Sinopse: O conto narra a trajetória de um jovem empresário e sua ânsia de conseguir sucesso na vida.
Fortuna - A Menina do Elevador
de Marcelo Oliveira
Boa noite. Ó, por favor,
não há necessidade de olhar o tempo ou consultar o relógio. Aqui entre nós será sempre noite. Permita que
me apresente, meu nome é Monfort, seu criado.
Essa asma acaba comigo,
(tosse-tosse), desculpe. Boa noite.
O que faz uma pessoa como
você aqui a essa hora? (tosse-tosse!) Desculpe, a minha saúde já não tem mais a
vitalidade da juventude. Afinal, já soma algumas décadas que... bom, depois
falaremos sobre isso.
Mas quanto a você? Será
que é uma daquelas pessoas viciadas em trabalho, faz qualquer coisa para ter
sucesso, prefere viver na solidão e por isso não tem alternativa, a não ser
buscar alguma diversão na internet?
Ó, sim. É possível.
Deixe-me contar-lhe a
história de uma pessoa que conheci e se parecia muito contigo:
Fortuna –
A Menina do Elevador
A noite de sexta-feira
chuvosa foi desgastante para Demétrius, mais até do que o normal, mas o cansaço
não diminuiu o entusiasmo do jovem e bem-sucedido empresário. Afinal, a empresa
que criara há quase dois anos, enfim, rendeu frutos.
A assinatura do primeiro
contrato de prestação de serviços foi mais do que ansiada e festejada.
Assim que olhou para o
relógio, ele percebeu que já passava da meia-noite. Estava sozinho no edifício.
Um relâmpago rasgou o céu da cidade em completo silêncio, a luz foi tão forte
que iluminou seu escritório. Ignorando o mau tempo, ele se permitiu aproveitar
o momento da vitória pessoal. Recostou-se à poltrona e apoiou a nuca com as
mãos. Não conseguia evitar um sorriso de orgulho. De repente, uma sensação
estranha interrompeu o devaneio, sentiu a pele arrepiar. Teve a impressão de
ver um vulto parado à sua frente. Instintivamente ele se levantou e olhou em
volta.
– Não é nada, não é nada. Devo estar muito cansado, só isso! Disse Demétrius em voz alta para se
encorajar.
A luz do edifício foi
totalmente apagada. “É o sistema
inteligente.” Demétrius perdia-se em seus pensamentos. Então, apanhou seu
paletó e saiu da sala. Não pretendia ir direto para o apartamento, afinal após
tantos percalços, merecia uma comemoração.
* * *
Vamos dar uma pausa aqui,
certamente você está se ressentindo de algumas explicações. Tudo bem, eu acho
que podemos voltar um pouco no tempo.
Há dois anos, três jovens
universitários com muitos sonhos e disposição se reuniram. Demétrius e seus
amigos decidiram dar início a planos mais ousados. Porém, o trio não possuía
nenhum recurso financeiro para investir. A não ser que Camila, a irmã de um dos
rapazes, aceitasse entrar na sociedade como fiadora, pois, a jovem possuía
crédito bancário. Além das maravilhas, que o empreendimento prometia, o fator
que mais influenciou, para que Camila dispusesse seu nome, foram os belos olhos
castanhos e a postura sempre segura de Demétrius.
Dos entendimentos com o
financiamento para o namoro não levou muito tempo. Demétrius sempre foi muito
prático, não faria mal algum juntar o útil ao agradável, afinal, Camila era uma
mulher belíssima, de porte atlético, as linhas do corpo bem torneadas e os
olhos castanhos claros, cor-de-mel, mais doces e suaves que um homem poderia
desejar. A relação aconteceu rápida e intensa.
O grupo já tinha a ideia e
o dinheiro, faltavam os clientes. Dessa vez Demétrius foi a campo. Entre os
compromissos, o curso da universidade e o namoro, o rapaz teve que estabelecer
prioridades. Camila sempre ficava para segundo plano. No começo ela aceitava e
entendia, mas os encontros foram ficando cada vez menos frequentes. Até que um
dia, ela não pôde mais suportar a indiferença. Pegou o celular, o número de
Demétrius já estava na rediscagem:
– Demétrius, precisamos
conversar!
– Quem? Ah, oi Camila, tudo
bem? Acho que tenho um tempo amanhã na hora do almoço.
– Não Demétrius, tem que ser
hoje. É sério!
– Você não pode adiantar
do que se trata?
– Não, preciso falar
contigo pessoalmente, hoje!
– O problema é que vou ter
uma reunião importante hoje. Mas, amanhã...
– Eu estou grávida...
(Eu sei, você deve estar
pensando: ah, está muito clichê, ele não
pode assumir a paternidade, paga o aborto, a Camila não aceita, blá, blá,
blá...
Bom, não digo que estejas
certo ou errado. Mas há algo mais a ser considerado nessa história. Voltemos a
ela...)
A notícia dada de forma hollywoodiana
pela aflita Camila, foi recebida com surpreendente frieza por Demétrius. Claro
que não era o momento certo para iniciar uma família, muito menos ter a atenção
dividida com uma mulher que não sabia resolver os próprios problemas. Demétrius
foi taxativo:
– Olha, não tenho como te
ajudar agora, mas prometo que amanhã eu...
