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Antologia Lua Negra: 4x09 - Quimera

Conto de Memento Mori
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Sinopse: Um homem e sua filha tentam chegar em segurança na cidade de São Paulo enquanto são perseguidos por uma criatura viciosa pelas terras desoladas do Brasil, afetadas por uma misteriosa calamidade de escala global.

4x09 - Quimera
de Memento Mori

O motor do carro, um pequeno Celta 2008 prata, roncava enquanto Constantino disparava por um bom pedaço de estrada, uma das únicas partes preservadas de asfalto nos últimos dias, o resto eram ruínas cobertas por vegetação e gramíneas. Magda, sua filha, dormia no banco ao lado, tinha cabelos loiros que já começavam a escurecer conforme ela crescia, com seus oito anos de idade, mas ao serem tocados com o sol ainda brilhavam como ouro.

Olhou no retrovisor ao pensar nele, o sol, que já estava se pondo ao leste, na direção contrária do seu destino: esperavam chegar em São Paulo no próximo dia de viagem, mas o inverno não os ajudara, os dias estavam cada vez mais curtos e o perseguidor tinha mais tempo para alcançá-los. 

Também sabia que se estivessem sem abrigo quando escurecesse, estavam mortos. Sentiu o pânico lentamente lhe agarrar pelo pescoço, formando um nó na garganta enquanto tamborilava os dedos no volante. Abrigo disse para si mesmo, tentando manter o foco. Ele devia ter se preparado mais, no entanto, como se preparar para algo como aquilo? O clima estava cada vez mais extremo, daqui a alguns meses provavelmente começaria a nevar. Pensou sobre isso: neve no Brasil, há apenas alguns anos o sol tropical ainda brilhava no céu, mas agora, só as nuvens carregadas de melancolia cobriam a paisagem. Afastou aquelas ideias da cabeça e procurou por um lugar para passar a noite, qualquer ruína ou construção abandonada teria de servir. Não demorou muito a achar algo que prestasse.

Na beira da estrada, uma pequena edificação de concreto com um pátio coberto, protegendo bombas de gasolina. Algumas janelas estavam bloqueadas com tábuas, outras completamente estilhaçadas e invadidas por vegetação, mas teria de servir. Estacionou ao lado da porta, preparado para o pior.

— Magda, querida — disse suavemente, encostando em seu ombro para acordá-la — nós vamos ter que passar a noite aqui.

As pálpebras da garota se abriram com toda a calma do mundo.

— Onde a gente tá? — questionou ela enquanto esfregava os olhos sonolentos.

— Um posto de gasolina velho, deve ter comida e pode servir de abrigo — explicou suavemente — talvez ainda tenham alguns doces dos velhos tempos.

Viu os olhos de Magda se encherem do mesmo brilho inocente que sempre surgia quando estava animada, o mesmo brilho que ele tinha quando era jovem. Essa parte de sua filha o agradava, mas todo o resto fazia com que ele lembrasse de Alessandra, os cabelos louros e a expressão descontraída que mudava num piscar de olhos quando ela se chateava, se tornando rígida como rocha. Até mesmo os hábitos bobos que fizeram com que Constantino se apaixonasse por sua falecida esposa, quando ainda eram adolescentes idiotas: o modo que ela enrolava o cabelo nos dedos quando entediada, a forma que alongava a coluna depois de muito tempo sentada ou o modo de falar. Tudo o lembrava dela.

Lembrou que estavam com tempo limitado. Esticou o braço até o banco de trás, a velha caçadeira de seu vô exalava inquietação, a madeira e metal pesavam em sua mão.

— Tem monstros ali dentro? — a menina fitou as janelas, era difícil ler sua expressão, mas ele notava um leve interesse em sua voz.

Dois cartuchos. Era o que ele tinha até ter de recarregar, então se precisasse, teria de fazê-los valerem mais que ouro. Pegou o revólver do porta luvas e entregou para ela.

— Se esconda enquanto eu estiver lá dentro, só abra as portas quando escutar o nosso código, tudo bem? — Ordenou ele enquanto carregava a caçadeira e enfiava outros quatro cartuchos no bolso da jaqueta de couro, só o que sobrara, ignorando a pergunta — Conte até mil, se eu não voltar, pegue o revólver e faça... Do jeito que te ensinei. — Engoliu em seco, mas era melhor do que deixá-la ser pega por aquilo, a coisa que os estavam seguindo, uma forma branca sedenta por sangue.

