passaria pela portaria, pelos inúmeros lances de escada ou pelo elevador social (ou de serviço, dá no mesmo, pois ambos não comportam mais de cinco pessoas!) e, por fim, pela ultrachata síndica? Teria sido trazido de helicóptero para depois descer da cobertura? De fato, a mentalidade extremamente geek (ou nerd) do nosso querido amigo vai alcançando níveis árduos de se imaginar mesmo para ele... 

Passado o susto inicial e chegando à conclusão de que se empolgou demais com um dos sonhos, Ícaro resolve se espreguiçar um pouco mais e tomar um curto banho de sol na janela da sala. Conquanto o astro maior do sistema esteja parcialmente encoberto por nuvens, alguns fachos beijam a tez escanhoada do recém-ex-balzaquiano, que por instantes cerra os olhos para senti-los melhor e respirar fundo rumo a mais um dia de vendas, com a graça do bom Deus. E é quando reabre os olhos que percebe o inusitado: rasgando as nuvens junto a um generoso e candente facho de sol desce do céu a galope um baita unicórnio alvo como um lírio de um matagal virgíneo! As esferas visuais se esbugalham num misto de estranhamento, temor, ansiedade e alegria, sensações diversas e talvez até mesmo contraditórias. Então era este o som percebido pelo homem! Ele não se enganou! “Mas onde estão os anjos e as trombetas anunciando o apocalipse? Ah, a Bíblia não tem unicórnios no enredo...”, pensa o geek.    

Passado o susto sequencial, o vendedor vê o belíssimo animal alado mitológico mergulhar fundo, rumo às águas da praia, o que faz aquele se debruçar perigosamente sobre o parapeito, por tão empolgado com a inusitada situação, e de repente perder o equilíbrio. Durante os segundos de queda, Ícaro se lembra do jovem cantor popular paulista que faleceu em situação parecida recentemente, na capital fluminense, e começa a orar a Deus, pedindo mais uma vez (como a cada dia) perdão pelos pecados cometidos. Passam-se alguns segundos com ele mal podendo enxergar qualquer coisa abaixo de si, uma vez que cai contra a resistência do ar, o que faz o vento praticamente cegá-lo durante tal infortúnio. E é aí que mais algo sobrenatural ganha terreno. 

Mesmo sabendo que está quilômetros abaixo das primeiras nuvens e que a expressão arranha-céus não passa de mera expressão, o cidadão fluminense se sente atravessando algumas nuvens de algodão (sim, de algodão!) sucessivamente, as quais lhe amortecem a queda até que ele caia justamente sobre as costas do alazão alado! Sem tempo para pensar em algo mais (e sem sentir qualquer impacto sobre as genitálias!), Ícaro agarra a crina do novo amigo e voa com este sobre a imensidão do mar azul. A sensação é indescritível; o homem vê do alto: a multidão num gigantesco formigueiro nas areias fumegantes; o próprio arranha-céus destacado de praticamente todos os demais edifícios; a paradoxal roda gigante pequenina; o Molhe Zona Sul; o Morro do Careca, entre outras belezas do local. 

O vendedor mal pode acreditar também que consegue ouvir perfeitamente o cavalgar da criatura, mesmo sem contato dos cascos (estariam equipados com ferraduras mitológicas?) com o asfalto ou qualquer outro tipo de solo terrestre! Obviamente o petropolitano logo se lembra de Pégaso e da sensação de liberdade que tinha ao subir nas costas deste enquanto o animal estava bem de saúde. Ademais, o relinchar parece ganhar o infinito juntamente com os trovões emanados de Mjölnir, o martelo de Thor! É fácil até mesmo um sujeito baixinho e gordinho como o carioca se sentir um super-herói de gibis e filmes hollywoodianos! E, quando menos espera, mais uma surpresa acontece. 

Como uma gaivota em busca de uma corvina vista do céu, o unicórnio repentinamente aponta o focinho para baixo e realiza um lindo mergulho com as asas encolhidas para logo depois se tornar um grandioso cavalo-marinho rumo às profundezas do alto-mar. Uma das coisas de que Ícaro se lembra de ter estudado é que nenhum ser humano pode mergulhar demasiadamente rápido nem emergir desta forma, uma vez que a cada dez metros de profundidade aumenta em uma vez a pressão atmosférica. Traduzindo: a velocidade tem que ser calculada, principalmente se não dispomos de qualquer aparelhagem de mergulho ou submarino, pois, caso contrário, os tímpanos podem literalmente explodir dentro da cabeça, conforme estudado nos tempos de escola.

