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Antologia Lua Negra | Capítulo 08: Fortuna - A Menina do Elevador

Conto escrito por Marcelo Oliveira
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Sinopse: O conto narra a trajetória de um jovem empresário e sua ânsia de conseguir sucesso na vida.


Fortuna - A Menina do Elevador
de Marcelo Oliveira



Boa noite. Ó, por favor, não há necessidade de olhar o tempo ou consultar o relógio.  Aqui entre nós será sempre noite. Permita que me apresente, meu nome é Monfort, seu criado.
O que faz uma pessoa como você aqui a essa hora? (tosse-tosse!) Desculpe, a minha saúde já não tem mais a vitalidade da juventude. Afinal, já soma algumas décadas que... bom, depois falaremos sobre isso.
Mas quanto a você? Será que é uma daquelas pessoas viciadas em trabalho, faz qualquer coisa para ter sucesso, prefere viver na solidão e por isso não tem alternativa, a não ser buscar alguma diversão na internet?
Ó, sim. É possível.
Deixe-me contar-lhe a história de uma pessoa que conheci e se parecia muito contigo:

Fortuna – A Menina do Elevador

A noite de sexta-feira chuvosa foi desgastante para Demétrius, mais até do que o normal, mas o cansaço não diminuiu o entusiasmo do jovem e bem-sucedido empresário. Afinal, a empresa que criara há quase dois anos, enfim, rendeu frutos.
A assinatura do primeiro contrato de prestação de serviços foi mais do que ansiada e festejada.
Assim que olhou para o relógio, ele percebeu que já passava da meia-noite. Estava sozinho no edifício. Um relâmpago rasgou o céu da cidade em completo silêncio, a luz foi tão forte que iluminou seu escritório. Ignorando o mau tempo, ele se permitiu aproveitar o momento da vitória pessoal. Recostou-se à poltrona e apoiou a nuca com as mãos. Não conseguia evitar um sorriso de orgulho. De repente, uma sensação estranha interrompeu o devaneio, sentiu a pele arrepiar. Teve a impressão de ver um vulto parado à sua frente. Instintivamente ele se levantou e olhou em volta.
– Não é nada, não é nada. Devo estar muito cansado, só isso! Disse Demétrius em voz alta para se encorajar.
A luz do edifício foi totalmente apagada. “É o sistema inteligente.” Demétrius perdia-se em seus pensamentos. Então, apanhou seu paletó e saiu da sala. Não pretendia ir direto para o apartamento, afinal após tantos percalços, merecia uma comemoração.
* * *
Vamos dar uma pausa aqui, certamente você está se ressentindo de algumas explicações. Tudo bem, eu acho que podemos voltar um pouco no tempo.
Há dois anos, três jovens universitários com muitos sonhos e disposição se reuniram. Demétrius e seus amigos decidiram dar início a planos mais ousados. Porém, o trio não possuía nenhum recurso financeiro para investir. A não ser que Camila, a irmã de um dos rapazes, aceitasse entrar na sociedade como fiadora, pois, a jovem possuía crédito bancário. Além das maravilhas, que o empreendimento prometia, o fator que mais influenciou, para que Camila dispusesse seu nome, foram os belos olhos castanhos e a postura sempre segura de Demétrius.
Dos entendimentos com o financiamento para o namoro não levou muito tempo. Demétrius sempre foi muito prático, não faria mal algum juntar o útil ao agradável, afinal, Camila era uma mulher belíssima, de porte atlético, as linhas do corpo bem torneadas e os olhos castanhos claros, cor-de-mel, mais doces e suaves que um homem poderia desejar. A relação aconteceu rápida e intensa.
O grupo já tinha a ideia e o dinheiro, faltavam os clientes. Dessa vez Demétrius foi a campo. Entre os compromissos, o curso da universidade e o namoro, o rapaz teve que estabelecer prioridades. Camila sempre ficava para segundo plano. No começo ela aceitava e entendia, mas os encontros foram ficando cada vez menos frequentes. Até que um dia, ela não pôde mais suportar a indiferença. Pegou o celular, o número de Demétrius já estava na rediscagem:
– Demétrius, precisamos conversar!
– Quem? Ah, oi Camila, tudo bem? Acho que tenho um tempo amanhã na hora do almoço.
– Não Demétrius, tem que ser hoje. É sério!
– Você não pode adiantar do que se trata?
– Não, preciso falar contigo pessoalmente, hoje!
– O problema é que vou ter uma reunião importante hoje. Mas, amanhã...
– Eu estou grávida...
(Eu sei, você deve estar pensando: ah, está muito clichê, ele não pode assumir a paternidade, paga o aborto, a Camila não aceita, blá, blá, blá...
Bom, não digo que estejas certo ou errado. Mas há algo mais a ser considerado nessa história. Voltemos a ela...)