A pequena acenou com a cabeça enquanto se enfiava no banco de trás, jogando os lençóis por cima de si. Isso fez Constantino lembrar de quando ele era novo, escondido dos monstros que seu pai inventava nos churrascos para assustar as crianças. Agora, com seus quarenta e poucos anos de idade, os monstros que seu pai criara pareciam excessivamente reais.

Saiu do carro e o vento frio imediatamente o açoitou, assobiando em suas orelhas, se encolheu no seu casaco de couro. Desde a calamidade alguns anos atrás, tivera de se acostumar com isso. Odiava o frio. Mal conseguia imaginar como o resto do mundo estava.

A porta estava destroçada, do lado de dentro, coberta por entulho. Mesmo o Apagão ocorrendo há apenas dois anos, a deterioração da humanidade e retomada da natureza havia sido brutal e violenta. Não existia mais espaço para os humanos fora das metrópoles. Esperava que se ele não conseguisse chegar lá com Magda, ela chegaria sozinha e viveria de forma digna.

Teve de pular a janela, o vidro no chão do outro lado foi esmagado com o seu peso, as botas de chuva que usava pareciam mais pesadas, assim como o ar dentro do lugar, que estava gelado como um túmulo e, a julgar pelo cheiro, provavelmente tinha sido o túmulo de alguém. Ou de algo.

Pisou cuidadosamente ao redor das prateleiras de metal velho e enferrujado. Não queria derrubar quilos de metal no chão e levantar um grande sinal de refeição gratuita para tudo na região.

Checou atrás do balcão, o banheiro e os vestiários ao lado, até mesmo o terraço e área dos funcionários, mas nenhum sinal de uma aberração abissal. Só restava o depósito.

O corredor por trás das geladeiras acabava numa porta de metal, enferrujada e coberta por videiras. Teria passado despercebida se não fosse pela maçaneta industrial. Teve de empurrar com toda sua força para sequer mover a porta, que após alguns segundos, deu espaço o suficiente para que ele entrasse.

Estava escuro, mais escuro do que os cômodos mal iluminados e pálidos que já havia visitado, um breu completo acompanhado do cheiro azedo e característico da putrefação. Agarrou a lanterna em sua cintura e ligou num clique, a visão fez seu coração quase saltar pela boca.

Estirado no chão, um corpo putrefato em seu descanso eterno, a pouca pele que restava era um mosaico de tatuagens de símbolos e sigilos, provavelmente era um dos lunáticos que atacaram sua casa e trouxeram aquela coisa “tudo que vai, volta”, Constantino pensou. Mas essa não era a parte ruim. Ao redor de seu corpo, meia dúzia de pássaros beliscavam aqui e ali, o fizeram lembrar da criatura perseguidora, arrancando pedaços de carne. Suindaras, urutaus e corvos bicavam a pele esfolada, deviam estar ali há um bom tempo, já que as costelas do cadáver estavam completamente expostas, o rosto pior ainda, completamente desfigurado, em seu lugar, crateras ensanguentadas e rasgos que desciam até o pescoço.

        Largou a lanterna, que rolou para o lado ainda iluminando o cômodo e disparou sem hesitar, dois tiros mandaram uma chuva de chumbo que fez penas voarem pelo pequeno depósito, o sangue fresco dos pássaros se misturou com o já coagulado do corpo. 

Lembrou das histórias que seu pai contava, sobre o mal agouro, os pássaros da morte. Ao lembrar disso o cheiro pareceu piorar, queimava suas narinas e olhos como ácido.

A janela no fundo do cômodo estava completamente coberta, ela deveria ter entrado por algum buraco no teto. Levantou a lanterna e seu coração, que quase tinha pulado pela boca, agora chegou perto de explodir.

Acima de sua cabeça, pendendo sobre buracos no concreto, dezenas de suindaras estavam com seus olhos cravados em Constantino, atrás delas, um breu impenetrável. Ele sentiu o frio na espinha subir até o cérebro, que o fez congelar por um segundo. Se a caçadeira não estivesse vazia, teria estourado ao menos uma delas, mas quando apertou o gatilho um clique seco foi a única coisa que aconteceu. As aves recuaram logo em seguida para o escuro, abrigando-se da luz.

Sua respiração falhava, rápida e frenética, ele sentia como se suas pernas fossem ceder a qualquer momento. Recuou pela porta até o corredor de geladeira e puxou-a de volta, selando o túmulo do indigente. 

