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O Desbravador de Identidades: Capítulo 20

Novela de Carlos Mota
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O DESBRAVADOR DE IDENTIDADES - CAPÍTULO 20

 

_Senhor? – aproxima-se uma enfermeira bastante tensa. _ Seu nome é Ricardo...Médi...?

_... Médici! – completa. _ Por que me chama? – volta-se para ela, num misto de estranheza e confusão.

_Graças a Deus! Seu pai está à sua procura! Venha! Venha, por favor, antes que ele coloque abaixo este hospital.

O jovem dá outra olhada para Gabriel, que substitui a expressão de surpresa pela de medo.

_Leonardo está aqui? – pergunta a si mesmo, desesperando-se _ Não pode ser! Não pode ser!

Tenta manter as aparências, não quer atrair ainda mais a atenção do rapaz, que se afasta, visivelmente incomodado. Assim que ele se retira, o bombeiro pega a mão da mãe e se revela  muito angustiado.

_ Precisamos ir embora daqui e agora! Me ajude a tirar isso – mostra o soro. _ Vamos, mulher, precisamos partir.

_Ei, o que há, filho? O que acontece? Você acabou de retornar do C.T.I, está ainda muito fraco, como quer deixar o hospital? Se o for, morrerá!

_ E se eu aqui permanecer, também!

A mulher não entende.

_ Mãe, sabe quem está no outro quarto?

_ Pelo que entendi,  o pai do moço que nos estendeu a mão.

_ Esse é o problema. Ouviu o nome dele ? Percebeu o sobrenome?

A mulher não acompanha o raciocínio.

_MÉDICI, mãe! Ricardo Médici! Médici! Não lembra?

_ E quem é o homem que você ama? – pergunta a mulher, recolhida à cama, com a cabeça do garoto em suas pernas.

_Ele é um empresário, mãe! Nos conhecemos na Oscar Freire, numa dessas lojas de roupa de grã-finos.

_Oscar Freire? Mas o que foi fazer lá? É muito longe, além de ser o point dos ricaços paulistanos. Filho, me conte direito tudo isso...

_ Eu estava caminhando pela calçada, quando avistei uma loja com roupas da última estação que me atraíram no primeiro olhar. Tive vergonha de entrar! Como os trapos que usava não estavam à altura do padrão daquele lugar, lá permaneci, com os olhos perdidos na vitrine, sonhando com o dia em que poderia comprar algo um pouco melhor, não que a senhora não me dê coisa boas, não é isso, mas jovens como eu sonham com coisas caras, exclusivas, porque isso faz a diferença, atiça a curiosidade do grupo e desperta aquela gostosa inveja em nossos rivais. Quando pus a mão no bolso, a ficha caiu, a fantasia cedeu , abaixei a cabeça, quando uma voz me procurou.

_E...?

_Quando me virei, senti algo estranho, como se a flecha do cupido tivesse rompido meu coração... À minha frente estava um homem lindo, de porte invejável, com um largo sorriso nos lábios. Antes que eu arriscasse qualquer pergunta, ele me invadiu com seus olhos afoitos e me fez um elogio para lá de convidativo.

_E o que ele disse que o balançou tanto?

_ Que aquelas peças ficariam lindas em mim! Mãe, não sei o que aconteceu comigo, sabe como sou muito discreto, mas naquele momento era como se só nós dois existíssemos... Nunca me senti tão completo! Parecia que minha outra metade estava diante de mim, naquele terno italiano de corte sob medida.

_Estou com medo de tudo isso!

_Não precisa, mãe! Ele é maravilhoso. E sabe o que fez? Pediu que o acompanhasse. Entramos na loja e fez descer todo o estoque.

_E você não fez nada? Que perigo! Poderia ser um bandido disfarçado!

_Deixe de pensar feito pobre, mãe. O que um homem daquele status roubaria de uma pobre criatura como eu?

_Sua pureza! Você é de uma beleza interior estonteante, filho! Qualquer um entregaria um tesouro para ter um minuto a sós contigo.

_Diz isso porque é minha mãe, não é?

_Não, menino, digo porque é um ser lindo, de uma alma leve, de um coração tão bom, que só me enche de orgulho. Quando o vejo estudando feito um louco para passar na faculdade, sinto, dentro de mim, o quanto acertei com você, Gabriel. Se todas as mães tivessem um filho assim, o mundo seria melhor, distante de tantas malvadezas que invadem muitas famílias, fazendo-as reféns de um destino incerto.

