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Cine Virtual: A Vingança é um Prato que Causa Indigestão

Conto de Leandro Sousa
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Sinopse: Um homem é ameaçado e humilhado em sua própria quebrada e jura se vingar, mas o final da história não sai como o esperado.



A Vingança é um Prato que Causa Indigestão
de Leandro Sousa

Na sexta-feira à noite, os jornais sensacionalistas noticiavam ao vivo: “um homem de aproximadamente 30 anos de idade foi morto à queima roupa na Zona Norte de Teresina. Provavelmente acerto de contas por causa do tráfico de drogas, que toma conta da periferia! As poucas informações que tivemos foi de que o sujeito atirou em frente das pessoas que jogavam sinuca e bebiam aqui no bar do Duca, bar muito conhecido na comunidade. Muitos moradores, como sempre, falaram que não ouviram, nem viram nada! O corpo está no local desde às 15h e ainda aguarda o IML que, segundo informações, já está chegando!”

E lá, de fato, estava o corpo, encharcado de sangue e lama, pois, ao ser baleado, o sujeito caiu no esgoto, e a lama, agora vermelha, tingia a rua, da esquina do bar à outra esquina, proporcionando a visão de um rio de sangue aos olhos curiosos dos “cegos e surdos” que se aglomeravam no lugar. Apesar de muitos saberem o que acontecera naquela tarde, ninguém ousava tocar no assunto, pelo menos não publicamente. Só os cochichos longe dali revelavam o que havia acontecido...

Na sexta-feira à tarde, muitos presenciaram o ocorrido: Jorjão indignado passando apressado...

Definitivamente não aceitava aquilo! Estava na sua passando e aquele sujeito pela terceira vez veio lhe importunar, tirar uma onda com sua cara em frente a todos do bar!

– Quem ele pensou que era? Com quem achou que estava falando?

– Ah, Jorjão, se liga, que o Maneco é bandidão! Conhece uns maluco lá da Sul... os caras são de cima! Mó trabuco os cara tem! São de brincadeira não!

– Pois eles que fiquem pra lá, aqui na ZN, eles num tem vez não!

Jorjão já estava sem paciência com as provocações do tal do Maneco que, vira e mexe, aparecia pelas bandas da Zona Norte, na quebrada do Jorjão, que, pode-se dizer, era quem mandava naquele setor. Sabendo disso, Maneco ficava provocando, jogando indiretas sempre que ele passava:

– Na falta de macho valente aqui nesse setor, eu venho fazer frente por aqui, vender umas parada e num tem nenhum aqui que ouse me atrapalhar em meus negócios, porra!

Mas dessa vez foi diferente, os dois bateram boca, foi a maior confusão. Maneco puxou logo uma pistola e apontou para a cara do Jorjão, que, por sua vez, encarou o cano frio sem nem ao menos piscar o olho. Eram ódio e coragem juntos naquele instante. E como dizem na quebrada: “puxou, tem que sentar o dedo, é melhor atirar”. Mas Maneco não disparou e, sem dúvidas, ficou assustado com a frieza do seu oponente, nunca tinha visto nada parecido. O pior é que toda a “nata” da malandragem estava presente e viu a treta que se passou entre os dois.

Jorjão saiu caminhando devagar, maquinando naquilo que iria fazer. Maneco havia pego ele de vacilo, de cara, sem ferro, sem nada. Sabia que não podia mais andar assim de bobeira. Ia em seu barraco pegar a pistola. Quando chegou em casa, as lembranças do ocorrido naquela tarde não paravam de lhe atormentar, via o sorriso de satisfação de Maneco, os olhos esbugalhados, cheio de si... “Comédia!” – pensava.

Puxou um baú velho de debaixo da cama, abriu, tinha um oitão e duas pistolas, e muita, muita munição. Jorjão há um tempo havia tocado o terror na cidade, roubou bancos, postos de gasolina, lotéricas, puxou um tempo na cadeia pelos dois homicídios que tinha nas costas, vingança, os caras quiseram passar a perna nele na divisão de um roubo dos grandes. Desceram as cordas. Com ele era assim, desrespeitava, era vala.

Mas, de uns tempos para cá, Jorjão andava sossegado. Agora, dono de uma oficina na quebrada, morando junto com uma mina responsa e pai de um guri de sete anos. Sabia que tinha muito a perder, mas humilhação era algo que não podia tolerar... Colocou o pente, olhou para a pistola.