Voltou ao carro, quase tropeçando na janela enquanto saía com suas pernas parecendo geleia. Tamborilou no vidro do carro de forma calculada, um ritmo específico com intervalos regulares, código morse para mamãe. 

No interior, Magda cuidadosamente saiu debaixo dos lençóis. O receio em seu rosto desmanchou ao ver seu pai, e o frio na barriga de Constantino foi junto. Abriu a porta e estendeu a mão para ela, que agarrou sem vacilar, Constantino se sentiu mais confiante, ou melhor, ele precisava ser mais confiante, para que pudesse protegê-la.

Ao entrarem, a primeira coisa que a garota fez foi reclamar do cheiro:

— Aqui tá fedendo, eu não quero dormir aqui! — ela beliscou o nariz para impedir o fedor podre de entrar — A gente não pode voltar para casa? Eu tô com saudades da mamãe.

Constantino suspirou vagarosamente. Como ele poderia explicar a ela que Alessandra, a mulher que ambos amavam do fundo de suas almas, havia morrido de um jeito tão horrendo? Sempre que Magda perguntava sobre aquilo, sentia uma pontada no peito.

— Querida, eu já falei sobre isso. A mamãe não pode nos visitar agora, mas ela tá esperando a gente lá.

— Ah... Tá bom.

— Acho que sim, amanhã a gente deve estar chegando. — Finalmente uma verdade — Você vai amar lá.

— Pai?

— Oi, querida.

— Como é, lá em São Paulo? — A curiosidade acendia os olhos da garota, desde pequena ela queria descobrir tudo sobre, bem, tudo.

— Lá tem muitos prédios, eles vão até o céu, mas também têm casas e parques, e trens que vão muuuito rápido. — Ele tentou forçar um sorriso reconfortante.

Em contraste com a praia na qual viviam, a cidade grande deveria parecer mágica para Magda. Já tinha sido assim para ele, mas agora preferia a calmaria do interior ou o som relaxante das ondas.

— A gente já vai chegar? — Ela parecia mais animada agora.

— Acho que sim, amanhã a gente deve estar chegando. — Finalmente uma verdade.

Constantino começou a aprontar o lugar para a noite, precisariam de proteção caso fossem alcançados pelo perseguidor, mas no fundo ele sabia que qualquer barricada era, no máximo, um incômodo para a criatura.

Pegou seu kit de ferramentas no carro e parafusou a sucata das prateleiras nas janelas com espaço o suficiente para que ele pudesse mirar e atirar caso necessário. Acendeu velas aqui e ali enquanto Magda o contava sobre os livros que lia, mitos gregos eram seus favoritos. Não demorou muito para que eles estivessem minimamente confortáveis, mais do que haviam conseguido nos últimos dias. Os raios de sol dourados sumiam do lado de fora, deixando a escuridão em seu lugar.

Constantino sentou-se ao lado da janela, sentindo o frio que quase irradiava do breu, fazendo vigia do lado de fora. O escuro era como uma barreira física que engolia quase toda a luz e sugava o calor, apenas alguns sinais do brilho pálido da lua restavam, pintando as árvores do outro lado da estrada num tom prateado sem vida. Magda estava lendo um de seus livros, ela devia saber que seu pai estava tenso, já que tentava jogar conversa fora com curiosidades e fatos sobre o panteão grego.

Ela lhe descrevia uma das criaturas dessas histórias, a Quimera, um híbrido entre animais que podia cuspir fogo. Fora enfrentada e morta por Belerofonte a pedido de um rei, quando a acertou com uma flechada no coração.

A noite progrediu em uma calmaria assombrosa, mesmo com o silêncio do lado de fora, era possível sentir a própria realidade se contorcendo. A calmaria antes da tempestade. Constantino escutava uma das histórias de Magda quando uma voz chamou sua atenção, feminina e suave. A voz de Alessandra, vindo do escuro. Ele queria acreditar, mas não conseguia. As sombras estavam bagunçando suas memórias, como já haviam feito antes. Magda se levantou num salto com os olhos arregalados.

— Magda, não é ela. Você sabe disso. — Constantino impôs, sua voz firme, mas gentil.

Alessandra, ou o que quer que estivesse fingindo ser ela, os chamava lá de fora, no escuro.