E qual não é a nova surpresa do cidadão ao mergulhar profunda e agilmente sem se sentir afetado por tal sorte de problemas nem mesmo sem ficar desprovido de oxigênio nos pulmões! Mas parece ter nascido de uma ova já com guelras, nadadeiras e tudo mais (com exceção das gônadas no lugar do órgão sexual masculino humano, claro...). Nem dificuldade para enxergar debaixo d’água ele tem! 

Ícaro, no trajeto do mergulho, se põe maravilhado diante do que vê. Pode perceber um cardume de sardinhas com um cardume de tubarões e atuns em volta a tentar cercá-las. Todavia, junto ao seu novo amigo, ele não teme os predadores de ocasião. A seguir, diversos morros de corais multicoloridos e ornados com peixes-palhaço, anêmonas, moreias, assim como diversos tipos de crustáceos. Depois disso lhe surgem à frente as ruínas de um outrora imponente galeão afundado há pouco menos de duzentos anos, sendo que a dupla passa a visitar diversas das dependências do local.    

Justamente enquanto o solteirão vai começando a se familiarizar com todo o surreal ocorrido, eis que o alazão alado então apropriadamente chamado Asas de Posseidon o conduz ao convés das ruínas. O quarentão de nome mitológico apeia do animal e principia uma lenta e cuidadosa caminhada pelo pavimento até que, repentinamente, sente o piso ranger. E como miséria pouca é bobagem, este não tarda a ruir, fazendo o homem despencar rumo ao pavimento inferior, o que revela surpresas inolvidáveis na forma de objetos diversos da época em que o galeão deslizava pelas límpidas águas do litoral sulista e outros mais do Brasil e do Atlântico. 

- Vejo que, depois de muito tempo, eu enfim tenho um visitante. Ou melhor, dois... – sussurra uma voz misteriosa, que ecoa pelo local. 

- Era só o que me faltava: uma alucinação...

- Deixai-me ver se entendi. Vós vendes aqui ao fundo do mar montado num unicórnio, não tendes a respiração afetada, mas só eu sou uma alucinação?

- Oi? Onde você está? Não é justo; você sabe onde eu estou, mas eu nem a vi ainda... – diz o apavorado visitante. 

- Imagino que não vos assustareis, ao me avistardes...

- Ícaro. Meu nome é Ícaro. E o seu?

- Andrômeda.

Dito isso, o vendedor dos sonhos de diversos nerds sente um furacão, tubarão ou algum outro fenômeno ou ser vivo passar do seu lado direito, o que o instabiliza ao ponto de ele se desequilibrar. E, ao se reerguer posturalmente, eis que Ícaro vê à sua frente um ser tão absurdo quanto um unicórnio que ainda por cima mergulha até as profundezas das águas salgadas e enregeladas. A cauda de aproximados dois metros de comprimento coberta de escamas até as nadadeiras substitutas dos pés humanos; o ventre, as costas, os seios, os braços, o rosto e os longos e leves cabelos castanhos de mulher bem servida de beleza. Sim, uma sereia se aproxima saracoteando como os maiores predadores dos oceanos. 

- O unicórnio deve apreciar deveras a vossa companhia. Mantém-se fiel! – percebe a sereia.

- Eu o conheci há pouco mais de uma hora. Lembra o meu antigo alazão na minha cidade natal. O nome dele não poderia ser outro além de Pégaso, já que sou bem previsível, segundo costumam me dizer. Meu pai me deu o animal depois de eu persistir em não permitir o sacrifício aconselhado pela veterinária; a cirurgia seria de êxito improvável. Porém, eu segui acreditando e consegui convencer o meu velho. Pégaso viveu por mais oito anos. Forte e saudável. Só mancava um pouco. 

- Interessante! 

- E me lembra também um gavião que vira e mexe espreitava o sítio, fazendo estragos na granja. Meu pai ficava irado, mas admito que eu admirava a ave tanto quanto o cavalo. Afinal, este trotando e o gavião voando me faziam pensar sempre em liberdade. Parecia que se complementavam. 

- Já eu fico presa aqui...