_Pena que nem todos pensam assim, meu pai é um deles. Quando soube que eu era homossexual, chamou-me de aberração da natureza, de filho do diabo, de imundície do mundo. Nunca pensei ouvir aquelas palavras e logo de quem me deu a vida.

_Seu pai é um ignorante, não ligue para ele.

_Mas ele a deixou porque me defendeu. Sinto-me culpado!

_Jamais o abandonaria! Marido se arranja em qualquer esquina; filho, não! Pois é um presente divino que deve ser amado por uma mãe até o seu último suspiro.

_Minha linda! – beija-a com todas as forças de um coração angelical.

_E aí, Gabriel, o que fez o homem depois?

_Comprou-me tudo o que queria!

_Santo Deus! Do nada? – espanta-se.

_Claro que de início não aceitei, mas foi a moça se afastar para que ele pegasse na minha mão e dissesse estar atraído por mim. Não parou por aí, quando menos imaginei, ele me roubou um selinho...Depois de tudo isso, acabei convencido! Sabe, beijá-lo foi a coisa mais linda que me aconteceu nessa vida! Estou muito feliz, mãe! Achei o homem da minha vida! A senhora entende isso?

_Não sei não...sei lá...tudo muito rápido, né?

_Pare de gorar, mulher! Seu genro logo virá me buscar, iremos dar uma volta, conversar um pouco, nos conhecer melhor, como um casal de verdade faz.

_E onde estão as coisas que ele lhe deu?

Levanta-se e abre o guarda-roupa, onde há sacolas e mais sacolas, todas de lojas de grandes marcas.

_Meu Jesus! É muita coisa! Veja o preço dessa camisa... – aponta para a etiqueta...- sessenta mil cruzeiros, mais do que recebo no mês todo. Filho, esse homem é direito? Tá me cheirando a coisa errada, sinto, e sabe, uma mãe nunca se engana.

_Mas desta vez está.

_E qual o nome dele?

_Leonardo...lindo, né? E sabe o que significa?  Leão forte, bravo. Pesquisei naquele dicionário de nomes que emprestei da biblioteca da escola.

_Vá com calma, menino – alerta, com o coração apertado.

_Era  de um homem como ele que eu precisava, que me amasse de verdade, que cuidasse de mim e que de mim afastasse todo tipo de preconceito. Não tenho culpa de ter nascido assim! Sou diferente, mas igual, porque o que mais desejo é ter uma família e ser muito feliz ao lado de quem escolher para viver ao meu lado até o último minuto. E essa pessoa é Leonardo, eu sinto isso, mãe!

_ E é Leonardo de quê?

_Leonardo Médici!

_Lembrou, mãe? – pergunta, atraindo-a à realidade.

_Meu filho, não pode ser! Aquela praga está aqui? – desespera-se     também. _ E agora?

A mulher ameaça desabar, mas ao se apoiar à parede, resiste.

_ E a senhora viu quem me salvou, ou melhor, quem evitou que eu pudesse ser salvo de verdade, por que só a morte pode me dar a tranquilidade de que tanto anseio?

Os olhos dela brilham, não há palavras que possa expressar para confortá-lo.

_Ricardo Médici. O filho dele. Que ironia do destino. Fui salvo pelo filho do tirano que me roubou o último sorriso.

_A senhora é a mãe de Gabriel de Assis? – pergunta uma voz pelo telefone.

_Sim!- pressente alguma desgraça. _ O que aconteceu com meu filho, dona?

_Acalme-se! Ele está vivo!

_Vivo? Como assim? Claro que ele está vivo! Que brincadeira é essa?

_Sou a assistente social do hospital, precisamos nos encontrar o quanto antes. Venha! Estou lhe aguardando.

Uma hora depois.

_Cadê meu filho?

_A senhora terá de ser muito forte...

_Deixe de história, dona, sei que alguma coisa de muito ruim aconteceu ao meu menino... Cadê ele?

_Seu filho está na U.T.I.

_U.T.I? – arrepia-se. _ Não vá me dizer que o morro caiu na cabeça dele? Bem que eu disse: “Gabriel, cuidado, a chuva não para, o morro não custa a lhe cair na cabeça e você deixará de ser um salvador de vidas para se tornar o mártir de uma tragédia”, mas não me ouviu...

_Ele não sofreu soterramento...- a mulher não sabe como dar a notícia.

_NÃO? ENTÃO..O QUE ACONTECEU COM ELE? -pergunta, temendo a resposta.