— Mas ela tá me chamando! É a mamãe, a gente precisa ir ver ela! — A garota devolveu com um misto de animação e nervosismo em sua voz.

Já havia começado a caminhar em direção a janela quando Constantino se levantou, bloqueando-a por completo. Magda o fitou, confusa.

— Pai, é ela, por favor!

Ele nem se moveu.

— COMO VOCÊ SABE QUE ELA NÃO PRECISA DE AJUDA? TÁ FRIO LA FORA, ELA DEVE ESTAR QUERENDO ENTRAR! — Agora, a menina berrava, desesperadamente tentando convencer seu pai.

— Querida, a sua mãe...

— Ela tá lá fora, sai da frente! — Magda o arranhava numa tentativa de tirá-lo da frente.

Na janela, uma batida chamou a atenção de ambos. Pelas frestas, uma visão deslumbrante: Alessandra se recostava contra a janela, revelando parte de seu rosto, aquele mesmo sorriso, o mais lindo que ele já viu estava ali novamente. Mal pode acreditar, mas sabia a verdade.

— MAGDA, NÃO É ELA! SUA MÃE NÃO TÁ AQUI.

— COMO VOCÊ SABE? 

— PORQUE ELA MORREU!

Constantino berrou, finalmente explodira com a pressão. A garota, em choque, simplesmente o fitou com o olhar incrédulo.

— Tino, eu senti sua falta — seu sorriso se abriu ainda mais — você pode abrir a porta para mim?

Tino. Como essa coisa sabia? Ninguém o chamava assim além dela. 

Enquanto estava distraído, Magda tentou passar correndo até a janela, conseguiu pará-la por pouco, agarrou-a pelo pulso e a puxou para longe, sem perceber a mão vindo da porta.

Por entre o entulho ao lado, um braço disparou até seu tornozelo, Constantino tentou pular para longe, tarde demais. Era como a mão de uma múmia, mas mil vezes mais forte. Ela recuou e sumiu dentro dos destroços junto do pé de Constantino, que sentiu a dor aguda subir por sua perna. Conhecia aquela dor, na melhor das hipóteses, havia deslocado seu tornozelo.

Berrou de dor, fazendo Magda finalmente voltar para a realidade. Ela puxou seu revólver da cintura, mas antes que pudesse atirar, o imitador lá fora guinchou ao soltar o pé de Constantino.

Sons de uma luta, ou melhor, execução. Era possível escutar carne rasgando mesmo do lado de dentro enquanto algo se debatia, chocando-se contra as paredes numa tentativa desesperada de sobrevivência.

Constantino mancou até a janela, ainda tomado pelo frenesi, a tempo de ver o corpo esguio e contorcido do farsante ser levantado por algo, um espectro branco que massacrara o imitador. O perseguidor estava ali, e eles eram os próximos.

Sua respiração estava pesada, ele soltava vapor gélido no ar a cada arfada e o pavor começava a se esgueirar.

Se arrastou até Magda, que parecia estar em completo choque, ainda mirando na janela.

— Magda, você tá bem? — tentava enfiar as palavras entre sua respiração ofegante, em parte pela dor e em parte pelo medo.

A garota se jogou nos braços de Constantino, o que fez a dor em seu pé piorar, mas não importava. Magda chorava em seus braços, soluçando de medo, confusão e tristeza. Era apenas uma criança, como lidar com algo assim?

Agora, precisava pensar rápido.

— Magda, eu sei que você tá com medo, mas preciso que você corra, tá bom? Pega uma vela e vai pro depósito, sem olhar para trás. Quando chegar lá, fecha o olho e conta até dez mil. Você consegue fazer isso?

Era claro que ela não queria, estava sobrecarregada, horrorizada, mas o tom de voz de seu pai não deixou espaço para opções. Agarrou uma vela e disparou pelo corredor atrás das geladeiras.

Ele não tinha tempo para fazer mais do que isso, jogou-se até a pilha de entulho e se espremeu entre ela, o máximo que podia, apenas com espaço o suficiente para apontar sua arma. Tentou respirar o mais baixo possível, mas ali mal tinha espaço para respirar de qualquer modo. Tudo que lhe sobrava era rezar, com o silêncio absoluto só escutara sua respiração e o próprio batimento cardíaco, cada centímetro de sua carne e ossos tremiam.

Lá fora, um som molhado, como um pedaço de carne caindo no chão, seguido de um som discreto, que, sem a devida atenção, até mesmo a respiração baixa e irregular de Constantino poderia abafar, um leve arranhar contra o chão.