– Hoje o safado tem o que merece! Vou chegar logo e pipocar, encher o filho da puta de bala!

Pensou na mulher e no filho, eles não se encontravam em casa. Àquela hora, o moleque ainda estava na escola, e a mina havia saído para levar umas compras para a mãe dela. Era melhor assim. Ao menos não presenciariam a algazarra que essa empreitada iria causar: o barulho dos tiros, a gritaria, a correria... A notícia iria chegar: “Nega, foi o Jorjão! Encheu um tal de Maneco de bala e vazou! Acho que demora a dar as caras por aqui de novo!”. Com certeza sua mina iria lamentar, talvez se decepcionar. Achava que seu homem havia criado juízo e que os tempos de treta havia ficado para trás.

– Parou com esses pensamentos, uma vez vida louca, sempre vida louca! Se eu não der um basta na matraca daquele puto, essas parada num vão acabar nunca! E pensar que ainda aguentei tanta sugesta desse filho da puta! Faço o serviço e dou um tempo da quebrada. Passo a fita pros mano da oficina segurar a bronca por lá, enquanto o clima esfria. A polícia vai fazer uma média, mas vai acabar achando bom o favor! Dou um jeito de dar notícias pra mina, pra não se preocupar, que apareço logo pra ver como estão as coisas. Foda-se! Hoje ele sai daqui feito uma peneira... E ai de quem tentar dar uma de engraçadinho e entrar no meio!

Jorjão desceu a rua que dava no bar, foi de arma em punho, não se deu nem o trabalho de pôr na cintura. Uns poucos que passavam e alguns que estavam sentados nas portas viram o brilho do ferro à luz do Sol. Ninguém ousou dizer nada, só os olhares curiosos acompanhavam. Aquele era o Jorjão, respeitado em meio à bandidagem da quebrada e agora até querido por todos os moradores, mas o conheciam e sabiam que quem se metesse ou tentasse impedir o que ele estava prestes a fazer podia levar a pior.

Jorjão era pura cólera, suando frio, expressão grave, ódio no olhar. Cada passo com a firmeza de quem estava decidido. Mais esse crime nas costas. Mas esse talvez fosse o que cometeria com mais vontade. Nunca ninguém ousou lhe ameaçar e humilhar daquele jeito, ainda mais dentro da sua quebrada e, ainda por cima, publicamente e em plena luz do dia. Estava decidido a chegar atirando. Sabia do gosto do Maneco por sinuca, as poucas vezes que teve o desgosto de trombar com ele no bar do Duca, estava lá, em pé, com o taco na mão...

E dessa vez não foi diferente... A situação estava a seu favor. Maneco estava de costa e parecia não perceber que Jorjão se aproximava. As pessoas em volta seguraram o espanto, na verdade, não esperavam menos que isso. Entre os frequentadores do bar, não havia inocentes, eram todos envolvidos com alguma coisa errada. Conheciam bem o Jorjão e achavam que o Maneco havia mexido em casa de maribondo.

Quando se aproximou, Jorjão falou:

– Toma filho da p...

Mas não deu tempo de completar a frase. Foi recebido com um balaço na cara. Jorjão não conseguiu nem perceber o que aconteceu. Até esperava alguma reação do tal do Maneco. Talvez Jorjão tivesse vindo com muita cólera, talvez tivesse vindo com muita sede ao pote! Sentiu-se muito seguro. Afinal, aquela era sua quebrada! O que não imaginava era que Maneco, depois de ter feito a besteira, no calor das emoções, de ter apontado e não ter puxado o gatilho, estava com a arma em cima da mesa de sinuca enquanto jogava e, quando ouviu a primeira palavra saindo da boca de Jorjão, não contou conversa, já se virou atirando; e só precisou de um tiro, bem no meio da cara, para Jorjão cair agonizando no esgoto. O estrago foi grande e, rapidamente, a lama tingiu-se de rubro.

Maneco saiu em meio à correria que se formou. A malandragem da área até esperava uma bagunça, mas não com aquele fim. Ninguém quis ficar ali. Saíram todos em disparada. A pistola de Jorjão ninguém sabe que fim levou. O que se sabe é que seu corpo ficou ali exposto, em meio ao sangue e à lama. Os curiosos, aos poucos, foram chegando e fazendo os registros para as redes sociais. À noite, o noticiário fazia a festa, especulando o ocorrido!

Conto escrito por
Leandro Sousa

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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