A conversa vai se prolongando sobre assuntos os mais diversos para matar a curiosidade de cada um dos dois, mas não sem Andrômeda relatar ao humano os inúmeros males que a poluição com dejetos industriais e residenciais causa ao meio ambiente e, em especial, às águas e à vida residente nestas. Não somente o esgoto mas também os resíduos plásticos, derivados do petróleo, os quais nada raro param na glote e no estômago dos animais marinhos. Garrafas pet, redes de pesca, brinquedos, acessórios... Isso sem falar de metais pesados como o mercúrio, o cádmio e outros mais. 

A seguir, os dois, escoltados pelo unicórnio, nadam não somente por dentro dos destroços da embarcação como ademais por grutas que a sereia apresenta ao terrestre, conjuntos de corais e mexilhões, covis de tubarões e de moreias, entre outras curiosidades a qualquer marinheiro de primeira viagem. O cidadão fluminense fica absolutamente absorto ante tanta beleza proporcionada pelo local, ao ponto de se esquecer do fascínio pelo céu e pelos diversos aspectos deste. 

- Quase dois séculos sem companhia... - diz o segundo rebento da mitologia a aparecer ante os olhos do cidadão fluminense radicado em terras catarinenses há quase vinte anos. 

- Sei que não serve de consolo, mas na minha vida normal, lá na superfície, eu tenho sido solteirão já faz uns anos também. Não por tantas décadas, mas o suficiente para me incomodar... 

- Não tendes ideia do quanto sofro isolada aqui.

- É impressionante que você vive cá embaixo, porém tem o nome de uma constelação. Ou seja, mais me parece que vive no lugar errado, já que, assim como eu, tem o nome diretamente ligado ao céu de Deus! Além disso, numa constelação várias estrelas convivem. Não acha isso o mais completo paradoxo? 

- Olhando por esse prisma, sim. Todavia, amigo, não posso deixar as águas do mar para trás. Não sou alguma Iara ou boto. Não me torno inteiramente mulher, inteiramente humana. Aliás, mesmo que assim me sucedesse, caso soubessem da minha existência na superfície, seria perseguida e provavelmente alcançada para que se realizassem pesquisas diversas e dolorosas. 

- Verdade. Eles fariam isso de fato... 

- Então,  considerando que até agora não morreu afogado...

- Nem de hipotermia...

- O que é isso? “Hipo” tem a ver com cavalo. Hipopótamo quer dizer cavalo d’água. Hipotermia quer dizer unicórnio d’água? – sorri a sereia.

- É um estado em que o corpo apresenta temperatura abaixo do considerado normal, perdendo o calor natural e passando a exigir cuidados. Normalmente ocorre, por exemplo, quando um ser humano permanece tempo demais debaixo d’água sem os devidos equipamentos de proteção mínimos. Hipo, no caso, quer dizer abaixo de, não cavalo. 

- Ah, sim. Como eu estava dizendo, bem que poderíeis aproveitar para manter uma estada razoável por aqui, não? Afinal de contas, vós apreciastes a vida marinha, as paisagens e, segundo imagino, a minha companhia...

- Com certeza. O principal é a sua companhia. Mas veja: eu não sou gordinho à toa. Adoro restaurantes que servem fast-food, o meu apartamento, o meu trabalho. Além do mais, tenho que dar satisfação a pessoas que se preocupam comigo: minha irmã; uns amigos e colegas... Adorei o local, mas, definitivamente, preciso voltar à minha vida normal, Andrômeda. Prometo revê-la em breve. Juro. 

- Sinto muito, mas não é o suficiente, querido... 

Como resposta, a sereia tem seus braços transformados em tentáculos de polvo, os quais se esticam no sentido de Ícaro, com o intuito de aprisioná-lo. Entretanto, dotado de uma velocidade que jamais demonstrou antes na superfície e, mesmo contra a resistência da água, ele se agacha e se estica, saltando o suficiente para se agarrar a Asas de Netuno, que dispara tentando emergir sem delongas. Andrômeda, indisposta a perder o seu companheiro de ocasião, começa a perseguir a dupla. O animal encara diversos obstáculos em sequência, com o intento de despistar ou, no mínimo, atrasar a sereia, que a esta altura já tem seus braços humanos restabelecidos. Após alguns quilômetros percorridos, a dupla não vislumbra qualquer sinal da caçadora, o que os alivia na busca pela final emersão. O homem afaga o animal assim que ambos deixam a água salgada e sobrevoam a praia. 

