CRIMES NO SUBÚRBIO CARIOCA - A GATA DE IRAJÁ - CAPÍTULO 10
A cadeia para prisões preventivas fica na própria delegacia, mesmo assim, os suspeitos de crimes que os marginais consideram covardes, são alvos de hostilidades. Gonçalo só não sofreu violência, porque é dotado de um corpo musculoso e viril, e a sua cela tinha somente ele mais dois presos, mesmo assim, não teve uma noite tranquila, por medo de morrer.
Logo que os carcereiros aparecem, o rapaz se joga para eles, para poder se livrar dos companheiros de cela.
— Teve boa noite, Gonçalo? — Zé Carlos conduz o homem de volta à sala de interrogatório.
— Doutor, por favor, o que vocês tão fazendo comigo? Eu sou inocente, juro.
— Por que você não facilita nosso trabalho e admite logo a culpa.
— Eu tô falando doutor, vocês tão com o cara errado. Eu não sei de nada. — Gonçalo ameaça chorar.
— Ah, o que é isso? Um homem desse tamanho chorando, se controla, rapaz. Mas, diz aí, como é a sensação de estrangular uma pessoa indefesa? — Zé Carlos desdenha.
— Doutor, por favor, Deus me livre... Eu nunca fiz mal a ninguém.
— Não? Por que você correu dos agentes? Você disse que ficou com a sra... Zulmira, todos esses dias?
— Sim, sim, por favor, confirmem com ela. Ela vai dizer que eu tavo lá.
— Como poderíamos se ela está morta?
— O quê? Não, não, não... não pode ser, eu e ela...
— O que tinham?
— A gente, quero dizer, eu e ela, a gente tava junto esses dias...
— Você sabe que ela era mulher casada, não sabe?
— Doutor, eu tô falando, não pode ser verdade...
— Então, conforme suas próprias palavras, você foi a última pessoa a vê-la viva. Os agentes que o prenderam, disseram que você estava encostado no muro da casa da vítima. Por que saiu correndo?
Gonçalo abaixa a cabeça chorando, ele perdeu as esperanças de se livrar das acusações. Ralf surge à porta chamando Zé Carlos.
— Ele confessou?
— Não. E eu...
— O que?
— Não sei, Ralf, tem muita coisa que não tá batendo.
— Eu tenho a mesma impressão que você. Os crimes e o criminoso não combinam.
Adriana surge com uma notificação e entrega para Ralf.
— O que é?
— São os resultados do exame DNA, o sêmen bate com o Gonçalo, mas o sangue não. E também tem uma transferência do rapaz para um presídio federal.
— Como assim?
— Já que ele está sendo acusado de crimes hediondos em cidades diferentes, foge à nossa alçada. A Marilda vai cuidar de trasladação.
— Mas o exame de sangue não bateu...
— Depois que os casos foram divulgados, as autoridades estão com pressa para mostrar resultados e tranquilizar a população. Então, basta uma identificação positiva para encerrar o assunto.
— Mas, se o rapaz for realmente inocente, os crimes podem continuar.
— Não, de acordo com os perfis psicológicos, se não for o Gonçalo, os próximos crimes só acontecerão ano que vem. Por que esse ano já foram três. Resumindo, só poderíamos livrar o Gonçalo se apresentássemos o outro assassino.
— Bom dia senhores, vejo que já foram notificados da transferência. — Marilda interrompe a conversa dos Inspetores.
— Sim, Marilda, parece que você agiu rápido.
— Não vou negar, esse caso virou uma obsessão pessoal. É uma vitória particular.
— Pena que não agimos a tempo de salvar as vítimas. — Zé Carlos adverte.
— Toda guerra tem vítimas inocentes.
— É, acho que já encerramos por aqui. O pessoal já está cuidando da transferência. — Ralf folheia os documentos de transferência.
— Senhores, foi um prazer trabalhar com vocês e, me perdoem a sinceridade, espero que não precisemos mais ter esses encontros.
— Claro, entendemos perfeitamente o que você quis dizer. — Ralf estende a mão.
— Só vou dar uma última palavra com o suspeito. — Zé Carlos tem uma ideia.
— O que pretende, Zé? — Ralf fica curioso.
— Não sei se posso permitir... eu acho que... — Marilda não parece disposta.
— Não vai demorar nada, já volto. — Zé Carlos some pelo corredor da delegacia.
Marilda olha para o relógio.
— Desculpe, Ralf, mas acho que não poderei esperar pelo Zé Carlos.
— Não se preocupe, o que são alguns minutos a mais?
— Mas, é que... — Marilda arregala os olhos quando percebe que Zé Carlos volta com a gata Nina nos braços. — O que é isso, Inspetor, o que acha que vai fazer?
— Só quero tirar uma dúvida.
— Não, não, eu não posso permitir isso. O que... — Marilda se mostra apreensiva.
— Zé, o que tem em mente?
Zé Carlos passa pelos Inspetores e entra na sala, quase empurrando Marilda para o lado. Nina, que estava ociosa no colo do Zé, se eriça quando olha para o Gonçalo, que se levanta abruptamente. Ao perceber a atitude da gata, Marilda relaxa.
— Eu sabia que isso iria acontecer, você não pode expor o animal assim, ela ainda está traumatizada. Espero que agora esteja convencido. — Marilda empurra os Inspetores para fora da sala, sob os protestos de Gonçalo.
Conformado com o pequeno teatro, Zé Carlos acaricia Nina e depois a coloca no chão, ela se esfrega nas pernas do Inspetor e senta olhando para a cara dele. Ralf e Marilda se afastam, a psicóloga se despede dizendo que vai arrumar as malas para a viagem. Ralf se oferece para levá-la, mas ela recusa.
personagens
agradecimentos
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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