
No
capítulo anterior, Drica tenta contato vocal com a Imã sem entrar na ciranda;
Carlito se esconde para não ser capturado pelos tukurás, o exército da Cuca;
Imã e Táquio se reencontram em circunstâncias arriscadas.
CAPÍTULO 15 - BELCHIOR VOLTOU?
No
passado, quando a família se estabeleceu no condomínio residencial, Imã se
distraía pensativa, com alguns objetos na área de lazer quando foi avistada por
Drica. Como o condomínio ainda era pouco habitado, Imã parecia ser a única
opção de amizade que Drica teria disponível no momento, então, não pensou duas
vezes para saudar a nova amiga..
—
Oi, eu sou a Drica, você tá morando aonde?
Imã
olha para a menina descolada antes de responder e aponta para seu prédio.
—
Naquele ali, no quinto andar e você? Meu nome é Imã.
—
Eu moro no segundo, aquele logo atrás.
—
O que tem de bom aqui?
—
Dentro do condomínio? Nada demais, a escola fica ali dentro do outro bairro,
mas é próximo daqui. Você já tá matriculada?
—
Tô, minha mãe arrumou tudo, começo na segunda.
—
Você tem quantos anos?
—
Tenho sete e você?
—
Eu também, você tá em qual ano?
—
Terceiro ano e você?
—
Eu também, de repente a gente vai ser da mesma sala. Você tem celular?
—
Não, meus pais queriam me dar um, mas eu prefiro isso aqui?
—
O que é?
—
São as cirandas do meu avô. Muito melhor do que qualquer celular.
—
São bonitas, posso ver? Eu tenho celular, mas meus pais disseram que só posso
usar aqui no condomínio porque ainda não conheço o bairro direito.
Imã
entrega uma ciranda para Drica que se surpreende com a sensação agradável que
sentiu.
—
Essa pode ficar pra você. — Imã oferece de bom grado.
O
sorriso e a intimidade cresceram tanto que as amigas se tornaram inseparáveis.
Drica também abandonou o telefone depois que conheceu o vô Táquio e se
maravilhou com as aventuras da dupla. Sempre sonhou em acompanhá-los, mas
Táquio achava demais ter que tomar conta de duas meninas agitadas e prometia
levá-la quando ficasse mais velha.
Quando
aconteceu o acidente com Táquio, Imã quase ficou louca, a família pensou em
interná-la e foi a Drica quem ajudou a amiga a superar o trauma.
Quando
Táquio ainda podia receber visitas, Imã e Drica estavam no quarto da enfermaria
fazendo companhia para o idoso desacordado. Imã falou com a amiga que precisava
ir ao banheiro, Drica entendeu e ficou de olho no avô. Enquanto matava o tempo
ficou manuseando a ciranda na mão, levantou para ajeitar o braço de Táquio que
estava caindo da cama.
Súbito,
Táquio acorda agitado.
—
Onde estou? Onde estou?
Drica
fica assustada e tenta segurar o homem para não cair no chão.
—
Calma vô, sou eu, a Drica, amiga da Imã, lembra? Espera aí que vou chamar uma
enfermeira.
—
Não, não! Drica, como me encontrou? Você tá com uma ciranda?
—
Sim, ela deixou comigo, mas…
—
Me dá ela aqui! Agora, presta atenção, vou te pedir um favor, não deixa a Imã
voltar pra cá, tá bom? Promete, por favor?
—
Tá, prometo, mas pra onde? Onde é aí?
Táquio
volta a ficar inconsciente, a ciranda desapareceu. Drica corre para chamar
ajuda, Imã retorna e fica assustada com a movimentação, Drica decide não contar
a amiga o que aconteceu por causa do quadro de histeria que ela viveu.
Quando
voltamos ao presente, encontramos Tiana sem piscar os olhos de tão aflita que
se encontra, as expressões no rosto da Drica mudam a cada instante e ela se
mantém em silêncio para não atrapalhar. Segurando a mão dela, aproveita para
murmurar orações e pedir ajuda de Deus nessa missão. Conscientemente, sabe que
é o máximo que pode fazer nesse momento.
Drica
continua em uma espécie de transe, apenas franzindo a testa e fechando os olhos
por conta do esforço para se manter concentrada. Tem a impressão de ter ouvido
algo, mas não tem certeza se foi o desejo de conseguir contato ou se foi a
amiga a respondeu de verdade. De vez em quando aperta o gelo na mão para
lembrar onde está e permanecer presa a essa realidade. A última coisa que quer
é entrar na ciranda novamente, as últimas experiências foram traumatizantes.