Quando menos Asas de Netuno e Ícaro esperam, vislumbram uma gigantesca ave, como o gavião da liberdade de que o vendedor se lembra de ter visto na terra natal. Na verdade trata-se da Fênix, criatura que retrata a redenção de Andrômeda. Vendo que a sereia sofreu mutação para se adaptar à nova caçada, a dupla tenta despistá-la realizando ziguezagues entre os edifícios locais, o que não surte o efeito desejado. Por conseguinte, o animal, ciente de que a caçadora não tem tanta experiência em voo quanto ele, inicia uma subida rumo à estratosfera. 

A ave segue ganhando terreno e, de repente, o unicórnio, que é a extensão perfeita do corpo de Ícaro, começa a se sentir mal. O imponderável acontece: como na lenda do homem que tenta alcançar o sol, com a chegada à estratosfera, as asas do animal começam a derreter feito cera, o que faz ambos despencarem no sentido do fatal bico da Fênix, que a esta altura se torna um corvo, ave que conduz os seres humanos à morte segundo algumas culturas anglo-saxãs. Justamente quando o bico gigante arreganhado vai abocanhar (com o perdão do trocadilho) a dupla...

Eis que aos poucos Ícaro abre os olhos após aproximadamente um mês num leito de hospital público do SUS para tratar dos efeitos nefastos da COVID-19. Tétis, sua irmã caçula, que reside próximo ao hospital, corre ao recinto e, diante do irmão sem a máscara do aparelho respiratório, o abraça como se não houvesse amanhã. Abraça-o como a ninfa do mar grega da qual seu nome se origina seria capaz de, após a queda do mortal Ícaro, abraçá-lo nas águas. 

Após uma conversa tão esperada entre os dois familiares, a caçula sai à cantina para comprar um lanchinho ao irmão primogênito. E é aí, na saída de Tétis, que surge mais alguém. Um anjo completamente trajado de branco surge à porta: a enfermeira que cuidava do vendedor geek desde a internação deste. Novamente, assim como no surreal sonho, Ícaro arregala os olhos ante o imponderável.       

- Andrômeda? – pergunta ele embasbacado e ainda exausto o paciente. 

- Quase. Andreia. Mas, se você chegou aqui inconsciente, como quase acertou o meu nome?

- Pressentimento. Você tem cara de Andreia... 

- Estou sabendo que você é o famoso vendedor de produtos geek da orla! Eu sou aficionada por isso! Quebrando o protocolo do hospital será que eu poderia aparecer lá na sua loja dia desses, depois de você estar totalmente restabelecido? – pergunta a extrovertida e interesseira profissional da saúde, aproveitando-se da saída de Tétis.

- Eu vendo pela internet. – responde secamente o paciente, ainda se lembrando do sonho como quem se lembra de um aviso e desejando apenas distância da moçoila. 

- Que pena! É que você me deixa nas nuvens... – sussurra ela no ouvido direito do cidadão fluminense. 

- Sei... Aliás, como vocês só têm bife a cavalo no almoço. Acho meio cruel chamarem assim o bife, já que perdi o meu alazão e até hoje ele me faz falta. Minha irmã acabou indo comprar um lanche para mim. Bem que o cardápio poderia ser mais variado... – reflete o nerd, saudoso do cavalo. - Bem que, se essa potranca não me parecesse tão interessada no meu dinheiro, eu poderia tentar pôr uns arreios nela para curtir a liberdade junto... – pensa depois de vê-la desfilar no sentido da porta. 

Andreia olha de soslaio o paciente e, antes de se retirar, liga a televisão. É aí que Tétis volta ao quarto. Enquanto degusta o lanche e percebe já sentir o gosto do mesmo, Ícaro cai na real (perdão por mais este trocadilho bobo...) e vê no noticiário local uma reportagem acerca da poluição das praias de Santa Catarina, o que o faz se lembrar do aviso de Andrômeda durante o sonho. Brota a sementinha da politização, com o vendedor começando a amadurecer a ideia de se tornar vereador pelo Partido Ambientalista. Quem sabe se, começando a cuidar de Santa Catarina, daria exemplo aos outros seres humanos e um dia poderia começar a cuidar do Brasil inteiro, inclusive da Amazônia. Seu medo é, após eleito, se sentir um peixe fora d’água. Mas antes de mais nada sabe que tem que passar a participar da coleta seletiva do condomínio (papel, plástico, vidro e metal), descartar o lixo tecnológico e os resíduos de medicamentos nos lugares apropriados, entre outras medidas. Todavia, quanto à sua vida em geral, ele tem uma certeza: o céu é o limite! 

Conto escrito por
Oliveira Caruso

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rosside Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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