– Amanhã? O que tem
amanhã? Eu preciso de você hoje, eu não quero sua ajuda, eu quero a sua
companhia. Preciso saber que estamos juntos.
A discussão continuou
nesse tom, até que Demétrius dá mais algumas desculpas e desliga o telefone.
Ao fim do dia, a reunião
não saiu como esperado. Um dos acionistas descobriu a gravidez mal calculada de
um dos rapazes da firma e não encorajou seus sócios a contratar um grupo tão
jovem para o empreendimento de grande porte, ainda mais alguém que não tem
domínio sobre a própria vida.
Aquela oportunidade seria
a última tábua de salvação e continuação do sonho. Os outros dois rapazes não
tinham noção exata do drama que aquela perda representava, por isso não ficaram
alarmados. Demétrius, ao contrário, parecia ser o único que se importava.
Após a reunião fracassada,
os rapazes foram a um bar e discutiram asperamente. Sobraram dedos e acusações
para todos os lados. O irmão de Camila também tinha outra razão para o
destempero: sua irmã, que acreditou e investiu na ideia, e se relacionou
intimamente com Demétrius. Ele não admitia que ela servisse de bode expiatório
pelo fracasso da empresa, já que Demétrius insinuou que a culpa era dela.
Ânimos exaltados, um soco
foi desferido. Empurra-empurra. O bar em que eles estavam sofreu com a
violência, algumas cadeiras voaram e a polícia foi acionada. Demétrius empurrou
seu amigo, que bateu a cabeça numa garrafa quebrada e caiu no chão envolto numa
poça de sangue. Gritos de desespero por todos os lados. Demétrius saiu pela
porta dos fundos e sumiu na cidade.
O irmão de Camila ficou no
bar tentando acudir o amigo acidentado. Quando a polícia chegou, testemunhas
apontaram-no como responsável.
Demétrius perambulou
perdido entre a frustração, a falta de perspectiva e o ódio pela sua sorte naquela
noite.
Transitando pela
madrugada, ainda absorto em sua ira, um cão gigantesco surge à frente. O bicho
não mete medo em Demétrius. Mas, prudentemente ele paralisa.
– Ora, ora, mas que bela
cena. – A voz ouvida por atrás do cão parece amistosa. – Kerbos não costuma ser
tão complacente com estranhos, você deve ser uma ótima pessoa.
– E-eu não sei dizer, estava
distraído quando...
O homem que aparece tem um
porte intimidador, mas o sorriso instigante. Sua voz, suave e confiante, dá a
entender que não há perigo.
– Ora, mas o que é isso?
Não precisa ficar com medo. Kerbos nunca machucou ninguém. Apesar do tamanho é
um bebezão. – O homem se abaixa para acariciar o peitoral do cachorro. – Mas o
que faz sozinho por esses lados? Aqui é um pouco perigoso.
– Não importa, já não
valho muita coisa nesse mundo mesmo. – Já tranquilizado com a situação,
Demétrius relaxa diante do cavalheiro imponente.
– Sua voz é amarga, mas
não parece frustrado com a vida e sim com raiva.
– Em parte o senhor tem
razão. Não me sinto bem.
– Não precisa me chamar de
senhor, meu nome é Luiz, muito prazer. Mas, conte o que tanto te aborrece?
– Olha, são tantas coisas,
nem sei por onde começar.
Um homem amistoso, com um
cachorro ameaçador no meio de uma noite conturbada, você certamente perceberia
que alguma coisa não estava encaixando. Mas Demétrius sempre foi frio e
calculista. Fantasiou que aquela pessoa, devido a sua índole atenciosa, as
roupas finas, o vocabulário rebuscado e ainda com o belo animal, que certamente
deveria ser dispendioso, podia servir como mais uma oportunidade de vida. Pobre,
ele não era. Da amizade floresceu um acordo de cavalheiros.
Alguns dias depois,
soube-se que, na prisão, o rapaz que preso no lugar de Demétrius, foi estuprado
e espancado. Morreu por não aguentar a violência. Desesperada, Camila ligou
para Demétrius, precisava de ajuda. O número da namorada estava bloqueado. Mais
alguns dias e o escritório parecia mais vazio do que de costume. Ao abrir a
porta e dar de cara com Camila, Demétrius não demonstrou surpresa, mas tratou-a
friamente.
– Gregório morreu... – Diz
ela com a voz embargada. – Jaime também.
– O quê? Mas como?
– Depois da briga, o Jaime
teve hemorragia cerebral e morreu no bar, o Greg tentou ajudar, acabou preso. Na
cadeia ele... – Camila não tem forças para completar a frase.
– Sinto muito. – Diz
Demétrius sem se aproximar de Camila.
– Precisamos desocupar o
escritório, porque...
– Não, eu não vou sair...
– sem encarar sua namorada Demétrius é taxativo – Hoje eu vou receber um novo
sócio e vamos tocar a empresa.
– Mas, como você...?