Ainda
esperando uma resposta, Carlito se encolhe totalmente quando percebe sombras
passando próximo de onde ele se encontra. A ansiedade pela espera deixa tudo
ainda mais angustiante, o obrigando até a segurar a respiração, porém, um
soluço em suas costas faz com que o rapaz se volte para ver do que se trata.
—
Por favor, não nos machuque. — palavras sussurradas.
Uma
família de minidipis, criaturas muito parecidas com ariranhas aqui da nossa
realidade, se mantém agarrada em um canto escuro. Os olhos aterrorizados das
pequenas criaturas enchem o coração de Carlito com mais medo, sem emitir
nenhuma palavra, o rapaz leva o dedo indicador até os lábios pedindo que façam
silêncio. Poucos instantes depois, parece que a área está livre dos caçadores.
Carlito relaxa da tensão e se movimenta até o grupo de minidipis, mas ainda
falando em tom baixo.
—
O que são vocês?
—
Nós fomos batizados como minidipis. Eu sou Beron, por favor, não machuque meus
filhos. — a súplica enternecida destrói qualquer receio.
—
Vocês não precisam ter medo de mim, não vou fazer mal a ninguém. Eu me chamo
Carlito e estou fugindo da Cuca, por isso me escondi aqui.
—
Você se parece com o Conde E e a Princesa Macar.
—
Você sabe onde posso encontrar o Conde E?
Antes
de responder, novamente barulhos externos interrompem a conversa. Ambos
concordam que a situação é perigosa demais para que continuem parados. O
minidipi macho gesticula apontando uma direção, Carlito entende e segue logo
atrás.
Um
buraco no chão se torna a única rota segura que o grupo consegue trilhar, para
os minidipis o caminho é adequado, mas Carlito tem dificuldade para se arrastar
pela terra escavada. A jornada parece não ter fim, os músculos do rapaz estão
chegando à exaustão, seu corpo fica cheio de hematomas, por conta das pancadas
e esforço para não ficar entalado no caminho. Todo trajeto é feito sem trocar
nenhuma palavra, Beron soltou os filhotes para ir à frente enquanto ajuda
puxando Carlito quando precisa. De vez em quando, o jovem para de se arrastar
para tomar fôlego, mas, restabelecido, consegue vencer cada dificuldade.
Algum
tempo depois o grupo chega ao fim do buraco, Carlito sente o aroma do ar livre.
Sentindo-se aliviado, ele sai da toca cheio de arranhões e machucados em todo
corpo. Beron o aguarda sorrindo.
—
Até que você aguentou o tranco muito bem, o Conde E não seria capaz de nos
seguir.
—
Acho que é porque sou mais jovem que ele.
—
O que é ser mais jovem?
—
São coisas da idade. Mas, isso não vem ao caso, eu quero saber se você sabe
como posso encontrá-lo.
—
Como posso ter certeza de que você não é do exército da Cuca?
—
Você acha que eu teria esse trabalho todo pra fugir de um exército se fosse do
lado deles?
Beron
fica pensativo.
—
É, acho que tem razão, senhor Carlito. Eu não sei como encontrá-lo, mas eles me
ensinaram um sinal para quando estivesse em perigo.
—
Sinal? Pra quem?
—
Para os aliados do Conde E. Você não sabe que estamos em guerra com os tukurás?
—
Você diz, o exército da Cuca?
—
Sim, são os tukurás, eles são terríveis, sem coração, destroem tudo que veem,
matam todos que estão vivos.
Os
filhotes se encolhem nas pernas de Beron.
—
Beron, essa é sua família? — Carlito conta os filhotes com os olhos.
—
São meus filhos… e alguns órfãos que recolhi, se os deixassem para trás seriam
executados.
—
E cadê a mãe deles?
Beron
não responde, apenas olha para os filhotes e acaricia cada cabecinha para que
não chorem. Carlito não precisa ouvir a resposta.
—
Você sabe por que a Cuca está fazendo isso? Por que tanta destruição?
—
Ela é má por natureza, não adianta tentar achar razão na loucura. Faz muito
tempo que contam essa história: o Conde E e a Princesa Macar foram até a Cuca
para pedir ajuda, nessa época ela ainda não tinha tanto poder, mas contam que
ela conseguiu criar um criatura mágica que encantava quem ouvisse seu canto…
“Será
que ele tá falando do senhor Belchior?”, Carlito pensa.