De repente, um estrondo. Viu a placa de metal de uma das janelas ser arremessada contra o chão. Alguns segundos depois, a primeira visão clara do perseguidor que Constantino conseguiu capturar.

Pés, ou melhor, garras, como as de uma ave de rapina, pisaram firme, mas furtivamente no chão. Logo após, patas dianteiras vagamente humanoides as seguiram, numa postura quadrúpede, então notou que o arranhar do lado de fora eram passos. Ele conseguia ver o início da penugem branca que tanto o assombrara.

A criatura pisou aqui e ali, julgando pelo som, parecia erguer a cabeça, Constantino não sabia o porquê. A julgar pelo que fez a seguir, farejara algo.

Parou por um segundo, Constantino percebeu sua postura mudando antes da coisa saltar em cima de todo o entulho com ferocidade. Fora suas garras contra o concreto, não fazia som algum. Os blocos irregulares ao seu redor começaram a tremer, estava prestes a desmoronar. Ele se arrastou para fora, virando para confrontar o seu agressor.

Em cima da pilha de concreto, lá estava ele, seu perseguidor. Corpo humanoide delicado, com um metro e sessenta de altura, arqueado numa corcunda permanente, seus braços se tornavam asas como as de um morcego. Seu rosto era plano, um grande bico curvado separava dois olhos negros, sem emoções, apenas uma violência calculada e racional, racional demais para um animal, tudo isso coberto por um grande casaco de penugem branca como neve, uma mistura grotesca entre um humano e uma ave, uma verdadeira Quimera!

A Quimera saltou sobre Constantino, que rolou para o lado por pouco. As garras dela arranharam sua costela, furando a jaqueta de couro. Em resposta, ele levantou sua espingarda e disparou, apressado e tremendo. A maioria das esferas de chumbo passaram direto por ela, mas algumas poucas afundaram em seu braço.

Finalmente, a Quimera emitiu um som, mas Constantino preferia que ela permanecesse quieta. Um berro de dor, mas principalmente de ódio, estridente que chacoalhou as costelas dele por dentro, pensou que seus tímpanos iam explodir ali mesmo.

Ela seguiu com sua investida, galopando para cima dele. Tentou se levantar, mas sua perna inteira queimou com dor de seu pé. A criatura levantou suas garras para atacar, ele só teve tempo de brandir a caçadeira, evitando ter seu rosto arrancado num único golpe, mas as garras deslizaram para baixo, afundando em sua coxa.

Ele berrou, não podia morrer ali, Magda dependia dele. Se inclinou para trás, o suficiente para poder atirar e disparou contra a pata dianteira da criatura, a que estava ao lado de sua perna. O braço da coisa explodiu, fazendo-a cambalear para o lado e se debater de forma animalesca. Era sua chance, poderia finalmente acabar com ela ali. Apontou e quando puxou o gatilho, clique.

Desespero. Tateou seus bolsos em busca dos cartuchos, agarrando-os, frenético. Enquanto tentava recarregar o mais rápido possível, a Quimera já havia se levantado. Pingando sangue do toco que agora estava no lugar de seu braço, ela não desistiu, saltou sobre Constantino novamente, afundando o bico em sua clavícula e a garra em sua costela, como um abraço vicioso.

Ele estava morto, já sabia disso. Começara a deslizar, soltar-se da consciência, quando três estalos o fizeram saltar: pah! pah! pah!

A Quimera tombou para o lado, três furos limpos em seu peito, Magda estava logo atrás, o revólver esfumaçando em suas mãos. Constantino olhou para baixo, uma pressão incomoda apertava seu peito. Nas suas costelas, os três mesmos furos.

Sem ar, o chão parecia mais frio agora. Seria isso a morte? Ele tinha certeza. O que viria depois? Não importava.

Magda correu até ele, gritando algo, mas tudo parecia um ruído estático, como o de uma TV sem sinal. Agarrou a mão da garota enquanto uma piscina de sangue formava-se ao seu redor, quente e úmida.

— Viva. — Foi seu último pedido, enquanto as lágrimas de sua filha caíam sobre seu rosto.


Conto escrito por
Memento Mori

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Gisela Lopes Peçanha
Pedro Panhoca
Rosside Rodrigues Machado

Tema:
Suspense Music

Intérprete:
Gabriel Andrade Produções

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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