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Perfume - Capítulo 18

Novela de Luiz Gustavo
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CAPÍTULO 18 - GRAVATA
 
     
   
 

O barulho da tempestade acorda Miguel Xavier de seus devaneios, que tenta retornar a dormir, mas fracassa. Ao lado esquerdo da cama, uma bela dama, dona de cabelos castanhos, uma garota de programa de pele morena e delicada, acorrentada na cabeceira de ferro provençal. Os trejeitos da mulher lembram os de Pamela, sua finada noiva. Ele não fez questão de desamarra-la, apenas esboça um sorriso no rosto, satisfeito depois de duas transas ardentes. Xavier é um homem dominador, gosta de manter no controle, o sadomasoquismo é o seu fado. Ele se enrola em um roupão vermelho de seda, pega o celular de cima do criado-mudo, que contém algumas chamadas perdidas de um dos seus funcionários, Jake Fremont, o ligando rapidamente. 

- Ainda está em Vale Verde?
- Estou na estrada a caminho de Arraial e consegui finalizar o serviço.
- Com êxito?
- Sim, matei aquele desgraçado e ainda arranjei uns cinco mil reais.
- Sabia que você era capaz disso. 
- Não tive nenhuma piedade, fiz da forma que o senhor ordenou. 

Jake e Xavier referem-se a um devedor de longa data do prostíbulo, que tinha fugido para um pequeno vilarejo vizinho intitulado de Vale Verde. Mas não tem como escapar da facção que comanda a cidade, a qualquer momento, pode estar na mira de uma arma com uma bala encravada no peito, o cadáver do homem está dentro do automóvel, para ser jogado na grande aérea no final de uma extensão florestal, um cemitério atônito. 

- Você é muito inteligente Jake. 
- Obrigado chefe. 
- Você e o Tyler, são os meus braços direito. 
- Eu posso te fazer uma pergunta? 
- A vontade, é um homem de confiança. 
- Posso ser um pouco indiscreto, mas sempre achei a morte da sua noiva, no mínimo estranha, esse atirador de elite transparecer dessa maneira. Não tem medo? 
- Medo do quê? 
- Do senhor ser o próximo alvo desse homem. 
- Ele jamais vai fazer algo contra a mim. 
- E por que não? 

Xavier gargalha de uma forma irônica, Jake deduziu a resposta, não precisava de mais nenhuma palavra. O rompimento da confiança, pode ter gerado o óbito da mulher, ninguém anseia em alimentar um lobo em pele de cordeiro, talvez ela não fosse boa o suficiente para segurar o cargo de mulher de um dos homens mais ricos da costa do descobrimento. Ele desligou o telefone e caminhou em torno do ambiente, abriu as longas cortinas observando a chuva alagando a área externa. 

- Pamela, você teve o que mereceu. 

Um grande barulho de trovão é escutado, nos segundos posteriores a energia do distrito some gradualmente, Miguel odeia essas situações, mesmo sendo duas horas da manhã. O homem desce as longas escadarias, indo para a cozinha, pegando uma caneca de café e alguns biscoitos, acomodando-se no sofá. Aprecia a bebida quente com as rosquinhas de chocolate, depois de se alimentar, ele se pega em um leve sono, seguido de um pesado, despertando de manhã com a visão embaçada, com um dos seus funcionários adiante, trata-se de Tyler. 

- Bom dia, doutor Miguel. 
- Porque me incomoda tão cedo? 
- São dez horas da manhã, fui ás sete no resort, mas infelizmente não te encontrei. 
- Aconteceu alguma coisa? 

O homem pisca algumas vezes os olhos, o cômodo estava devidamente arrumado sem nenhum vestígio de sujeira ou da guloseima que ingeriu na madrugada. A garota de programa com certeza, deve ter ido embora, ele não havia perguntado o nome daquela mulher, ela era só mais uma, descartável. 

- É a respeito do assassinato da Pamela. 
- Você e o Jake tiraram os últimos dias para me fazerem essas perguntas? 

Tyler engoliu algumas palavras e arrumou os seus óculos, um pouco sem jeito com o patrão. 

- Quem sou eu para me intrometer na vida do doutor? Presto serviços e nada mais, sou um mero vedor, cada coisa que acontece nessa cidade, devo te contar, não é mesmo? É por isso que paga muito bem o meu salário. Para fiscalizar os mínimos detalhes de Arraial. 
- E aonde entra a Pamela nisso? 
- O irmão dela. Ele quer a verdade, justiça. Anda perguntando a respeito de muitas coisas, quer saber da vida dos outros, incluindo a sua, creio que isso pode nos prejudicar. 
- Aos negócios. 
- O interesse é sempre nisso, nos negócios. 
- Obrigado, Tyler, desculpe-me se fui um pouco rude, acordei de mal humor. 

Tyler retirou-se do cômodo. Miguel Xavier, subiu para o quarto e vestiu o paletó, um pouco tarde para ir ao trabalho, escutou o barulho da campainha, a empregada subiu rapidamente para avisar que tinha uma visita, esperando ele na sala de estar, um homem. Ele retornou para o ambiente anterior, contemplando Levi Monteiro acomodado no estofado, as palavras de Tyler foram muito uteis. 

Xavier permanece em pé, acabando por arrumar a gravata no pescoço. 

- Porque me incomoda tão cedo?
- Estou investigando o homicídio da minha irmã.
- Excelente iniciativa, se depender da polícia...
- Nunca encontrarei o verdadeiro mentor. 
- Claro. 
- Acho estranhos os motivos que levaram a Pamela pisar no altar. Já que ela mantinha um caso com outro homem. Ou melhor dizendo, o Jonathan Sampaio.
- Do que você está falando?
- Que eu vou até o fim dessa caçada.
 

Levi se levanta do sofá, ficando frente a frente com Xavier. 

- Toma cuidado comigo. – Avisa o proprietário do resort. 
- Está me ameaçando? 
- De forma alguma, mas pise no meu calo, que eu dou muito mais que um recado, entendeu? Agora, por favor, se retire da minha residência, estou um pouco atrasado para o trabalho. 

O homem aponta o caminho da saída, eles não trocaram mais nenhuma palavra. Levi recolhe-se, sem ao menos se despedir. O ódio consome Miguel. Quem esse miserável pensa que é? Para chegar assim? O insultando dentro de sua própria casa? Vontade de estrangular aquele pescoço até os últimos momentos de vida. Ele pega uma pequena estatua de porcelana e joga contra a parede, que despedaça no assoalho, pondo em mente apenas ideias tétricas. 
 
     

 

     

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