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Antologia Romance à Vista: 1x15 - Não Posso Amá-la no Escuro

Conto de Dory Black
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Sinopse: Até onde a dor de um término pode te ferir? Quais são os limites da dor emocional? Até que ponto pode-se dizer que o sofrimento é aceitável? Talvez seja possível descobrir que uma noite desvenda esses mistérios, e, ao amanhecer nasça uma nova chance de se permitir ser feliz.


Não Posso Amá-la no Escuro
de Dory Black

 

O fogo crepitava na lareira do pequeno chalé de madeira. A chama desenhava arabescos pelo ar em cores vibrantes, deixando o quarto numa penumbra parcial e sombria, tal como meu humor. O lençol que envolvia meu corpo estava encharcado com as lágrimas que insistia em derramar por ele. Meu corpo inteiro doía, mas não me importava nem com o calor, tampouco com o frio que fazia do lado de fora. A porta de vidro que levava para o lado de fora do chalé estava levemente embaçada, exatamente como minha mente.

Havia horas desde que fora deixada para trás. Ele saiu do quarto e me deixou enquanto eu dormia! Sentia cada parte do meu coração se despedaçando em lenta e doce agonia todas as vezes que me lembrava como estávamos felizes. Cada célula, cada átomo de mim o amava desesperadamente e sentiria falta do seu toque futuramente. Cada vez que respirava ou sentia as contrações do meu coração, conseguia sentir cada pedaço meu se desfazendo. Meus cacos se deixavam cair e criavam um caos enorme por onde passava. Me sentia como uma criança pequena perdida, vagando às cegas à procura do seu porto seguro, mas sem sucesso.

Eu continuava ali, jogada aos pés da cama. A hipnose do fogo e a anestesia emocional eram poderosas. Suspirei. Sentia como se cada respiração fosse ser a última. Meu âmago se retorcia em reverente ansiedade pelo momento que ele voltaria para mim, irromperia pela porta de madeira escura e me tomaria como sua outra vez. Se fechasse bem os olhos e me concentrasse conseguiria ouvir perfeitamente nossos suspiros de prazer, os beijos estralados e apaixonados que trocamos. Eu quase conseguia ouvir nossas risadas com as piadas bobas e infames dele. Mas tudo acabou! E como dói pensar assim! Todo meu ser ardia em agonia pelo abandono sem explicação.

A noite seguia seu curso, mas não conseguia fazer nada além de suspirar e chorar. Minhas mãos tremiam e apertavam o lençol branco que escondia minha nudez e o pequeno bilhete deixado para trás. A dor era emocional, mas conseguia senti-la penetrar meus ossos com amável devoção, para me dizer que aquilo era real. Meu corpo espasmava em soluços sussurrados por saber que, talvez, estivéssemos melhor assim. Eu queria gritar, gritar o mais alto possível para expulsar toda a dor que se acumulava em mim, mas parecia ter perdido a voz e tudo mais que fosse essencial para que eu permanecesse viva. Minha chama havia se apagado.

Viveríamos rodeados de escuridão em nosso amor trágico. Éramos uma imitação barata de Romeu e Julieta. Nosso amor, tão puro e raro, era proibido, mas por quê? As dúvidas rondavam minha mente inquieta e bagunçada. Ao olhar ao redor pude ver nossas roupas espalhadas em uma tortura silenciosa, me lembrando que jamais aconteceria novamente. Sabíamos que estávamos fadados ao fracasso desde o início, mas por que doía tanto? A dor de saber que não o teria mais comigo me dilacerava mais do que qualquer surra que eu já tenha tomado em toda a minha vida.

“Não posso amá-la no escuro”, ele disse após eu sugerir nos amarmos às escondidas, e foi o que deixou escrito no pequeno papel deixado sobre seu travesseiro, ao meu lado. E então, tão rápido e suave quanto a brisa mais calma do verão, ele se foi. Me deixou desamparada e imersa na dor da separação. Não tínhamos outra opção e ele resolveu ir pelo caminho mais fácil: a desistência. Também pudera, quem iria querer viver um amor rodeado de preconceito, inveja, amargura, ressentimentos? Eu o entendia, nos pouparia de dores maiores no futuro, mas por que tinha que doer tanto?

O silêncio embalava o momento à perfeição. Conseguia ouvir as batidas do meu coração e, consequentemente, cada pedacinho seu se rompendo e se desfazendo. Meu rosto tão inchado de chorar não esboçava mais reação alguma. Meus olhos então se fixaram nas grandes placas de vidro e passaram a observar o nascer do sol, quando o tempo começou a passar tão rápido? Mesmo assim, era tão bonito! Tão singelo! De repente, eu era a única pessoa no mundo inteiro. Éramos eu e o universo, nada nem ninguém mais.

E então, nada mais existia no mundo, apenas eu e minha dor. Porém, estranhamente, mesmo tão abalada percebi: eu também estava desistindo! Se o sol podia se pôr e voltar a nascer no dia seguinte, mesmo com noites tão sombrias e escuras, eu também poderia lutar para manter meu romance vivo, mesmo com todos os desafios que pareciam se levantar contra nós.