_Foi espancado!

_ESPANCADO? POR QUÊ? E...E POR...POR QUEM? - de início associa o crime à homossexualidade, mas algo lhe demove desse pensamento -. _CHAME A POLÍCIA! NÃO! NÃO! MEU FILHO SÓ FAZ O BEM ÀS PESSOAS, MOÇA, NÃO TEM INIMIGOS ATÉ ONDE SEI, ENTÃO...ENTÃO COMO FOI ESPANCADO? DEVE TER ALGUM ENGANO NESTE RELATÓRIO – aponta para alguns documentos presos a uma prancheta de madeira. _ SÓ PODE!

_Não há equívoco algum...- tenta tranquilizá-la, como se isso fosse possível-... Ele sofreu traumatismo craniano e...e...não é só...

_Como assim? Tem mais?

_Ele foi violentado.

_VIOLENTADO???

_Gabriel nos foi entregue por uma mulher desconhecida que o encontrou perdido nas entranhas da Favela Pantanal.

_VIOLENTADO??? – repete, desacreditando.

_Infelizmente!

A mulher se cala. Apoia-se no encosto da cadeira, respira bem fundo e dá um grito de dor que é ouvido a distância. A assistente lhe abraça, dizendo palavras de esperança, mas ela sabe, seu filho jamais será o mesmo depois dessa desgraça. E como sabe! Pode-se enganar um pai, um filho, jamais uma mãe, porque às mães foi confiado o dom de gerar vidas e de se manter conectado para sempre aos filhos, por um cordão umbilical invisível, que não se rompe nunca.

Depois de muito implorar, permitem-na que veja o rapaz. Quando o encontra, morde a mão para não gritar. As lágrimas correm desordenadas, sem paradeiro. Gabriel foi deformado pela violência. O filho que está diante de si não é o que há horas sairá de casa, dizendo que salvaria muitas outras crianças. Crianças? E como era apaixonado por crianças. Dizia que um dia adotaria uma. Em casa, era atentado como. Gostava de provocar enquanto ela fazia a comida, e quando ficava brava, corria beijá-la. E como era bom receber aqueles beijos. Diferente do que o pai dizia, ele não era uma aberração; se havia alguma perfeição na terra, ali estava, diante dela. Mas o destino sentiu ciúmes e daquele belo rapaz restara apenas esta criatura, que agora vegeta à sua frente.

_Fi-fi-filho...quem fez isso com...com...você, meu amor?

Com os olhos entreabertos, ele solta duas ou três palavras incompreensíveis. Ela se aproxima, pedindo que ele repita.

_Le-Le-Leo-nar-nar-do!

_Eu sabia, minha intuição nunca me enganara! E agora?

_Precisamos sair daqui! Me ajude a tirar este soro. Vamos! Eu estou mandando...- ordena, resgatando-a das lembranças.

Ela pensa ir ao quarto do maldito que destruíra a sua maior riqueza, mas é violentamente advertida pelo rapaz, que teme que ela termine assim como ele: um morto em vida!

Gabriel puxa a agulha com força, o sangue espirra na parede, com o lençol, prensa a veia, que estanca. Apoiado na mãe, tenta se equilibrar, mas não suporta o peso das próprias pernas e cai. A mulher tenta levantá-lo, mas não tem forças. A quem pedir ajuda sem levantar suspeitas?

_Mãe, me ajude! Só tenho você! – implora, com a voz fraquejando.

Pois ela tenta de novo e, sabe-se lá de onde, talvez de alguma região desconhecida do coração, recebe a força de que precisa para outra vez evitar que seu menino-homem se perca na estrada do esquecimento. Soluçando muito, pega-o pelos dois braços e o levanta, deixando cair sobre a cama o celular, depois sai do quarto à procura de uma cadeira de rodas. Pegando o aparelho, Gabriel faz uma ligação.

_Me ajude! Te peço uma vez mais.

_Filho! Como estou feliz em vê-lo! – alegra-se Leonardo, no apartamento ao lado. – Pensei que iria perdê-lo!

_De onde tirou essa ideia, pai?

_Esquece...esquece... – não releva a ligação. _ ...deixe-me vê-lo – checa-o minuciosamente-, sem escoriação, hematoma, parece que está tudo bem mesmo, né, filho?

_Já disse que sim, pai! – responde, não entendendo.

_Pois dê um abraço aqui no pai! Como te amo! Só em pensar em perdê-lo, meu mundo entra em curto!