—
Mas, houve uma discussão, a Princesa Macar sumiu e o Conde E ficou preso. A
maga Cuca queria um objeto mágico que o Conde tinha para aumentar ainda mais
seus poderes. Só que a Princesa Macar tinha levado todos os objetos com ela.
Depois de um tempo preso, o Conde conseguiu sumir e retornou com um objeto e
propôs trocar com a criatura encantada. A Cuca concordou na hora, mas o Conde
não é bobo e fez os dois desaparecerem. Enfurecida e com os poderes diminuídos,
a Cuca conseguiu criar um exército de tukurás e começou a atacar tudo que
tivesse pela frente. Ela quer se vingar do Conde E e dominar quaisquer mundos
que o objeto a levar. É só o que eu sei.
—
Pois isso me esclareceu muita coisa, obrigado. Aí!
—
O que foi?
—
A ciranda está queimando no meu peito.
Do
outro lado da região, Táquio fica perplexo com a notícia que acabou de receber.
—
Seis anos? Como é possível? Quero dizer… eu não percebi que fiquei assim tanto
tempo aqui… eu… — Táquio precisa se sentar um pouco.
—
Vô, desculpe, não queria te assustar, mas você não me deu escolha. A gente
precisa voltar pro nosso mundo urgente. Sabe a mamãe e o papai… eles…
—
O quê?
—
E-eles acham que o senhor não tem mais salvação e…
—
Imagino a confusão que deve ter criado, com um corpo inerte tanto tempo… eu
devia ter imaginado. Mas, é que aconteceu tanta coisa. Minha neta, agora
compreendo tudo. Eu pensei que você estaria mais velha porque se imaginava
assim. Ó Deus, o que eu fiz?
Táquio
se senta para recobrar o raciocínio, mas um alerta traz todos de novo para a
situação.
—
Todos devem se proteger, os tukurás estão jogando o caldo!
Táquio
segura a mão de Imã para levá-la a um abrigo. Muitas criaturas correm
desordenadamente, mas cada um já sabe onde deve ficar e as ações são rápidas.
Assim que chegam ao local seguro, Táquio se volta para Imã.
—
Filha, me escuta, você precisa voltar. Aqui não é seguro.
—
Não, vô, eu não volto sem você. Eu vim aqui pra te pegar.
—
Mas eu não tenho como voltar sem ter contato com uma ciranda. Você precisa
colocar uma delas na minha mão.
—
Mas, vô…
—
Não discuta Imã, olha o que tá acontecendo.
—
Vô, tem outra coisa. Eu não vim sozinha, comigo veio o senhor Belchior e um
amigo, que tá sozinho e não sei aonde. Eu preciso encontrá-lo para voltar.
—
O Belchior voltou?
—
Sim, nós pedimos que ele nos guiasse para achá-lo, só que aconteceu tanta coisa
e ele desapareceu, também não sei onde está.
Táquio
raciocina por alguns instantes.
—
Tudo bem, você tem uma ciranda contigo?
—
Tenho. Olha aqui… aí!
—
O que foi Imã?
—
A ciranda tá queimando.
—
Como é?
Nesse
momento Gualbe alerta.
—
Silêncio! Vocês estão ouvindo? Parece que o vento está com um som diferente.
Táquio
se concentra, Imã deixa a ciranda cair no chão.
—
Sim, tem alguma coisa errada acontecendo.
Imã
também sente uma sensação estranha.
—
Vô, o que pode ser isso?
—
Não sei, Imã, mas nunca aconteceu antes.
—
Será que é a Cuca?
—
Não, ela não é tão poderosa assim.
—
Vejam, o céu está esquisito.
Quando
todos olham, as cores do céu parecem que estão se misturando como em um
redemoinho. O som distorcido é contínuo, mas suave. Táquio tenta entender.
—
Soa como uma panela de pressão querendo explodir. Estão ouvindo?
Mas
o som não tem origem, está ecoando em todo lugar. Imã, tem uma suspeita e se
surpreende.
—
É o meu nome, o som é o meu nome que está sendo falado…
Táquio
olha para a neta.
—
Como é possível? Será que…
— Vô, é a Drica, tá ouvindo? Ela tá me chamando!

M. P . Cândido
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Carlos Mota
Bruno Olsen
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REALIZAÇÃO

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