A notícia dada de forma hollywoodiana pela aflita Camila, foi recebida com surpreendente frieza por Demétrius. Claro que não era o momento certo para iniciar uma família, muito menos ter a atenção dividida com uma mulher que não sabia resolver os próprios problemas. Demétrius foi taxativo:
– Olha, não tenho como te ajudar agora, mas prometo que amanhã eu...
– Amanhã? O que tem amanhã? Eu preciso de você hoje, eu não quero sua ajuda, eu quero a sua companhia. Preciso saber que estamos juntos.
A discussão continuou nesse tom, até que Demétrius dá mais algumas desculpas e desliga o telefone.
Ao fim do dia, a reunião não saiu como esperado. Um dos acionistas descobriu a gravidez mal calculada de um dos rapazes da firma e não encorajou seus sócios a contratar um grupo tão jovem para o empreendimento de grande porte, ainda mais alguém que não tem domínio sobre a própria vida.
Aquela oportunidade seria a última tábua de salvação e continuação do sonho. Os outros dois rapazes não tinham noção exata do drama que aquela perda representava, por isso não ficaram alarmados. Demétrius, ao contrário, parecia ser o único que se importava.
Após a reunião fracassada, os rapazes foram a um bar e discutiram asperamente. Sobraram dedos e acusações para todos os lados. O irmão de Camila também tinha outra razão para o destempero: sua irmã, que acreditou e investiu na ideia, e se relacionou intimamente com Demétrius. Ele não admitia que ela servisse de bode expiatório pelo fracasso da empresa, já que Demétrius insinuou que a culpa era dela.
Ânimos exaltados, um soco foi desferido. Empurra-empurra. O bar em que eles estavam sofreu com a violência, algumas cadeiras voaram e a polícia foi acionada. Demétrius empurrou seu amigo, que bateu a cabeça numa garrafa quebrada e caiu no chão envolto numa poça de sangue. Gritos de desespero por todos os lados. Demétrius saiu pela porta dos fundos e sumiu na cidade.
O irmão de Camila ficou no bar tentando acudir o amigo acidentado. Quando a polícia chegou, testemunhas apontaram-no como responsável.
Demétrius perambulou perdido entre a frustração, a falta de perspectiva e o ódio pela sua sorte naquela noite.
Transitando pela madrugada, ainda absorto em sua ira, um cão gigantesco surge à frente. O bicho não mete medo em Demétrius. Mas, prudentemente ele paralisa.
– Ora, ora, mas que bela cena. – A voz ouvida por atrás do cão parece amistosa. – Kerbos não costuma ser tão complacente com estranhos, você deve ser uma ótima pessoa.
– E-eu não sei dizer, estava distraído quando...
O homem que aparece tem um porte intimidador, mas o sorriso instigante. Sua voz, suave e confiante, dá a entender que não há perigo.
– Ora, mas o que é isso? Não precisa ficar com medo. Kerbos nunca machucou ninguém. Apesar do tamanho é um bebezão. – O homem se abaixa para acariciar o peitoral do cachorro. – Mas o que faz sozinho por esses lados? Aqui é um pouco perigoso.
– Não importa, já não valho muita coisa nesse mundo mesmo. – Já tranquilizado com a situação, Demétrius relaxa diante do cavalheiro imponente.
– Sua voz é amarga, mas não parece frustrado com a vida e sim com raiva.
– Em parte o senhor tem razão. Não me sinto bem.
– Não precisa me chamar de senhor, meu nome é Luiz, muito prazer. Mas, conte o que tanto te aborrece?
– Olha, são tantas coisas, nem sei por onde começar.
Um homem amistoso, com um cachorro ameaçador no meio de uma noite conturbada, você certamente perceberia que alguma coisa não estava encaixando. Mas Demétrius sempre foi frio e calculista. Fantasiou que aquela pessoa, devido a sua índole atenciosa, as roupas finas, o vocabulário rebuscado e ainda com o belo animal, que certamente deveria ser dispendioso, podia servir como mais uma oportunidade de vida. Pobre, ele não era. Da amizade floresceu um acordo de cavalheiros.
Alguns dias depois, soube-se que, na prisão, o rapaz que preso no lugar de Demétrius, foi estuprado e espancado. Morreu por não aguentar a violência. Desesperada, Camila ligou para Demétrius, precisava de ajuda. O número da namorada estava bloqueado. Mais alguns dias e o escritório parecia mais vazio do que de costume. Ao abrir a porta e dar de cara com Camila, Demétrius não demonstrou surpresa, mas tratou-a friamente.
– Gregório morreu... – Diz ela com a voz embargada. – Jaime também.
– O quê? Mas como?
– Depois da briga, o Jaime teve hemorragia cerebral e morreu no bar, o Greg tentou ajudar, acabou preso. Na cadeia ele... – Camila não tem forças para completar a frase.
– Sinto muito. – Diz Demétrius sem se aproximar de Camila.
– Precisamos desocupar o escritório, porque...
– Não, eu não vou sair... – sem encarar sua namorada Demétrius é taxativo – Hoje eu vou receber um novo sócio e vamos tocar a empresa.
– Mas, como você...?
