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Cine Virtual: O Mergulho Raso Demais

Conto de Flávia Ferreira
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Sinopse: Nicole reencontra seu grande amor da juventude após 20 anos. Um encontro marcado de sentimentos, lembranças e emoções.


O Mergulho Raso Demais
de Flávia Ferreira

 

A chuva caía fina naquela segunda-feira. Nicole usava um vestido preto com pedrarias, que deixava parte das coxas de fora, botas de cano alto e um casaco de couro preto. O perfume francês, os detalhes cuidadosamente planejados, denunciavam a importância que se dedicara àquele encontro. Os cachos de seus cabelos estavam maciamente anelados, nos lábios seu batom carmim e nas orelhas brincos de pedras de cristal.

Lembrava-se de muitos momentos que vivera ao seu lado e todos os sentimentos do mundo a visitavam enquanto ela esperava por ele: Amor, raiva, paixão, saudade...Vinte anos haviam se passado desde a última vez que o vira.

Pensou no presente que ele lhe dera uma vez, um quadro escrito: “Together forever”, que trazia o nome dos dois. Pensou na raiva que sentiu ao jogá-lo da janela do segundo andar e do barulho do vidro espatifando no chão... Lembrou-se de várias outras vezes que o esperara com frio na barriga, exatamente como estava agora.

O carro encostou e seu coração galopou, como um cavalo selvagem. Ali estava ele tão parecido com o garoto que a fizera sofrer décadas atrás. As roupas de Eduardo eram velhas, como aquelas que se usa em casa sozinho, em dias frios, para dormir. Combinavam com aquela noite chuvosa, deixando evidente para ela que aquele encontro não tinha a mínima importância para Eduardo.

Nicole entrou no carro exuberante, com o coração disparado. Ela trazia um vinho importado, protegido por uma requintada embalagem. Procurou no olhar de Eduardo o garoto que tanto amara. Encontrou um olhar triste, ressentido, quase gripado, que conversava com suas roupas e com aquela noite chuvosa.

Falaram sobre banalidades, enquanto Nicole constatava que ele pouco mudara. No entanto, ela... Jamais ele a encontraria novamente, se é que algum dia a havia encontrado. Não tinha mais nada daquela menina apaixonada, insegura, assustada com a crueldade que a vida lhe apresentou tão cedo.

Ela tinha uma força impossível de se perceber apenas pelo olhar, um autocontrole conquistado através de muita reflexão e uma experiência de vida, que ele jamais seria capaz de imaginar. Ele continuava no raso, falando sobre superficialidades, enquanto ela vasculhara sua alma diversas vezes.

Os olhos de Eduardo continuavam sem grades para ela. Não adiantava ele disfarçar descaso, com sua roupa desleixada, seus olhos eram transparentes como água e ela já sabia que aquela seria a última vez que ela o veria na vida. Ele continuava falando da fulana do trabalho, daquela viagem que fizeram juntos para a casa dos seus pais e ela se lembrava que ele nunca a conhecera de fato.

Chegaram na casa que tinha o aspecto descuidado de Eduardo. Nicole imaginou como seria se tivesse seguido a vida ao lado de Eduardo. Caminharam até a cozinha, Nicole lhe deu um amuleto de presente com uma pedra do amor. Abriram o vinho e voltaram para a sala.

 Nicole acendeu uma vela, um incenso, ligou uma caixinha de som que ela trouxera, com músicas cuidadosamente selecionadas para a ocasião e deixou que ele falasse...e ele falava, falava muito, mas nadava em águas rasas.

Ele nunca soube que Nicole leu a carta de uma garota que fez um aborto de um filho dele, enquanto eles namoravam.

Ah... ele concluiu:

_ Não foi porque você ficou doente, que nós terminamos. Foi porque começamos a nos interessar por outras pessoas.

Ahhh, só porque ele quer, pensou ela, usou o plural para algo singular. Do jeito que Nicole era apaixonada por ele, ela jamais se interessaria por outra pessoa. Por que não contou para ele da carta, quando leu? Por que não contou agora? Por que ele sempre ficara na superfície de Nicole? Nunca a encontrara de fato.

Costumava dizer que a amava, mas jamais mergulhou tão profundo até encontrar onde ela realmente estava.

Foi uma pena, ela sempre esteve inteira para ele, ali nas profundezas de seu próprio ser. Era só calar e nadar, ela o esperava. Foi assim que eles se perderam, ela o esperando na profundidade, ele nadando distraído na superfície.

Estava ele tão imerso em suas próprias histórias, em suas próprias lembranças, em sua própria vida, que irritou Nicole.

_Olha só, tem certeza que é assim que quer passar essas horas?

Ela se referia ao tipo de conversa, ele teve outra interpretação e a beijou...

Nicole podia sentir a batida descompensada do coração de Eduardo. O suor lhe escorria pela testa, o corpo inteiro de Nicole ficou entregue, amolecido. Sentiu o hálito quente de Eduardo, seu corpo estremeceu.

A janela estava aberta e Nicole pode ver a lua cheia...Teve a vontade de congelar aquele momento. Ele a desejava com a paixão de 20 anos atrás e ela estava genuinamente entregue, completamente envolvida em seus braços. 

Pensou que nunca deixou de amá-lo. Sentiu raiva de seus sentimentos. Como podia ainda amar alguém que lhe fizera tão mal?

Se afastou do sofá, caminhou desnorteada para o interior do quarto, ele a seguiu.

Já não tinha mais forças para lutar, o passado e o presente se uniam naquele exato momento. Pensou que se sua vida terminasse naquele exato instante, teria sido perfeito.

Toda a sua vida convergira para aquele momento.

A noite se estendia e Eduardo fez mais uma promessa que jamais iria cumprir. Nicole apenas acenou com a cabeça, sem convicção, apenas para manter a magia do encontro.  

Nicole nunca soube ao certo se aquela noite foi um sonho ou realidade.

  

Conto escrito por
Flávia Ferreira

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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