Antologia Poemas da Terra: 4x03

 

CANÇÃO DA TERRA VIVA
Matile Facó

Na dança dos ventos e das folhas,

onde o sol beija a pele da manhã,

um murmúrio sutil ecoa nas raízes,

uma prece silente que a terra apanha.

Neste bosque de segredos, há uma melodia,

entrelaçada nas veias do verde profundo.

Cada arbusto, um verso, cada riacho, poesia,

o eco de um coro onde o tempo se inunda.

A floresta é um livro escrito em musgo,

cada capítulo, um sussurro da vida.

Nas asas da brisa, um eterno refúgio,

onde a natureza encontra guarida.

Em cada flor desabrochando no orvalho,

uma promessa feita aos céus e ao chão.

A terra, uma mãe, cujo afeto é agasalho,

sussurra aos ventos: "Somos uma canção."

Oh, terra viva, sob o manto azul celeste,

teu canto ressoa nos corações atentos.

És o jardim onde a vida se manifesta,

um tesouro que guardamos, seres sedentos.

Cuidemos, pois, com zelo e devoção,

deste santuário que nos abriga e inspira.

Que a harmonia entre homem e terra, união,

seja a poesia que a natureza suspira.

FLORES E DORES
Mariana Silva

Socorro!

Ouviu-se o grito, tamanho era o alvoroço.

Socorro! Socorro!

Era o globo, implorando por socorro.

Aquele que era belo de cores, cheio de flores,

De águas e montanhas, porém gritos e dores.

Socorro! Socorro!

Era angustiador aquele grito de dor

Do globo azulado que outrora tanto brilhou.

Contudo, de tanto desamor

Gemeu, chorou e em profunda depressão entrou.

Socorro! Socorro!

Agora exausto e de mãos atadas, desmoronou, se rebelou.

Contra o seu cuidador ficou.

Aquele que deveria amá-lo, não o amou.

Quanto desdém do habitador.

Será tarde a tentativa para ouvir-se o gemido de dor

Desse velho e belo globo flutuante,

De beleza tal, estonteante. 

Tarde para o abraço coletivo dos grandes e pequenos

Que com acalento, menos egocêntrico

Nele unidos e presos, em busca do respeito. Respeito. 

Vejam e escutem o gemido sereno

Do grande azulado globo em desespero.

NATUREZA MORTA

Maurício Cavalheiro

Na pinacoteca do futuro

crianças de metal

olharão pinturas do passado

e perguntarão o que são

aqueles monstros de vários braços

e aqueles seres pequeninos

em habitações de conchas.

Saberão que os monstros eram árvores, 

e os seres,

passarinhos que coloriam o céu.

Crianças de metal

olharão monstros quadrúpedes

e perguntarão o que são.

Saberão que eram espécies 

de vida animal. 

Crianças de metal

olharão artérias alinhavando a terra

e espelhos contornando litorais,

e perguntarão o que são.

Saberão que eram rios e mares.

Na pinacoteca do futuro

crianças de metal contemplarão pinturas

da natureza morta.

BOABÁ
Zaki Wamai

Embondeiro 

O poder da mãe preta

Que leva a criança

Conhecer a saúde 

Nos bairros da desilusão 

A vitamina que emana 

Da múcua que espanta 

O sabor da terra verde 

Como os olhos 

Da menina Esperança

Poder vital 

Se igual 

Canto sem o coral

Estrofes sem versos 

Uma poesia de ideias 

Uma árvore que dá vida

TERRA, À VISTA: UMA FORTUNA
Muma

Terra,

à vista,

loteada em porções,

disposta ao nosso redor,

e distante da vista. 

Terra,

pisada, usada, com marcas da existência...

...e do fim.

Terra, 

sem terra; apenas cinzas.

 

Sou Terra, a caminho do eu-pó, preenchido de fraturas.

A Terra que expele e suga,

que é expressão e fuga,

que resiste e afunda,

mesmo sendo terra.

A Terra, do meio, em meio ao meio 

—Que ambiente é esse, cheio de terra?

Aguardo o meu grão, que é um grão do tenho.

Enquanto isso, de grão em grão, não tem mais chão

nem terra.

Gostaria de pisar onde cai, e cair sobre o céu…

Enquanto não toco o céu, sinto seu frescor: fuligem. 

RETRATO DA FLORESTA
Euretorn

Onde nascia mato

Hoje é visto num retrato

E em volta olhando

Nada há se comparando

Não há aqui ao lado

O que havia no passado

O verde da floresta

Que andava em festa

O concreto é tão discreto

Que sempre se tem em mão

Um pouco de sujeira ou muita poluição

Evoluindo com o tempo

O que nos traz muitos tormentos

Onde nascia mato, hoje só tem cimento

Poema escrito por

Matile Facó

Mariana Silva

Maurício Cavalheiro

Zaki Wamai

Muma

Euretorn

CAL - Comissão de Autores Literários

Agnes Izumi Nagashima

Gisela Lopes Peçanha

Paulo Mendes Guerreiro Filho

Pedro Panhoca

Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

REALIZAÇÃO

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