Me pus de pé, ainda envolvida pelo lençol de linho branco. Eu lutaria por ele, por nós! Mas e se fosse o certo deixá-lo partir? E se a resposta para tudo isso fosse deixá-lo ir e encontrar outro amor? E se a solução fosse permitir que ele seguisse sua vida? Ainda assim, eu deveria ficar aqui, sentada, chorando, definhando em minhas próprias dores? Não! Eu precisava encerrar essa história, fosse para o bem ou para o mau. Precisava vê-lo uma última vez, o beijar novamente, ouvir que ele me amava e então eu seguiria meu caminho, ainda que isso significasse andar para longe dele e todos os nossos planos e sonhos.

Em passos lentos e inseguros segui até a porta do quarto, passando por cima de roupas, mágoas e medos, todos nos quais tentei me afogar durante toda essa noite. As pontas dos meus dedos tocaram a maçaneta fria. E se ele não quisesse mais? E se ainda assim eu pudesse ser feliz? Tantos pensamentos rodaram minha mente que quase não abri a porta, mas era preciso. Eu precisava desesperadamente saber! Ao abri-la ouvi o leve ranger das dobradiças levemente enferrujadas reverberar pelo chalé. Meus pés recuaram e a madeira chiou sob mim. Meus olhos então o miraram. Ele estava ali. Não era uma miragem, era ele, eram seus olhos, seu sorriso, era todo ele, o meu amado.

— Oh! — Foi tudo o que consegui dizer.

Quase esfreguei os olhos para me certificar de não estar diante de uma alucinação, mas as lágrimas tomaram espaço antes. Um fungado choroso rompeu o silêncio sepulcral que se instalara na casinha de madeira. Meu alivio fora tão grande que senti minhas pernas cederem. Ele sorriu. Mas não era qualquer sorriso, era o MEU sorriso, aquele que só eu recebia. Meus joelhos fraquejaram tamanha emoção, mas ele me amparou. Seus braços me rodearam e me senti no melhor lugar do mundo. Meu corpo convulsionava em meio ao choro desesperado e aliviado que me tomou durante toda a noite. Suas mãos acariciavam minhas costas em um consolo silente perante minha dor e aflição. Cada pequeno movimento que ele fazia eu tentava gravar na memória, na tentativa de esquecer a noite terrível que estávamos deixando no passado, agora.

Quando por fim me acalmei me afastei levemente, olhei para cima e fitei seus lindos olhos me reverenciarem com amor. Naquele momento não eram necessárias as palavras, nossos olhares transmitiam tudo o que precisávamos saber em meio ao silêncio afável. Ele me dizia que não me abandonaria jamais, que ainda me amava, mesmo com todos os meus defeitos, mesmo com cada uma das minhas fraquezas e falhas. Seu olhar me dizia que ainda que eu fosse imperfeita ele me amaria todos os dias. Assim como fizera até agora, ele me amaria por mais um milhão de anos se tivéssemos todo esse tempo.

Sem palavras eu o dizia o mesmo. Eu o amaria mesmo quando ele chegasse cansado do trabalho e cheio de preocupações, o amaria quando ele não conseguisse fazer nada além de me abraçar procurando amparo e consolo para todas as suas inquietações, eu o amaria quando nossos planos não dessem certo e o amaria quando eles se concretizassem, o amaria por toda a eternidade se ela me fosse concedida, e, ainda assim, não o teria amado o suficiente.

Como em um slow motion, ele se afastou e se pôs sobre um joelho apenas, mas seus olhos jamais deixaram os meus, ele me fitava com carinho, amor, admiração, exatamente como eu estava fazendo. Minhas mãos trêmulas cobriram minha boca em total espanto e admiração. O lençol já havia sido esquecido no chão, mas minha nudez não me importava, nem ao menos me intimidava, eu só esperava pelo seu próximo passo, ainda desconhecido, mas esperado com tamanha ansiedade que só conseguia encará-lo em meio as lágrimas, agora de felicidade e emoção que rolavam quentes por meu rosto. Seu corpo era banhado agora pela luz da manhã, um sol fraquinho e dourado surgia entre as nuvens coloridas pelo amanhecer. A iluminação o deu um halo que me fez sentir com total certeza e convicção que nunca quis o príncipe encantado do cavalo branco, mas sim um homem comum, que erra, falha, faz coisas nojentas, que não é perfeito, mas que está se dispondo a me amar acima de qualquer coisa, e, para mim, nada poderia ser mais importante ou romântico, qualquer gesto que qualquer outro fizesse para mim em nada superaria a simplicidade desse momento.

Suas mãos tiraram detrás dele uma caixinha de veludo que quando posta à frente de seu corpo me mostrou o mais lindo anel de todos! Era tão perfeito! Prateado com uma pequena pedra cor de rosa em seu centro. Em um pigarro ele ganhara toda a minha atenção. E seu sorriso de covinhas se alongou mostrando seus dentes branquinhos e alinhados que eu tanto amo.

— Eu disse que não poderia amá-la no escuro.


Conto escrito por
Dory Black

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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