 _ Só o senhor para falar estas coisas...E como está? Sofri muito quando soube! Perdão se eu lhe causei tanta dor a ponto de parar aqui.

_Você não me fez nada, aconteceu porque estava escrito, faz parte da vida. Mas como é bom vê-lo bem! De agora em diante, só sairá acompanhado de um segurança. Não quero vê-lo sozinho pelas ruas traiçoeiras das terras de Padre Anchieta.

_SEGURANÇA??? PRA QUÊ???

_Não me pergunte, apenas obedeça, sabe muito bem que esta terra está infestada de marginais, para um lhe fazer mal não custará. Portanto, faça o que estou mandando!

_Não quero segurança algum – esbraveja. _ Sou maior de idade e sei me cuidar.

_Assunto encerrado. Quero o Marcos aqui. Cadê aquele imprestável? Liguei para ele já faz algum tempo e me disse que você havia vindo na frente, e que logo ele chegaria. Hum! É isso que dá confiar nesta plebe.

A mulher corre pelos corredores com Gabriel na cadeira de rodas. Quer logo sair dali, porque se aquele homem souber que ele está vivo, certamente lhe aprontará uma nova, desta vez, sem volta. Sabia que o filho estava morrendo, mas, diante daquele dilema, não poderia lhe tirar a razão. Melhor morrer nos braços de quem o ama do que da bala de um revólver ou de uma outra tijolada, a mando daquele demônio vestido de gente.

Ao chegarem à recepção, são barrados.

_Vocês não podem sair, ele não recebeu alta.

_Dê-me o formulário- ordena a mulher-,  assumirei todos os riscos.

_Senhora, veja-o, está...está pálido. Precisa de ajuda!

_Dê-me o formulário – brada, para a incompreensão da funcionária.

E se vão... Ela está cansada, o filho é pesado, mas não desiste, precisa fugir, encontrar um abrigo, algum lugar que esteja fora do alcance daquele homem do mal. Ao adentrar um corredor longo e mal iluminado, dão de frente com Marcos, que os olha como uma águia à sua vítima.

_VOCÊ? – pergunta a criatura, tentando se segurar para não cair. _ Veio  terminar o serviço? – arrisca. _ E precisa?

A mulher o fita com os olhos amedrontados, agora entendendo tudo. Marcos não lhe queria prestar bondade alguma quando invadira a U.T.I; desejara era matar o seu único filho. E só não o fez porque... porque ...Ela não encontra respostas.

__...meu filho salvava vidas... Salvava vidas! SALVAVA VIDAS! – as palavras dela o perturbam de novo, a ponto dele virar-se para que passem.

A mulher corre, o ar ameaça lhe falta, mesmo assim ela não desiste, dribla e segurança e encontra a rua.

Ricardo passa pelo quarto, estranha a ausência do rapaz, pergunta por ele, as enfermeiras não têm uma resposta. Já na secretaria, recebe a notícia de que foram embora e desacredita. Pede que confirmem a informação, há algum erro. Não há erro algum, responde a funcionária, mostrando-lhe o termo assinado pela mulher.

Desorientado, vai até o carro, liga-o, dá marcha à ré, ajeita-se e sai. Ao virar a esquina, reduz a velocidade assim que avista a mãe de Gabriel colocando-o em um veículo. Se aproxima devagar. E ao passar por eles, leva um susto. A  motorista é Márcia Médici, sua tia.

Encerra com a música: (Bring Me Tô Life - Jericó e Asuna (versão anime em português). 




autor
Carlos Mota

elenco
Ricardo Tozzi como Ricardo Médici
Carmo Dalla Vecchia como Leonardo Médici
Guilhermina Guinle como Nathalia Médici
Solange Couto como Jacira
Charlize Theron como Márcia Médici
Vladimir Brichta como Marcos
Camila Queiroz como Anna Ferrara
Sílvia Pfeifer como Lícia Ferrara
Gabriel Braga Nunes como Giacomo Ferrara
Matheus Costa como Benício Ferrara
Christyano Augusto como Gabriel 
Cissa Guimarães como Mãe do Gabriel
Cacá Amaral como Jarbas
Tonico Pereira como Jardineiro Luís

1ª Fase:
Fiuk como Ricardo Médici

trilha sonora
Bring Me To Life - Evanescence (abertura)
Bring Me Tô Life - Jericó e Asuna (versão anime em português)

com ilustrações de
Andrea Mota
Daniel Ubirajara


produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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