– Não se preocupe, vou devolver o seu investimento. Já tenho tudo esquematizado.
– Não estou falando de dinheiro, você esqueceu que eu...
– Não, não esqueci. Não deve ser difícil encontrarmos uma clínica de aborto e...
– Aborto? Não, nunca farei um aborto.
– Então o que você quer? Eu não vou assumir essa criança.
– Por que não?
– Porque eu não tenho tempo. Porque isso não foi planejado. Você deveria ter me consultado antes. Eu não quero e não posso ter um filho agora.
– É uma menina...
– O quê? Como assim, você já sabe o sexo?
– Estou na décima sexta semana. Até aborto é arriscado e eu não vou matar nossa filha.
– Pare de dizer isso. Não é minha filha, é sua, só sua.
Encolerizado, Demétrius arrasta Camila até seu carro, e a interna numa clínica clandestina. Apesar do choro e dos protestos, Camila não tem forças para resistir. O procedimento é precário e Camila falece durante a operação. Milagrosamente o feto sobrevive e é apresentado ao pai. Ele o rejeita e pede que desapareçam com “aquilo” da sua frente. Demétrius paga as despesas e desaparece.
Depois, tudo caminhou maravilhosamente, Demétrius reergueu a empresa e, um ano depois, conseguiu um bom cliente. Assim, chegamos àquela sexta-feira chuvosa depois de assinados e oficializados os acordos.
* * *
Demétrius estava feliz, pela primeira vez na vida conseguiu a tão sonhada “independência financeira”. Trancou a porta do escritório. Assoviando, joga a chave para o alto e a pega de novo. Ele estranhou a escuridão, a luz do corredor deveria acender automaticamente quando houvesse movimento: “O sensor deve ter queimado.” A felicidade de Demétrius era tanta que ele não se irritou com mais esse defeito.
Outro relâmpago clareou o corredor. Parado, esperando o elevador chegar e abrir a porta, Demétrius se assusta quando sentiu novamente uma presença atrás de si. Porém, agora ele se arrepiou até a alma. Apertou o botão de chamada do elevador nervosamente.
Assim que a porta se abriu, a luz da cabine do elevador trouxe uma sensação de segurança. Entrou e apertou o botão do térreo. A porta se fechou vagarosamente. Demétrius começou suar nervoso. Ele sentiu seu coração disparar de medo. “Ora, o que há comigo? Não, não vou ter um troço agora.” Ele tentou se lembrar de alguma música para cantarolar, mas sentiu o ar abafado demais.
Súbito, o elevador tremulou forte. A luz interna piscou rapidamente. “Ai, meu Deus, não vai quebrar agora?” Demétrius se agarrou à parede. De repente saltou para o meio do elevador, sentiu alguma coisa empurrando-o, como se houvesse alguém atrás dele. A luz piscou mais uma vez.
– Mas, que droga! Ele deu um berro desesperado, precisava recuperar o controle. A respiração cada vez mais ofegante.
A luz piscou novamente. Dessa vez o vulto não sumiu. Uma menina de olhos negros e ensanguentada da cabeça aos pés olhava-o fixamente, em silêncio. Demétrius sentou-se no chão. Sentiu seu coração disparar. A boca secou, a garganta fechou. Tinha a impressão do pescoço parecia ser apertado por uma mão invisível, ele tentou gritar, mas não tinha voz. A criança, até então imóvel, soltou um berro gélido e agudíssimo.
– PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI!
Os ouvidos rasgaram até sangrar, seus olhos tornaram-se esbranquiçados. A criança avançou sobre ele, abrindo a boca exageradamente dentada, imobilizou-o com uma pressão enorme sobre o peito, rapidamente abocanhou a garganta, rasgando-a e espirrando o sangue em todas as direções. A cabine balançou incontrolável. No espelho a imagem, de um homem e seu cão, apareceu sorrindo.
Na segunda-feira, quando o faxineiro chegou para iniciar o recolhimento do lixo. Assim que a porta do elevador se abriu, tomou um susto tão grande que o jogou no chão sentado...
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Hehehe! Demétrius estava tão obcecado com o trabalho que abraçou a morte querendo vida, e desprezou a vida, achando que seria sua morte (tosse-tosse).
Eu tive pena do pobre faxineiro. Imagina o quanto de sangue ele teve que limpar logo de manhã.
Essa asma acaba comigo, (tosse-tosse), desculpe. Boa noite.






Conto escrito por
Marcelo Oliveira

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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Proibida a cópia ou a reprodução




Sinopse: O Natal é a época mais esperada pelas crianças - presentes, comidas, magia natalina! 

O que não se sabe é que por trás da imagem do bom velhinho há uma Coisa que espreita a espera de crianças que saem sozinhas a noite, sem a supervisão dos pais – e se deve ter muito cuidado com homens carregando um saco na madrugada. 


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