– Não se preocupe, vou
devolver o seu investimento. Já tenho tudo esquematizado.
– Não estou falando de
dinheiro, você esqueceu que eu...
– Não, não esqueci. Não
deve ser difícil encontrarmos uma clínica de aborto e...
– Aborto? Não, nunca farei
um aborto.
– Então o que você quer?
Eu não vou assumir essa criança.
– Por que não?
– Porque eu não tenho
tempo. Porque isso não foi planejado. Você deveria ter me consultado antes. Eu
não quero e não posso ter um filho agora.
– É uma menina...
– O quê? Como assim, você
já sabe o sexo?
– Estou na décima sexta
semana. Até aborto é arriscado e eu não vou matar nossa filha.
– Pare de dizer isso. Não
é minha filha, é sua, só sua.
Encolerizado, Demétrius
arrasta Camila até seu carro, e a interna numa clínica clandestina. Apesar do
choro e dos protestos, Camila não tem forças para resistir. O procedimento é
precário e Camila falece durante a operação. Milagrosamente o feto sobrevive e
é apresentado ao pai. Ele o rejeita e pede que desapareçam com “aquilo” da sua frente. Demétrius paga as
despesas e desaparece.
Depois, tudo caminhou
maravilhosamente, Demétrius reergueu a empresa e, um ano depois, conseguiu um
bom cliente. Assim, chegamos àquela sexta-feira chuvosa depois de assinados e
oficializados os acordos.
* * *
Demétrius estava feliz,
pela primeira vez na vida conseguiu a tão sonhada “independência financeira”.
Trancou a porta do escritório. Assoviando, joga a chave para o alto e a pega de
novo. Ele estranhou a escuridão, a luz do corredor deveria acender
automaticamente quando houvesse movimento: “O
sensor deve ter queimado.” A felicidade de Demétrius era tanta que ele não
se irritou com mais esse defeito.
Outro relâmpago clareou o
corredor. Parado, esperando o elevador chegar e abrir a porta, Demétrius se
assusta quando sentiu novamente uma presença atrás de si. Porém, agora ele se arrepiou
até a alma. Apertou o botão de chamada do elevador nervosamente.
Assim que a porta se
abriu, a luz da cabine do elevador trouxe uma sensação de segurança. Entrou e
apertou o botão do térreo. A porta se fechou vagarosamente. Demétrius começou
suar nervoso. Ele sentiu seu coração disparar de medo. “Ora, o que há comigo? Não, não vou ter um troço agora.” Ele tentou
se lembrar de alguma música para cantarolar, mas sentiu o ar abafado demais.
Súbito, o elevador
tremulou forte. A luz interna piscou rapidamente. “Ai, meu Deus, não vai quebrar agora?” Demétrius se agarrou à
parede. De repente saltou para o meio do elevador, sentiu alguma coisa
empurrando-o, como se houvesse alguém atrás dele. A luz piscou mais uma vez.
– Mas, que droga! Ele deu
um berro desesperado, precisava recuperar o controle. A respiração cada vez
mais ofegante.
A luz piscou novamente.
Dessa vez o vulto não sumiu. Uma menina de olhos negros e ensanguentada da
cabeça aos pés olhava-o fixamente, em silêncio. Demétrius sentou-se no chão. Sentiu
seu coração disparar. A boca secou, a garganta fechou. Tinha a impressão do
pescoço parecia ser apertado por uma mão invisível, ele tentou gritar, mas não
tinha voz. A criança, até então imóvel, soltou um berro gélido e agudíssimo.
– PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI!
Os ouvidos rasgaram até
sangrar, seus olhos tornaram-se esbranquiçados. A criança avançou sobre ele,
abrindo a boca exageradamente dentada, imobilizou-o com uma pressão enorme
sobre o peito, rapidamente abocanhou a garganta, rasgando-a e espirrando o
sangue em todas as direções. A cabine balançou incontrolável. No espelho a
imagem, de um homem e seu cão, apareceu sorrindo.
Na segunda-feira, quando o
faxineiro chegou para iniciar o recolhimento do lixo. Assim que a porta do
elevador se abriu, tomou um susto tão grande que o jogou no chão sentado...
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Hehehe! Demétrius estava
tão obcecado com o trabalho que abraçou a morte querendo vida, e desprezou a
vida, achando que seria sua morte (tosse-tosse).
Eu tive pena do pobre
faxineiro. Imagina o quanto de sangue ele teve que limpar logo de manhã.
Conto escrito por
Marcelo Oliveira
ProduçãoBruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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Proibida a cópia ou a reprodução
Sinopse: O Natal é a época mais esperada pelas crianças - presentes, comidas, magia natalina!
O que não se sabe é que por trás da imagem do bom velhinho há uma Coisa que espreita a espera de crianças que saem sozinhas a noite, sem a supervisão dos pais – e se deve ter muito cuidado com homens carregando um saco na madrugada.
O que não se sabe é que por trás da imagem do bom velhinho há uma Coisa que espreita a espera de crianças que saem sozinhas a noite, sem a supervisão dos pais – e se deve ter muito cuidado com homens carregando um saco na madrugada.
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